Introdução
Um dos maiores desafios da vida é julgar os eventos de forma correta. O grande problema é que quando lidamos com os eventos, a tendência é de julgarmos todas as coisas a partir de uma lente que já temos estabelecido. A fenomenologia, um dos ramos da filosofia, utiliza uma metodologia que se propõe a estudar os fenômenos da consciência, descrevendo e analisando os fenômenos de forma rigorosa e sistemática, sem recorrer a teorias pré-concebidas ou explicações externas. A fenomenologia foi fundada por Edmund Husserl (1859-1938), filósofo alemão, que a definiu como a ciência dos fenômenos puros da consciência. Ele propôs a redução fenomenológica, um método para suspender nossas crenças e preconceitos e focar na experiência imediata dos fenômenos e nos convida a questionar nossas crenças e preconceitos, e a desenvolver uma nova visão de mundo baseada na experiência imediata dos fenômenos para compreendermos a nós mesmos e o mundo ao nosso redor, e para desenvolvermos uma vida mais autêntica e significativa.
O problema é a dificuldade de aplicar tal teoria na prática. Todos nós lemos e julgamos com nossa ótica pré-estabelecida. A coisa é tão grave, que não se acredita mais na neutralidade das informações jornalísticas, (alguém ainda acredita no Jornal Nacional ou na Folha de São Paulo, tidos durante muito tempo como empresa jornalística interessada em transmitir a verdade?) O viés ideológico da imprensa é tão perceptível que ninguém ouve sem questionamentos. Alguém acredita numa justiça imparcial, justa e "cega" como é idealizada pela mulher com o resto vendado segurando uma balança justa? Até mesmo a ciência, está tão corrompida, que já tem sido considerada como uma "grande meretriz", e as pesquisas servem para enriquecer grandes laboratórios que anseiam pelo lucro, e não pela ciência pura e isenta de controle de fortes grupos empresariais, e há fortes teorias conspiratórias que afirmam que a cura para determinadas doenças crônicas já existem, mas que os laboratórios não querem trazer esta informação por causa do lucro que tais enfermidades trazem.
Neste contexto, somos chamados por Deus para "julgar (examinar) todas as coisas e reter o que é bom." Como julgar todas as coisas de forma correta? Que lentes poderemos usar para separar o joio do trigo, o escuro do claro, a verdade da mentira, as propostas de deus e do diabo? O que é certo e errado? Quais parâmetros usaremos para julgar todas as coisas e a partir daí, reter o que é bom?
O convite de Deus para julgarmos todas as coisas, nos ensina que não podemos aceitar e engolir todas as coisas que nos são ditas. precisamos aprender a discernir. não podemos viver uma vida abençoada se não aprendermos a julgar as coisas e fazer escolhas corretas a partir daí. Nosso julgamento dos fatos nos ajudará a caminhar em segurança.
O texto bíblico afirma: “Julgai tudo, e retende o que é bom” (1 Ts 5.21). Eu prefiro a tradução que diz: “Examinai tudo”, porque julgar tem um tom legalista e moralista, embora o exame profundo nos levará inexoravelmente ao julgamento. Quem examina precisa pesar na balança, considerar a realidade, analisar, o que, em última instância, é um julgamento.
O cristão é alguém que não tem medo da verdade, pois afirma e crê qye toda verdade é verdade de Deus. Quem tem medo da verdade são as trevas. Hoje existe no mundo acadêmico um cerco e uma ditadura de ideias. Se você se candidatar a uma tese de mestrado ou doutorado na área de filosofia, história, literatura, e não defender as ideias marxistas ou da esquerda, sustentadas por professores de esquerda eles não aceitarão. Existe um cerco ideológico, uma ditadura do saber.
Luiz Filipe Pondé escreveu um provocante texto sobre este assunto: Por que os professores são petistas?
