Introdução:Este texto é um dos mais enigmáticos da Biblia e traz enormes dificuldades hermenêuticas. Jesus se nega a atender esta mulher por três vezes, e a ouvir seu clamor .
Primeira tentativa – Ela vem clamando, Jesus não lhe responde palavra. Aqui vemos seu silêncio e indiferença (15.23). Já tentou conversar com alguem que te despreza? Os discípulos ficam impressionados e chamam a atenção de Jesus. “Despede-a, pois vem clamando”. É como se eles quisessem dizer-lhe que algo deveria ser dito, ainda que sem importância, para que ficassem livre de sua importunação. Esta atitude nada tem a ver com o Jesus compassivo que os Evangelhos nos apresentam.
Segunda tentativa – Sua resposta estranha – “Não fui enviado senão às ovelhas perdidas de Israel” (Mt 15.24). Esta argumento contradiz abertamente seu discurso e a universalidade do Evangelho. Ele enviou os discípulos a alcançarem o mundo, quando Deus a Grande Comissão: (Mt28.18.20).
Terceira tentativa – Sua grosseria. A mulher o adora (Mt 15.25), gritando por socorro, e Jesus a trata ainda com mais desprezo, comparando-a a um cachorro. “Não é bom tomar o pao dos filhos e dar aos cachorrinhos” (Mt 15.26). Por mais romântico que esta expressa possa parecer (o que o texto realmente não indica), esta expressão é rude e grosseira. Não é apropriado para as pessoas polidas.
Afinal, o que este texto quer nos ensinar? Todos os gestos, parábolas e milagres de Jesus tinham intencionalidade. Ele queria ensinar algo aos seus discípulos. Havia uma razão pedagógica em Jesus.
Duas possíveis soluções hermenêuticas:
1. Lição aos discípulos; Jesus queria levar os discípulos a vencerem a barreira do ensimesmamento judaico. Mostrar que a atitude deles de superioridade racial teria graves implicações. Jesus veio para um povo que julgava ter a posse da divindade e controlar Deus, e o Mestra agora radicaliza as conseqüências dos seus discípulos mostrando-lhes quais os resultados que tal atitude geraria no mundo, e quão sérias seriam suas implicações. Jesus mostra que o mundo estava aberto ao passo que Israel se fechava. Seu propósito era tirar seus discípulos do seu estreito nacionalismo e dar-lhes visão mais abrangente do reino e de sua obra. E só um tratamento de choque poderia mudar sua visão estreita.
Quando Deus chamou Abraão, afirmou o seguinte: “Em ti serao benditas todas as famìlias da terra. Sê tu uma benção”.
O livro de Isaias está constantemente apontando para a universalidade da salvação:
“Todos os confins da terra verao a salvação do nosso Deus” (Is 52.10).
“Porque transbordarás para a direita e para a esquerda, a tua
posteridade possuirá as nações” (Is 54.3).
“Eis que chamarás a uma nacao que não conheces, e uma nacao que nunca te conheceu
correrá para junto de ti, por amor do Senhor, teu Deus, e do Santo de Israel” (Is 55.5)
O que o povo de Israel fez com o propósito de Deus? O Livro de Jonas parece ser uma alegoria desta realidade. Deus o envia para uma nação pagã, e ele se recusa a fazer, porque acha que não são merecedores da salvação que vem de Deus. Israel se recusou a ser uma benção para o mundo, e até hoje é assim. O judaísmo é a unica religião do mundo que não tem missão; Deus é posse e está sob o domínio deles. Deus é ainda uma realidade tribal na sua concepção.
Esta mentalidade estava presente nos discipulos. Depois da sua ressurreição, apesar da comissão que Jesus lhes havia dado, a pergunta revela esta estreiteza de visão. “Será este o tempo em que restaures o reino a Israel?” (At 1.6). O Reino tinha uma concepção meramente politica. Jesus porém responde: “Seres minhas testemunhas, tanto em Jerusalém, Judéia e Samaria e até os confins da terra”. (At 1.8). Jesus ratifica que o chamado era para ser uma benção para o mundo. Não era proposta para um Israel político.
