segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Salmo 90 A Realidade da Vida

Introdução:
No dia 28.07.2011, recebi um telefone de Mounir Naoum Filho me informando que sua irmã havia sofrido um acidente em Las Vegas e não tinha sobrevivido ao impacto.
No final de semana anterior, ela havia completado 51 anos e, muito feliz, convidou amigos e parentes para um encontro de celebração. Estava feliz da vida, cheia de planos, e sua vida fora ceifada de forma abrupta.
De lá para cá, muitos sentimentos brotaram: Perplexidade, dor, questionamentos, iras, tristeza, amargura.
Por que?
Uma jovem de 21 anos atravessou o sinal fechado em alta velocidade e bateu contra seu carro. A moça estava embriagada. Imperícia? Imprudência? Negligência? Fatalidade? Todos estes elementos parecem ter se juntado a um só. E Margareth já havia partido.
Dr. Billy Graham afirma que existem 3 mistérios para os quais o homem moderno, por mais que pesquise, não encontra resposta:
Dor – Por que as pessoas sofrem? Em 2009, apenas no Brasil, 39 mil pessoas morreram em acidente de carro e 42 mil pessoas foram assassinadas. Só este último item é quase o número de soldados americanos que morreram no Vietnã e pelo qual os Estados Unidos ainda choram. São histórias de famílias despedaçadas: Mães sem filhos, filhos sem pais, irmãos enlutados, famílias destruídas.
Mal – Como explicar a maldade humana? Os tsunamis devastadores, a perversidade como as do casal Nardoni que matou sua filha de 6 anos atirando-a pela janela de um prédio em São Paulo. Como compreender atitudes como a da nação alemã que banalizou o mal, apoiando as idéias megalomaníacas do Fuhrer? Ou dos quase 55 milhões de mortos apenas na 2ª Guerra Mundial, sem esquecer as perversas estatísticas de quase 100 mil mulheres que foram estupradas durante as invasões?
Morte/Eternidade – Os dilemas relacionados ao nosso futuro ainda continuam sem respostas cientificas. O que fazemos? Por que existimos? Para onde vamos? Buscamos respostas em filosofias e teologias para estas e outras questões relacionadas.
O fato é, que ainda que tivéssemos respostas a estas perguntas, não responderíamos à nossa dor, intensa e profunda. Poderia explicar, mas não consolar.

O Salmo 90 é um dos salmos mais antigos da Bíblia, escrito a 4000 mil anos atrás por Moisés, o líder do povo judeu à terra prometida. Este antigo texto nos aponta para algumas questões que devemos considerar no meio da nossa dor.

1. Revela a transitoriedade humana – As várias metáforas usadas neste texto demonstram quão fugaz é nossa passagem na terra: “Breve pensamento, erva/flor da erva; vigília da noite, conto ligeiro”. Afirma ainda que “a vida sobe a 70 anos e, em havendo vigor, a 80, mas neste caso é só canseira e enfado”. Todas estas afirmações apontam para o fato de que somos passageiros, estamos em transição. Este não é um lugar definitivo, somos peregrinos, fincamos nossas tendas aqui e a acolá, mas estas tendas são facilmente mudadas de posição.
Toda pessoa deveria considerar seriamente esta questão. O texto aponta para o fato de que, quando fazemos isto, alcançamos coração sábio. O tolo e negligente, não considera estas verdades.
Jesus exortou seus discípulos ao contar a parábola do homem rico e néscio: “Louco, esta noite pedirão tua alma, e o que tens preparado, para quem será?”.
Fazemos seguros de vida – ou seria de morte? Quem pode segurar sua vida? Mas “seguro de morte” também não venderia... é como o cartão de credito, que na verdade é um débito que você assume. Fazemos aposentadorias para nos preparar para o futuro, nossos projetos pessoais, humanos e políticos. Ficamos negando nossa realidade e a própria morte. É um tabu. Não falamos sobre estas coisas de eternidade. Não queremos considerar nossa frágil realidade de pó, breve pensamento e conto ligeiro...
No esforço de negar nossa transitoriedade, vamos camuflando a idade (e a realidade), com plásticas, cirurgias, academias. Queremos impedir que a velhice chegue até nós e que a morte tenha que ser considerada.

