Introdução:
Wayne Cordeiro é pastor no Hawaí, numa das
igrejas que mais crescem no mundo. Na sua palestra “líderes mortos, porém
correndo”, ele conta que certo dia estava fazendo jogging, quando sentiu falta
de ar e uma sensação de medo e pânico começou a controlar sua mente de uma
forma tão profunda que ele assentou no chão e começou a chorar, até ser
atendido por pessoas e levado às pressas para um hospital. Ali o médico
diagnosticou um stress profundo, foi medicado e pode voltar para seu trabalho,
agora num compasso diferente. A partir daí, se tornou conhecido pelo seu sermão
no qual afirma que nosso tanque precisa estar cheio para que possamos continuar
andando.
Este texto nos fala da percepção de Jacó. Ele
estava voltando depois de muitos anos vivendo em outra terra, para se
reencontrar com seu irmão. A última vez que se viram, Jacó o tinha trapaceado e
Esaú chegou a pensar em matá-lo, mas os anos trouxeram maturidade, e Esaú
parecia já ter resolvido seu problema no coração, embora Jacó estivesse
assustado.
Esaú queria acompanhar Jacó, mas este se
recusou. Ele percebeu que seus ritmos eram diferentes. Ele estava com crianças
e animais, Esaú estava acompanhado de um bando de homens, não dava para andar
junto. Apesar da insistência de Esaú, Jacó conseguiu convencê-lo de que andar
juntos não seria possível e agradeceu a gentileza, por entender que estavam em
um compasso diferente.
Somos uma geração apressada. Temos urgência!
Estamos sempre agitados, estressados e correndo... Jesus viu esta mesma atitude
na vida de Marta: “Marta, Marta, andas
agitada e inquieta com muitas coisas; um só é necessária, Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe
será tirada” (Lc 10.39).
Precisamos aprender a respeitar o ritmo de
nossa mente, saúde, família, filhos e mesmo dos bens que possuímos. Tenho a
sensação de que não estamos conseguindo fazer isto muito bem.
Este texto nos ensina algumas lições muito
importantes:
- Precisamos andar
no nosso ritmo, e não no que os outros sugerem para nós– Isto só é
possível quando consideramos que muito da agitação que temos, nos é
imposta por pessoas influentes de nosso círculo de relacionamento.
É o caso de Esaú. Ele desejava o melhor para
Jacó, não queria prejudicar, mas ajudar e apoiar, mas se Jacó atendesse sua
sugestão, seria complicado. Os seus ritmos eram diferentes.
Muito stress acontece porque queremos andar num
ritmo que nosso organismo não consegue. Quando tentamos andar no ritmo dos
outros que nos impõem um estilo de vida que não queremos e não conseguimos ter.
São pessoas de influência no nosso círculo de relação que impõem condições que
se tornam um peso. Precisamos dizer: Preciso ir mais devagar, assim não dá!
Certo pastor foi procurado por uma mulher
pedindo atendimento urgente naquela noite, porque seu casamento estava
implodindo. Ele olhou na sua agenda e disse que não poderia estar com ela: Havia
combinado com sua esposa de irem ao cinema. À noite andando no Shopping
encontraram aquela mulher que surpresa disse: “Uai pastor, o senhor não me disse
que tinha compromisso hoje?” E ele respondeu: “Eu havia marcado com minha
esposa de ir ao cinema, e estou aqui cuidando dela para que no futuro não tenhamos
que buscar aconselhamento matrimonial”.
- Precisamos andar
mais lentamente por causa de nossos filhos: Jacó diz a
Esaú: “Estes meninos são tenros”. (Gn 33.14). Se ao menos percebêssemos
quão frágeis são nossos filhos, iríamos mais devagar.
Pais muitas vezes, querendo imprimir maior
velocidade aos filhos, atropelam processos, expondo-os a situações nas quais
eles ainda não tem maturidade nem capacidade de escolha. Não vemos quão frágeis
eles são. É preciso criar uma rotina de atividades, de vida, rituais, ter tempo
para andar juntos, fazer leituras, jogos, brincar de futebol, pescar, ir para a
fazenda juntos.
Não dá para amadurecer à força. Muitas
empresas colhem tomates e bananas ainda verdes, porque não estraguem na viagem,
e quando chegam aos depósitos, eles aplicam CO2 para que eles amadureçam à
força. O resultado é que nunca ficam tão saudáveis e gostosos como quando
amadurecem naturalmente.
O grande desafio é que justamente na época que
nossos filhos mais precisam de nós, isto é, na infância e na adolescência, é
quando somos mais produtivos no mercado de trabalho, e na nossa tresloucada os
deixamos para trás ou os atropelamos com agendas sobrecarregadas.
James Dobson afirma que: “tempo é moeda
emocional”. Funciona da seguinte forma: Quando você tem tempo para seus filhos
eles entendem que vocês os amam e os apreciam. Se não damos o tempo adequado, eles
correm o risco de desenvolverem um sentimento de orfandade e de abandono, que
se torna a causa de ansiedades futuras e eventualmente problemas mais sérios
como depressão e síndrome do pânico. Quando pais caminham nos seus ritmos,
ensinando-os, brincando, interagindo, isto potencializa a capacidade de crescerem
de forma harmoniosa, equilibrada e amorosa. Filhos estão em processo de
formação espiritual e emocional, precisamos ir no compasso deles, andando
devagar mas de forma segura. É isto que Jacó disse para Esaú.
- Precisamos andar
no nosso ritmo, porque podemos perder o que temos. Jacó afirma o
seguinte: “Estes meninos são tenros,
e tenho comigo ovelhas e vacas de leites; se forçadas a caminhar demais um
só dia, morrerão todos os rebanhos” (Gn 33.14). Jacó percebe que
correria, no seu caso, significaria perda de coisas valiosas, como a sua
economia.
