Introdução
Em Julho 2007, o então papa da igreja Católica, Joseph Ratzinger, que foi um papa conhecido pelas suas posições conservadoras, afirmou que a Igreja Católica era a única legitima igreja de Cristo. Na verdade, esta é a posição oficial da igreja católica, e de muitas outras igrejas, que creem serem as únicas igrejas verdadeiras, entre elas Tabernáculo da Fé, Adventismo do Sétimo Dia, entre outras.
À medida que envelheço, tenho estado mais convencido de que precisamos de pastores modelos e igrejas modelos. As novas gerações e comunidades precisam de referências aprovadas. Não raramente ouço jovens dizendo que estão observando meu ministério e confesso que me sinto assustado, porque, isto é uma enorme responsabilidade e desafio.
Paulo foi para a Macedônia por uma orientação divina. “Passa a Macedônia e ajuda-nos!”, mas a escolha da cidade de Tessalônica foi uma questão de estratégia. Deus envia o obreiro e dirige a obra. Em apenas 3 semanas Paulo plantou esta igreja que era a Capital da Provincia, com cerca de 200 mil habitantes, no meio de oposição e dor.
É importante frisar a forma como Paulo se dirige a esta igreja: “à igreja dos tessalonicenses em Deus Pai.” (1 Ts 1.1). Ele não fala da igreja em Tessalonica, mas de uma igreja que fazia parte da cidade, era dos tessalonicenses, tinha uma identificação com a cidade. Não era apenas uma igreja para a cidade, mas na cidade, a servico da cidade e da cidade. Esta igreja estava “em Deus Pai.” Era uma igreja viva do Deus vivo.
Paulo se refere à igreja de Tessalônica como uma igreja “modelo para todos os crentes da Macedônia e da Acaia” (1 Ts 1.7). O que havia nesta igreja que fazia diferença e inspirava a tantas outras comunidades? Como identificar a igreja de Cristo e saber que a igreja está cumprindo o propósito de Deus na história? Como saber que igreja tinha na mente de Cristo quando ele afirmou: “Eu edificarei minha igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela?” (Mt 16.18)
Neste texto, Paulo fala de uma igreja modelo no Século I, que se tornava paradigma para outros que seguiam o. Senhor Jesus. Curiosamente ele não se refere à Igreja de Jerusalém como a Igreja modelo, mas reconhece nesta igreja da Tessalônica, as marcar irrefutáveis da graça de Deus.
Quando estudamos as igrejas primitivas, percebemos que elas sempre passaram por problemas teológicos e éticos.
Em Jerusalém, a Igreja irmã, ela quase se dividiu por causa de problemas étnicos e raciais. As viúvas gregas estavam se sentindo desprezadas e preteridas na igreja, e felizmente a liderança soube corrigir a rota e a distorção. A igreja foi tomada por murmurações. Foi nesta igreja que surgiram Ananias e Safira. A igreja sempre enfrentou problemas na história. A Igreja de Jerusalém também não era perfeita. Aliás, não há igrejas perfeitas, e se você encontrar uma igreja perfeita eu recomendo para que você não faça parte dela para não estraga-la.
Laodiceia foi criticada por Jesus pela sua frieza, apatia e arrogância (Ap 3.14-22). A Igreja de Laodiceia também não era perfeita.
Tiatira foi criticada pelo seu misticismo desenfreado (Ap 2.18-19) e pela liderança que acobertava uma mulher que vivia em adultério e ainda espiritualizava sua atitude com uma áurea mística de profecia. (Ap 2.18-19) A Igreja de Tiatira também enfrentou grandes problemas.
A Igreja de Tessalônica, apesar de naturalmente não ser perfeita, tinha algumas marcas que a distinguia das outras igrejas. Ela não era perfeita, mas era modelo (1 Ts 1.7)
Quais eram as características desta igreja? Quais eram suas marcas? Ele começa descrevendo esta igreja com as três virtudes cardeais: Fé, amor e esperança. Características da maturidade desta igreja. Fé em Jesus, amor por Deus e pelas pessoas, e esperança, na segunda vinda de Cristo.