2. Este texto aponta nossa humanidade – “Confirma sobre nós, as obras de nossas mãos” (Sl 90.17). O Salmista está preocupado em, ao olhar em perspectiva, possa perceber que seu trabalho valeu, que o esforço de suas mãos foram validados. Muitos anos atrás, andando nas praias de Brighton, que fica a 80 Km de Londres, um rapaz fez a seguinte oração: “Senhor, faca a minha vida valer a pena”. E se tornou um missionário na China, falando do amor de Cristo àquela nação.
Não podemos envelhecer sem família, amigos, comunidade e fé. Somos sustentados nesta teia de tramas e dramas, alegrias e dores, desilusões e esperança.
Quando Jesus estava na cruz, disse a João, o discípulo amado: “Filho, eis ai tua mãe”, e apontando para Maria, sua mãe, disse: “Mãe, eis ai teu filho”. (Jo 19.26-27), e desta hora em diante, Joao tomou Maria para sua casa. Ele se sente responsabilizado para cuidar de Maria.
Quem vai cuidar de quem?
Irmãos cuidando de irmãos: Willian, George, Mounir, Abdala, Meire. Precisam cuidar um do outro. D. Alzira, Déia, D. Lucia, Mauro, precisam cuidar uns dos outros. Mounir Filho, Janete, Elizabeth, precisam de cuidado mútuo. As filhas da Margareth também precisam de cuidar e de serem cuidadas.
Não podemos enfrentar um drama deste e ainda continuar sendo as mesmas pessoas. Diante da tragédia, nossas agendas, valores, compromissos, interesses precisam ser medidos e avaliados. O sofrimento tem a capacidade de nos humanizar e dar corretas prioridades. Vivemos correndo tanto por nossos interesses, conquistas, sonhos, e nos esquecemos que precisamos um do outro para sobreviver.
Dr. Francis Schaeffer estava com câncer quando alguém lhe perguntou: “Por que o senhor está doente? Karma? Pecado? Castigo de Deus?” E ele respondeu: “Não, isto faz parte de minha humanidade. Meu corpo é pó, eu sou frágil, a humanidade é frágil”.

3. Este texto aponta para a eternidade – “:Senhor, tu tens sido o nosso refugio de geração em geração, antes que os montes nascessem e se formasse a terra e os mares, de eternidade a eternidade, tu és Deus” (Sl 90.1-2).
Estes versículos apontam para o fato de que estamos, na nossa transitoriedade, lidando com coisas eternas. Tudo que fazemos agora, ecoa pela eternidade.
Deus é... Ele habita a eternidade. O nosso transitório, tangencia com aquilo que é duradouro.
Jesus disse aos seus discípulos: “Não se turbe o vosso coração, credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu pai há muitas moradas, se assim não fora, eu vo-lo teria dito, pois vou preparar-vos lugar” (Jo 14-1-3). Mais adiante afirma: “ E vós sabeis o caminho para onde vou”. Filipe então retruca: “Mostra-nos o caminho, e isto nos basta”. E Jesus respondeu: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vem ao Pai senão por mim”. Jesus fala de exclusividade, usando o singular. Vamos ao Pai por meio de Cristo, e apenas por meio de Cristo.
Paulo afirma: “Quando nossa tenda se desfizer, temos outra tenda, construída por Deus, nos céus” (2 Co 5.1). O eterno permeia a temporalidade. O histórico é invadido pela sobrenaturalidade. Jesus enfrenta serenamente a morte, aos trinta e três anos, por causa desta compreensão da proximidade entre céu e terra. Na cruz, afirma para o ladrão: “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso”.

Conclusão:
Todas estas coisas não resolvem nossa perda e nossa dor. Mas é muito bom a gente enfrentar estas duras perdas tenha a consciência destas realidades. Elas são capazes de nos restaurar e nos dirigir.
Que Deus nos abençoe!

Funeral de Margareth Naoum
Dia 06Agosto 2011 - Central

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