Nossa geração está muito interessada em eficiência, em trabalhar com maior produtividade, em produzir mais. A palavra da ordem é “produtividade”. Este texto nos revela que nos dias do profeta Ageu, o povo estava interessado em trabalhar com eficiência, em ver os resultados do seu trabalho, mas lamentavelmente viram que o que faziam estava redundando em nada.
O povo estava deixando a obra do Senhor de lado, demonstrando desinteresse pelo Senhor. Aquele povo não odiava Deus, mas estavam em crise de fé. Simplesmente desprezaram a Deus e se tornaram indiferentes a ele.
Em toda instituição existem grupos diferentes de pessoas. Essas descrições são frequentemente usadas em discussões sobre liderança, gestão de equipes e desenvolvimento pessoal, para ilustrar a importância da proatividade e da visão em contraste com a passividade e a indiferença.
- As que veem e fazem as coisas acontecerem (Pró-ativas/ Visionárias): São aquelas que têm antecipam necessidades, identificam oportunidades e agem de forma decisiva para produzir resultados. Tomam a iniciativa e têm um impacto tangível no ambiente ao seu redor.
- As que não veem, e não fazem as coisas acontecerem (Reativas/Passivas): São aquelas que reagem ou agem apenas quando solicitadas ou quando a situação já está em curso, sem contribuir ativamente para a criação ou prevenção de eventos.
- As que não veem nem agem. Indiferentes (Inertes/Alheias): Indivíduos que estão totalmente desengajados ou alheios ao que está acontecendo ao seu redor. Elas não se envolvem, não participam, não se doam, demonstrando apatia ou indiferença.
Quando desprezamos a obra de Deus, ou somos indiferentes a ela, a obra do Senhor vai acontecer, porque a obra é de Deus, mas demonstramos que isto não nos interessa, pois estamos interessados apenas nas nossas próprias necessidades. “Cada um corre por causa de sua própria casa”. (Ag 1.9)
O livro de Ageu nos confronta com uma realidade comum: trabalhamos muito, mas colhemos pouco. Por que, às vezes, parece que nossos esforços caem em um "saco furado"? A resposta pode não estar na nossa falta de esforço, mas na inversão de nossas prioridades.
1. O Diagnóstico: "Ainda não é tempo"
O grande entrave para a produtividade espiritual e pessoal é a procrastinação baseada numa perspectiva errada de valores e tempo. O povo dizia: "Não é tempo de reconstruir a Casa do Senhor", enquanto se dedicava intensamente às suas próprias casas e projetos. Não é que não tivessem tempo, mas eles estavam desfocados. A energia estava sendo gasta em outra direção e se esqueciam da obra de Deus.
Em geral isto é gerado pela nossa frieza e indiferença espiritual. Não odiamos a obra de Deus, apenas a desprezamos. Jesus afirmou que “Onde estiver teu tesouro estará o teu coração”. Onde está o coração? Certamente seguiremos na direção em que nosso coração estiver apontando.
Outras vezes fazemos isto porque estamos muito autocentrados. Temos o foco no "Eu": Estamos sempre esperando um marco futuro (terminar um projeto, estabilizar a conta bancária, criar os filhos) para finalmente servirmos ao Reino. O problema é que o tempo nunca virá, sempre haverá agendas e compromissos que engolem nosso relacionamento com Deus. Lembro da uma pessoa da igreja que decidiu estar sempre presente na igreja aos domingos, este era um compromisso dentro das metas do ano. O problema é que a partir do momento que ela assumiu este compromisso com sua vida espiritual, todos os domingos aparecia um bom e interessante programa. Pessoas convidavam para um churrasco, havia um aniversário de uma criança filha de um casal amigo. Ela teve que se manter firme para continuar assumindo os votos que ela havia feito de estar na casa do Senhor.