- Fé Operosa - “Recordando-nos, diante do nosso Deus e Pai, da operosidade da vossa fé, da abnegação do vosso amor e da firmeza da vossa esperança em nosso Senhor Jesus Cristo.” (1 Ts 1.3)
A fé da Igreja de Tessalônica produz obras. Onde há fé verdadeira surgem obras genuínas. Fé sem obras é morta. Não existe fé verdadeira dissociada da vida. Salvação é pela fé somente, mas esta fé não vem separada das obras, a palavra grega para operosidade aponta para um trabalho ativo. Eram obras dirigidas pela fé. Qual era este trabalho? Assistir os doentes? Fortalecer os fracos? Consolar os tristes?
O vs 10 parece indicar: Aquela igreja estava impactando toda Macedônia e Acaia. O grande trabalho desta igreja, evidentemente foi o de alcançar os outros depois de ter sido alcançados. Era a obra missionária. esta igreja torna-se uma agência da evangelização.
Era uma igreja cuja fé se evidenciava no trabalho e nas suas atividades. Outra tradução afirma: “Lembramos constantemente, diante do nosso Deus e Pai, do trabalho de vocês que resulta da fé.” (NVI) Sua fé não era abstrata, mas concreta. As pessoas não se impressionam com nosso discurso, mas são atraídas por atitudes. isto fez de Tessalônica uma igreja modelo. Sua fé transformava-se em ato; o que criam, praticavam. Fé operosa produz frutos, manifesta Deus na cidade, gera desejo em outros de conhecer a mensagem que pregam.
Existem igrejas que não produzem frutos que Jesus espera delas. Quando Deus fala da igreja de Laodiceia o ponto de julgamento eram suas obras. (Ap 3.15) Operosidade opõe-se a indiferença, negligência, marasmo. Jesus censura a igreja de Laodiceia: “Quem dera fosses frio ou quente”.
Por outro lado, quando Jesus faz o diagnóstico da igreja de Tiatira, ele a elogia por sua operosidade, que é sinal de diligência. “Conheço as tuas obras, o teu amor, o teu serviço, a tua perseverança e as tuas últimas obras, mais numerosas que as primeiras” (Ap 2.19). Esta igreja desde o início fazia boas obras, e ao invés de diminuir a intensidade com o passar dos tempos, ela agora era ainda mais efetiva no voluntariado e no serviço.
A primeira característica de uma igreja viva é a operosidade de suas obras. Ela realiza a obra de Deus na terra.
- Um amor abnegado (1 Ts 1.3) “Recordando-nos, diante do nosso Deus e Pai, da operosidade da vossa fé, da abnegação do vosso amor e da firmeza da vossa esperança em nosso Senhor Jesus Cristo.” (1 Ts 1.3)
Um amor abnegado. Outra tradução diz: “o esforço motivado pelo amor.” Esta palavra significa “abrir-se em favor de outros.” Abnegação é um termo que pode trazer uma conotação negativa e pejorativa. Não sei se isto se dá porque há uma pessoa em minha família, que nunca parece querer nada, não ter vontade ou desejo algum, e todos dizem que ela é “abnegada”. Mas na verdade, amor abnegado tem realmente um pouco de tudo isto, mas ele abre mão de direitos e privilégios para servir outros, não faz constrangida, mas voluntariamente. Assim era a igreja de Tessalônica. No grego a ideia era de “trabalho exaustivo.”
Abnegação é a atitude da igreja que age de forma generosa e sacrificial em relação ao mundo. Existem muitas igrejas autocentradas, ensimesmadas, cujo coração está apenas voltado para sua manutenção e sobrevivência.
Abnegação significa generosidade e doação, rompe o conformismo e a auto centralização, nos motiva ao sacrifício e à compaixão. Esta foi a atitude de Cristo em favor de nossa libertação e redenção.
Existem pelo menos três razões práticas para um amor abnegado:
a) – Glorifica a Deus – Jesus afirma: “Nisto conhecereis que sois meus discípulos, se amardes uns aos outros”. O amor é uma das credenciais dos discípulos de Cristo.
b) – Este tipo de amor dá sentido humano à existência. Muita depressão tem a ver com o auto enamoramento, o narcisista, uma vida vivida em torno de si mesmo. Em geral pessoas deprimidas encontram grande dificuldade em romper com o “movimento egóico” da alma, que faz um giro em torno de si mesma.
c) – O amor abnegado abre portas para testemunho do Evangelho – As pessoas ouvirão nossa mensagem quando perceberem que realmente nos importamos por elas. A Igreja é a única instituição do mundo que vive em função daqueles que não são seus membros ou associados.
