quinta-feira, 7 de abril de 2011

Gn 34.16-21 Dando Identidade aos filhos






Introdução

Este é um texto intrigante.

Raquel dá a luz a um menino, e em seu último suspiro, porque morreu no parto, chama o menino de “Benoni”. Jacó, ao entrar em cena, e ver sua mulher morta ao lado da parteira, recebe a criança e ouve o relato daquela mulher, mas intervém e muda seu nome para “Benjamin”. Não nos parece que Jacó tenha sido insensível negando o último desejo de Raquel de dar nome ao seu próprio filho?

Não, se considerarmos o significado de cada um dos nomes. “Benoni” significa, “filho da minha dor”; “Benjamin” sig. “O filho de minha mão direita” (Gn 35.18).

Já imaginaram viver a vida inteira com um nome associada a uma tragédia? Este texto sugere também que Jacó intervém para dissociar seu filho da dor da morte de sua mãe. Ele não permite que ele passe a vida inteira como alguém identificado com algo negativo, mas sim como “filho de sua mão direita”. Algo positivo.

Isto introduz um tema interessante: “Como tenho chamado meu filho? O que ele simbolicamente representa para minha vida? Como o nomeio?

1. Nomear é importante porque todo filho dependente da identidade que lhe dão e corresponde a este identidade recebida.
 
A psicanálise trabalha muito bem esta idéia ao afirmar que uma coisa é a sexualidade que temos, outra é a identidade sexual que construímos. Sexualidade é um construto simbólico.
 
John Eldridge, no seu livro “coração valente”, afirma que masculinidade é outorgada. “Um menino aprende quem ele é o que tem de outro homem, ou na companhia de homens”. Ele não aprende isto do mundo feminino.

Na Bíblia, o pai abençoa e assim dá nome ao filho. Constrói sua identidade.

Adão recebe nome de Deus
Abraão recebe de Isaque
Rebeca dá nome a Jacó e Esaú, mas ambos passam toda sua vida desejando e lutando desesperadamente para que a benção, e a conseqüente nomeação venha do Pai, até que Jacó a rouba (Gn 27)

Jacó havia vivido o drama de ser estigmatizado pelo seu nome que significava “suplantador”. Imagine que no encontro com seus colegas, quando perguntavam seu nome ele tinha que dizer de cabeça baixa e sem graça: “Meu nome é enganador!”.

Em Gn 32, num encontro pessoal com Deus, ele é questionado profundamente quanto à sua identidade. “Qual é o seu nome?”. Ali Jacó recebe uma benção que transforma sua história, porque recebe um novo nome de Deus, que o chama de Israel. Esta é a primeira vez que a palavra “Israel” aparece na Bíblia, e Deus afirma que ele recebia este nome porque “como príncipe lutara com Deus”.
 
Agora, quando Receba (Gn 35) atribui este peso ao seu filho dando-lhe o nome de Benoni, ele diz: “chega, meu filho não vai passar pelo mesmo estigma que passei”. Sua identidade torna-se diferente.
Que identidade temos outorgado a nossos filhos?

Mãe possui uma relação uterina com o filho, mas ele não pode ser chamado sempre de “menininho da mamãe!”, ou “que gracinha!”. O pai precisa nomear. Feminilidade não transmite masculinidade.
Pouco se tem falado hoje dos riscos da ausência paterna ou alienação parental. O menino tem uma pergunta que só o pai responde, e esta pergunta está relacionada à sua essência. Filhos anseiam pela companhia paterna e o afastamento intencional ou não pode se tornar um grande problema se o filho não responde ao grande dilema de seu coração: “tenho alguma valor?”

A maneira tradicional de criar filhos, de uma forma ou de outra, sempre foi ensinando aos filhos a mesma profissão, andando ao seu lado, aprendendo negócios e passando longos e eventualmente, conflitivos, dias juntos. Conversando, fazendo flechas, caçando e pescando. A mãe tem que “soltar o filho” (e esta é a dor de Eva). O Pai precisa levar o filho para “sair”.

Nesta hora, o pai autentica ou não seu filho. A ferida mais profunda no coração do filho é infligida pelo pai, ou nas palavras que são ditas: “Você é o “filhinho da mamãe, incapaz, burro, incompetente”. Tais feridas são recebidas de forma ativa ou agressiva, e nem sempre podem ser percebidas de forma imediata, tornando-se com um câncer que se desenvolve de forma lenta.
 