Outro aspecto que pode ser considerado é o “Corre-corre da vida”: vivemos numa sociedade que demanda nosso tempo. Quanto tempo faz que você acorda e diz: “Eu não tenho nada para fazer?” Mesmo quando estamos de férias, há sempre pessoas e tarefas demandando seu tempo. Neste texto Ageu afirma: “Cada um corre por causa de sua própria casa, enquanto a obra de Deus permanece em ruínas.” (Ag 1.9)
2. Os Sintomas da Prioridade Invertida
Quando tiramos Deus do centro, o resultado não é apenas um vazio espiritual, mas uma frustração prática em três áreas:
A. Insaciabilidade (Vácuo na Alma). “Tendes semeado muito e recolhido pouco; comeis, mas não chega para fartar-vos; bebeis, mas não dá para saciar-vos; vestis-vos, mas ninguém se aquece; e o que recebe salário, recebe-o para pô-lo num saquitel furado.” (Ag 1.6)
As conquistas, não resolvem o problema do vazio da alma. Em Habacuque o profeta denuncia o coração do homem ímpio: “Assim como o vinho é enganoso, também o arrogante não se contém. O seu apetite é como a sepultura, ele é como a morte, que nunca se farta.” (Hac 2.5) Será que não estamos vivendo como o homem ímpio? Sua alma está satisfeita?
Algum tempo atrás li uma entrevista com um conhecido teólogo católico brasileiro, e lhe perguntaram se ele era feliz. Ele respondeu que não gostava muito do conceito de felicidade, porque uma pessoa bêbada ou drogada, ou num momento de extase e conquista, pode dizer que está feliz, e que isto é muito superficial. Ele então afirmou: “gosto mais da ideia de estar pleno.” Tenho pensado muito em sua afirmação. “Estar pleno”, satisfeito. Como diz o músico brasileiro evangélico, Carlos Sider:
“... e assim vou
ansioso a segurar
o dia do amanhã
e o que trará
por mais que lute em conseguir
tudo me leva a concluir
o amanhã é todo Teu
e só na sua presença eu
eu me sinto bem
eu me sinto muito bem
Tua presença traz a paz que eu quero ter.”
Adquirimos bens, trocamos de carro, fazemos viagens caras, acumulamos posses, mas a satisfação dura pouco. Existe um vácuo que as coisas materiais não preenchem. O coração continua sedento por algo mais profundo e relevante, que só pode encontrar na relação com aquele que pode saciar nosso desejo e sede mais profunda.
B. Esforço sem Resultado. “Esperastes o muito, e eis que veio a ser pouco, e esse pouco, quando o trouxestes para casa, eu com um assopro o dissipei. Por quê? — diz o Senhor dos Exércitos; por causa da minha casa, que permanece em ruínas, ao passo que cada um de vós corre por causa de sua própria casa.” (Ag 1.9)
O texto mostra pessoas que não eram preguiçosas — elas semeavam, trabalhavam e se movimentavam. Porém:
- Semeavam muito, colhiam pouco.
- Comiam, mas não se fartavam.
- Bebiam, mas não se saciavam.
- Vestiam-se, mas não se aqueciam.
- O salário sumia em despesas inesperadas: enfermidades, perdas, maus negócios e multas. É a economia do "saquitel furado" (Ag 1.6).
Você tem se sentido assim? Cansado? Trabalhando muito sem que os resultados apareçam?
Deus nos convida a considere os resultados obtido? Avalie. Não faça as coisas sem reflexão. As coisas estão bem? Você tem esta sensação daquilo que o profeta descreve aqui? Apesar de todo o seu egoísmo, você não está percebendo que as coisas estão vazias em muitas áreas de sua vida? O que acontece quando somos infiéis?
- A lavoura não frutifica bem - “semeastes muito, mas recolhestes pouco”.
- A comida não tem aquele sabor gostoso que nos faz ficar satisfeitos – “Bebeis, mas não dá para saciar-vos.” Não existe aquela sensação de banquete. Comemos um novilho cevado, que parece que tem gosto de alface sem tempero.
