domingo, 30 de março de 2014

Gn 33.12-17 Respeite seu ritmo!





Introdução:

Wayne Cordeiro é pastor no Hawaí, numa das igrejas que mais crescem no mundo. Na sua palestra “líderes mortos, porém correndo”, ele conta que certo dia estava fazendo jogging, quando sentiu falta de ar e uma sensação de medo e pânico começou a controlar sua mente de uma forma tão profunda que ele assentou no chão e começou a chorar, até ser atendido por pessoas e levado às pressas para um hospital. Ali o médico diagnosticou um stress profundo, foi medicado e pode voltar para seu trabalho, agora num compasso diferente. A partir daí, se tornou conhecido pelo seu sermão no qual afirma que nosso tanque precisa estar cheio para que possamos continuar andando.

Este texto nos fala da percepção de Jacó. Ele estava voltando depois de muitos anos vivendo em outra terra, para se reencontrar com seu irmão. A última vez que se viram, Jacó o tinha trapaceado e Esaú chegou a pensar em matá-lo, mas os anos trouxeram maturidade, e Esaú parecia já ter resolvido seu problema no coração, embora Jacó estivesse assustado.

Esaú queria acompanhar Jacó, mas este se recusou. Ele percebeu que seus ritmos eram diferentes. Ele estava com crianças e animais, Esaú estava acompanhado de um bando de homens, não dava para andar junto. Apesar da insistência de Esaú, Jacó conseguiu convencê-lo de que andar juntos não seria possível e agradeceu a gentileza, por entender que estavam em um compasso diferente.

Somos uma geração apressada. Temos urgência! Estamos sempre agitados, estressados e correndo... Jesus viu esta mesma atitude na vida de Marta: “Marta, Marta, andas agitada e inquieta com muitas coisas; um só é necessária,  Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada” (Lc 10.39).

Precisamos aprender a respeitar o ritmo de nossa mente, saúde, família, filhos e mesmo dos bens que possuímos. Tenho a sensação de que não estamos conseguindo fazer isto muito bem.

Este texto nos ensina algumas lições muito importantes:

  1. Precisamos andar no nosso ritmo, e não no que os outros sugerem para nós– Isto só é possível quando consideramos que muito da agitação que temos, nos é imposta por pessoas influentes de nosso círculo de relacionamento.
É o caso de Esaú. Ele desejava o melhor para Jacó, não queria prejudicar, mas ajudar e apoiar, mas se Jacó atendesse sua sugestão, seria complicado. Os seus ritmos eram diferentes.

Muito stress acontece porque queremos andar num ritmo que nosso organismo não consegue. Quando tentamos andar no ritmo dos outros que nos impõem um estilo de vida que não queremos e não conseguimos ter. São pessoas de influência no nosso círculo de relação que impõem condições que se tornam um peso. Precisamos dizer: Preciso ir mais devagar, assim não dá!

Certo pastor foi procurado por uma mulher pedindo atendimento urgente naquela noite, porque seu casamento estava implodindo. Ele olhou na sua agenda e disse que não poderia estar com ela: Havia combinado com sua esposa de irem ao cinema. À noite andando no Shopping encontraram aquela mulher que surpresa disse: “Uai pastor, o senhor não me disse que tinha compromisso hoje?” E ele respondeu: “Eu havia marcado com minha esposa de ir ao cinema, e estou aqui cuidando dela para que no futuro não tenhamos que buscar aconselhamento matrimonial”.

  1. Precisamos andar mais lentamente por causa de nossos filhos: Jacó diz a Esaú: “Estes meninos são tenros”. (Gn 33.14). Se ao menos percebêssemos quão frágeis são nossos filhos, iríamos mais devagar.
Pais muitas vezes, querendo imprimir maior velocidade aos filhos, atropelam processos, expondo-os a situações nas quais eles ainda não tem maturidade nem capacidade de escolha. Não vemos quão frágeis eles são. É preciso criar uma rotina de atividades, de vida, rituais, ter tempo para andar juntos, fazer leituras, jogos, brincar de futebol, pescar, ir para a fazenda juntos.

Não dá para amadurecer à força. Muitas empresas colhem tomates e bananas ainda verdes, porque não estraguem na viagem, e quando chegam aos depósitos, eles aplicam CO2 para que eles amadureçam à força. O resultado é que nunca ficam tão saudáveis e gostosos como quando amadurecem naturalmente.

O grande desafio é que justamente na época que nossos filhos mais precisam de nós, isto é, na infância e na adolescência, é quando somos mais produtivos no mercado de trabalho, e na nossa tresloucada os deixamos para trás ou os atropelamos com agendas sobrecarregadas.

James Dobson afirma que: “tempo é moeda emocional”. Funciona da seguinte forma: Quando você tem tempo para seus filhos eles entendem que vocês os amam e os apreciam. Se não damos o tempo adequado, eles correm o risco de desenvolverem um sentimento de orfandade e de abandono, que se torna a causa de ansiedades futuras e eventualmente problemas mais sérios como depressão e síndrome do pânico. Quando pais caminham nos seus ritmos, ensinando-os, brincando, interagindo, isto potencializa a capacidade de crescerem de forma harmoniosa, equilibrada e amorosa. Filhos estão em processo de formação espiritual e emocional, precisamos ir no compasso deles, andando devagar mas de forma segura. É isto que Jacó disse para Esaú.

  1. Precisamos andar no nosso ritmo, porque podemos perder o que temos. Jacó afirma o seguinte: “Estes meninos são tenros, e tenho comigo ovelhas e vacas de leites; se forçadas a caminhar demais um só dia, morrerão todos os rebanhos” (Gn 33.14). Jacó percebe que correria, no seu caso, significaria perda de coisas valiosas, como a sua economia.
Existe um ditado popular que afirma: “Quem tem pressa come cru!”. Se você plantar eucalipto, a colheita será rápida, mas carvalhos e jequitibás levam décadas para se formar. Assim é o caráter. O senso de urgência pode destruir o que temos adquirido. Muitas vezes, ir devagar e sempre é a melhor forma de se conquistar e preservar bens. Ambição exagerada muitas vezes é a causa de falência financeira. Seu rebanho corre risco... seus bens correm risco...

Algum afirmou que “fanático é aquele que, ao ver-se perdido, imprime maior velocidade à sua caminhada”. A vida não é de 100 mts raso, mas uma maratona. Por ser uma longa corrida temos que ir devagar e sempre. “Não te impacientes, certamente isto acabará mal” (Sl 37.5).

  1. Precisamos ir devagar, porque precisamos educar nossa família – O texto nos ensina algumas coisas importantes que Jacó via em relação á sua família.