- Uma esperança firme. “Recordando-nos, diante do nosso Deus e Pai, da operosidade da vossa fé, da abnegação do vosso amor e da firmeza da vossa esperança em nosso Senhor Jesus Cristo.” (1 Ts 1.3)
A esperança que permeava a vida desta igreja não era uma esperança débil, frágil, pusilânime, permeada de dúvidas e incertezas. pelo contrário, suas convicções eram sólidas, não eram dúbios nem inconstantes quanto ao que criam. Não era uma esperança em que as pessoas faziam amarguradamente, mas com alegria, aguardando a vinda do Senhor.
Numa época de tanto relativismo moral e espiritual, de tantos paradoxos e desconstrução, é fácil desenvolvermos uma fé volátil e liquida, fluida, pós-moderna. isto leva as pessoas a perderem a confiança rapidamente em Deus, quando as coisas não estão dando certas.
Existe uma esperança frágil e insegura. E existe uma esperança firme. Qual é a esperança que norteia o seu coração?
A esperança firme não teme o amanhã (estamos nas mãos de Deus, e não dos homens e do acaso. Deus governa a história, é dono da história, tem a agenda da história). O Salmista afirma: “O Senhor é a minha luz, a minha salvação, a quem temerei.” (Sl 27.1). O que pode roubar nossa alegria, e nos encher de desespero e angústia quando temos uma esperança firme? A esperança firme nos sustenta em nosso viver.
Mas a esperança firme tem a ver com a eternidade. Foi isto que Jesus procurou afirmar aos discípulos quando se sentiram fragilizados com a possibilidade de sua morte. “Não se turbe o vosso coração, crede em Deus, crede também em mim, na casa de meu pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito, pois vou preparar-vos lugar.” (Jo 14.1-3)
A firme esperança nos sustenta em relação ao que nos acontecerá depois da morte. Billy Graham afirmou: “Um dia você vai ouvir que Billy Graham morreu. Não acredite nisto. Naquele dia eu serei mais vivo do que nunca!'.” Seu neto se lembrou disto no funeral do seu avô. Outra de suas frases foi a seguinte: “A única coisa que a morte pode fazer a um cristão é aproximá-lo de Cristo.”
Nossa esperança é firme por causa daquele que fez a promessa: Jesus. “Não se turbe o vosso coração.” (Jo 14.1-3), É firme também por causa da vida de Cristo. Paulo afirma: “...e para aguardardes dos céus o seu Filho, a quem ele ressuscitou dentre os mortos, Jesus, que nos livra da ira vindoura.” (1 Ts 1.10)
Uma igreja saudável é marcada por uma esperança firme.
- Alicerçada na Eleição divina: “Reconhecendo irmãos, amados de Deus, a vossa eleição.” (1 Ts 1.4). Sua eleição e chamado são sua razão de existir. São pessoas que tem um senso de identidade e missão, não são figuras decorativas da história, mas possuem chamado na existência.
Alguns aspectos são significativos neste versículo:
- Precisamos reconhecer nossa eleição.
A Eleição Incondicional é uma das doutrinas centrais do calvinismo, e ensina que Deus escolhe certas pessoas para serem objetos de sua graça salvadora. Esta eleição não se baseia em boas obras, mas é baseada exclusivamente na livre escolha de Deus, não há méritos da pessoa eleita, tudo é pela graça de Deus.
Muitas pessoas perguntam: "Como posso saber se sou um dos eleitos?", a resposta é extremamente simples: acredite! A Bíblia em nenhum lugar nos instrui a nos preocupar a respeito de nossa posição de eleito ou não-eleito. A marca da pessoa eleita é sua capacidade de confiar totalmente em Jesus para a salvação, essa é a característica central dos eleitos. A capacidade de crer é a evidência da eleição. Ninguém pode receber a Jesus como Salvador a menos que Deus o chame. Jesus afirmou: “Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer.” (Jo 6.44). Portanto, a fé salvadora é evidência de eleição.
Outra evidencia da eleição é que a fé salvadora sempre inclina para a obediência, santidade, boas obras, para a verdade. Uma pessoa não pode pensar que é eleita se sua vida é de frouxidão, descaso e obediência. Paul Washer afirma: “Se você não vive uma vida de santidade, não há nenhum motivo para você pensar que é um cristão.” Conhece-se um discípulo de Cristo pelo cotidiano.