- Roupa não aquece – “Vesti-vos, mas ninguém se aquece.” Apesar da roupa que usamos, ainda continuamos com frio. Há um frio existencial.
- Salário – “E o que recebe salário, recebe para pô-lo num saquitel furado.” Coloca em cima, sai em baixo. O dinheiro não rende, é sempre insuficiente, pode aumentar o ganho, mas não o dinheiro não parece resolver as necessidades básicas.
É um esforço sem resultado. Muito trabalho, pouca efetividade. Deus está orientando o povo a colocar as coisas no lugar certo. Estabelecer prioridades. Ele está pedindo que reavaliemos, que consideremos o que temos feito.
C. Expectativas Frustradas
O povo esperava muito, mas vinha pouco. E o que vinha, Deus dissipava com um sopro. A revelação mais chocante é: "Eu fiz isso" (Ag 1.9-11) e “eu vos feri” (Ag 2.17). O povo não estava alcançando seus objetivos por causa da infidelidade. (Ag 1.11) Por isto Deus declara: “eu fiz feri com queimaduras, e com ferrugem, e com saraiva.” (Ag 2.17)
Às vezes, a escassez que enfrentamos é a mão de Deus nos chamando de volta ao que realmente importa.
3. O Chamado à Ação: "Considerai os vossos caminhos"
Cinco vezes o Senhor utiliza a palavra "Considerai" (1:5, 7; 2:15, 18). Ele nos convida a uma análise honesta dos nossos resultados. O verbo “considerai” nos dá a ideia de que Deus está chamando o povo para uma reflexão profunda, um olhar em retrospectiva.
Para mudar essa realidade, precisamos considerar quatro verdades:
- Considere os Resultados: “Ora, pois, assim diz o Senhor dos Exércitos: Considerai o vosso passado.” (Ag 1.5,7)
Precisa olhar o nosso histórico, os resultados do estilo de vida que adotamos. Avalie sua vida com honestidade. Você sente que está correndo em vão? Suas conquistas trazem paz ou apenas mais ansiedade?
Salomão foi um rei muito temente a Deus, mas num determinado tempo de sua história perdeu a perspectiva da centralidade de Deus na sua vida e se afastou de Deus. Foi um processo lento e gradual. Deus faz uma declaração bem pesada sobre a atitude de Salomão. Ele diz: “Salomão me abandonou.” Outra versão afirma: " Salomão me deixou” (1 Rs 11.33). Neste texto Deus expressa sua tristeza e ira porque ele se desviou, adorando deuses estrangeiros (Astarote, Camos, Milcom) e desobedecendo aos mandamentos divinos.
O resultado deste distanciamento foi catastrófico. No livro de Eclesiastes que é autobiográfico, Salomão faz a seguinte afirmação:
“Tudo quanto desejaram meus olhos não lhes neguei, nem privei o meu coração de alegria alguma, pois eu me alegrava com todas as minhas fadigas, e isto era a recompensa de cada uma delas. Considerei todas as obras que fizeram as minhas mãos, como também o trabalho que que eu, com fadigas havia feito, e eis que tudo era fadiga e correr atrás do vento, e nenhum proveito havia debaixo do sol.” (Ex 2.11)
- Considere a Obra do Senhor: Pare de adiar seu investimento no Reino. Mateus 6:33 é a chave: "Buscai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e as demais coisas vos serão acrescentadas".
Deus chama seu povo a considerar suas promessas: “O meu espírito habita no meio de vós”. (Ag 2.5)
Deus não havia abandonado seu povo. Não precisamos ficar ansiosos olhando apenas para nossa vida, porque se o Senhor quiser ele nos dará coisas maiores que jamais esperamos, ele abre as janelas quem ninguém fecha.
Existe uma frase desafiadora na Bíblia que diz: "Aos seus amados Deus dá enquanto dormem" (Sl 127.2) Deus provê o sustento e cuida daqueles que ele ama. O segredo da produtividade não é trabalhar mais, mas trabalhar com Deus e para Deus.
