Introdução
Alguns processos judiciais se tornaram clássicos no mundo inteiro.
O caso O.J. Simpson, envolvendo o assassinato de duas pessoas, sendo uma delas sua ex-esposa e seu amante, ou o tribunal de Nuremberg que julgou os líderes do nazismo pelos crimes contra a humanidade e o genocídio na sua II Guerra Mundial, atraíram a atenção de todos.
Que sentenças seriam dadas? Elas seriam consideradas culpadas ou inocentes? Qual seria o veredito do júri? Estas coisas atraíram a atenção de toda a mídia mundial.
Neste texto temos o veredito dado pelo próprio Deus a um famoso líder, Belsazar, herdeiro do trono de Nabucodonozor, um dos mais poderosos homens que já surgiram na face da terra.
O julgamento mais pesado, sem dúvida alguma é aquele que vem de Deus. O julgamento dos homens nunca é decisivo e final. Eventualmente servem a jogos políticos e interesses de poderosos, e você ainda pode recorrer às instâncias superiores, o julgamento de Deus, porém, é definitivo e final. Não podemos recorrer a mais ninguém.
Certa vez fui procurado por um irmão que estava sendo acusado de coisas que não havia praticado, sentindo-se injustiçado por interesses escusos e de nuances jurídicas, e eu lhe disse que mesmo que os homens o considerassem culpado, se ele não fosse de fato, nada estava perdido. Lembrei-me de uma frase de John E. Haggai que afirmou o seguinte: “Você pode perder dinheiro, posições, status social, mas se não perder sua integridade, tudo poderá ser reconstruído”.
Quando, porém, o julgamento vem de Deus, recebemos o veredito de alguém em quem não há trevas, justo para avaliar, coligar os dados e julgar. Diante dele não se esconde nada de bom ou de ruim. Diante do trono de Deus há um mar de cristal, Ele é justo e onisciente. E é isto que Belsazar recebe do próprio Deus.
Ele foi sucessor de Nabucodonozor, que invadiu Jerusalém em 596 a.C., arrasando toda Judéia, e levando cativos prisioneiros para Babilônia, bem como todos os espólios e riquezas encontradas no templo de Salomão. Este texto registra uma festa que seu filho deu, provavelmente ele já tinha morrido porque seu filho era agora o rei deste império, e ele resolveu dar um banquete a 1000 oficiais, trazendo os objetos sagrados do templo de Jerusalém para nele beberem. Nesta hora, surge nas paredes do salão real, mãos que escreviam algumas palavras que nenhum dos sábios da Babilônia conseguia decifrar:
Mene, Mene, Tequel e Parsim.
Daniel é trazido apressadamente à presença do rei e dá o veredito do próprio Deus. O Império Babilônico chegava ao seu fim naquela noite. A sentença fora dada, era irrevogável, pois era proveniente do próprio Deus.
Quanto tempo durou o Império Babilônico?
O Império Babilônico compreende dois períodos distintos: De 1728 a.C. a 1513 a.C; e o segundo, que está registrado na Bíblia, de 614 a.C., a 539 a.C. Embora a civilização babilônica remonte a 3000 anos a.C, com a chegada dos povos semitas à Mesopotâmia, região entre os rios Tigre e Eufrates, atual Iraque.
Nabucodonozor começou a reinar no ano 604 a.C., era um líder militar de grande energia e crueldade, e ficou no poder 42 anos. Herdou o trono de Nabopolozar, e durante o seu reinado foi que esta nação se transformou na “Rainha da Ásia”. Seu filho Belsazar, assumiu a dinastia, e no seu governo, conforme o relato deste texto bíblico, o império é destruído, pela invasão dos medos e persas.
Quais foram as bases do julgamento deste soberano?
1. Belsazar desconsiderou a história
Quando as misteriosas mãos apareceram no luxuoso salão de festas, todos ficaram sobressaltados. Hoje poderíamos imaginar alguma coisa como uma projeção de uma imagem de drone ou algo eletrônico, mas naqueles dias, a única real explicação para este evento era uma intervenção sobrenatural. Os magos são chamados, e todos eles, assustados e impotentes, foram incapazes de interpretar o evento, até que Daniel é chamado à presença dos poderosos para interpretar o fenômeno, sendo introduzido apressadamente ao salão de festa. Pela forma como responde ao rei, temos a impressão nítida da sua irritabilidade com a maneira que as coisas estavam sendo conduzidas no império, porque quando o rei fala dos prêmios que ele iria receber ele os recusa veementemente.