A ideia de que alguém quer ser salvo, mas é incapaz por não ser um dos eleitos, é absolutamente alheia à Bíblia. Ninguém busca a Deus a não ser que o Espírito Santo mova seu coração. É Deus quem abre os olhos e ilumina as mentes para a necessidade de Jesus Cristo como Salvador. Se você recebeu Jesus Cristo como o seu Salvador, confiando somente nele para a salvação e acreditando que o seu sacrifício na cruz é o pagamento total pelos seus pecados – então parabéns, você é um eleito.
- Reconhecer a eleição dá solidez à nossa identidade.” Reconhecendo irmãos, amados de Deus.” Somos amados de Deus. Quem elege é Deus, e a fé nos habilita a “reconhecer a salvação” dada por Cristo. Quando reconhecemos nossa eleição, passamos a nos perceber como pessoas “amadas de Deus.” Não há mais conflito. Rom 8.1 “Agora, pois, nenhuma condenação há para aqueles que estão em Cristo Jesus.” Que benção maravilhosa. Nenhuma condenação. Somos aceitos.
Não fazemos as coisas para sermos aceitos por Deus, mas porque somos aceitos por ele. A igreja bíblica está cheia de gente que se percebe filho amado de Deus, e que recebe esta graça em seu coração. São amados de Deus, possuem identidade de filhos amados, não de órfãos.
A Bíblia ensina: “Mas sabemos que todos são aceitos por Deus somente pela fé em Jesus Cristo e não por fazerem o que a lei manda. Assim nós também temos crido em Cristo Jesus a fim de sermos aceitos por Deus pela nossa fé em Cristo e não por fazermos o que a lei manda. Pois ninguém é aceito por Deus por fazer o que a lei manda.” (Gl 2.16. NTLH).
Salvação é pela graça de Deus e não depende do esforço humano, ou de alguma performance humana, ou do serviço que desempenhamos. É fácil insistir em fazer as coisas para sermos aceitos por Deus, para Ele se agradar de nós, mas a salvação não tem nada a ver com o que podemos ou com o que temos que fazer. Não fazemos para sermos aceitos por Ele, mas por termos sido aceitos, por termos compreendido a Sua salvação. Estamos procurando realizar as obras de Deus não para alcançar algo, mas somente para revelar o Deus que conheceu. Não fazemos para sermos aceitos, mas por sermos aceitos; não para ganhar algo, mas porque já recebemos seu favor
Você já reconheceu a eleição de Deus, através de Cristo, e a tem percebido como você é amado por Deus? Uma das coisas mais fantásticas da vida é identidade e relacionamento. Esta igreja sabia que era escolhida por Deus, por isto sabia que se percebesse especial e amada – era um relacionamento firmado no amor.
Eleição para muitos é um tema pesado, destinado àqueles que se aprofundam nos estudos teológicos, mas se lermos cuidadosamente nas Escrituras veremos que se trata de uma das grandes razões de gratidão. Saber que somos escolhidos de Deus, nos dá senso de pertencimento, identidade e amor.
Um cântico evangélico brasileiro diz assim:
“Nada como ser um redimido,
nada como ser filho de Deus,
e bem cedinho de manhã, saber que as misericórdias do Senhor, se renovaram”.
- Impacto inegável – “Porque o nosso evangelho não chegou até vós tão somente em palavra, mas, sobretudo, em poder, no Espírito Santo e em plena convicção, assim como sabeis ter sido o nosso procedimento entre vós e por amor de vós.” (1 Ts 1.5).
É uma igreja impactada pela obra do Espírito Santo. Não apenas sabe sobre o Evangelho, mas experimenta o evangelho, de forma prática: Ora com fé, tem expectativas de milagres.
Como o evangelho chegou a Tessalônica? Paulo descreve três formas:
- Chega em Palavra – “não chegou até vós tão somente em palavra.” Não apenas em palavras, mas tambem em palavras. Quando estudamos a estratégia de evangelização da igreja primitiva, vemos que a pregação consistia em quatro métodos: Expor, arrazoar, anunciar e demonstrar.
O evangelho atingia o intelecto (razão, entendimento). A mensagem é inteligível, compreensível.
- Chega em poder: “mas, sobretudo, em poder, no Espírito Santo.” Paulo não dependia de sua retórica e oratória.
A palavra “poder”, vem do grego “dínamos” (dinamite). Você não usa dinamite para explodir areia e lama, mas rochas, pedras. A mensagem encontrará estruturas de pensamentos que são verdadeiras barreiras e barricadas. A mensagem sem poder não é capaz de atingir o coração do homem.