    1. Educação efetiva só se dá quando nossos filhos são guiados didaticamente  “Eu seguirei, guiando-os” (Gn 33.14). Eu sei que eles precisam de orientação, por isto não posso ir na frente e eles atrás. Não posso atropelar seus pequenos passos. Eles precisam ser orientados e só se faz isto, caminhando lado a lado com eles. Não existe caminho fácil, cada dia é uma batalha a ser conquistada, até que Jesus vai se moldando na vida de nossos filhos. Precisamos guiá-los, orientá-los, mostrar-lhes as trilhas.
    1. Educação não é um ato isolado, mas um processo de vida - “Eu seguirei, guiando-os pouco a pouco” (Gn 33.14). Outro ditado popular nos ensina o seguinte: “comida de um dia não engorda cachorro”. Formação de caráter, atitudes e comportamentos são moldados dia a dia, pouco a pouco, através da imitação e companheirismo. Nossos filhos vão seguindo nossas pegadas. Rick Warren afirma que “caráter é a soma total de seus hábitos”.
    1. Educação precisa seguir um compasso natural das coisas. “Eu seguirei, guiando-os pouco a pouco, no passo do gado” (Gn 33.14). Jacó percebia que a natureza possuia ciclos, o animal tem um ritmo e a vida segue o ritmo natural. É neste compasso que precisamos caminhar. Queremos atalhos, o jeitinho, a solução imediata, mas Deus se interessa mais pela estabilidade que pela velocidade.
5.        Precisamos ir no ritmo natural, mas sabendo onde queremos chegar – Jacó afirma que seguiriam “Até chegar em Seir” (Gn 33.14). Era neste lugar que eles gostariam de chegar.

Onde você quer chegar com seus filhos? “Não apresse o rio, ele corre sozinho”. A vida não tem este senso de urgência, mas tem propósito. Você sabe onde quer chegar? Em qual lugar você deseja construir sua casa? O cronograma de Deus raramente coincide com o nosso, por isto quase sempre estamos apressados, mas Deus não.

Rick Warren afirma: “Enquanto nos preocupamos em crescer rapidamente, Deus se preocupa em que cresçamos fortes. Deus vê a nossa vida desde a eternidade e para a eternidade; então, nunca está com pressa” (Vida com propósitos, pg 188).

Conclusão

ü       O estilo de vida de Jesus – Durante 30 anos de vida terrena, Jesus soube respeitar tempos e épocas. Eventualmente foi provocado a agir no ímpeto, e chegou mesmo a repreender quando pessoas esperavam que ele fizesse as coisas no tempo não planejado e adequado: “Ainda não é chegada a minha hora” foi uma afirmação usada por ele, para levar as pessoas a entenderem que havia um ciclo natural para o exercício do ministério. Durante estes 30 anos, deve ter visto muito sofrimento e dor, situações nas quais poderia intervir, mas pacientemente soube esperar a hora de manifestar a sua glória entre os homens.

ü  Jesus e os seus discípulos – Passado os 30 anos, ao iniciar seu ministério, durante três anos pacientemente treinou e liderou um grupo de seguidores. Ele não demonstrou pressa, embora às vezes se mostrasse impaciente com a incredulidade e incapacidade de ver as coisas do ponto de vista de Deus. Ele sabia que a visão do Reino de Deus estava sendo solidificada em seus corações, e por isto pacientemente os orientava nesta missão;

ü       Jesus e o discipulado – Ainda hoje ele espera que seus seguidores aprendam da sua vida. Discipulado leva tempo. Alguém já disse que todo cristão deveria escrever na sua testa, de forma bem visível: “Seja paciente comigo, Deus ainda não me completou”. Dia a dia precisamos nos arrepender dos pecados, buscar orientação de Deus, aprender de sua Palavra. Ele convida seus discípulos a andarem com ele. “Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim”. Jugo não é uma palavra muito conhecida no nosso vernáculo, mas se a traduzirmos por “canga”, entenderemos o que Jesus queria. Ele desejava compartilhar as cargas conosco, andar atrelado a nós, para que assim aprendêssemos dele como a vida deve ser.


ü       Jesus e o processo do discipulado – Ele sabe que por levar tempo, precisamos continuar firmados nos mesmos princípios recebidos para que deles não nos desviemos. Na grande comissão ele disse que deveríamos fazer discípulos de todas as nações, isto exige tempo e perseverança, eles deveriam ser batizados e inseridos numa comunidade, mas deveriam continuar o processo. “Ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado!”. Continuemos no aprendizado, pouco a pouco, no “ritmo do gado”, como afirmou Jacó!

sábado, 22 de março de 2014

Gn 35 Construindo Altares



  
Introdução:

Já faz algum tempo que ando intrigado com uma atitude do povo de Deus, que constantemente  no Antigo Testamento, especialmente no livro de Gênesis e de Juízes, que é a “construir altares”. Os patriarcas tinham o costume de levantar estas construções e sacrificarem animais ou trazerem oferendas de grãos desde os dias de Caim e Abel. A bíblia faz questão de registrar tais práticas.
No texto que estudamos, vemos as seguintes afirmações:

               5.1  Disse Deus a Jacó: Levanta-te, sobe a Betel e habita ali, faze ali um altr ao Deus que te apareceu quando fugias da presença de teu irmão”
               5.7 “E edificou ali um altar e ao lugar chamou El-betel; porque ali Deus se revelou quando fugia da presença de seu irmão”.
               5.14 – “Então, Jacó erigiu uma coluna de pedra no lugar onde Deus falara com ele; e derramou sobre ela uma libação e lhe deitou óleo”.

Qual seria o significado deste ato para nossos dias? Podemos encontrar aqui princípios que norteariam nossa espiritualidade ainda hoje? O livro de Hebreus afirma que o Antigo Testamento era uma tipologia, sombra das coisas que viriam, isto é, apontavam para determinados princípios de vida para os adoradores do Novo Testamento: “Ora, visto que a lei tem sombra dos bens vindouros, não a imagem real das coisas, nunca jamais pode tornar perfeito os ofertantes” (Hb 10.1). Precisamos entender que  AT dá pistas parciais que apontam para realidades plenas no NT. Que princípios estariam inerentes no ato de construir altares e que seriam relevantes para nós, ainda hoje? Será que o ato de construir altares apontaria para um princípio de liturgia pessoal e coletiva para o povo de Deus? Este ato requerido por Deus aos seus adoradores no AT indicaria realidades que devem ser retraduzidos hoje em dia? Qual o significado de construir  altares?
Nos dias de hoje somos muito exigidos em relação a nossa agenda e muito exigidos quanto ao trabalho intelectual. Diante da correria, podemos facilmente construir um estilo de vida pagão, onde Deus não é vivenciado ou sequer nos lembremos de sua presença. No meio das exigências e atividades diárias Deus pode facilmente ser abolido e assim não mais o percebemos, tornando-se irrelevante e periférico. Podemos saber de sua existência, entendemos que Ele é real, e até mesmo professarmos determinado tipo de fé, mas sem o evocarmos não permitindo que ele seja o centro da nossa vida. Erguer altares parece indicar gestos simbólicos, concretos e tangíveis que apontam para a realidade de Deus e evoca sua lembrança e presença entre nós.
Este texto nos traz algumas lições sobre construir altares:

1.      Deus ordena a Jacó que lhe faça um altar – “Disse Deus a Jacó: Levanta-te, sobe a Betel e habita ali, faze ali um altar ao Deus que te apareceu quando fugias da presença de teu irmão” (Gn 35.1). Portanto, trata-se de uma exigência divina. Não era uma invenção religiosa e meramente humana, mas um imperativo sagrado. Deus ordena a Jacó que lhe providencie um altar.
Altares fazem parte do culto vétero-testamentário. Antes da instituição da lei, e de todos os princípios inerentes à forma de adoração judaica, descritas nos livros da lei, vemos os adoradores erguendo-lhe altares. Esta prática está presente na vida de Abraão e de Isaque, e agora, Deus pede a Jacó que lhe erga um altar.
A ideia de levantar altares me faz pensar em alguns elementos importantes do culto ainda hoje:
ð  Altares exigem tempo – Obriga-nos a parar, a um engajamento pessoal, a interromper atividades para colocar a atenção em Deus. Em dias atarefados, em tempos nos quais a agenda é tão cheia de compromissos, é fácil esquecemos de dispor tempo para Deus. Estamos muito ocupados para orar, para ler a Palavra, para nos doarmos para o Senhor. Eventualmente somos até capazes de dar, mas encontramos muita dificuldade em nos doar. Apesar de sermos cristãos, passamos a viver como pagãos, uma vida secularizada, sem altares, sem interrupção da agenda, sem um envolvimento mais direto com a adoração.

ð      Altares são atos públicos – Em geral os altares eram construções ao ar livre. As pessoas se juntavam ao redor daquele ato. Creio que construir altares nos dias de hoje tem a ver com esta hora em que funcionários, familiares e colegas se aproximavam do que fazemos para participarem conosco. Eles observarão o que acontece, ouvirão nosso testemunho. Altar torna-se um testemunho público de convicções pessoais. Altares expõem quem você é espiritualmente aos olhos dos outros, tornando-se uma proclamação de Deus em sua vida. Altares evitam que sua fé seja privativa, particular e pessoal, tornado-se conhecida e pública. 

ð      Altares trazem ônus financeiro – No Antigo Testamento e em toda bíblia, adoração implica em envolvimento financeiro. Antes da lei, vemos os sacrifícios de Abel e Caim, com suas ofertas e oferendas. Quando Abraão quer expressar a Deus sua gratidão pela vitória conquistada, traz seus dízimos e o entrega a Melquizedeque, muito antes da instituição da lei. O culto judaico conclama seus adoradores a trazerem dízimos e ofertas. Deus ensina ao povo: “Ninguém aparecerá diante de mim de mãos vazias”(Ex 34.20; 23.15). Os salmos estão cheios de convocações para que as pessoas tragam suas ofertas a Deus: “Tributai ao Senhor a glória devida ao seu nome; trazei oferendas e entrai nos seus átrios” (Sl 96.8).  No Novo Testamento, os discípulos tinham tal prática nos seus cultos. “No primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de parte, em casa, conforme a sua prosperidade”(1 Co 16.2).
Todo princípio de adoração na Bíblia, envolve doação. Se você pensa que é possível adorar a Deus sem contribuição e generosidade, precisa ler mais atentamente a Palavra de Deus. E se ainda assim, continua tendo dificuldade, lembre-se que está correndo sério perigo espiritual, já que dinheiro não é um principio neutro, e Jesus afirmou que onde estiver o seu tesouro, ali estará o seu coração. Dinheiro não é uma questão de finanças, mas de coração. Quando você se recusa a contribuir, e não investe na sua adoração, um perigo muito grande está rondando seu coração. Dinheiro revela o coração. Fé que não custa nada, não vale nada.

2.      Construir altares nos obriga a abandonar outros Deuses – O texto afirma que, assim que recebeu a ordem de Deus para construir altares, Jacó tomou atos concretos. “Então, disse Jacó à sua família e a todos os que com ele estavam: Lançai fora os deuses estranhos que há no vosso meio, purificai-vos e mudai as vossas vestes” (Gn 35.2)
Esta afirmação é incisiva e direta. A maioria dos seus servos vinha de culturas politeístas e pagãs. O sincretismo religioso estava presente por todos os lados. Dentro de sua casa, Raquel furtou os ídolos de seu pai, trazendo-os consigo. Ela não conseguira se desvencilhar dos ídolos paternos. Ao construir altar ao Senhor, Jacó centraliza e orienta a espiritualidade de sua família, e agregados. Yahweh, e não outros deuses deveria ser adorado. Os deuses falsos deveriam ser abandonados. “Lançai fora os Deuses estranhos que há no vosso meio, purificai-vos e mudai as vossas vestes”.
Ao construir o altar, ele estabeleceu a centralidade da adoração e norteou sua vida e sua casa. Ele aponta o caminho que iriam andar. Existe muito paganismo e idolatria em nossos lares e os homens cristãos deveriam tomar posição firme, edificar altares em sua casa e reafirmar sua convicção e valores espirituais. Jacó está assumindo a liderança espiritual de sua casa e apontando o rumo que sua família deveria seguir.
Atitudes simples e diretas podem demonstrar quem está no centro de nossa casa: Faça um culto, chame amigos, faça churrasco, bacalhoada ou macarronada mas erga altares em sua casa. Cante louvores, ore, leia a Palavra de Deus. Seus filhos, amigos e companheiros de jornada vão entender quem é o Deus que ocupa o centro de sua vida e de sua casa.

3.      Construir altares é expressão de gratidão – “E edificou ali um altar e ao lugar chamou El-Betel; porque ali Deus se lhe revelou quando fugia da presença de seu irmão”(Gn 35.7). Existe uma nítida relação entre a frase “edificou um altar” e a conjunção explicativa “porque”.  Altar está relacionado a gratidão, que numa declaração poética “é o amor contemplando o passado” (Moacir Bastos), ou, como dizem os franceses, “gratidão é a memória do coração”.
Jacó expressa a gratidão que trazia no coração. Ele também transforma sua gratidão em testemunho, porque as pessoas ouvem o relato da surpreendente visitação de Deus em sua vida 20 anos atrás. Ele edifica um altar porque ali Deus se revelou. Precisamos construir altares que sirvam como sinais da revelação de Deus em nossa história.
Das boas lembranças que trago da infância encontram-se os “altares” erguidos por meus pais. Pessoas simples, de herança italiana e mineira, tinham sempre a casa cheia de gente, com amigos ao redor da mesa comendo quiabo com frango e angu, macarronada, ou costelinha com tutu. Muitas vezes recebíamos famílias inteiras e meu pai, antes do almoço, de forma solene dizia a todos: “Antes de comer, vamos agradecer a Deus”.  E assim lembrávamos que Deus deveria ser glorificado pelo alimento, pela vida e pelos amigos. Muitas pessoas foram impactadas com este gesto. Era uma forma simples de construir altares!
Paulo Solonca, pastor em Florianópolis, relata que estava sobre uma pedra, observando o por do sol que se punha no mar, quando uma onda inesperada o atingiu, arrastando-o para o oceano. Por mais que tentasse sair seu esforço era inútil, e aos poucos a exaustão e a sensação de morte veio sobre ele. Um pescador, vendo-o desesperado, veio correndo em sua direção e fez a única coisa que pode fazer, jogando seu anzol. A linha era forte, mas não o suficiente para o arrastar, mas aos poucos, enroscado nela e aproveitando o impulso das ondas foi conseguindo se agarrar às pedras e sair. Exausto, agradeceu o livramento e ainda pediu ao pescador aquele anzol. O homem brincou com ele dizendo que além de livrá-lo ainda teria o prejuízo, mas o deu e Solonca foi para casa e construiu um memorial, colocando o anzol num primeiro plano. Todas as pessoas, ao entrarem em sua casa viam aquele objeto e queriam saber seu significado e ele então dava testemunho do livramento que Deus realizara em sua vida. Era uma forma de manter-se grato e dar testemunho. Aquele anzol se tornara um altar, um símbolo da presença de Deus na sua história.