“Por que os professores universitários, não só das universidades públicas, na sua esmagadora maioria, apoiam o PT e a esquerda? Eu dou duas respostas. A primeira, um pouco mais profunda, é a seguinte. Porque a esquerda é uma seita, é uma forma de religião, é uma forma de obsessão. E essas pessoas que são uma espécie de herdeiras de um messianismo sem Deus, em que Deus é a história e eles são os apóstolos do bem, da história perfeita, eles, ao aderirem a essa seita chamada socialismo, comunismo, como você queira, ao aderirem a essa seita, eles sentem que eles são pessoas do bem. É mais ou menos como se eles se olhassem no espelho e vissem a cara de Jesus do outro lado. Então, a primeira causa para esses professores todos, na sua maioria, aderirem à esquerda, é porque isso produz uma auto percepção orgulhosa de que eles estão e estão do lado do bem. E como todo mundo que já estudou um pouco de história é da frente. Moral ou mesmo história da santidade na tradição católica sabe que todo mundo que se acha do bem na realidade é do mal.
A outra causa, um pouco mais prosaica, é porque você ser de esquerda, e no caso defender o PT e seus asseclas, você na realidade faz parte de um grupo, de uma networking, e nessa networking você tem amigos, você tem verba na universidade para pesquisa, você tem, é mais fácil fazer alguns, passar alguns concursos, seus orientados tem mais chance de inserção no mercado, você é convidado para falar em congressos e colóquios, você tem poder nos colegiados, ou seja, enquanto a primeira razão é uma razão, digamos assim, mais psicológica, porque esses professores querem se sentir parte do bem, a segunda razão é uma razão, digamos assim, mais sociológica, porque fazendo parte dessa networking da esquerda, dentro das universidades, eles têm mais poder. Portanto, a segunda razão prova que a primeira é falsa.
Eles aderem a essa utopia de que existiria um mundo perfeito e eles estão realizando esse mundo perfeito. Eles aderem a isso inclusive para ter um monte de alunos que os seguem, gostam de ser gurus deles. Mas a segunda causa prova que eles não são santos. Eles aderem à esquerda porque eles sabem que assim eles vão ter mais poder dentro da universidade. Portanto essa adesão é uma forma de corrupção do caráter. Então eles não são santos.”
Todas as coisas precisam passar pelo crivo, análise, julgamento. E o que deve ser retido é apenas o que for bom. Tem muito lixo que precisa ser jogado fora, mas não podemos fazer isto sem correta capacidade de julgamento. Um ditado popular em inglês é "Don't throw out the baby with the bathwater." (não jogue fora o bebê com a água suja). Este ditado é geralmente usado em situações em que, para nos livrar de algo ruim, acabamos perdendo algo bom. Muitas vezes não conseguimos julgar corretamente:
A Bíblia afirma:
"Os simples passam adiante e caem no mal, o sábio vê e se esquiva” (Pv 27.12). Outra tradução diz: "O prudente vê o mal e se esconde; mas os ingênuos seguem em frente e sofrem as consequências."
Julgamento errado traz morte, prejuízos financeiros, morais e espirituais e danos para a saúde física e mental. Existem pessoas que só fazem escolhas erradas, por causa da dificuldade de julgar corretamente as coisas. Jesus afirmou que “são os olhos a lâmpada do corpo, se teu olho for luminoso, todo corpo o será.” Olhos são os agentes que captam o mundo interno e o interpretam, é o mundo da percepção, que vê e julga os eventos. Se tivermos capacidade de julgar e examinar corretamente, nossa integridade fisica será protegida.
Existem algumas situações em que julgar as coisas corretamente nem sempre estão presentes.
O texto afirma: "julgai todas as coisas." Não diz, julgai as pessoas. A questão aqui não é julgar os outros. A Bíblia nos adverte: "Não julgueis para que não sejais julgados." Na maioria das vezes não conseguimos separar as coisas erradas das pessoas, mas nosso julgamento não é sobre pessoas, mas sobre suas práticas. Se a prática é boa ou ruim. Portanto, tire o dedo acusatório de moralidade e legalismo. Olhe com compaixão as pessoas, mas julgue criteriosamente a prática.
