Introdução
Qual tem sido sua grande tentação?
Muitas vezes não somos capazes de penetrar nas nossas verdadeiras e graves tentações. Apenas tangenciamos perifericamente nossas fraquezas, taras e impulsos. Ficamos tão assustados com a dura realidade do nosso coração que nem sempre temos a coragem de aprofundar. O que já vemos na superfície já nos assusta. Por isto, é comum falarmos numa tentação que é “socialmente” aceitável, mas não penetrarmos no âmago do nosso mal.
Esta é a forma mais comum e padrão como a tentação opera. Ela quase sempre se manifesta através de algo superficial (o sintoma), enquanto a sua etiologia (a causa raiz) reside em uma necessidade, um trauma ou um vazio existencial muito mais profundo.
É como tratar uma febre com um analgésico: a febre (a tentação superficial) baixa temporariamente, mas a infecção (a etiologia profunda) continua progredindo.
Um exemplo simples disto pode ser visto na compulsão por comprar (superficial). Ela é mais fácil de executar do que confrontar a insegurança ou a solidão (profunda). A pornografia (superficial) é um escape mais rápido do que lidar com o medo da intimidade real e do fracasso emocional (profundo). Focar no superficial permite que a pessoa evite o trabalho mais difícil: a introspecção e a cura.
A tentação age como uma cortina de fumaça. Enquanto a pessoa se debate com a culpa por ter comido demais, ela não precisa confrontar a dor que a leva a buscar conforto na comida. A superficialidade é um mecanismo que tenta evitar d sofrimento profundo.
Uma definição clássica de tentação pode ser formulada da seguinte forma: “tentação é o encontro do pior do todos os seres com o pior que há em mim.”
O que há de pior em você? Antes que você fique com medo de refletir sobre isto, gostaria de dizer que entrar em contato com seu próprio mal é a forma mais efetiva do ser liberto dele. Principalmente quando você coloca tudo isto na perspectiva do evangelho e entende o que Cristo fez por você e o que o Espírito Santo pode fazer na sua vida. John Piper afirma que na salvação, Deus tira você da lama; na santificação; Deus tira a lama de você.
Ao lermos este texto das Escrituras Sagradas, e considerarmos a realidade da tentação, , gostaria de fazer quatro afirmações preliminares sobre a tentação.
- Ser tentado não é pecado.
O texto afirma que “A seguir, foi Jesus levado pelo Espírito, ao deserto para ser tentado.” (Mt 4.1). Portanto, não há nenhum problema com a tentação, a não ser que cedamos às ofertas sedutoras do diabo. Tentações fazem parte de um processo no qual Deus permite que sejamos avaliados e testados quanto à nossa fé. Todo homem e mulher de Deus enfrenta tentações.
- Muitas tentações ocorrem depois de grandes experiências com Deus
É o que observamos no texto. Jesus é levado ao deserto para ser tentado, depois de um longo período de consagração e dedicação de sua vida a Deus. Ele estava jejuando e orando. Sua tentação vem depois deste longo período de dedicação.
- Elias, depois da vitória do Carmelo, sente-se deprimido e pede para morrer.
- Após a transfiguração Jesus tem que se defrontar com um endemoniado.
- Muitas pessoas são profundamente chocadas com fatos que surgem após um culto abençoado e chegam em casa para se encontrar com uma situação demoníaca.
- Depois de um culto abençoado na cidade de Gurupí, uma fiel mulher, mãe de um amigo meu é acidentada e morre.
- A tentação é uma realidade que não pode ser ignorada em nossa vida
Elas são de formas diferentes porque cada um de nós possui áreas diferentes de fraquezas e pelas quais nos sentimos mais fascinados. Mas não ignore a tentação. Elas sempre estarão rondando sua vida, seja em forma de fantasias, pensamentos, ideias, e surgem de forma inesperada sobre nossas vidas. A verdade é que "não posso impedir que um passarinho voe sobre minha cabeça, mas posso impedir que ele faça ninho sobre ela". Por que a tentação é uma realidade sempre presente em nossa caminhada de fé, a Palavra de Deus afirma: “Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se de nossas fraquezas, antes ele foi tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado.” (Hb 4.15).