“Então, respondeu Daniel e disse na presença do rei: Os teus presentes fiquem contigo, e dá os teus prêmios a outrem; todavia, lerei ao rei a escritura e lhe farei saber a interpretação. Ó rei! Deus, o Altíssimo, deu a Nabucodonosor, teu pai, o reino e grandeza, glória e majestade. Por causa da grandeza que lhe deu, povos, nações e homens de todas as línguas tremiam e temiam diante dele; matava a quem queria e a quem queria deixava com vida; a quem queria exaltava e a quem queria abatia. Quando, porém, o seu coração se elevou, e o seu espírito se tornou soberbo e arrogante, foi derribado do seu trono real, e passou dele a sua glória. Foi expulso dentre os filhos dos homens, o seu coração foi feito semelhante ao dos animais, e a sua morada foi com os jumentos monteses; deram-lhe a comer erva como aos bois, e do orvalho do céu foi molhado o seu corpo, até que conheceu que Deus, o Altíssimo, tem domínio sobre o reino dos homens e a quem quer constitui sobre ele.” (Dn 5.17-21)
Antes de dar o veredito, ele faz uma avaliação da situação do rei. Daniel relata o fracasso de seu pai depois de toda sua glória, e como ele ficou por sua arrogância e por ignorar a Deus teve um surto psicótico, e ficou assim por seis anos, “Até que conheceu que Deus, o Altíssimo, tem domínio sobre o reino dos homens, e a quem quer constitui sobre ele.” (Dn 5.31)
Apesar de tudo o que viu acontecendo na sua própria casa, com seu pai, Daniel observa:
“Tu, Belsazar, que és seu filho, não humilhaste o teu coração, ainda que sabias de tudo isto” (Dn 5.33).
Daniel lembra que o rei Belsazar tinha as informações, sabia dos fatos, entretanto, insistiu nos mesmos erros.
E então, Daniel profere o julgamento:
“Então, da parte dele foi enviada aquela mão que traçou esta escritura. Esta, pois, é a escritura que se traçou:
Mene, Mene, Tequel e Parsim.
Esta é a interpretação daquilo:
Mene: Contou Deus o teu reino e deu cabo dele.
Tequel: Pesado foste na balança e achado em falta.
Peres: Dividido foi o teu reino e dado aos medos e aos persas.” (Dn 5.24-28)
Belsazar foi pesado na balança, e foi achado em falta. Aos olhos de Deus ele estava condenado. Pouco importava agora o que os homens diziam sobre ele, ou o julgamento que o livro da história dos reis da Babilônia relataria sobre ele. O julgamento que ele recebe não tem corte de apelação, ele não pode contratar advogados, nem subornar juízes ou jurados. Deus mesmo dá a sentença, irrevogável, imutável, definitiva. Ele foi condenado por Deus. Não há Supremo Tribunal Federal capaz de avaliar e absolvê-lo, porque o juiz sobre todos juízes, o reto juiz, aquele que dá a sentença definitiva, deu a sentença final.
Quantas vezes fazemos a mesma coisa, agimos da mesma forma. Ignoramos a história, tudo o que sabemos sobre Deus, tudo o que ouvimos.
Vivemos de forma arrogante, desprezando princípios de Deus, ignorando a grave advertência de Deus: “O homem que muitas vezes repreendido, endurece a sua cerviz, cairá de repente, sem que haja cura” (Pv 29.1). ignorando as verdades do Evangelho: “Não vos enganeis, de Deus não se zomba, aquilo que o homem semear, isto também ceifará.” (Gl 6.4).
Belsazar sabia de tudo que havia aconteceu com seu pai, de como ele havia sido esmagado por causa de seu orgulho, violência, vaidade, , mas desconsiderou tudo isto e repetiu os mesmos erros. Ele não era ignorante, era teimoso.
Quantos sofrem graves consequências por desconsiderarem a Deus, por menosprezarem princípios e valores, indo adiante na sua teimosia, sem prestar atenção às advertências ouvidas, aos conselhos recebidos ou à instrução da Palavra de Deus?