O poder do Evangelho tem uma dimensão destrutiva e outra construtiva. Quando o evangelho chegou nesta cidade, os convertidos abandonaram seus deuses falsos, seus ídolos. Ele tem o poder de desestruturar a forma de ver e interpretar a vida. Tem o poder construtivo, porque estas pessoas se converteram ao Deus vivo.
Por isto, pregação precisa ter estes dois elementos: palavra e poder. M. L. Jones afirma que “pregação é a lógica pegando fogo.” É teologia em chamas.
- Chega em plena convicção. “e em plena convicção.” Ela traz convicção de pecados. A obra é operada pelo poder de Deus. Esta foi a convicção da viúva de Sarepta no encontro com Elias: “agora sei que tu és profeta, e que tua palavra vem de Deus.”
Paulo sabia que ele era um instrumento de Deus.
Esta comunidade percebe a eficácia do Evangelho no seu dia: Conversões, transformação de vidas, mudanças de valores... Deus é experimentado, percebido e sentido no meio da congregação. Ela possui uma espiritualidade contagiante, gerada pela obra do Espírito Santo, trazendo vida, renovando os corações, trazendo convicção de pecados, alegria dos céus.
A palavra de Deus não chegou até aqueles irmãos apenas como afirmações doutrinarias, mas em poder, trazendo plena convicção. Como pregadores podemos até ter o poder do convencimento, mas o poder da conversão apenas o Espírito Santo é capaz de fazer. É o Espírito Santo quem age no coração, abrindo o entendimento do incrédulo, operando no seu interior, realizando transformação, levando-o a reconhecer o seu estado de pecado e perdição eterna. O homem, separado de Deus pelo pecado, recebe vida, Esta obra é realizada pelo Espírito Santo.
A mensagem do Evangelho é viva, poderosa, transformadora, porque ele chega até nós pela operação poderosa do Espírito Santo.
Palavra e Poder é sempre um binômio positivo: Jesus afirmou: “Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus” (Lc 22.26). Esta igreja vivenciava a palavra de forma intensa, em plena convicção, não tinha dúvidas sobre a Palavra de Deus, porque via a palavra de forma prática na própria vida. A mensagem chegou com poder, e por isto não se distanciava da vida destes irmãos.
- Esta igreja imitou a Cristo – ““Com efeito, vos tornastes imitadores nossos e do Senhor, tendo recebido a palavra, posto que em meio de muita tribulação, com alegria do Espírito Santo. (1 Ts 1.6)
- Imitou o modelo certo. “De Paulo e de Cristo.” Quem temos imitado? É curioso a ordem que este texto coloca: “de Paulo e de Cristo”, por que não “de Cristo e de Paulo?”
A lógica é que o mundo precisa perceber Deus em nós.
Na visão de Joao em Patmos, ele primeiro vê os candeeiros (as igrejas), depois Jesus no meio deles. Antes do mundo ver Deus, ele precisa ver Deus no meio da igreja.
A palavra imitar vem do grego “mimetai”. Mimetismo. A igreja recebeu boa teologia e viu as obras dos apóstolos sendo manifestas entre eles, e decidiram imitar o estilo de vida e a ética que eles adotavam.
- Recebeu a mensagem certa. “tendo recebido a palavra,” Esta igreja estava crescendo com DNA saudável. Não foram doutrinas nem ideias de homens. Esta é a grande necessidade da igreja de hoje: receber a Palavra. Os púlpitos estão cheios de mensagens vazias, carentes da palavra. As igrejas sofrem porque os púlpitos falham. Existe muita novidade, modismo, mas está faltando a palavra.
- Teve a reação certa. “tendo recebido a palavra, posto que em meio de muita tribulação, com alegria do Espírito Santo.”
Por terem recebido a palavra certa, não se escandalizaram no meio da tribulação. Muitos abandonam a fé porque receberam a palavra cheia de promessas que não são evangélicas:
- “todos seus problemas serão resolvidos.”
-“Venha pra Jesus e você terá sucesso financeiro.”
-“Declare! Profetize! Decrete! Sua palavra tem poder. Toda crise e doença desaparece.”
O que a Palavra sempre nos ensina é que Deus não nos promete uma viagem fácil, mas uma chegada segura. Não promete ausência de lutas, mas vitória garantida.