- A Palavra nos orienta em como não cair em pecado
Existem fronteiras e proteções que podemos e devemos criar diante da ameaça da queda: Oração e jejum fazem parte deste arsenal de guerra que devemos usar para combater nossas paixões. Gente tentada não vence a tentação sem aprofundar sua vida no compromisso com o discipulado cristão. Todas as vezes que vemos pessoas caindo em pecado, podemos observar que sua vida espiritual está se desmoronando e a ausência da oração, superficialidade da relação com Deus, ausência de uma vida devocional e o afastamento da igreja está se tornando cada vez mais evidente em suas vidas. A queda se dá geralmente porque a imunidade está fraca.
Jesus entendia muito bem disto: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito na verdade está pronto, mas a carne é fraca.” (Mt 26.41) Deus tem provisão para aqueles que são tentados: “Pois naquilo que ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para socorrer os que são tentados.” (Hb 2.18)
O texto nos revela alguns aspectos surpreendentes sobre a tentação
- Lança dúvida sobre sua identidade - "Se és Filho".
Satanás coloca dúvidas na relação dele com o Pai, sugerindo que se fosse filho amado de Deus, ele não passaria por todas aquelas crises. Curiosamente ele tenta lançar dúvidas sobre a declaração que anteriormente Deus havia feito, de forma pública a Jesus, em Mt 3.17: “Este é o meu filho amado, em quem me comprazo”.
A declaração de Deus revela sua identidade de filho amado. Ele era o Pai.
Quando não entendemos a paternidade de Deus, as tentações se tornam muito fortes. Em geral, temos uma percepção de que somos órfãos. O senso de orfandade, geralmente nos transforma em vítimas. Se você não souber que você é filho de Deus, e Satanás tem todo interesse que você não saiba de sua identidade, certamente as tentações e privações se tornarão muito pesadas.
- Lança dúvida sobre o amor de Deus por Jesus - "Se és Filho".
Existe outro aspecto que precisa ser considerado. Ao questionar sua filiação e identidade, Satanás está também questionando os afetos de Deus por Jesus. No texto anterior, Deus afirma que tinha prazer em Cristo, ao lançar dúvidas sobre sua identidade, Satanás mexe num ingrediente essencial. Você é amado de Deus? Será que Deus o ama? Se Deus o ama, porque ele permite que você passe pelo deserto, pela dor e pela morte?
Será que um crente fiel passa pelo deserto? Que um filho amado de Deus passa fome? Deus permite que estas coisas aconteçam com seu filho querido?
- Lança dúvidas na hora certa – “E depois de jejuar, quarenta dias e quarenta noites, teve fome” (Mt 4.2)
Certamente este período de privação extrapola os limites da resistência humana. Uma pessoa não consegue ficar mais de três dias sem água, não pode viver mais de 21 diss. sem comida. Portanto, trata-se de um tempo longo de privação. Jesus está no seu limite. Depois de 40 dias, teve fome. O tentador deixou sua fome aguçar e então “aproxima-se”. Caímos em tentação quando nossas necessidades estão no limite.
- Lança dúvidas no condicional- "Se és filho de Deus" (Mt 4.3,6,9).
Satanás usa a força da condicional “se”, em três ocasiões. O que ele está insinuando é que, aquilo que Cristo acreditava ser verdade, parece equivocado. Jesus sabia que era filho de Deus, mas ainda assim, Satanás insinua que sua compreensão sobre si mesmo poderia estar equivocada. Ele usa a privação de Jesus para questioná-lo sobre a realidade da filiação. Não é exatamente isto que acontece conosco?
Nós amamos a Deus, cremos na sua Palavra, estamos seguros na obra de Cristo, mas quando surgem as dificuldades e as intempéries, imediatamente nossas convicções são colocadas na condicional. “E se...” não for realidade o que creio? E se meus valores espirituais não estiverem corretamente fundamentados?
Veja que Satanás não diz abertamente que Jesus não é filho de Deus. Ele apenas insinua, questiona, lança dúvidas. E “se”? Este método usado pelo diabo é um recurso poderoso e muitas vezes nos pega desprevenido.
As fontes da tentação
Jesus sofre tentações em áreas muito relevantes
- Tentação de absolutizar o desejo humano - “coma!”
A estratégia da tentação foi de levar Jesus a usar seu poder egoísticamente para seu próprio uso. Colocar Deus para funcionar em função dos seus desejos.