4.   Construir altares é uma forma de renovar votos – “Vindo Jacó de Padã-Arã, outra vez lhe apareceu Deus e o abençoou. Disse-lhe Deus: o teu nome é Jacó. Já não te chamarás Jacó, porém Israel será o teu nome. E lhe chamou Israel” (Gn 35.9-10). As promessas que Deus faz a Jacó já haviam sido ditas anteriormente, não há nada novo. No entanto, ficamos com a impressão de que foi uma reafirmação de votos, como se Deus quisesse lembrá-lo de que o que ele lhe dissera era fundamental para sua vida, e que não deveria se esquecer.
 Quando construímos altares,  renovamos votos e reafirmamos o Deus que temos. Evocamos a memória do Deus que nos tem acompanhado deste a nossa juventude. Não permitimos que a vida agitada roube de nós a percepção de que existe um Deus que transita em nossa história.

Conclusão:

A bíblia afirma em forma de censura que Saul demorou em erguer um altar para Deus, mesmo ocupando a função de líder sobre a teocracia judaica. “Edificou Saul um altar ao Senhor; este foi o primeiro altar que lhe edificou” (1 Sm 14.35). Curiosamente Saul era muito preocupado com a auto-promoção, porque em 1 Sm 15.12 vemos que logo após a vitória sobre os Amalequitas ele não hesitou em fazer um monumento que promoveria sua memória às futuras gerações. Saul usa a vitória não para cultuar a Deus, mas para exaltar seu nome. Era ágil em levantar monumentos para si, mas lento para erigir altares para Deus. Ele era auto-centrado, desejoso de reconhecimento público. Será que temos sido diferentes?
Quanto tempo ele levou para edificar este primeiro altar a Deus? Pelo menos 7 anos. Até então, não havia feito nenhuma demonstração pública colocando Deus no centro da nação judaica. Saul não se preocupava com Deus, nem sentia necessidade de glorificá-lo. Seu coração era secularizado e as coisas espirituais não ocupavam sua mente. Muitos eram os desafios políticos, a necessidade de consolidar a monarquia e as exigências sociais. Seus compromissos envolveram sua vida e ele, que já não era propenso a questões espirituais, não se preocupou com Deus. Fazer altares era uma forma de trazer Deus para o centro, de relacionar sua liderança a Deus, mas Saul tinha preocupações maiores que o de agradá-lo.

O que você tem feito na sua vida para expressar gratidão? Seus amigos e familiares já viram em sua vida alguma manifestação da centralidade de Deus ou você vive de forma secularizada e distante? Você não acha que é necessário começar a construir sinais e símbolos em sua história que relacionem sua identidade e missão ao Deus de sua vida?

segunda-feira, 17 de março de 2014

Gn 34 A Anatomia da Ira



“Não me diga que estou nervoso, porque fico mais nervoso ainda!”. 
Foi esta a charge que vi numa tirinha de desenhos. Ira é uma reação muito comum nos nossos corações. Talvez não lutemos com drogas ou roubos, mas todos lutamos com ira, assim como sentimos, vemos e sofremos o impacto de pessoas iracundas sobre a nossa vida. Esta provavelmente é a razão que a palavra de Deus diga: “Irai-vos e não pequeis, não se ponha o sol sobre a vossa ira”(Ef 4.25). A questão não é se temos ou não ira, mas quão intensa é a nossa ira, porque ela tem sido nossa incômoda companheira e como lidamos com esta ira.

O texto lido narra os efeitos danosos da ira. 
Siquém, príncipe da casa de Hamor, se enamora com Diná, e os dois se envolvem num relacionamento sexual antes do casamento. Não sabemos se o sexo foi consensual como parece indicar o vs.34.3 “Sua alma se apegou a Diná, filha de Jacó, e amou a jovem, e falou-lhe ao coração”, ou, como afirma o vs. 2: “tomando-a, a possuiu e assim a humilhou” (34.2). Talvez porque sexo antes do casamento significava uma grave afronta na cultura antiga é que o vs. 7 nos fala diz; “...indignaram-se e muito se iraram, pois Siquém praticara um desatino em Israel, violentando a filha de Jacó, o que se não devia fazer”. Os textos são ambíguos, pois ora falam de amor e linguagem do coração, o que dá a ideia de sexo consensual; ora falam de humilhação, violência e desatino, o que transmite a ideia de estupro.

O fato é que, diante da reputação ferida, dois filhos de Jacó reagiram com muita ira. Criaram uma situação premeditada e fria, para vingarem “a humilhação” da irmã, e de forma brutal e covarde, mataram toda a família de Hamor e Siquém numa emboscada. A indignação deles se transformou numa arma mortífera, trazendo consequências danosas para toda a família.

Por que você anda tão irado?

Ira não é uma reação muito incomum nas nossas vidas. O profeta Jonas, por duas ouviu Deus lhe perguntando: "É razoável a sua esta tua ira” (Jonas 4.4,9)? A irritabilidade entre casais, ou colegas de trabalho e no trânsito, são tão visíveis no cotidiano que temos a impressão de que vivemos numa sociedade à flor da pele. A ira é um pecado muito presente.

O texto lido de Gn 34 revela as graves conseqüências que a ira pode trazer. 
A ira retira o bom senso – Bom senso é a capacidade de lidar com situações cotidianas e de pressão. Uma pessoa iracunda perde a capacidade de emitir respostas apropriadas às provocações diárias. Ela transforma um desentendimento em desgaste e irritação. Sob o efeito da ira, fazem coisas ridículas, comportam-se de forma inadequada e falam coisas que ferem e machucam. Perdem o senso do ridículo. 

Diante da situação que expunha a reputação da família e trazia humilhação para a irmã, Simeão e Levi agiram de forma absolutamente insana. Hamor, o pai de Siquém, veio pessoalmente apaziguar a ira e os ânimos. Isto revela um procedimento maduro e equilibrado, mas a ira de Simeao e Levi não deixou que eles vissem que as coisas poderiam ser resolvidas com acordos e perdão. Hamor afirma: “A alma de meu filho Siquém está enamorada fortemente de vossa filha; peço-te que lha deis por esposa” (34.8). “Majorai de muito o dote de casamento e as dádivas, e darei o que me pedirdes; dai-me, porém, a jovem por esposa” (Gn 34.12). Esta é uma linguagem de gente pacificadora e não atitude de hostilidade. No entanto, a ira não permite que o bom senso regule as relações.