Não despreze a história. Não desconsidere a história. Não desvalorize a história. Esteja atento a tudo quanto você já viu, ouviu, aprendeu.
2. Belsazar recebeu duro veredito de Deus porque desvalorizou as coisas sagradas.
“Tu, Belsazar, que és seu filho, não humilhaste o teu coração, ainda que sabias tudo isto. E te levantaste contra o Senhor do céu, pois foram trazidos os utensílios da casa dele perante ti, e tu, e os teus grandes, e as tuas mulheres, e as tuas concubinas bebestes vinho neles.” (Dn 5.22-23)
Quando seu pai, Nabucodonozor, invadiu Jerusalém, saqueou o templo trazendo as obras de arte, objetos de grande valor religioso, e os espólios de guerra. Muito tempo depois, seu filho Belsazar,no dia da grande festa, resolveu trazer estes objetos sagrados para neles beber e festejar. Daniel afirma que ele “se levantara contra o Senhor do céu”. O que ele fez foi uma afronta, trazendo sobre si a indignação e a ira de Deus.
Naturalmente precisamos fazer uma interpolação hermenêutica sobre este assunto, porque ainda hoje, muitos sacralizam objetos, locais, templos, etc., mas embora o Antigo Testamento fale de objetos sagrados, no Novo Testamento, esta ideia deixa de existir do Novo Testamento. Sagrado não são coisas, nem objetos, nem locais, mas pessoas. Deus deixou de habitar num templo feito por mãos humanas e agora habita no coração daqueles que recebem a Jesus pela fé. Contudo, o mesmo princípio ainda prevalece.
Belsazar desconsiderou coisas sagradas, assim temos feito.
Temos sacralizado o profano e dessacralizado o sagrado. Valores e princípios que devem ser considerados santos tem sido desprezados. Dessacralizamos o corpo, local sagrado, onde o Espírito Santo decidiu morar, não temos vivido vida de santidade, não temos tristeza pelo pecado, nos curvamos facilmente a mamom, profanamos a sacralidade da aliança do casamento, considerando apenas um contrato social e humano, temos vulgarizado a sexualidade, sem temer ou considerar a Deus, e desta forma zombamos das coisas sagradas.
Belsazar recebeu o terrível veredito de Deus porque entre outras coisas, desvalorizou coisas santas. “Não vos deixeis enganar, de Deus não se zomba, porque aquilo que o homem semear, isto também ceifará”. Não podemos brincar com a santidade do sexo, do casamento, da família, do uso de nosso tempo, dons, dinheiro e dos valores espirituais
3. Belsazar foi julgado porque criou pressupostos religiosos, e ignorou a Deus
Daniel demonstra que o veredito de Deus vem sobre ele, porque ele fez aquilo que os homens sempre repetem na história. Deus fez o homem à sua imagem e semelhança, mas os homens o desprezam e resolvem construir seus próprios deuses, à sua imagem e semelhança.
Veja o que diz Paulo:
“Portanto, tendo conhecimento de Deus, não o trataram como Deus, adorando a criatura em lugar do criador, se tornando nulos em seu próprio coração”.
Curiosamente, Belsazar não era incrédulo – ele era idólatra. O grande problema do ser humano não é a descrença, mas a idolatria. O primeiro mandamento não fala sobre a necessidade de crermos, mas sobre o risco de interpormos outros deuses falsos diante do Deus verdadeiro: “Não terás outros deuses diante de mim.”
O problema do rei não era a falta de compreensão da existência de realidades espirituais, mas um desvio na sua espiritualidade que o levou a considerar outros deuses, em lugar do Deus verdadeiro. O problema não estava na sua falta de fé, mas em depositar fé na direção errada.
“Além disto, destes louvores aos deuses de prata, de ouro, de bronze, de ferro, de madeira e de pedra, que não veem, não ouvem, nem sabem, mas a Deus, cuja mão está a tua vida e todos os teus caminhos, a ele não glorificaste.” (Dn 5.23)
A maior ameaça humana não é a falta de fé, mas a fé depositada em coisas e pessoas erradas. A isto a Bíblia chama de idolatria.
