domingo, 30 de março de 2014

Gn 33.12-17 Respeite seu ritmo!





Introdução:

Wayne Cordeiro é pastor no Hawaí, numa das igrejas que mais crescem no mundo. Na sua palestra “líderes mortos, porém correndo”, ele conta que certo dia estava fazendo jogging, quando sentiu falta de ar e uma sensação de medo e pânico começou a controlar sua mente de uma forma tão profunda que ele assentou no chão e começou a chorar, até ser atendido por pessoas e levado às pressas para um hospital. Ali o médico diagnosticou um stress profundo, foi medicado e pode voltar para seu trabalho, agora num compasso diferente. A partir daí, se tornou conhecido pelo seu sermão no qual afirma que nosso tanque precisa estar cheio para que possamos continuar andando.

Este texto nos fala da percepção de Jacó. Ele estava voltando depois de muitos anos vivendo em outra terra, para se reencontrar com seu irmão. A última vez que se viram, Jacó o tinha trapaceado e Esaú chegou a pensar em matá-lo, mas os anos trouxeram maturidade, e Esaú parecia já ter resolvido seu problema no coração, embora Jacó estivesse assustado.

Esaú queria acompanhar Jacó, mas este se recusou. Ele percebeu que seus ritmos eram diferentes. Ele estava com crianças e animais, Esaú estava acompanhado de um bando de homens, não dava para andar junto. Apesar da insistência de Esaú, Jacó conseguiu convencê-lo de que andar juntos não seria possível e agradeceu a gentileza, por entender que estavam em um compasso diferente.

Somos uma geração apressada. Temos urgência! Estamos sempre agitados, estressados e correndo... Jesus viu esta mesma atitude na vida de Marta: “Marta, Marta, andas agitada e inquieta com muitas coisas; um só é necessária,  Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada” (Lc 10.39).

Precisamos aprender a respeitar o ritmo de nossa mente, saúde, família, filhos e mesmo dos bens que possuímos. Tenho a sensação de que não estamos conseguindo fazer isto muito bem.

Este texto nos ensina algumas lições muito importantes:

  1. Precisamos andar no nosso ritmo, e não no que os outros sugerem para nós– Isto só é possível quando consideramos que muito da agitação que temos, nos é imposta por pessoas influentes de nosso círculo de relacionamento.
É o caso de Esaú. Ele desejava o melhor para Jacó, não queria prejudicar, mas ajudar e apoiar, mas se Jacó atendesse sua sugestão, seria complicado. Os seus ritmos eram diferentes.

Muito stress acontece porque queremos andar num ritmo que nosso organismo não consegue. Quando tentamos andar no ritmo dos outros que nos impõem um estilo de vida que não queremos e não conseguimos ter. São pessoas de influência no nosso círculo de relação que impõem condições que se tornam um peso. Precisamos dizer: Preciso ir mais devagar, assim não dá!

Certo pastor foi procurado por uma mulher pedindo atendimento urgente naquela noite, porque seu casamento estava implodindo. Ele olhou na sua agenda e disse que não poderia estar com ela: Havia combinado com sua esposa de irem ao cinema. À noite andando no Shopping encontraram aquela mulher que surpresa disse: “Uai pastor, o senhor não me disse que tinha compromisso hoje?” E ele respondeu: “Eu havia marcado com minha esposa de ir ao cinema, e estou aqui cuidando dela para que no futuro não tenhamos que buscar aconselhamento matrimonial”.

  1. Precisamos andar mais lentamente por causa de nossos filhos: Jacó diz a Esaú: “Estes meninos são tenros”. (Gn 33.14). Se ao menos percebêssemos quão frágeis são nossos filhos, iríamos mais devagar.
Pais muitas vezes, querendo imprimir maior velocidade aos filhos, atropelam processos, expondo-os a situações nas quais eles ainda não tem maturidade nem capacidade de escolha. Não vemos quão frágeis eles são. É preciso criar uma rotina de atividades, de vida, rituais, ter tempo para andar juntos, fazer leituras, jogos, brincar de futebol, pescar, ir para a fazenda juntos.

