Introdução:
Este texto não se aplica a uma sociedade pragmática como a nossa. O gesto de Maria, simplesmente não faz sentido para nós. Esta Maria, de acordo com o evangelho de João, é a irmã de Lázaro e Marta (Jo 12.1-3).
Não faz sentido a postura de Maria – João afirma que ela “ungiu os pés de Jesus e os enxugou com seus cabelos (Jo 12.3).
Não faz sentido o investimento de Maria – Um vaso destes custava uma fortuna de quase 1 ano de trabalho (300 denários). Como o denário era o salário diário, este perfume custava 300 dias de serviço.
A reação de todos foi imediata:
Os discípulos se indignaram – (Mc 13.4). Qual seria sua reação?
Judas a censurou – Jo 12.7. Não é estranho pensar que nossa mentalidade se parece com a de Judas, o traidor?
O que este texto nos ensina?
- Existe aqui uma tensão entre a mentalidade de um adorador x pragmático - O pragmático nem sempre é adorador. Por isto me identifico, lamentavelmente com a mentalidade dos discípulos. Eu sou o que os ingleses chamam de “ Task driven”, portanto, dirigido para tarefas, projetos, alvos, objetivos. Me irrito facilmente com negligência, descuido e displicência, gente que faz as coisas com desinteresse e de última hora.
Certo amigo me fez uma pergunta que até hoje me tem incomodado: “ Quanto tempo faz que você vem ao culto apenas para adorar? Sem a preocupaçao de saber se as coisas estão sendo feitas corretamente?”. A resposta mais direta a isto é Nunca! Sempre que venho a igreja, tenho a preocupação de saber se tudo está OK. Minha mentalidade é serviço! Será que Deus espera de mim esta performance?
A lógica utilitária e pragmática no reino pode nos distanciar de Deus. No Antigo Testamento, os lavradores separavam seus melhores grãos e as primícias de suas colheitas, apenas para serem queimadas. O melhor do rebanho deveria subir aos céus como adoração. Adorar a Deus pode parecer desperdício de tempo e recursos.
Pense no exemplo de Maria e Marta. Maria ficava aos pés de Jesus, aprendendo, ouvindo, se deliciando com suas palavras. Maria não suportou e a censurou. Jesus porém lhe responde: “Marta, Marta, andas inquietas e te preocupas com muitas coisas, Maria escolheu a boa parte e esta não lhe será tirada”.
- Mentalidade pragmática nem sempre possui motivações corretas – Este texto não faz censura ou condenações, mas João afirma que Judas, o que mais se escandalizou com o gesto de Maria, a censurou dizendo que tal perfume poderia ser vendido e dado aos pobres, mas João afirma que ele fazia isto porque era ladrão e lançava, e tendo a bolsa, tirava o que nela se lançava (Jo 12.6). Seus motivos não eram puros nem altruístas.
Que motivos o pragmatismo pode ocultar ou revelar: Ganância? Desonestidade? Desejo de sucesso e aclamação? Até quando o pragmatismo glorifica a Deus?
Já vi muitos cuidando dos recursos da igreja de forma tão séria e honesta, mas já ouvi de tantos que controlam suas igrejas e comunidades para proveito pessoal. Podem ser até brilhantes na administração, serem aparentemente zelosos, mas de fato estão glorificando a Deus?
- Apenas o adorador consegue ter sensibilidade para entender o que passa no coração de Deus – O que faz Maria? Ela percebe a angústia de Jesus, sua dor e angústia pelos próximos acontecimentos eram visíveis. Os textos que se seguem a este, mostram Judas traindo, Pedro negando, multidões enlouquecidas pedindo sua morte depois de tudo o que ele fez para benefício de tantos. Apenas Maria é capaz de captar este momento de Jesus, por isto Jesus afirma que ela fez o bem, antecepando-se à sua sepultura.
O coração do adorador está identificado com o coração de Deus.
Vejo isto em Davi, o homem que foi chamado “segundo o coração de Deus”. Certa vez dois rapazes o viram declarar que estava com vontade beber da água fria da fonte de Belém, e aqueles rapazes, arriscaram suas vidas, rompendo trincheiras inimigas, para trazer esta água a Davi, mas quando Davi a recebe, entendendo todos os riscos de vida que tiveram aqueles rapazes, a derramou no chão, em libação a Deus. Um pragmático jamais fará isto.
Numa viagem a Israel, vi quando uma mulher, chilena, esposa de um colega de pastoreio, saiu de uma mesquita muçulmana chorando. Quando lhe indaguei porque ela chorava, Leda me respondeu: Por que estas crianças estão aprendendo coisas que a levarão para longe da obra de Cristo”.
- O adorador atento, adora por adorar – Ele não busca uma lógica pelo que faz, apenas se derrama de forma espontânea e abençoadora para Deus.
Certa vez estávamos dando palestras para um grupo de casais em Goiás Velho , quando entramos no assunto de generosidade e adoração por meio dos recursos. Certa mulher, tocada pelo Espírito de Deus, resolveu vender um jogo de jantar caríssimo que havia adquirido pouco tempo atrás e dar para a obra do Senhor. A reação do grupo foi impressionante. Todos a encorajavam a não fazer isto, quando eu resolvei intervir e dizer: “Deixai-a. Deus colocou isto no seu coração, e ela não precisa fazer isto por qualquer razão, ou justificativa. Mas é assim que ela deseja adorar a Deus”.
O adorador não busca a Deus por qualquer motivo a não ser Deus mesmo, por isto seu amor muitas vezes é escandaloso e assusta a mente pragmática. Ele deseja adorar a Deus, e é intenso e apaixonado em seu amor. O adorador é pródigo em direção a Deus.
Certa vez um líder de igreja me disse que não trazia seu dízimo a igreja porque não via base bíblica, quando estava abrindo a bíblia para demonstrar os argumentos, resolvi perguntar-lhe se ele realmente fazia isto porque estava convencido biblicamente ou por que procurava justificar-se? Ele constrangido baixou a cabeça e admitiu que era para se justificar. Um adorador genuíno é abundante na obra do Senhor e naquilo que ele faz para Deus, porque deseja adorá-lo e glorificá-lo.
Outro irmão me disse que o culto estava passando do seu horário todos os domingos, e eu lhe perguntei qual era o tempo? Muitas vezes um culto pode durar muito tempo e ainda assim estarmos experimentando a deliciosa presença de Cristo, sem nos importarmos.
- O verdadeiro adorador acerta naquilo que faz – Jesus fez a seguinte declaracao sobre o gesto de Maria: “Ela fez o que pode”(Mc 14.8). Este é o epitáfio (a frase que se coloca nos túmulos), que eu gostaria de ver gravado no meu. Não quero fazer mais do que posso, mas não quero fazer menos que o que me é possível”. Não quero chegar no final da vida entregando a Deus um relatório incompleto daquilo que ele me deu para fazer.
Maria fez o que pode. Acertou ao fazer aquilo que Deus queria que ela fizesse. Por isto, onde o evangelho for pregado, a história de Maria será contada, porque ela é o modelo de alguem que tem o verdadeiro coração de adorador.
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