Idolatria não precisa ser uma representação material, de imagem, diante da qual as pessoas se curvam e dirigem suas preces. Esta é a idolatria grosseira, que se constitui na quebra do segundo mandamento. “Não farás para ti imagem de escultura...” (Ex 20.4-5).
Mas existe uma idolatria sutil, que em Ezequiel 14 é tratada como “ídolos do coração”. O primeiro mandamento parece sugerir este tipo de idolatria quando diz: “Não terás outros deuses diante de mim”, o que parece estranho. É possível trazer outros deuses para se interpor entre nós e o Deus verdadeiro? Sim. E parece que esta é a razão de ser o ponto central de qual deriva todos os demais mandamentos.
Não é exatamente isto que fazemos? Colocamos outros deuses diante de Deus, e entre nós e Deus. Eventualmente até pedimos que este ídolo do coração nos seja dado, porque o desejamos profundamente, mas Deus está dizendo: “Não coloquem diante de mim o seu falso deus”.
Estes ídolos nos controlam e geram falsas esperanças, acreditamos que eles podem nos dar segurança, mas eles são falsos, meras representações do Deus verdadeiro. Existe uma pergunta clássica para diagnosticar os ídolos do coração:
em quem confio,
desejo,
temo
e amo mais que a Deus?
Este é o critério!
Belsazar não era incrédulo. Era idólatra. Seu problema não era falta de fé, mas fé desviada, com o foco errado.
Esta é a essência da idolatria.
Conclusão
Estamos chegando no final de mais um ano. Todos precisamos nos apresentar diante de Deus. Esquece os elogios que você recebe, as apreciações educadas de amigos queridos, os louvores que os outros emitem a seu respeito, a admiração que você causa em algumas pessoas. O grande desafio não é saber como os outros nos veem, mas como Deus nos vê.
Belsazar foi pesado na balança e achado em falta. Faltou consistência. Por isto o veredito foi dado:
“Esta, pois, é a escritura que se traçou: Mene, Mene, Tequel e Parsim. Esta é a interpretação daquilo: Mene: Contou Deus o teu reino e deu cabo dele. Tequel: Pesado foste na balança e achado em falta. Peres: Dividido foi o teu reino e dado aos medos e aos persas.” (Dn 5.25-28)
Naquela noite o império babilônico deixou de existir. Foi-se toda glória e glamour, dos lugares luxuosos, dos jardins suspensos, da opulência e poder. Apesar da grande beleza natural que o Iraque possui até hoje e sua grande riqueza em petróleo, este país hoje é insignificante, abandonado, desértico, permeado de conflitos.
O veredito foi pronunciado.
Quando olhamos para o evangelho, somos convidados a esperar o julgamento em outras bases e como outros olhos. Paulo, servo de Cristo, ao entender a maravilhosa graça de Deus sobre sua vida, por meio da salvação que estava em Cristo, antecipa o seu julgamento. Não de um condenado, não a de alguém achado em falta, mas de alguém declarado justo, pelo sangue de Cristo, e aprovado pelo Pai, mediante a obra de Cristo Jesus.
“Combati o bom combate, completei a carreira e guardei a fé; já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda.” (2 Tm 4.7-8)
O grande veredito da vida, não é aquele que os homens fazem de nós, mas aquele que é feito por Deus.
O Brasil está marcado por tribunais de farsa, de representações teatrais feitas por homens vestidos de toga, que emitem julgamento baseados em interesses políticos, para agradar determinadas tendências políticas, que não temem manipular as leis, com chicanas jurídicas, para condenar. Os tribunais humanos, servem de interesses de poderosos.
Mas qual veredito receberemos de Deus?
O mais pesado veredito que um homem pode receber é aquele proferido por Jesus:
“Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade.” (Mt 7.22-23).
Paulo afirma com propriedade: “Quanto a mim muito pouco me importa ser julgado por vós, ou por algum juízo humano; nem eu tampouco a mim mesmo me julgo.” (1 Co 4.31) Quem me julga é o Senhor. (1 Co 4.3)
O mais belo veredito que podemos receber de Deus também foi proferido por Jesus:
“Então, dirá o Rei a todos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, e recebei o reino eterno preparado para vós desde a criação do mundo.” (Mt 25.34)
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