Alguns exemplos de como as pessoas não julgam corretamente os eventos:
A. Uma pessoa apaixonada - A Bíblia diz que "a loucura é mulher apaixonada, ela é ignorante e não sabe coisa alguma." (Pv 9.13) Já viram pessoas apaixonadas? Elas não são capazes de julgar corretamente. Todos os amigos e familiares alertam, o pastor tenta aconselhar, mas elas não conseguem ver. os olhos parecem obnubilados e enevoados. a visão dos fatos e o julgamento está comprometido por causa da paixão.
B. As propagandas e notícias. Pessoas treinadas na área de marketing sabem como explorar seus sentidos. Eles usam cores, cheiros, visual, apelam aos ouvidos e olhos. lembre-se que Eva, depois de tentada, olhou para a árvore do bem e do mal, e a Bíblia diz: "vendo ela que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos, tomou do fruto e comeu." O apelo tem que atingir seus sentidos, as coisas precisam de forma e beleza. Ninguém é tentado por coisas feias.
C. A corrupção no mundo empresarial e político. Quando o dinheiro aparece, somos tentados a negociar a consciência, fé, caráter, Deus. “O suborno age como pedra mágica aos olhos de quem o oferece, e causa a ilusão de que é possível comprar qualquer coisa.” (Pv 17.7 KJA). Quando o dinheiro aparece, as pessoas facilmente fazem leituras e interpretações que são verdadeiros laços.
Como nos proteger de falsos julgamentos?
1. Analise a história.
O Livro de Daniel nos relata um episódio relacionado ao rei Belsazar. Seu pai, havia enfiado os pés pelas mãos e foi julgado severamente por Deus, entrando num surto psicótico que obrigou seus súditos a colocarem o rei num pequeno espaço, e sua situação de loucura foi tal que a Bíblia afirma que num determinado momento ele começou a querer pastor como faz um cabrito. quando Daniel é chamado diante dele para decifrar o mistério da mão que escrevia na parede, Daniel o repreendeu pela sua estupidez em não considerar o que a história já havia demonstrado conta a história do Pai, o que ele sofreu pela sua obstinação e rebeldia: “Tu, Belsazar, que és seu filho, não humilhastes o coração, ainda que sabias tudo isto” (Dn 5.22)
Filhos muitas vezes veem seus avós e mesmo seus pais, cometendo graves erros, trazendo muita dor e vergonha para a família, e ainda assim continuam fazendo do mesmo jeito pecaminoso de seus pais. Não aprenderam a julgar os fatos, cumprindo o vaticínio de Hegel, um filósofo alemão que dizia: “se a história nos ensina alguma coisa, nos ensina que não nos ensina nada”. Na verdade, a história dá boas pistas para que não andemos pelas mesmas trilhas tortuosas.
2. Preste atenção em pessoas com mais experiência de vida, e gente que está acertando nas escolhas.
Eu não preciso trilhar todo caminho sozinho, posso ver as estradas que outros usaram. Jesus afirma que "a sabedoria é justificada por seus filhos." Olhe o resultado do pecado na vida das pessoas e na história de suas famílias. Olhe o resultado de uma vida de justiça e retidão. aprenda a observar a vida, fazer leituras corretas. Não precisamos trilhar todo caminho para vermos seus resultados, podemos ver as estradas que outros usaram: Exemplo: Não preciso fumar maconha para saber os resultados dela na minha vida, outros o fizeram e se deram mal.
3. Peça sabedoria a Deus
A Bíblia afirma: “Se alguém tem falta de sabedoria, peça a Deus, que a todos dá liberalmente, e nada lhes impropera, e ser-lhe-á concedida.” (Tg 1.14) Se você está em dúvida, ore sinceramente ao Senhor para que ele lhe dê direção, força e coragem para não apenas ver o que é certo, mas fazer o que é certo. é necessário julgar, isto tem a ver com observação, mas é fundamental reter o que é bom, isto tem a ver com a prática, a vida diária. Deus dá aos homens, a capacidade de discernir entre o bem/mal, entre o bom e o ótimo, entre o urgente e o prioritário.