A diferença entre o salvo e o perdido não são as circunstâncias da vida. Pessoas descrentes podem passar a vida inteira em condições mais favoráveis que a de um crente. Basta ler o Salmo 73 para perceber esta verdade. Asafe olhava para os ímpios e começou a ter inveja deles, até que descobriu a diferença entre o ímpio e o crente.
Jesus contou a parábola da casa construída sobre a areia e sobre a rocha: mesmo material, mesma estrutura, mas o fundamento era diferente.
Os cristãos de Tessalônica não se escandalizaram no meio do sofrimento, porque construíram suas vidas sobre a palavra de Deus.
- Alegria ultra circunstancial: “Com efeito, vos tornastes imitadores nossos e do Senhor, tendo recebido a palavra, posto que em meio de muita tribulação, com alegria do Espírito Santo. (1 Ts 1.6)
Aqueles irmãos receberam a palavra num contexto de forte oposição e perseguição. Não era simples tornar-se cristão. As pressões espirituais do diabo, aliadas às religiões supersticiosas que marcavam aquela região eram suficientes para gerar grande tribulação naqueles que ousavam crer em Cristo. Era batalha espiritual.
Foi assim que a igreja da Tessalônica recebeu a mensagem do evangelho. Não dava status crer em Cristo, antes era motivo de tribulação. Será que hoje não é diferente? O que significa hoje para um empresário assumir publicamente sua fé em Cristo? Ume estudante universitário? Um professor? Assumir publicamente seu compromisso com Cristo pode trazer grandes tribulações. Assim foi em Tessalônica, assim é ainda hoje.
As circunstâncias não eram favoráveis, os dias eram tensos, marcados por tribulação, mas esta igreja estava experimentando a alegria do Espírito Santo. Havia muita oposição política e satânica, os crentes estavam acossados e instigados por causa de suas convicções, em meio a “muita tribulação”, mas algo surpreendente acontecia em seus corações. A alegria deles estava relacionada à palavra, à identidade de amor que tinham com Deus. Apesar de terem recebido a apalavra em meio à tribulação, isto trouxe grande alegria. Esta é a marca de uma igreja viva: Alegria no meio das tribulações.
Esta alegria é do Espírito Santo. A presença do Evangelho não é antídoto contra provação e sofrimento. Os irmãos desta igreja não receberam a palavra e todos seus problemas foram resolvidos, pelo contrário, s problemas aumentaram. Entretanto, a alegria do Espírito Santo fez toda diferença em seus corações. Por isto a mensagem do Evangelho é recebida com alegria, não como peso, porque a Palavra rompe as barreiras da tribulação não com a supressão da dor, mas com a alegria do Espírito Santo.
- Tornou-se o modelo certo – “De sorte que vos tornastes o modelo para todos os crentes da Macedônia e da Ásia.” (1 Ts 1.7)
Primeiramente estes irmãos imitaram, depois se transformaram em modelos, tornaram-se exemplos, uma igreja madura. Aquela igreja estava imprimindo sua marca nas demais comunidades que estavam sendo formadas. Dave Ferguson afirma que esta é a situação ideal de uma igreja. A primeira fase de uma igreja saudável é seu crescimento, o segundo estágio é sua multiplicação, plantando novas igrejas, e a terceira fase é quando a igreja influencia outros ministérios, pelo seu estilo de ministério, levando outras igrejas ao crescimento rumo a Cristo. Este é o nosso desejo, ver os ministérios do IPC-Kids, pré-adolescentes, adolescentes, pastoreio e palavra, sendo referência e abençoando outras igrejas de nossa região e do Brasil.
O estilo de vida daquela igreja “repercutiu“ em outros lugares. “Porque de vós repercutiu a palavra do Senhor, não só na Macedônia e Acaia, mas também por toda parte.” (1 Ts 1.8). a palavra repercutiu vem do latim e tem a ideia de um eco.
- Ruptura com deuses falsos - “Pois eles mesmos, no tocante a nós, proclamam que repercussão teve o nosso ingresso no vosso meio, e como, deixando os ídolos, vos convertestes a Deus, para servirdes o Deus vivo e verdadeiro.” (1 Ts 1.9).
Não se iludam. A maior batalha no processo de nossa conversão é o abandono dos deuses falsos. O que é um Deus? Tudo que gera confiança, segurança, e que falsamente acreditamos que não dá para viver sem ele. Soa falsos deuses. Falsos pressupostos. Precisamos deixar os ídolos, falsas ideologias, filosofias, e nos convertermos ao Deus vivo e verdadeiro. Deixar os deuses falsos.
