Introdução:
Já faz algum tempo que ando intrigado com uma atitude do
povo de Deus, que constantemente no
Antigo Testamento, especialmente no livro de Gênesis e de Juízes, que é a
“construir altares”. Os patriarcas tinham o costume de levantar estas
construções e sacrificarem animais ou trazerem oferendas de grãos desde os dias
de Caim e Abel. A bíblia faz questão de registrar tais práticas.
No texto que estudamos, vemos as seguintes afirmações:
5.1 “Disse Deus a Jacó: Levanta-te,
sobe a Betel e habita ali, faze ali um altr ao Deus que te apareceu quando
fugias da presença de teu irmão”
5.7
“E edificou ali um altar e ao lugar chamou El-betel; porque ali Deus se
revelou quando fugia da presença de seu irmão”.
5.14
– “Então, Jacó erigiu uma
coluna de pedra no lugar onde Deus falara com ele; e derramou sobre ela uma
libação e lhe deitou óleo”.
Qual seria o significado deste ato para nossos dias? Podemos
encontrar aqui princípios que norteariam nossa espiritualidade ainda hoje? O
livro de Hebreus afirma que o Antigo Testamento era uma tipologia, sombra das
coisas que viriam, isto é, apontavam para determinados princípios de vida para
os adoradores do Novo Testamento: “Ora, visto que a lei tem sombra dos bens
vindouros, não a imagem real das coisas, nunca jamais pode tornar perfeito os
ofertantes” (Hb 10.1).
Precisamos entender que AT
dá pistas parciais que apontam para realidades plenas no NT. Que princípios
estariam inerentes no ato de construir altares e que seriam relevantes para
nós, ainda hoje? Será que o ato de construir altares apontaria para um
princípio de liturgia pessoal e coletiva para o povo de Deus? Este ato
requerido por Deus aos seus adoradores no AT indicaria realidades que devem ser
retraduzidos hoje em dia? Qual o significado de construir altares?
Nos dias de hoje somos muito exigidos em relação a nossa
agenda e muito exigidos quanto ao trabalho intelectual. Diante da correria,
podemos facilmente construir um estilo de vida pagão, onde Deus não é
vivenciado ou sequer nos lembremos de sua presença. No meio das exigências e
atividades diárias Deus pode facilmente ser abolido e assim não mais o
percebemos, tornando-se irrelevante e periférico. Podemos saber de sua existência,
entendemos que Ele é real, e até mesmo professarmos determinado tipo de fé, mas
sem o evocarmos não permitindo que ele seja o centro da nossa vida. Erguer
altares parece indicar gestos simbólicos, concretos e tangíveis que apontam
para a realidade de Deus e evoca sua lembrança e presença entre nós.
Este texto nos traz algumas lições sobre construir altares:
1. Deus
ordena a Jacó que lhe faça um altar – “Disse Deus a Jacó: Levanta-te, sobe a Betel e habita
ali, faze ali um altar ao Deus que te apareceu quando fugias da presença de teu
irmão” (Gn 35.1). Portanto,
trata-se de uma exigência divina. Não era uma invenção religiosa e meramente
humana, mas um imperativo sagrado. Deus ordena a Jacó que lhe providencie um
altar.
Altares fazem parte do culto vétero-testamentário. Antes da
instituição da lei, e de todos os princípios inerentes à forma de adoração
judaica, descritas nos livros da lei, vemos os adoradores erguendo-lhe altares.
Esta prática está presente na vida de Abraão e de Isaque, e agora, Deus pede a
Jacó que lhe erga um altar.
A ideia de levantar altares me faz pensar em alguns
elementos importantes do culto ainda hoje:
ð Altares
exigem tempo –
Obriga-nos a parar, a um engajamento pessoal, a interromper atividades para
colocar a atenção em Deus. Em
dias atarefados, em tempos nos quais a agenda é tão cheia de compromissos, é
fácil esquecemos de dispor tempo para Deus. Estamos muito ocupados para orar,
para ler a Palavra, para nos doarmos para o Senhor. Eventualmente somos até
capazes de dar, mas encontramos muita dificuldade em nos doar. Apesar de sermos
cristãos, passamos a viver como pagãos, uma vida secularizada, sem altares, sem
interrupção da agenda, sem um envolvimento mais direto com a adoração.
ð Altares são atos públicos – Em geral os altares eram construções ao ar livre. As
pessoas se juntavam ao redor daquele ato. Creio que construir altares nos dias
de hoje tem a ver com esta hora em que funcionários, familiares e colegas se
aproximavam do que fazemos para participarem conosco. Eles observarão o que
acontece, ouvirão nosso testemunho. Altar torna-se um testemunho público de
convicções pessoais. Altares expõem quem você é espiritualmente aos olhos dos
outros, tornando-se uma proclamação de Deus em sua vida. Altares evitam que sua
fé seja privativa, particular e pessoal, tornado-se conhecida e pública.