Quantas vezes é exatamente isto que acontece na nossa vida. Em situações de ira, pessoas ferem, e apesar das tentativas de paz, de perdão e para resolver o problema de forma pacifica pessoas feridas, amarguras e iradas não conseguem enfrentar os problemas com bom senso. Pessoas com ira não avaliam bem a situação, o homem sem domínio próprio torna-se tolo e sem juízo. Age impulsivamente, perde a razão e mata, machuca e fere. A ira destes irmãos se manifestou num incidente já resolvido, a situação estava sendo reparada, mas nada disto os impediu de agir de forma brutal. 

A ira embrutece 
É exatamente isto que vemos no texto. A indignação dos irmãos os torna monstruosos (Gn 34.25). Eles estabelecem condições difíceis. (todos os machos da família de Hamor deveriam ser circuncidados, numa época em que não se conhecia anestesia, nem bisturi), e ao terceiro dia, quando a dor era mais intensa, entraram naquela aldeia e dizimaram os homens. A atitude deles foi covarde e desumana.

Encontramos em Provérbios, várias advertências quanto ao domínio próprio: 
“Melhor é o homem paciente do que o guerreiro, mais vale controlar o seu espírito do que conquistar uma cidade”(Pv 16.32). 
“Como cidade derribada, que não tem muros, assim é o homem que não tem domínio próprio” (Pv 25.28). 

Ira reflete frustrações – Por isto é costumeiramente chamada de “pecado de superfície”. Ira aponta para algo mais profundo no coração. Em geral tratamos sintomas e comportamentos, mas dificilmente paramos para considerar o que está por detrás das atitudes e reações. Por isto a ira está sempre conectada aos nossos ídolos, como reputação e auto estima. É um pecado que aponta para outro pecado mais grave, e que se torna uma “cortina de fumaça”. . 

Ira é é uma resposta idolátrica. Quando nossos ídolos caem, ficamos enfurecidos. Os exemplos incluem Jonas, Judas, os fariseus e nós mesmos. A razão que nos leva a ficarmos irados tão freqüentemente revela nossa vida auto centrada. Ira é um bom estudo de caso da extensão e profundidade de nossa pecaminosidade. Podemos não comer carne ou roubar um banco, mas será que podemos impedir que a ira aflore? Uma das coisas mais claras nas características dos fariseus é sua ira.

Um material escrito pelo “Sonship Ministries”, numa apostila não publicada em portugues, “Gospel Transformation”, descreve a ira de “A a Z”. Vale a pena ler atentamente, perguntando se meu coração tem sido traido por estas coisas: 

A Ira para com meus filhos, porque eles desorganizam minha falsa paz, controle e domínio. Eles arruínam meus planos e alvos.

B Ira para com o cônjuge, porque ele falha em satisfazer minhas expectativas. Eu tenho certos padrões...

C Ira diante de meus inimigos porque eles mudaram a visão de mim mesmo que era de uma pessoa boa. (Eu construo minha própria justiça...)

D Ira diante de Deus porque ele governa minha vida (Eu governo minha vida...)

E Ira diante de outros, porque eles não dão atenção devida aos meus problemas, ouvindo-me ou cuidando de mim (Pessoas devem me servir...)

F Ira com alguém no supermercado que passa com seu carrinho de compra em cima de meus pés. Como alguém pode ser tão estúpido?

G Ira após perder o jogo no computador. Como uma máquina pode me derrotar?

H Ira por não estar casado, ou por estar casado, divorciado ou viúvo.

I Ira pela meia-idade, terceira idade ou "qualquer" idade.

J Ira por causa da morte. Porque eu deveria morrer e deixar aqueles que eu amo? Deixar o que eu conquistei?

K Ira pelo fracasso (no trabalho, escola, universidade, casamento, uma dada situação na vida). Eu mereço algo mais ou alguma coisa diferente...

L Ira por não ter reconhecimento. Ninguém percebe o grande trabalho que fiz e estou realizando. Compare o que estou fazendo com o que alguém já fez no passado...

M Ira sobre uma incompreensão acerca do que eu disse ou fiz (ídolos da reputação).

N Ira sobre desordem doméstica: O líquido que caiu no tapete, a vasilha que se quebrou, brinquedos espalhados pela casa, cabelos no banheiro, sujeira na pia, papel de toalha colocado de forma incorreta, sabonete quebrado em dois.
Ou, ira por perceber que as pessoas não fazem aquilo que eu preparei cuidadosa e antecipadamente. A atitude deles quebra meus planos. Eu tenho planos, mas eles precisam do carro. Agora tenho que ficar em casa ao invés de ir assistir um filme (prazer, controle). Meu chefe arruinou meus planos para o feriado. Agora eu sou uma vitima...

P Ira quando eu não atinjo minhas expectativas próprias. Eu não concluí meu projeto no tempo.

Q Ira quando não consigo virar corretamente o bolo (eu sou uma mãe perfeita...).

R Ira quando a máquina de lavar estraga a roupa. Eu tinha plano de terminar o trabalho da lavanderia hoje...

R Ira quando o carro quebra, justamente quando eu tinha grandes planos. Eu temo o que as pessoas vão pensar se eu chegar tarde. Como fica a minha reputação?

T Ira por conviver com gente mau humorada, fariseus e com minha esposa que controla o dinheiro.

U Ira porque Deus traz alguém parecido com os “ninivitas” na igreja, gente que não sabe como se "comportar".

V Ira porque as pessoas mostram favoritismo. Por que estas pessoas não prestam atenção em mim?

X Ira quando as pessoas demonstram amor por mim (vítima). Eu não posso aceitar o amor delas porque eu não quero sofrer novamente com outras pessoas que vão ser falhas em amar.

X Ira porque as pessoas rejeitam meu convite para almoçarem comigo. Provavelmente elas não se sentem honradas na minha presença...

Y Ira porque as crianças não fazem o que eu quero que façam... controle e poder... 

Z Ira porque as pessoas me cortam no trânsito, buracos na pista que estragam meu carro, radares que são colocados para me apanhar quando ultrapasso os limites, pessoas que buzinam quando não arranco rapidamente.

Em todas estas situacoes observamos que estamos lidando com nossos ídolos, que sao de barro e falham: Nossa imagem, reputação, aceitaçãoa. Quando eles se quebram brota a ira. Isto reflete nosso narcisismo, egocentrismo e a vida da carne, auto-centrada, que deseja reconhecimento e aclamação. 


4. Ira traz dores à familia – O texto nos mostra como isto machucou Jacó, pai de Levi e Simeão. “Então Jacó disse a Simeão e Levi: “Voces me puseram em grandes puros, atraindo sobre mim o ódio dos cananeus e dos ferezeus, habitantes desta terra. Somos poucos, e se eles juntaram suas forças e nos atacarem, eu e minha família seremos destruídos” (Gn 34.30). 