A primeira e mais dramática conversão espiritual é dos deuses falsos para o Deus verdadeiro. Aqueles irmãos haviam rompido com tradições culturais, familiares, religiosas, que eram contra o Deus verdadeiro. Eles rejeitaram os seus ídolos, em quem haviam anteriormente colocado toda confiança. Eventualmente esta ruptura produz grandes estardalhaços: “...que repercussão teve o nosso ingresso no vosso meio”. A atitude destes irmãos em seguir o Deus verdadeiro, causou impacto e se tornou assunto nas rodas de conversa. Não foi algo fácil. Quando Gideão decidiu romper com os ídolos de sua casa, a Bíblia diz que seu pai ficou contra ele (embora o tivesse defendido da morte), e toda sua aldeia quis matá-lo.
Tente destruir os falsos deuses de sua vida, de seu coração, de sua família, e você vai entender como é complexo destruir os falsos deuses.
Em Tessalônica, assim como hoje, as pessoas vivem em torno de falsos deuses. Se ajoelham diante de imagens horríveis, e se submetem às divindades da luxúria, do dinheiro, do poder. Acreditam que estas coisas é que são importantes. A conversão ao Deus verdadeiro implica em ruptura com os deuses falsos.
Um ídolo é concorrente do Deus verdadeiro, por isto o primeiro mandamento tem a ver com a exclusividade de Deus. “Não terás outros deuses diante de mim.” (Ex 20.1-4). É fácil colocar outros deuses diante do Deus verdadeiro, e até mesmo orar ao Deus verdadeiro que nos dê o falso Deus. As pessoas daquela igreja deixaram os ídolos e se converteram para servirem ao Deus vivo e verdadeiro.
Os ídolos modernos se comunicam através da televisão, do computador e do celular, acalentam o ego, criam falsas ilusões, dão ideia de que não podemos vier sem eles, alimentam o orgulho. Eles dominam o coração, a mente, orientam os comportamentos, e nos afasta silenciosamente de Deus.
Será que ainda estamos confiados nos falsos deuses? A única igreja verdadeira é a igreja que se apega ao único Deus verdadeiro, e rejeita a proposta dos ídolos. Conversão ao Deus verdadeiro implica em ruptura com os deuses falsos.
Conversão de que, para quem? “Deixando os ídolos vos convertestes a Deus.” (1 Ts 1.9)
Dos ídolos para Deus.
Tessalônica é uma cidade grega que fica a 80 kms de Atenas, onde estava o Monte Olimpos, e na mitologia grega, no cume deste monte ficava Zeus, “o grande Deus” do panteão grego de divindades. Quando ele sacodia sua cabeleira, o Monte Olimpo tremia. Os gregos tinham muitos deuses e ídolos, eles eram presos destes ídolos e divindades. Com a pregação da palavra, eles saíram da idolatria para o Evangelho.
Qual a finalidade da conversão? “Para servirdes o Deus vivo e verdadeiro.” (1 Ts 1.9)
Nossa conversão é “para servir o Deus vivo.”
Conversão não é para viver vida sem compromisso. Não é apenas abraçar a salvação e viver numa suposta graça despreocupada, negligente e indolente, mas recebemos a salvação para servir a Deus.
- Esperança gloriosa – “E para aguardardes dos céus o seu Filho, a quem ele ressuscitou dentre os mortos, Jesus, que nos livra da ira vindoura.” (1 Ts 1.10)
Esta igreja recebeu uma viva esperança.
O Rev. Hernandes Dias Lopes sugere três ideias:
- Expectativa da segunda vinda – “E para aguardardes dos céus o seu Filho.”
A palavra “aguardar” tem a conotação de uma espera feliz, com paciência e esperança. Não apenas esperavam, mas também estavam preparados para a volta de Cristo. Esta palavra tem a mesma ideia da expectativa de um hospede querido, honrado e ilustre em casa. Nós preparamos a casa, quarto, disponibilizamos tempo, preparamos comida. Este visitante não nos apanha de surpresa, porque estamos aguardando ansiosamente sua chegada.
Certa vez perguntaram a Joao Wesley o que ele gostaria de estar fazendo quando Jesus voltasse e ele respondeu: “a mesma coisa que faço todo dia, pois todo dia aguardo a sua volta.”
A Igreja Primitiva tinha a concepção da volta iminente de Cristo. Eles não aguardavam os sinais, mas o Senhor. Jesus vai voltar. “venho sem demora!” Esta expectativa levava a igreja a viver em santidade.