4. Julgue as coisas com a ótica e a cosmovisão bíblica.
Em hipótese alguma confie apenas na sua intuição: “Não se estribes em teu próprio conhecimento”.
Provavelmente este texto tem conexão com a afirmação anterior que diz: “Não desprezeis as profecias.” Hernández Dias Lopes afirma. O crente precisa exercer discernimento espiritual. Paulo diz “julgai todas as coisas retenha o que é bom.” Na igreja primitiva havia mensageiros itinerantes que pregavam doutrinas estranhas. A igreja ao ouvir um pregador precisava estar percebida e atenta. Paulo disse que quando um profeta fala os ouvintes devem julgar. (1 Co 14.29) Na igreja de Corinto, algumas pessoas em estado de êxtase chegavam a proferir blasfêmia dizendo “anátema Jesus.” (1 Co 12.3). Não podemos aceitar como verdade absoluta tudo aquilo que as pessoas falam em nome de Deus. O crente não pode ser menino no juízo. Ele precisa ser maduro e exercer pleno discernimento como os crentes bereanos que consultavam sempre a escritura para conferir o que os pregadores diziam. (At 17.1)
Conclusão
O texto nos ensina que, depois de examinarmos todas as coisas, precisamos reter aquilo que é bom.
a)- Não retenha tudo o que você vê, muito daquilo que você vê é lixo fútil e banal, Só retenha aquilo que é bom, puro, aceitável, de boa fama. Tenha a mente aberta para julgar o que você ouve e vê, mas tenha coragem de descartar aquilo que é banal e fútil. Não dá para ficar com tudo, retenha apenas aquilo que é importante:
-Seu tempo é limitado;
-Seus recursos são limitados;
-Sua saúde é limitada.
b)- Não escolha apenas pela aparência: nem tudo que reluz é ouro!
O crente tem a luz da verdade em sua mente. Ele não é uma pessoa de mente estreita. Ele tem discernimento. Ele tem a capacidade para avaliar e julgar. Ele sabe distinguir entre o precioso e o vivo, (Jr 15.19). O crivo para julgamento é a palavra de Deus. Quando falta a igreja, o conhecimento da palavra ela é destruída. (Os 4.12) Quando os crentes não examinam as escrituras nem julgam os profetas, heresias perniciosas crescem no meio do rebanho.
c)- Não tenha pressa em fazer escolhas. As melhores decisões de sua vida exigem tempo, reflexão, paciência e amadurecimento. “Peca quem é precipitado!”.
e)- Não escolha sem conversar com Deus. Existem coisas que a melhor análise, mesmo com todos os dados e informações na mesa, ainda torna-se difícil decidir e julgar. “Há caminho que ao homem parece ser bom, mas no final são caminhos de morte”.
f)- Escolha o que é fundamental: O resto é consequência.
Þ “Buscai, pois, em primeiro lugar a sua justiça, e as demais coisas vos serão acrescentadas.” (Mt 6.33)
Þ “Maria, pois, escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada.” (Mc 10.42)
Þ O Rei Uzias, aos 16 anos, “propôs-se a buscar a Deus.” (2 Cr 26.5)
Þ A melhor opção: “Aquele que crê em mim, nunca será envergonhado”. O reino de Deus é uma pérola de grande valor.
A grande decisão da vida é a escolha de seguir a Cristo. Isto é essencial. Jesus afirma sobre Maria: “Maria escolheu a boa parte e esta não lhe será tirada.” A maior e mais importante decisão da sua vida tem a ver com a eternidade. Examine tudo, julgue todo, mas considere: “De que vale para o homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?”
Samuel Vieira
Anápolis 1, Jan 2007
Junho 2024
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