ð Altares trazem ônus financeiro – No Antigo Testamento e em toda bíblia, adoração implica em
envolvimento financeiro. Antes da lei, vemos os sacrifícios de Abel e Caim, com
suas ofertas e oferendas. Quando Abraão quer expressar a Deus sua gratidão pela
vitória conquistada, traz seus dízimos e o entrega a Melquizedeque, muito antes
da instituição da lei. O culto judaico conclama seus adoradores a trazerem
dízimos e ofertas. Deus ensina ao povo: “Ninguém aparecerá diante de mim de
mãos vazias”(Ex 34.20; 23.15). Os salmos estão cheios de convocações para
que as pessoas tragam suas ofertas a Deus: “Tributai ao Senhor a glória
devida ao seu nome; trazei oferendas e entrai nos seus átrios” (Sl 96.8). No Novo Testamento, os discípulos
tinham tal prática nos seus cultos. “No primeiro dia da semana, cada um de
vós ponha de parte, em casa, conforme a sua prosperidade”(1 Co 16.2).
Todo princípio de adoração na Bíblia, envolve doação. Se
você pensa que é possível adorar a Deus sem contribuição e generosidade,
precisa ler mais atentamente a Palavra de Deus. E se ainda assim, continua
tendo dificuldade, lembre-se que está correndo sério perigo espiritual, já que
dinheiro não é um principio neutro, e Jesus afirmou que onde estiver o seu
tesouro, ali estará o seu coração. Dinheiro não é uma questão de finanças, mas
de coração. Quando você se recusa a contribuir, e não investe na sua adoração,
um perigo muito grande está rondando seu coração. Dinheiro revela o coração. Fé
que não custa nada, não vale nada.
2. Construir
altares nos obriga a abandonar outros Deuses – O texto afirma que, assim que recebeu a ordem de Deus para
construir altares, Jacó tomou atos concretos. “Então, disse Jacó à sua
família e a todos os que com ele estavam: Lançai fora os deuses estranhos que
há no vosso meio, purificai-vos e mudai as vossas vestes” (Gn 35.2)
Esta afirmação é incisiva e direta. A maioria dos seus
servos vinha de culturas politeístas e pagãs. O sincretismo religioso estava
presente por todos os lados. Dentro de sua casa, Raquel furtou os ídolos de seu
pai, trazendo-os consigo. Ela não conseguira se desvencilhar dos ídolos
paternos. Ao construir altar ao Senhor, Jacó centraliza e orienta a
espiritualidade de sua família, e agregados. Yahweh, e não outros deuses
deveria ser adorado. Os deuses falsos deveriam ser abandonados. “Lançai fora
os Deuses estranhos que há no vosso meio, purificai-vos e mudai as vossas
vestes”.
Ao construir o altar, ele estabeleceu a centralidade da
adoração e norteou sua vida e sua casa. Ele aponta o caminho que iriam andar.
Existe muito paganismo e idolatria em nossos lares e os homens cristãos
deveriam tomar posição firme, edificar altares em sua casa e reafirmar sua
convicção e valores espirituais. Jacó está assumindo a liderança espiritual de
sua casa e apontando o rumo que sua família deveria seguir.
Atitudes simples e diretas podem demonstrar quem está no
centro de nossa casa: Faça um culto, chame amigos, faça churrasco, bacalhoada
ou macarronada mas erga altares em sua casa. Cante louvores, ore, leia a
Palavra de Deus. Seus filhos, amigos e companheiros de jornada vão entender
quem é o Deus que ocupa o centro de sua vida e de sua casa.
3. Construir
altares é expressão de gratidão – “E
edificou ali um altar e ao lugar chamou El-Betel; porque ali Deus se lhe
revelou quando fugia da presença de seu irmão”(Gn 35.7). Existe uma nítida
relação entre a frase “edificou um altar”
e a conjunção explicativa “porque”. Altar está relacionado a gratidão, que
numa declaração poética “é o amor contemplando o passado” (Moacir Bastos), ou,
como dizem os franceses, “gratidão é a memória do coração”.
Jacó expressa a gratidão que trazia no coração. Ele também
transforma sua gratidão em testemunho, porque as pessoas ouvem o relato da
surpreendente visitação de Deus em sua vida 20 anos atrás. Ele edifica um altar porque ali Deus se revelou. Precisamos construir altares que
sirvam como sinais da revelação de Deus em nossa história.