Então, neste texto, Jesus estava querendo mostrar aos discípulos, de forma prática, já que até eles mesmo reagiram à sua atitude, quão perversa é a lógica de nossa missão quando não temos compreensão e cuidado com pessoas que fogem do nosso círculo. Jesus estava querendo mostrar-lhes que este era seu procedimento e que eles não podiam continuar agindo desta forma.
2. Testar a seriedade do pedido da mulher- Até onde ela estava disposta a pagar o preço de se desvencilhar do diabo. Quão sério era seu desejo de romper e quebrar a obra maligna em sua casa. Às vezes recebo telefonema de pessoas que, depois de saírem do quadro de desespero não querem continuar tratando das questões mais profundas de sua alma e de suas relações. Só querem um paliativo, um alívio imediato para suas crises que não poderiam ser resolvidas com um mero comprimido.
Vivemos numa geração de pessoas em busca de respostas imediatas, de soluções inconseqüentes. Nossa geração vive um estilo de vida de micro ondas. As coisas precisam de agilidade, respostas fáceis e comprimidos que resolvem todos os dilemas. O problema é que o prozac pode dar alívio imediato, mas não resolve as questões mais profundas da alma. O tilenol pode tirar a dor de cabeça, mas não resolve a causa da dor de cabeça. Queremos computadores rápidos, gostamos das coisas descartáveis que são baratas (apesar de terem durabilidade reduzida). Esquecemos que a vida possui processos, e nao existe estrada fácil, as coisas precisam de tempo e aprofundamento para serem resolvidas.
Jesus queria avaliar, até que ponto ela queria realmente a benção de Deus. Muitas pessoas desistem muito facilmente das bençãos de Deus, param no primeiro obstáculo, e Jesus quer saber qual a intensidade do desejo do coração desta mulher.
A luta de Jacó no Vale de jaboque (Gn 32), revela bem esta relação enigmática de Deus com o ser humano. Jacó não desiste de sua benção: “Não te deixarei se não me abençoares”. A benção passa a ser uma santa obsessão. Deus pode me dar e eu não posso abrir mão disto. “Buscar-me-ei e me achareis quando me buscares de todo coração”.
A parábola da viúva importuna, parece indicar que muitas das grandes necessidades nossas serao atendidas com perseverança e constância nas orações. Elias orou “com instância”. É a oração que vai além da superficialidade, que penetra o âmago de nosso ser. Precisamos aprofundar nossas orações tão superficiais. Até que ponto queremos pagar o preço da busca e da oração na presença de Deus?
Qual é o problema desta mulher?
O que esta mulher está buscando? Existe algo na vida desta mulher que desestrutura sua vida, que a torna menor do que o que ela era. Ela percebe que sua filha está horrivelmente “endemoninhada", literalmente isto significa que sua filha estava "cheia de demônios". Existe algo na sua casa, personificado de forma mais objetiva na filha, que desestrutura a vida das pessoas e desestabiliza o ambiente. Sua casa está vivendo sob uma opressão e ação satânica.
Sem querer negar a existência pessoal do demônio enquanto pessoa (As Escrituras descrevem o diabo com um ser real e pessoal, não apenas uma força), gostaria de dar-lhe caráter mais abrangente e tentar diagnosticar, identificar demônios, que de formas diferentes, povoam nossos lares.
Como superar estas manifestações satânicas que coexistem no nosso lar, na nossa existência, e regulam nossas vidas?
1. A libertação acontece de acordo com o que queremos - “Faça-se contigo como queres...”Mt. 15:28.
Nabal e Abigail : I Sm. 25 O que você deseja para sua casa ? I Sm.25 nos relata a história deste casal. Nabal era turrão, duro, inflexível e tolo. Abigail, sua mulher, resolve rejeitar isto para sua casa. Sabendo que o mal estava designado, rejeita-o, luta contra este mal e o supera. “A mulher sábia edifica sua casa, mas a insensata com suas próprias mãos a derruba” (Pv.14;1)
Alimentamos o mal: “Se procederes bem, não e certo que serás aceito?”