- Considere a Presença de Deus: A promessa é clara: “Eu sou convosco”. (Ag 1.13).
Nós sempre estamos desejosos dos presentes e dádivas que Deus nos dá, mas raramente queremos ou ansiamos a sua presença. Substituímos presença por presentes. Isto faz parte da cultura social utilitarista que é também perceptível na atitude dos pais que não estão presentes, mas se justificar dando mais e mais coisas aos filhos. A grande benção da vida não está naquilo que Deus nos dá, mas na preciosa graça de sua presença. Não precisamos, necessariamente de mais, precisamos de Deus.
O pouco com Deus é muito, o muito sem Deus não satisfaz. Quando Deus está presente, a angústia se desfaz, a dor é consolada, Encontramos equilíbrio, paz e alegria quando temos a Deus. Ele abre janelas que ninguém fecha e dá sentido e realização à nossa vida. Como lemos acima: “só na sua presença que eu me sinto muito bem. Tua presença traz a paz que eu quero ter.”
- Considere a riqueza de Deus- “Minha é a prata, meu é o ouro, diz o Senhor dos Exércitos.” (Ag 2.8)
Neste texto Deus está querendo fazer seu povo entender que ele é rico, não precisa de nada. O Salmista afirma: “Do Senhor é a terra e sua plenitude, o mundo e os que nele habitam.” (Sl 24.1). O que Deus espera do seu povo não é o dinheiro, nem o tempo, nem a atenção, mas o coração. O problema de não contribuirmos para a obra de Deus não está relacionado aos recursos nem ao fato de que a obra de Deus precisa do nosso dinheiro, o grande ponto está relacionado ao coração. Tem a ver na forma como lidamos com nossas posses e quão interessado estamos na obra de Deus. Neste sentido, seu dinheiro fala muito.
Este texto nos mostra também que Deus não precisa de coisa alguma. “Deus não precisa de nada vindo de você. Então, quando Ele te chama para vir e servi-lo, não é para preencher uma necessidade, Ele está te oferecendo um privilégio.” (Paul Washer)
O chamado de Deus não vem de uma carência d'Ele, mas sim de um ato de graça e privilégio oferecido a nós, pois Ele é soberano e completo, mas nos escolhe para sermos parte de Sua obra e expandir seu reino, mostrando que responder a Ele é uma oportunidade de crescimento e comunhão, e não uma obrigação para "ajudá-Lo", pois Ele já tem tudo.
Conclusão
Quando consideramos a riqueza de Deus, precisamos estar atentos à maior riqueza que podemos ter. E esta maior riqueza não é a salvação, nem mesmo o céu, mas o próprio Deus, porque quando temos o Senhor, sua herança e salvação é natural.
A maior riqueza de Deus é a obra de Cristo por nós. Este é o tesouro oculto, que certo homem encontrou enterrado na terra e vendeu tudo que tinha para não perdê-lo.
Vivemos numa época em que os homens querem produtividade e eficiência, mas de que vale ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?
Jesus é o grande tesouro. Ele, sendo rico, se fez pobre por amor de nós, para que através da sua entrega, pudéssemos ser resgatados. O autor aos hebreus faz uma pergunta fundamental: “Como escaparemos se negligenciarmos tão grande salvação?”
O grande tesouro, aquilo que satisfaz nossa alma, que sacia nossa sede, que multiplica nossos recursos, é o próprio Deus. O profeta Ageu tenta mostrar isto. Vocês estão vazios, sem sentido, porque vocês correm atrás dos seus negócios e se esquece do grande negócio da vida.
A frase "Não é tolo aquele que dá o que não pode reter para ganhar o que não pode perder" é uma citação famosa do missionário Jim Elliot, um dos missionários que morreu na obra missionária no Equador, com outros quatro colegas. Esta frase nos diz que é sábio abrir mão de bens e prazeres temporários (que não podemos guardar para sempre) em troca de algo de valor eterno e duradouro, como a salvação eterna.

Nenhum comentário:
Postar um comentário