Existe um ditado popular que afirma: “Quem tem
pressa come cru!”. Se você plantar eucalipto, a colheita será rápida, mas
carvalhos e jequitibás levam décadas para se formar. Assim é o caráter. O senso
de urgência pode destruir o que temos adquirido. Muitas vezes, ir devagar e
sempre é a melhor forma de se conquistar e preservar bens. Ambição exagerada
muitas vezes é a causa de falência financeira. Seu rebanho corre risco... seus
bens correm risco...
Algum afirmou que “fanático é aquele que, ao
ver-se perdido, imprime maior velocidade à sua caminhada”. A vida não é de 100
mts raso, mas uma maratona. Por ser uma longa corrida temos que ir devagar e
sempre. “Não te impacientes, certamente
isto acabará mal” (Sl 37.5).
- Precisamos ir
devagar, porque precisamos educar nossa família – O texto nos
ensina algumas coisas importantes que Jacó via em relação á sua família.
- Educação efetiva
só se dá quando nossos filhos são guiados didaticamente – “Eu
seguirei, guiando-os” (Gn 33.14). Eu sei que eles precisam de
orientação, por isto não posso ir na frente e eles atrás. Não posso
atropelar seus pequenos passos. Eles precisam ser orientados e só se faz
isto, caminhando lado a lado com eles. Não existe caminho fácil, cada dia
é uma batalha a ser conquistada, até que Jesus vai se moldando na vida de
nossos filhos. Precisamos guiá-los, orientá-los, mostrar-lhes as trilhas.
- Educação não é
um ato isolado, mas um processo de vida - “Eu seguirei, guiando-os pouco a
pouco” (Gn 33.14). Outro ditado popular nos ensina o seguinte:
“comida de um dia não engorda cachorro”. Formação de caráter, atitudes e
comportamentos são moldados dia a dia, pouco a pouco, através da imitação
e companheirismo. Nossos filhos vão seguindo nossas pegadas. Rick Warren
afirma que “caráter é a soma total de seus hábitos”.
- Educação precisa
seguir um compasso natural das coisas. “Eu
seguirei, guiando-os pouco a pouco, no passo do gado” (Gn 33.14). Jacó
percebia que a natureza possuia ciclos, o animal tem um ritmo e a vida
segue o ritmo natural. É neste compasso que precisamos caminhar. Queremos
atalhos, o jeitinho, a solução imediata, mas Deus se interessa mais pela
estabilidade que pela velocidade.
5.
Precisamos ir no ritmo
natural, mas sabendo onde queremos chegar – Jacó afirma que seguiriam “Até chegar em Seir” (Gn 33.14). Era
neste lugar que eles gostariam de chegar.
Onde você quer chegar com seus filhos? “Não
apresse o rio, ele corre sozinho”. A vida não tem este senso de urgência, mas
tem propósito. Você sabe onde quer chegar? Em qual lugar você deseja construir
sua casa? O cronograma de Deus raramente coincide com o nosso, por isto quase
sempre estamos apressados, mas Deus não.
Rick Warren afirma: “Enquanto nos preocupamos
em crescer rapidamente, Deus se
preocupa em que cresçamos fortes. Deus
vê a nossa vida desde a eternidade e para a eternidade; então, nunca está com
pressa” (Vida com propósitos, pg 188).
Conclusão
ü O estilo de vida de
Jesus
– Durante 30 anos de vida terrena, Jesus soube respeitar tempos e épocas.
Eventualmente foi provocado a agir no ímpeto, e chegou mesmo a repreender
quando pessoas esperavam que ele fizesse as coisas no tempo não planejado e
adequado: “Ainda não é chegada a minha hora” foi uma afirmação usada por ele,
para levar as pessoas a entenderem que havia um ciclo natural para o exercício
do ministério. Durante estes 30 anos, deve ter visto muito sofrimento e dor,
situações nas quais poderia intervir, mas pacientemente soube esperar a hora de
manifestar a sua glória entre os homens.
ü Jesus e os seus
discípulos
– Passado os 30 anos, ao iniciar seu ministério, durante três anos pacientemente
treinou e liderou um grupo de seguidores. Ele não demonstrou pressa, embora às
vezes se mostrasse impaciente com a incredulidade e incapacidade de ver as
coisas do ponto de vista de Deus. Ele sabia que a visão do Reino de Deus estava
sendo solidificada em seus corações, e por isto pacientemente os orientava
nesta missão;
ü Jesus e o discipulado – Ainda hoje ele
espera que seus seguidores aprendam da sua vida. Discipulado leva tempo. Alguém
já disse que todo cristão deveria escrever na sua testa, de forma bem visível:
“Seja paciente comigo, Deus ainda não me
completou”. Dia a dia precisamos nos arrepender dos pecados, buscar orientação
de Deus, aprender de sua Palavra. Ele convida seus discípulos a andarem com
ele. “Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim”. Jugo não é uma palavra
muito conhecida no nosso vernáculo, mas se a traduzirmos por “canga”, entenderemos
o que Jesus queria. Ele desejava compartilhar as cargas conosco, andar atrelado
a nós, para que assim aprendêssemos dele como a vida deve ser.
ü Jesus e o processo do
discipulado –
Ele sabe que por levar tempo, precisamos continuar firmados nos mesmos
princípios recebidos para que deles não nos desviemos. Na grande comissão ele
disse que deveríamos fazer discípulos de todas as nações, isto exige tempo e
perseverança, eles deveriam ser batizados e inseridos numa comunidade, mas
deveriam continuar o processo. “Ensinando-os
a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado!”. Continuemos no
aprendizado, pouco a pouco, no “ritmo do gado”, como afirmou Jacó!