Resisti ao diabo. (I Pd.5:7) A demonização de nossa casa se dá por permissão, por concessão. Vamos admitindo nossa morte, vamos permitindo sutilmente que o mal se aninhe em nós, nos domine, e não esboçamos reação.
Cena do Devil’s advocate. “Não me culpe, você fez a sua opção…
Scott Peck: ““Uma livre vontade humana, precede a cura.
Mesmo Deus não pode curar uma pessoa que não quer ser curada.
Em última instância, é o paciente mesmo que é o exorcista”.
Valdeci e a pessoa possessa em S. River – Ela não queria ser liberta do diabo, por alguma razão ela encontrava satisfação naquela forma de viver. Não existe lar liberto sem que queiramos tal liberdade. Não adianta tentar tirar o efeito (gestos e dramas demoníacos), sem desejar mudança.
Deus faz aquilo que queremos que ele faça.
2. Não deixe de buscar resposta de Deus, ainda que tal resposta pareça demorada - Não abra mão da benção. “Buscar-me-eis e me achareis quando me buscares de todo coração” Em Rm. 5:4-4 vemos o resultado da perseverança na vida dos cristãos.
Perseverança produz experiência,
e a experiência, esperança,
e a esperança não confunde.
Para sermos libertos de nossa confusão interior, de nossas amarras interiores, do nó que usualmente processos demoníacos geram em nós, precisamos perseverar, até que esta perseverança resulte em libertação de nossa confusão, através da esperança que é gerada em nossos corações.
Muitos param, porque desanimam. Não insistem na luta, abrem mão da benção que ele precisa.
3. Em todo tempo adore, mesmo que Deus pareça não se preocupar com teu sofrimento - (15:25) Isto aqui é demasiadamente complicado para nosso coração. Nós nos sentimos melhor em adorá-lo, quando nossos problemas são eliminados. Quando as coisas estão ruins nossa tendência é murmurar. Mas esta mulher aqui, o adora, apesar da indiferença de Jesus e de sua aparente recusa em cuidar de seu problema. Adore!!
Muitas vezes Deus adia a realização de nossos sonhos, por diversas razões. Ana foi uma das que viram seus sonhos sendo despedaçados. O Rev. Antonio Carlos Sá Costa nos aponta algumas causas pelas quais Deus adiou a realização dos senhos de Ana.
a)- Porque desejo não realizado normalmente nos leva à presença do Senhor - Ana busca a Deus, na sua luta de ver seus sonhos atingidos;
b)- Deus adia a realização de nossos sonhos para que entendamos que Ele é soberano - Ana declara isto, no seu cântico de adoração - I Sm. 2:6-8
c)- Deus adia por causa de seus planos, que são inescrutáveis -
d)- Deus adia nossos sonhos para que o que venhamos a receber se torne motivo de adoração.
4. Jesus tem autoridade sobre o demônio mais renhido, mais domesticado, mais aculturado, mais cultivado e melhor alimentado em nosso lar.
“E desde aquele momento sua filha ficou sã”. Mt.15:28
Indiferença, ausência de perdão, insensibilidade, agressividade, rispidez. Os demônios se submetem ao nome de Jesus, à sua autoridade.
Existem acoes demoníacas que sao nutridas e cultivadas em lares disfuncionais; por isto precisamos romper com estas atitudes de nossa alma. Jesus disse: “Eu sou a luz do mundo, aquele que me segue não andará em trevas”. Precisamos clamar para que Jesus ilumine os cantos obscuros de noss coracao e lance luz sobre nossas trevas.
Satanás se nutre das trevas, do lado obscuro de nossa alma, e Jesus tem poder sobre tais ações demoniacoas, sua presença confronta o maligno. Jesus tem poder!
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