Apesar de todo constrangimento, Simeão e Levi acham que estão certos. Eles se defendem e argumentam. Não é exatamente assim que procedemos quando agimos com irritação, ferimos e machucamos os outros? Quantos são capazes de dizer, depois de uma acesso de ira, que estão errados?

A atitude de Simeão e Levi traz danos profundos à sua família. A partir de agora, a tensão com os vizinhos e a paz tornam-se ameaçadas. A desgraça da atitude destes irmãos paira sobre esta família tão pacífica e ordeira, pois o texto inicialmente parece apontar para um ambiente tranquilo entre a vizinhança. A partir de agora, eles estão sobre suspeita e ameaça. Quantos estragos a ira causa hoje em dia na história de uma família? Um assassinato, uma agressão, tudo isto desencadeia uma série de medos e culpas que seguem a história familiar por muitos anos.

5. Ira nos priva de bençãos – Este incidente é narrado em Gn 34, e parece que a Bíblia vira a página e este assunto é esquecido. Isto, porém, não é verdade. 

Alguns anos depois, Jacó sente que a hora de sua morte está chegando, e ele chama todos os seus filhos para “abençoá-los” e dar profecias quanto às suas vidas. No entanto, o que ele diz acerca de Simeão e Levi é algo tão duro, que eu não gostaria de ouvir isto de ninguém, e de forma alguma, de meu pai, na hora de sua morte. Esta narrativa encontra-se em Gn 39.

“Simeão e Levi são irmaos; as suas espadas são instrumentos de violência, No seu secreto conselho não entre minha alma, com a sua congregação minha glória não se ajunte; porque no seu furor mataram homens, e na sua teima arrebataram bois. Maldito seja o seu furor, pois era forte, e a sua ira, pois era dura; eu os dividirei em Jacó e os espalharei em Israel ” (Gn 49.5-7). 

Não existe, neste texto, nenhuma benção. O pai afirmou que não se pactuaria com eles, que não gostaria de caminhar com eles por causa da ira e furor. O pai profetiza que, por causa da ira, eles seriam divididos e espalhados. Gente nômade, sem identidade, confusa. Alguma coisa poderia ser mais dura que esta?

Conclusão:


Como a ira é uma atitude muito presente em nossas vidas. Gostaria de dar 4 sugestões bíblicas de como devemos lidar com ela:

1. Pergunte a si mesmo: “Por que estou irado?” – Esta é uma pergunta de clarificação, que nos orienta ao auto-exame e à reflexão. Quando você faz esta pergunta a si mesmo, muitos fantasmas que se encontram escondidos no porão de sua alma, são expurgados. Jogue luminosidade no porão escuro de sua casa, e veja quantas lacraias, baratas e ratos brotam dali. 

Quando Deus vai tratar com dois personagens bíblicos debaixo do impacto da ira, ele toca na essência do problema deles, tentando-os levar à refletir: 

Caim: “O Senhor disse a Caim: Por que te iraste? E por que descaiu o teu semblante? Se procederes bem, não é certo que serás aceito? Se procederes mal, o teu pecado será contra ti e a ti cumpre dominá-lo” (Gn 4.6-7). A repreensão do Senhor, infelizmente, não gerou nenhuma mudança no coração de Caim, que saiu dali e matou seu irmão. 

Jonas : Por duas vezes Deus lhe pergunta: “É razoável esta tua ira?” (Jn 4,4,9). Sua resposta, na segunda vez que Deus pergunta reflete bem o coração do homem indignado: “É razoável esta minha ira até a morte”. O texto de Jonas termina de forma lacônica, e não nos dá a entender que Jonas tenha refletido sobre esta questão e mudado. Pessoas iracundas, geralmente não querem pensar sobre o que estão fazendo, e são sempre muito cheias de razão. 

2. Coloque sua ira no lugar certo – A nossa ira geralmente é pecaminosa, porque ela mexe com os ídolos. Um dos maiores é a da reputação, quando voce julga que deveria ser tratado de forma diferente. Raramente nossa ira é positiva. Na verdade, em apenas dois casos ela pode ser positiva:

Primeiro, quando fere a santidade e a glória de Deus – Muitos pecados humanos ferem o coração de Deus. A Bíblia afirma que o pecado de Sodoma inquietou os céus. Deus decide averiguar pessoalmente, se manifestando numa teofania no encontro dele com Abraão (Gn 18). Deus pessoalmente conversa com Abraão, o texto fala que o Senhor conversou com ele, e não anjos, seus mensageiros. A perversidade da cidade fere a Deus. No caso de Nínive, Deus afirma que a maldade da cidade tinha subido até ele. Você se recorda que alguma vez tenha ficado irado por causa do nome do Senhor?

Segundo, quando é uma ira voltada para o fraco, o necessitado, o pobre, o explorado pela malignidade humana ou pelo sistema. Oscar Bulhole afirma que temos que recuperar a capacidade de indignação da exploração que o homem tem sofrido na América Latina. Você alguma vez ficou irado ao ver o pobre sendo explorado e massacrado? Você se recorda de alguma vez que tenha sentido ira por isto?

Não. Em geral nossa ira é por causa de alguma coisa que nos fizeram, que mexeu com o nosso brio e com nossa auto-estima. 

3. Não dê espaço para ira – É isto que a Palavra de Deus nos ensina: “Não deixe que o sol se ponha sobre a sua ira, nem deis lugar ao diabo” (Ef 4.26,27). 

Quando o sol se põe sobre nossa ira, isto demonstra que ela foi recalcada e desceu para as nossas visceras. Quando isto acontece, ficamos contaminados pela amargura. Ira não resolvida, que passa de um dia para o outro, é um desastre. Este texto ainda nos adverte a não dar lugar ao diabo. Falamos muito de brechas espirituais que abrimos quando nos envolvemos com seitas malignas ou ao fazermos pactos ou associações com sociedades secretas ou malignas, e de fato precisamos nos proteger e afastar destas coisas. No entanto, poucos param para considerar o quanto a ira pode ser uma porta para o diabo.

Vocês se recordam da história de Saul? Como um espírito maligno estava sempre oprimindo-o e causando depressão? Ao lermos atentamente a sua história, percebemos que o mal entrava sempre pelas portas da ira. Logo depois de um dia mal resolvido, em que ficava zangado , enciumado, ou irritado, o diabo vinha sobre ele e o dominava. Existem muitas pessoas sofrendo nas mãos do diabo, por causa da ira mal resolvida.

4. Transfira seus direitos a DeusA Palavra de Deus nos ensina: “Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira (de Deus), porque assim está escrito:A mim pertence a vingança, eu retribuirei, diz o Senhor” (Rm 12.19). 

Este texto nos ensina a deixar nossa ira para Deus. Quando somos feridos ou injustiçados, Deus toma a nossa causa. Ele é chamado na Bíblia do “Deus das vinganças” (Sl 94.1). Ele mesmo é o Deus dos orfãos e das viúvas, isto é, de pessoas que não possuem ninguém que as defenda. Quando levamos a Deus a injustiça e a infâmia sofrida, ele mesmo se torna nosso defensor. A vingança não é uma tarefa nossa, porque “A ira do homem não produz a justiça divina” (Tg 1.20). Portanto, deixe com Deus os seus direitos. “A mim me pertence a vingança, diz o Senhor”. 