O diabo diz: Libere teus desejos, o desejo de teu corpo. Teu corpo tem desejos, alimenta-o! Não reprima sua necessidade, satisfaça-a! É o desejo da sensualidade manifesto na fome. É aqui que muitos sucumbem:
- Esaú estava faminto, viu o prato de sopas de lentilhas e não resistiu. Vendeu seu direito de primogenitura. Quer atender seu desejo imediato, e ele precisa ser satisfeito agora.
- Davi vê a mulher tomando banho, manda buscá-la para seu palácio e se envolve com ela, trazendo graves consequências sobre sua vida. Davi não controla seus impulsos, mas o satisfaz. Diante das tentações nossos desejos são desafiados. Vamos satisfazê-los ou vamos administrá-los?
- Tentação de manipular coisas sagradas – “Manda que estas pedras se transformem em pães” (Mt 4.3)
Satanás tenta levar Jesus a usas as coisas de Deus a seu favor. Não apenas sugere que ele transforme as pedras em pães para satisfazer sua fome, mas o provoca para que pule do pináculo do templo. Desta forma os homens ficariam impressionados com o seu poder. Satanás sugere a Jesus que este gesto atrairia mais a atenção que três anos árduos de ministério numa região de miserável como a Galiléia, no meio dos pobres e desvalorizados ou no dantesco evento que o levaria para a cruz. O diabo sugere que tome o caminho mais curto. Ele até mesmo cita a Bíblia. “Porque está escrito: Aos seus anjos ordenará a teu respeito que te guardem; e: eles te susterão nas mãos, para não tropeçares em pedra alguma.” Esta é uma citação do Salmo 90.
Não é isto que nos acontece quando somos tentados? Somos capazes de citar textos bíblicos para justificar nosso pecado, e achamos que estamos certos.
Satanás usa o ideal de serviço a Deus de forma distorcida, é especialista em perverter o sagrado.
Þ Faz do milagre, charlatanismo.
Þ Faz do serviço caridoso um negócio (Alguns projetos missionários e sociais podem entrar no rol desta suspeição, com pessoas gerando compaixão e mexendo com o emocional dos doadores para terem verbas que nunca passam por uma auditoria de nenhuma instituição).
Þ Transforma os dons em auto-exaltação, usando-os como status pessoal.
Þ Até a oração pode ser usada como forma de autopromoção. Jesus critica aqueles que oravam “para serem vistos pelos homens”.
Às vezes, a busca pelo poder na espiritualidade é reflexo de nossa insegurança, sobre nossa relação com o Pai. Como filhos que só acreditam que seus pais os amam se receberem coisas. Querem um presente para se sentirem amados. Tais filhos fazem isto por não terem segurança em nenhuma outra dimensão.
- Tentação de absolutizar a dimensão dos papéis – Podemos observar como isto pode ir em três direções:
Þ No econômico-social - “Transforme pedras em pães.” Você não precisa ter necessidade de nada. Deus tem a obrigação de lhe dar tudo se você usar a chave correta, Deus será obrigado a te dar o que você deseja. Decrete e acontecerá!
Þ No Marketing – “Atira-te abaixo, porque está escrito!” - pula! Não comece seu ministério na obscura cidade de Nazaré, lugar pobre. Venha para o grande centro de atenção do país, salte do pináculo do tempo. Use o marketing a seu favor. Dê um show, pule! Você precisa de relevância.
Þ No Político - “Todos os reinos do mundo te darei se prostrado me adorares.” Você precisa de projeção, da atenção, do poder. Eu posso lhe dar tudo isto.
Como vimos, Jesus rejeitou todas as ofertas do diabo.
- Tentação de criar a filosofia de que os fins justificam os meios “Porque está escrito!”
Satanás cita a Bíblia. Sempre. Todas as tentações demonstram isto. Não importa como chegar lá, o importante é chegar. Prá conquistar vale tudo! Filosofia diabólica. Qualquer coisa que pudermos utilizar. Até mesmo um cantor famoso, ainda que inescrupuloso, desde que atraiam pessoas para a Igreja. Traga “profecias”, mesmo que mentirosas, fale em nome de Deus, com revelações que Deus nunca deu, palavras misteriosas que Deus nunca falou, para que as pessoas fiquem impressionadas com isto. Mentalidade pragmática: Os fins justificam os meios.