Bly afirma: “não receber nenhuma benção de seu pai é uma ferida”. Um pai ausente, indiferente ou distante, ou um pai que só pensa em trabalhar, é uma ferida”.

O divórcio ou abandono também pode ser uma ferida, porque o menino (a) acredita que se tivesse feito melhor ou se fosse ___, seu pai teria ficado em casa.
 
Alguns pais ferem pelo seu silencio. Estão fisicamente presentes, mas agem como ausentes. O silêncio é ensurdecedor. No caso de pais silenciosos os filhos estão perguntando: “Quem sou eu?”; “eu significo algo?”. O silêncio é ambíguo: “Não sei, talvez sim...” A dor mais profunda surge nas palavras ou atitudes, que dizem sem dizer: “Incapaz, burro, incompetente, mocinha”. A forma sutil torna-se difícil de ser curada. Excesso de trabalho, culpa, abandono. “Eu significo algo?”.

Filhos dependem desta identidade paterna e correspondem ao nome que recebem do pai. Meninas também precisam desta identidade. Muitas garotas correm para o braço de outros homens, buscando sua afirmação perdida. Se entregam a outros homens buscando paternidade, abraço masculino que faltou em casa. Filhas amadas, aprendem a se esquivar de homens duros, porque tem e aprendem outro modelo de masculinidade dentro de casa.

2. Nomear é importante porque precisamos discernir nossa identidade a partir do pai. 

Jacó estabelece esta perspectiva.

Benjamin vai se tornar uma tribo forte em Israel, afinal sua identidade é forte. De Benjamin surge o primeiro rei em Israel. Benjamin e Judá fazem parte do reino do Sul, quando Israel se divide. Como seres caídos, por sua forte personalidade quase deixa de existir como tribo em Israel , quando resolve proteger um grupo de bandidos da tribo, que havia estuprado a mulher de um levita.

Sempre me impressiono como Deus tratava Jesus: “Este é o meu Filho amado!”.
 
Quando os discípulos voltam do campo, estão muito entusiasmado por verem o poder de Deus nas suas vidas. No entanto Jesus os leva a focalizar sua essência não na sua natureza de guerreiro, que confronta o diabo, mas de filhos amados: “Alegrai-vos não porque os demônios se vos submetem, mas porque vosso nome está escrito no livro da vida”.

3. Nomear nos livra de estigmas 

O nome que recebemos é nossa identidade. Viver debaixo de um nome ou de uma imagem depreciativa é um desastre.

Filhas constroem sua auto imagem a partir do relacionamento com a figura paterna. A mulher também tem suas feridas provocadas por negligencia ou violência. O choro das meninas está relacionado não tanto à sua força, mas ao seu valor. A menina espera do pai para saber se ela é encantadora. Se o pai é violento pode contaminar verbal e psicologicamente sua filha. Ela pode ser silenciosa e violentamente ignorada. A mensagem é: Você não é desejada!

Todo menino, na jornada para tornar-se um homem, tem uma pergunta no centro de seu coração. Esta é a pergunta mais profunda de um homem: “Sou capaz?”, “tenho o que é necessário?”; “Pai, o que você acha de mim?”. Eldridge afirma: “Na falta de afirmação da masculinidade, os homens supercompensam sua ferida e tornam-se impetuosos (violentos) ou recuam e se tornam passivos (retraidos)” (Pg. 74). Muitos homens se sentem presos, paralisados ou incapazes de se moverem, quando se sentem inseguros sobre sua identidade e papel.

Crianças buscam aprovação dos pais. A maioria dos homens passa a vida sendo perseguido ou deformado pela resposta que receberam. “O que você acha papai?” O Pai que perde este momento, perderá para sempre o coração do filho.

Certo homem relatou que, durante a briga de seu pai com sua mãe, ele abraçou as pernas da mãe para protegê-la e seu pai, irritado virou-se para ele e disse: “Você é um filhinho mimado”. Esta ferida poderia ser minimizada por palavras de amor, mas o fato é que, seu pai vivia cada vez mais distante e silencioso dele. Ele se tornou brilhante, mas a declaração e o afastamento do pai lhe fora um golpe que nunca curava.
Pais precisam afirmar e ajudar seus filhos da fase de criança para a fase adulta. Entre os judeus, celebra-se o Mar Mitzvá, uma cerimônia na qual o filho é inserido no mundo dos adultos e dos homens. Ele passa agora a fazer parte de sua sinagoga.