- A base da expectativa – “a quem ele ressuscitou dentre os mortos, Jesus.” Paulo associa a ressurreição de Cristo à segunda vinda. Isto é importante, porque como poderemos crer na segunda vinda se não cremos na ressurreição?
- O Livramento da igreja na segunda vinda - “Jesus, que nos livra da ira vindoura.”
O conceito da ira de Deus não é simples nem é fácil.
Por duas razões:
Primeiro, temos dificuldade para entender a ira de Deus sendo ele amor.
Em segundo lugar ira está associada a nossa natureza pecaminosa.
O que é ira para você e para mim: Emoção forte? Fruto do orgulho ferido? Explosão de fúria caprichosa? Emoção descontrolada, pessoa zangada?
Esta não é a ira de Deus. Ele não fica descontrolado, não age com capricho, nem age com ira porque se feriu e magoou. A ira de Deus é uma justa reação de Deus diante do mal, é dirigida contra o mal, não é arbitrária.
A bíblia fala da ira de Deus! Segundo o livro de Apocalipse, o cálice da ira de Deus está enchendo. A Ira de Deus será aplicada contra os que o desprezaram, zombaram, rejeitaram sua mensagem e seu Filho. Estes enfrentarão a ira do Cordeiro.
Em Apocalipse 6, os ímpios estão apavorados não porque a natureza entrou em colapso. Os homens não têm medo da morte, eles querem até morrer e buscam a morte, mas o pavor está relacionado à compreensão que passam ter de perceberem que a “o dia da ira do Cordeiro chegou!”. Amós, o profeta afirma que este dia será de trevas, não de luz, de julgamento, não de livramento.”
Como fomos libertos da ira? Quando Jesus morreu pelos nossos pecados, e nos resgatou, nos justificou diante de Deus. Quando recebemos esta salvação pela fé, e entendemos a graça de Deus revelada na cruz.
Conclusão
No início citamos o papa Ratzinger. Afirmando que ele estava errado com sua afirmação, assim como estará errado qualquer pessoa ou denominação que equivocadamente se acha a única verdade. Na verdade, a igreja verdadeira coloca o Deus verdadeiro no centro de sua adoração.
Neste texto estudamos algumas características desta igreja que se tornou referência e modelo. Se você me perguntasse hoje sobre alguns dos anseios de minha alma eu diria que gostaria de pastorear uma igreja que fosse refúgio e descanso para as pessoas cansadas, trouxesse graça e esperança ao coração das pessoas, e que inspirasse esta geração. Eu gostaria de ser pastor de uma igreja na qual pudessem olhar para ela e desejassem imitar as coisas boas e saudáveis que ela produz, e que, inspirasse também as próximas gerações, a cidade e atraísse outras pessoas com uma direção profunda, sábia e abençoadora em direção a Deus.
Algum tempo atrás chegou à nossa igreja um casal com dois filhos. Eles chegaram desconfiados e arredios. Ele havia sido pastor de uma das igrejas mais fundamentalistas deste país, e sofreu muito com aquele contexto eclesiástico pesado e legalista. Apesar de serem crentes chegaram à conclusão de que não iriam se envolver com nenhuma outra igreja, mas com o passar do tempo, viram que sua atitude não era correta. É assim o coração dos crentes... Deus os fez para viver em comunidade, pois não existe corpo sem junção de membros. Eles procuraram o dono de uma livraria cristã da cidade, querendo saber de uma igreja na qual ele recomendaria para adorar a Deus e trazer seus filhos. Aquele rapaz, que não é de nossa igreja, recomendou a nossa comunidade. Ele veio, se envolveu, participou, se tornou membro até se transferir de nossa cidade para São Paulo.
Nossa igreja chegou a 1.011 membros em 2015, contando as congregações e membros menores. Hoje somos cerca de 1500 membros. Mais do que um numero simbólico e marcante, meu desejo é que esta igreja se torne referência de graça, do evangelho, de saúde e santidade para muitas outras igrejas e pastores jovens, que eles pudessem olhar para nosso jeito de ser e fazer ministério e dissessem: “Esta igreja é uma boa referência para nós”.
Assim foi a igreja de Tessalônica.
Será que receberemos graça de Deus para vivermos assim?
Samuel Vieira
Anápolis – Agosto 2007
Refeito Fevereiro 2024
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