No dia do juízo, Jesus revela no sermão do monte, que muitos daqueles que usaram o nome de Cristo, ouviram uma pesada sentença, apesar de terem feito coisas que deram muita projeção e visibilidade. “Apartai-vos de mim, vós os que praticais a iniquidade.” Muitas vezes a igreja não se apercebe disto, tentando atrair pessoas diferentes, público cada vez mais exigente, que exige mais e maiores sensações: A fé passa a viver na base de novas emoções e maiores sinais. Haja adrenalina!
Será que os fins justificam os meios. Vale qualquer coisa para atingir nossos alvos?
- Tentação de criar mentalidade utilitária em relação ao mundo espiritual – “Mande que estas pedras se transformem em pães”
“Manda que...” Satanás sugere que o poder de Deus existe para nos servir...As pedras serão transformadas, as forças espirituais devem estar a nosso serviço.
“Pula” - Se serve, tem que ser utilizado. Anjos vão te guardar. Manipule o poder com eficiência.
- Tenta fazer relação com que a relação com o poder e autoridade seja mais importante que nossa relação com a vontade de Deus. “Tudo isto te darei se prostrado me adorares.”
“Os reinos são meus, eu tos darei...”
Quando lemos este texto, fica sempre uma pergunta na mente: Satanás podia dar mesmo todos os reinos, ou ele está blefando, prometendo algo que não pode dar? Apesar da besta energizar os reis em Apocalipse 17, dando poder e autoridade, aos poderosos, sou da tese de que Satanás sabe muito bem prometer até mesmo aquilo que ele não tem para atrair pessoas ambiciosas ao seu domínio. Ambiciosos cedem facilmente as propostas dadas pelo diabo.
Esta é a lógica da síndrome de Elimas, o mágico (At 8). Ele se converteu, não a Jesus, mas a um desejo de controlar as forças espirituais. Que poder pode ser maior que este? Ele era mágico, seduzido pela feitiçaria, mas quando vê o poder do Espírito Santo, ele fica maravilhado. Ele queria aquele poder. Será que Pedro poderia transferi-lo mediante pagamento? Controlar o mundo espiritual, os poderes ocultos. Que armadilha do coração.
Jesus não fica impressionado com as ofertas do diabo, porque sua obsessão não é poder nem autoridade, mas submissão à vontade de Deus.
Conclusão:
- Tentação é real - Não é algo sem sentido ou vago. Tem cor, cheiro e forma. Vem com endereço certo, com o pacote certo. Faz sentido para nossos desejos, sentimentos e necessidades.
- Tentação é oportunidade para crescimento - É a única forma que podemos ser aprovados ou não. É pela tentação, fogo, que se testa o caráter. Quando passamos pelo fogo revelamos quem de fato somos.
- Tentação é vencida pela Palavra - O diabo manipula a Palavra, ele a usa para desvirtuar e corromper o pensamento original de Deus, mas ao mesmo tempo, apenas pelo Palavra de Deus poderemos confrontar as propostas das trevas. Ela é a espada do Espírito (Ef 6.17). Jesus responde a todas as insinuações e citações manipulativas e enganadoras que Satanás faz da Bíblia, usando a Bíblia. A má interpretação é confrontada com a boa interpretação.
- Tentação será vencida com uma vida de devoção - O diabo tenta Jesus, mas ele está forte. Não use sua oração só para admitir seu fracasso, use sua vida devocional como uma fonte de autoridade. Jesus enfrenta o diabo com firmeza, porque ele estava na presença de Deus.
- Vigilância eterna é o peso da liberdade. Na batalha espiritual não há férias;
Gostaria de concluir citando o último versículo deste texto: “Com isto, o deixou o diabo, e eis qe vieram anjos e o serviram.” (Mt 4.11).
Vitória sobre a tentação traz a presença de Deus para perto de nós. “Com isto o deixou o diabo, e eis que vieram anjos e o serviram”. Muitas vezes achamos que não vamos conseguir, mas quando dissermos não ao diabo, na autoridade do Espírito, com a espada do Espírito, abriremos as portas para que o consolo e a graça de Deus nos alcance. Tentação é vencida com temor a Deus - Desejo de agradar a Deus. E os céus se abrirão para nos abençoar, as realidades espirituais mais profundas e belas emanadas do trono de Deus serão derramadas sobre nossas vidas.
Foi isto motivou Jesus. Sua obediência a Deus. A santidade de Deus.
Por isto resistiu ao diabo e foi obediente até a morte, e morte de cruz!
Por isto experimentou a benção de ver os seus abertos e anjos servindo.

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