A ira tem causados muitos males em nossa sociedade, destruído famílias, desautorizado pessoas, destruído relacionamentos, traumatizado crianças. Como dissemos no início, talvez não lutemos com drogas ou roubos, mas lutamos com a ira, emoções descontroladas, temperamentos desequilibrados, atitudes destemperadas. 

A ira tem um enorme poder de destruição, fere famílias inteiras, priva-nos de bençãos e causam grandes tragédias. 

Que Deus nos ajude. Que o domínio próprio, fruto do Espírito Santo em nós, gere uma disposição diferente e saudável em nossa vida.

segunda-feira, 10 de março de 2014

Gn 31.55-32.1-32 O Poder da Reconciliação




Introdução:

Vivemos num mundo fragmentado. É tão fácil perder os amigos, se distanciar das pessoas, desenvolver ressentimentos e amarguras que eventualmente nos acompanham por anos a fio, seguindo conosco na sepultura. Ira não resolvida, ressentimentos, distanciamento...

Ultimamente assustamo-nos com a grande quantidade de divórcio, eventualmente é quase inconcebível que depois de se planejar com tanto amor, gastar verdadeiras fortunas para um casamento, relacionamentos se dissolvam em meses, depois de um encontro apoteótico e milionário. Para que um casamento se dissolva, é necessário que se construa um volume significativo de acusação, indiferença, ódio e mesquinharia. De repente, laços se dissolvem, votos são quebrados, famílias são separadas.

Como precisamos de reconciliação neste mundo tão fragmentado.

Stanley Jones, conhecido pregador metodista afirma que a palavra chave na bíblia é Vida. Rick Warren afirma que a palavra chave é Relacionamento. Seja qual for a palavra, e eventualmente os dois estão certos na perspectiva que cada um adota, mas o fato é que a Bíblia sintetiza a obra de Cristo dizendo: “Deus estava em Cristo, reconciliando consigo mesmo o mundo”. Cristo veio fazer a reconciliação que se rompe quando o homem resolveu viver por si mesmo, de forma autônoma e independente.

O texto lido nos fala de reconciliação. De Jacó com Labão, seu sogro; e com seu irmão Esaú. Na verdade Jacó foi um homem de rupturas e quebras: teve conflito com seu pai, enganando-o; com seu irmão, traindo-o; com seu sogro, em atitudes de espertezas, desonestidades e malandragens e com Deus. Sabemos deste último por causa do encontro necessário que se deu em sua vida no vale de Jaboque (Gn 32).

No entanto, Jacó é um homem crente! Ele é filho da promessa! Mas parece tentar viver como alguém alienado de um propósito de Deus para sua história por muitos anos, mas ele não pode viver a vida inteira assim. Neste texto está mais uma vez fugindo, mas a vida dele precisa passar por um processo de reconciliação. E o que ele tem agora é o irmão que prometeu matá-lo vinte anos atrás, e ele chegou numa trilha sem saída: Não tem mais pra onde fugir. Seus relacionamentos precisam ser tratados, é o fim da linha para este homem que sempre fugiu de enfrentamentos e lutas.

Antes de mais nada, ele precisa de reconciliação porque não pode viver uma existência eternamente fragmentada – Jacó foge, muda de país, tenta esquecer sua história e família, no entanto, continua doente da alma, tendo sempre que lidar com o fantasma do seu irmão que o persegue e com as sombras do seu coração. A verdade é que relacionamentos mal resolvidos nos deixam mancos para o resto da vida. Platão afirmou que “a alma culpada correrá inconscientemente para seu juiz”. Quando não lidamos com perdão, graça e reconciliação, fragmentamos nossa história. É como um osso quebrado e mal cicatrizado. Você tenta ignorar o problema, mas ele está presente.
Jay Adams afirma que 40% perturbações psiquiátricas são geradas por emoções mal resolvidas: culpa, rejeição, etc., e faz uma afirmação ousada. Muitas pessoas que se encontram atualmente em intensos tratamentos psiquiátricos, poderiam ser curadas se lidassem de forma mais objetiva com o seu pecado, com a culpa e restaurando relacionamentos de amargura e distanciamento afetivos.

O texto lido nos ensina também que, logo após a reconciliação com Labão, seu sogro, os céus começam a se abrir para Jacó. A afirmação bíblica surpreende dizendo que assim que ele se despediu de seu sogro, num ambiente de cura e restauração, “anjos de Deus lhe saíram a encontrá-lo. Quando os viu, disse: Este é o acampamento de Deus. E chamou aquele lugar Maanaim” (Gn 32.1-2). Eu não sei se a idéia aqui é literal, mas isto não é que mais importa. O fato marcante é que reconciliação abre as portas do céu para a alma. Existem muitas pessoas que fecharam os céus e as manifestações de Deus na sua história, por causa da sucessiva quebra de princípios e relacionamentos.
Não parece que é exatamente esta a visão do apóstolo Pedro ao afirmar: “Maridos, vivei a vida comum do lar e tratai vossas mulheres com consideração como parte mais frágil, para que vossas orações não sejam interrompidas” (1 Pe 3.7). Relacionamentos quebrados bloqueiam nossas orações. “Se, pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiramente reconciliar-te com teu irmão; e, então, voltando, faze a tua oferta” (Mt 4.23-24).
Jacó ainda terá outro embate duríssimo com o seu irmão, de quem se evadiu cerca de 20 anos atrás, e que agora precisa também lidar com a situação, apesar do seu medo, percebe que Deus está presente ali. Aquele lugar é Maanaim (Gn 32.2). Quanta riqueza espiritual deixamos de desfrutar por causa de relacionamentos fragmentados. Reconciliação abre as portas dos céus.

O texto nos revela também que reconciliação acontece sempre com iniciativas unilaterais – Jacó toma a iniciativa, embora  ele, em muitas situações, tenha sido o elemento desagregador, ele decide andar em direção ao seu objetivo de organizar sua história.  Quando tomamos a iniciativa, não sabemos exatamente como o outro vai reagir. Talvez seja por isto que a Bíblia nos ensina: “Se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens”(Rm 12,18). Quanto é um advérbio de intensidade, fala-nos, portanto, de que, muitas vezes para se obter a paz, é necessário que nos esforcemos. Nem sempre a restauração é um processo fácil, como não foi fácil para Jacó. Ele não pode prever a reação de Esaú, mas ele faz o que acredita ser correto para a restauração (Gn 32.3-5).
Um dos grandes entraves nos relacionamentos quebrados é estabelecermos condicionais para que as arestas sejam desfeitas. Em geral, condições prévias não podem ser estabelecidas e asseguradas. Por isto, reconciliação é via de mão única. Foi isto que Deus fez conosco por meio de Jesus. Ele morreu por nós sendo nós ainda pecadores. Éramos rebeldes e egocêntricos e ele nos amou de forma não condicionada. Paulo afirma que Nós amamos a Deus porque ele nos amou primeiro”. Nenhuma condição. Ele amou, ele assumiu o ônus, e isto se torna ainda mais impressionante quando consideramos que ele era a parte ofendida, e não o ofensor.