Bly afirma: “Não receber nenhuma benção de seu pai é uma ferida. Não ver seu pai quando você é pequeno, nunca estar com ele, tê-lo distante, ausente ou um pai que só pensa em trabalhar, é uma ferida”.

Conclusão: 
Como lidar com as questões familiares.

O texto de 1 Pe 1.18 nos afirma que através do seu sangue, Jesus veio nos libertar do vosso fútil procedimento, que vossos pais vos legaram.
 
Então, temos dois problemas a resolver: 

Um que está ligado à nossa própria futilidade e outro à nossa genealogia, à familia de onde viemos: com traços históricos e enfronhados na cultura familiar.

A. Temos que lidar com nossa própria insensatez – "Sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento." (1 Pe 1.18)

Nosso coração é fútil, sujeito a vaidades, decisões erradas, superficialidade e egoísmo. “Eu nasci em pecado e em pecado ame concebeu minha mãe”. 

Apenas minhas contradições e ambiguidades já são suficientes para arruinar minha vida e a minha história. Minha essência é rebelde, meu coração é duro e arrogante. Jesus veio me livrar deste fútil procedimento que faz parte da minha natureza pecaminosa, e que precisa ser redimida com o sangue precioso do Cordeiro de Deus. 

B. Este legado também vem de minha história familiar, tem a ver com minha genealogia e história. Sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento, que vossos pais vos legaram." (1 Pe 1.18)

Fala-se muito em maldição hereditária e sabemos que Satanás realmente age na cultura familiar, mas bastam a história de nossos condicionamentos equivocados e aprendizados distorcidos para nos destruir.

Imagine no texto, o próprio Jacó. 

Ele rouba de seu pai a benção. A vida inteira ele espera a afirmação de seu pai, que não vem, e ela só lhe chega de forma forçada, falsificada e usurpada. Benção roubada. Parece que na nossa história família, muitas vezes a benção não é dada naturalmente, ela tem que ser surrupiada. Que contradição...

Depois de sua experiência com Deus, em Gn 32, ao ver Benjamin recebendo um nome tão atravessado, ele intervém como se tentasse gritar: “Na minha família não haverá espaço para estigmas!” Eu o afirmo como “filho da minha mão direita”. No entanto, sua história família é no mínimo, disfuncional. Quatro mulheres competindo o amor de um homem, meninos tendo que entrar nesta luta familiar para que sua mãe fosse desejada.

Jacó quer virar sua história familiar, mas ela ainda é confusa.

Em Genesis 32, porém, começa a ter um novo rumo, quando ele próprio tem sua identidade afirmada pelo pai. O Cap 35 reflete este seu anseio de ver sua casa cheia da benção e afirmação. Recusa o estigma, a dor e a associação com tragédias.
 
Jesus veio nos libertar destas sutilezas de nosso coração e de nossa história familiar. Assim, a família de Deus, debaixo de um novo pacto, celebra a páscoa com amigos, com o sangue aspergido na entrada da casa, e comendo o cordeiro.

Antes de concluir, porém, gostaria de falar de um novo nome que Deus nos quer dar. Em Ap 2.17 lemos: 

Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao vencedor, dar-lhe-ei do maná escondido, bem como lhe darei uma pedrinha branca, e sobre essa pedrinha escrito um novo nome, o qual ninguém conhece, exceto aquele que o recebe”. 

Fico feliz em saber que Deus quer nos dar uma identidade. Um novo nome. Não um nome público, mas um nome que enche nosso coração de sentido e alegria. É curioso pensar que Deus mantém este nome em segredo. Por que? A sensação que tenho ao ler o texto, é que ele está nos falando de algo profundo, íntimo, que quando recebemos tal nome da parte de Jesus, isto altera substancialmente a forma como percebemos a nós mesmos. Foi assim com Jacó quando Deus lhe disse que seu nome seria mudado. Agora era Israel , alguém que luta com Deus e vence. Não mais Benoni, filho da minha dor, mas Benjamin, filho da minha mão direita!


Orlando, FL
Abril 2011

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