Das boas lembranças que trago da infância encontram-se os
“altares” erguidos por meus pais. Pessoas simples, de herança italiana e
mineira, tinham sempre a casa cheia de gente, com amigos ao redor da mesa
comendo quiabo com frango e angu, macarronada, ou costelinha com tutu. Muitas
vezes recebíamos famílias inteiras e meu pai, antes do almoço, de forma solene
dizia a todos: “Antes de comer, vamos agradecer a Deus”. E assim lembrávamos que Deus deveria
ser glorificado pelo alimento, pela vida e pelos amigos. Muitas pessoas foram
impactadas com este gesto. Era uma forma simples de construir altares!
Paulo Solonca, pastor em Florianópolis, relata que estava sobre
uma pedra, observando o por do sol que se punha no mar, quando uma onda
inesperada o atingiu, arrastando-o para o oceano. Por mais que tentasse sair
seu esforço era inútil, e aos poucos a exaustão e a sensação de morte veio
sobre ele. Um pescador, vendo-o desesperado, veio correndo em sua direção e fez
a única coisa que pode fazer, jogando seu anzol. A linha era forte, mas não o
suficiente para o arrastar, mas aos poucos, enroscado nela e aproveitando o
impulso das ondas foi conseguindo se agarrar às pedras e sair. Exausto,
agradeceu o livramento e ainda pediu ao pescador aquele anzol. O homem brincou
com ele dizendo que além de livrá-lo ainda teria o prejuízo, mas o deu e
Solonca foi para casa e construiu um memorial, colocando o anzol num primeiro
plano. Todas as pessoas, ao entrarem em sua casa viam aquele objeto e queriam
saber seu significado e ele então dava testemunho do livramento que Deus
realizara em sua vida. Era uma forma de manter-se grato e dar testemunho.
Aquele anzol se tornara um altar, um símbolo da presença de Deus na sua
história.
4. Construir altares é uma forma de renovar votos – “Vindo Jacó de Padã-Arã, outra vez lhe apareceu Deus e
o abençoou. Disse-lhe Deus: o teu nome é Jacó. Já não te chamarás Jacó, porém
Israel será o teu nome. E lhe chamou Israel” (Gn 35.9-10). As promessas que
Deus faz a Jacó já haviam sido ditas anteriormente, não há nada novo. No
entanto, ficamos com a impressão de que foi uma reafirmação de votos, como se
Deus quisesse lembrá-lo de que o que ele lhe dissera era fundamental para sua
vida, e que não deveria se esquecer.
Quando construímos altares, renovamos votos e reafirmamos o Deus que
temos. Evocamos a memória do Deus que nos tem acompanhado deste a nossa
juventude. Não permitimos que a vida agitada roube de nós a percepção de que
existe um Deus que transita em nossa história.
Conclusão:
A bíblia afirma em forma de censura que Saul demorou em
erguer um altar para Deus, mesmo ocupando a função de líder sobre a teocracia
judaica. “Edificou Saul um
altar ao Senhor; este foi o primeiro altar que lhe edificou” (1 Sm 14.35). Curiosamente Saul era
muito preocupado com a auto-promoção, porque em 1 Sm 15.12 vemos que logo após
a vitória sobre os Amalequitas ele não hesitou em fazer um monumento que
promoveria sua memória às futuras gerações. Saul usa a vitória não para cultuar
a Deus, mas para exaltar seu nome. Era ágil em levantar monumentos para si, mas
lento para erigir altares para Deus. Ele era auto-centrado, desejoso de
reconhecimento público. Será que temos sido diferentes?
Quanto tempo ele levou para edificar este primeiro altar a
Deus? Pelo menos 7 anos. Até então, não havia feito nenhuma demonstração
pública colocando Deus no centro da nação judaica. Saul não se preocupava com
Deus, nem sentia necessidade de glorificá-lo. Seu coração era secularizado e as
coisas espirituais não ocupavam sua mente. Muitos eram os desafios políticos, a
necessidade de consolidar a monarquia e as exigências sociais. Seus
compromissos envolveram sua vida e ele, que já não era propenso a questões
espirituais, não se preocupou com Deus. Fazer altares era uma forma de trazer
Deus para o centro, de relacionar sua liderança a Deus, mas Saul tinha
preocupações maiores que o de agradá-lo.
O que você tem feito na sua vida para expressar gratidão?
Seus amigos e familiares já viram em sua vida alguma manifestação da
centralidade de Deus ou você vive de forma secularizada e distante? Você não
acha que é necessário começar a construir sinais e símbolos em sua história que
relacionem sua identidade e missão ao Deus de sua vida?
Muito bom,louvado seja o nome do Senhor por sua vida!!
ResponderExcluirJesus Cristo Continue te abençoando, ótimo estudo.
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