Reconciliação é um processo longo e dolorido, envolve negação de si mesmo, perdão, auto-exame. A narrativa deste texto fala-nos destas lutas interiores em oração, reflexão, introspecção. Jacó enfrenta as lutas do seu próprio ser,  lutando com um homem misterioso. Essa é uma batalha mística e introspectiva. Ele tem que lutar com suas sombras e com Deus. Neste processo, a maior guerra não está do lado de fora, como se supõe, mas dentro da alma (Gn 32.24).
Jacó é confrontando: “Como te chamas?” (Gn 32.27) Esta pergunta toca a questão central do seu caráter. Ele tem que lidar com a essência enigmática do seu ser. Ele é Jacó e seu nome carrega em si a dura realidade de um caráter enganador, embusteiro e trapaceiro. Deus o leva a entrar em contacto com sua fragilidade e vulnerabilidade.
Talvez aqui resida uma das maiores dificuldades em perdoar e reconciliar, porque não queremos ser confrontados com a interioridade, nem responder às duras perguntas sobre aquilo que somos. Num processo de restauração do casamento, o orgulho, vaidade, reputação, precisam ser inquiridos. Perdão é o superlativo da perda. A maioria se divorcia porque não quer passar pela compreensão da dura realidade de seu próprio ser, sua natureza narcisista e egoísta. Então, diante de si mesmos, preferem negar a crise fugindo dela, evitando ter que olhar para a própria alma. Antes de resolver problemas com os outros, temos que lutar conosco mesmo, com as sombras de nosso ser, com os lados escuros da alma, e esta experiência é dolorida e dramática. Só se sai dela mancando, como aconteceu com Jacó.

O que nos leva a buscar reconciliação?

Diante de tantos problemas enumerados, por que deveríamos buscar o caminho da restauração? Sendo simplista diria que uma única razão já seria bastante: Porque vale a pena.  Depois de tanta dor e ansiedade vividos por Jacó, de temores e pesadelos, tudo isto assume uma nova roupagem quando ele se reencontra com o irmão Esaú. Jacó imaginou o pior cenário, e agora vemos o Esaú guerreiro, abraçado e chorando. Quanto anos de sofrimento para descobrir que seu irmão era bem menos complicado do que parecia, que ele não era tão ruim como imaginara. Os erros de outrora foram frutos da imaturidade e leviandade dos dois, e as ameaças caem por terra. (Gn 33.4).
Que caminho bendito o caminho da reconciliação! Através dele Jacó vai restabelecendo a alma e ganhando novo nome diante de Deus. Não mais Jacó, o trapaceiro, mas Israel, príncipe com Deus. Passa a ter uma nova identidade. Restabelece o conflito com o sogro. Estava ameaçado, agora é abençoado! (Gn 31.55). Reencontra-se com Esaú: tinha um inimigo, agora um parceiro (33.12). Esaú não quer deixá-lo sozinho, mas quer protegê-lo, ele é seu irmão. As coisas antigas e os anos de pesadelo tornam-se apenas páginas viradas da história.
Quanta revolução a reconciliação pode trazer: paz com Deus, harmonia familiar, perdão entre irmãos, casamentos refeitos, uma nova linha de comunicação entre pais e filhos. Reconciliação capacita-nos sepultar o passado, zerar a conta e virar a página. Reconciliação desmonta resistências. Antes o Esaú armado, o Jacó defensivo, agora o homem liberto. Todo o aparato se desfaz com um sincero abraço, um beijo de reconciliação e lágrimas de perdão.
Famílias facilmente escondem ódios profundos e atitudes insanas. A reconciliação de Jacó amplia suas relações, ele descobre um universo bem maior, não é mais um ser solitário. Tem gente ao redor, a quem pode apelar, não está mais desprotegido. Perda de laços sanguíneos é terrível. Perda de amigos, irreparável.
Reconciliação espanta temores íntimos da alma e fantasmas que caminhavam nas madrugadas. Jacó, o homem atormentado pela possibilidade da vingança do irmão, que o ameaçara agora é descobre um aliado (Gn. 27:41). Jacó vivia sob o estigma da morte, mas a reconciliação põe fim aos anos de angústia e expectativa de que o pior pudesse acontecer. Quem esteve sob ameaça entende o que estou dizendo.

Conclusão:

Reconciliação aponta para a obra da cruz.

A Bíblia diz que “Deus estava em Cristo, reconciliando consigo mesmo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação” (2 Co 5.19). Ele não apenas desfez a barreira que meu pecado criara, mas nos habilitou com a palavra da reconciliação para encorajar.

Como na parábola do Filho pródigo, traímos a Deus, ferimos o seu amor, no entanto, o pai perdoa, nos aceita de volta, nos dá dignidade. Ele, o ofendido; eu, o ofensor. Ele reconciliou “consigo mesmo o mundo”. A iniciativa foi dele e ele pagou o preço da minha reconciliação.

Um velho pregador estava viajando de trem para sua casa depois de uma série de conferências, quando percebeu no seu vagão um rapaz muito nervoso. Vendo-lhe a angústia de alma, se aproxima e pergunta se poderia ajudá-lo, pois o via muito nervoso. E o rapaz lhe explicou o que estava acontecendo.
Muitos anos atrás ele havia saído de sua casa, por causa de uma briga que ele havia provocado pela sua atitude intempestiva, e depois de ter ferido seus pais, a família e os irmãos, decidira desaparecer no mundo e por muitos anos, não enviou qualquer noticia aos seus. No entanto, passou a sentir-se cada vez mais oprimido e resolveu retornar para. Contudo, não sabia como o Pai reagiria à sua atitude, e resolveu mandar um telegrama dizendo: “Em tal dia, estarei viajando de trem para reencontrá-los, como o trem passa perto da casa de vocês, quero que coloquem um sinal no pé de manga, um lençol branco, como sinal de paz, em frente de casa, para que eu saiba que vocês me perdoaram e me aceitam de volta. Se vocês não colocarem nada, vou passar direto, e nunca mais volto”. Ele estava nervoso porque não sabia qual seria a resposta de sua família.
O velho pregador lhe disse: Então, deixe que eu olho para você, se estiver positivo, eu te falo. Quando chegaram perto do local indicado, o velho pastor chamou o moço e lhe disse, “Não estou vendo apenas um lençol, mas vejo a árvore coberta de lençóis, eles estão por toda parte. Em cima do telhado, cobrindo toda a árvore, nas cercas, na grama, em todos os lugares há lençóis brancos”.

Esta é uma boa analogia da obra de Deus por nós. Deus foi ferido pelos nossos pecados, mas de sua parte, moveu-se para nos amar, perdoar, restaurar e reconciliar. Esta é a mensagem da cruz, a mensagem da reconciliação.