Não dá para amadurecer à força. Muitas empresas colhem tomates e bananas ainda verdes, porque não estraguem na viagem, e quando chegam aos depósitos, eles aplicam CO2 para que eles amadureçam à força. O resultado é que nunca ficam tão saudáveis e gostosos como quando amadurecem naturalmente.

O grande desafio é que justamente na época que nossos filhos mais precisam de nós, isto é, na infância e na adolescência, é quando somos mais produtivos no mercado de trabalho, e na nossa tresloucada os deixamos para trás ou os atropelamos com agendas sobrecarregadas.

James Dobson afirma que: “tempo é moeda emocional”. Funciona da seguinte forma: Quando você tem tempo para seus filhos eles entendem que vocês os amam e os apreciam. Se não damos o tempo adequado, eles correm o risco de desenvolverem um sentimento de orfandade e de abandono, que se torna a causa de ansiedades futuras e eventualmente problemas mais sérios como depressão e síndrome do pânico. Quando pais caminham nos seus ritmos, ensinando-os, brincando, interagindo, isto potencializa a capacidade de crescerem de forma harmoniosa, equilibrada e amorosa. Filhos estão em processo de formação espiritual e emocional, precisamos ir no compasso deles, andando devagar mas de forma segura. É isto que Jacó disse para Esaú.

  1. Precisamos andar no nosso ritmo, porque podemos perder o que temos. Jacó afirma o seguinte: “Estes meninos são tenros, e tenho comigo ovelhas e vacas de leites; se forçadas a caminhar demais um só dia, morrerão todos os rebanhos” (Gn 33.14). Jacó percebe que correria, no seu caso, significaria perda de coisas valiosas, como a sua economia.
Existe um ditado popular que afirma: “Quem tem pressa come cru!”. Se você plantar eucalipto, a colheita será rápida, mas carvalhos e jequitibás levam décadas para se formar. Assim é o caráter. O senso de urgência pode destruir o que temos adquirido. Muitas vezes, ir devagar e sempre é a melhor forma de se conquistar e preservar bens. Ambição exagerada muitas vezes é a causa de falência financeira. Seu rebanho corre risco... seus bens correm risco...

Algum afirmou que “fanático é aquele que, ao ver-se perdido, imprime maior velocidade à sua caminhada”. A vida não é de 100 mts raso, mas uma maratona. Por ser uma longa corrida temos que ir devagar e sempre. “Não te impacientes, certamente isto acabará mal” (Sl 37.5).

  1. Precisamos ir devagar, porque precisamos educar nossa família – O texto nos ensina algumas coisas importantes que Jacó via em relação á sua família.

    1. Educação efetiva só se dá quando nossos filhos são guiados didaticamente  “Eu seguirei, guiando-os” (Gn 33.14). Eu sei que eles precisam de orientação, por isto não posso ir na frente e eles atrás. Não posso atropelar seus pequenos passos. Eles precisam ser orientados e só se faz isto, caminhando lado a lado com eles. Não existe caminho fácil, cada dia é uma batalha a ser conquistada, até que Jesus vai se moldando na vida de nossos filhos. Precisamos guiá-los, orientá-los, mostrar-lhes as trilhas.
    1. Educação não é um ato isolado, mas um processo de vida - “Eu seguirei, guiando-os pouco a pouco” (Gn 33.14). Outro ditado popular nos ensina o seguinte: “comida de um dia não engorda cachorro”. Formação de caráter, atitudes e comportamentos são moldados dia a dia, pouco a pouco, através da imitação e companheirismo. Nossos filhos vão seguindo nossas pegadas. Rick Warren afirma que “caráter é a soma total de seus hábitos”.
    1. Educação precisa seguir um compasso natural das coisas. “Eu seguirei, guiando-os pouco a pouco, no passo do gado” (Gn 33.14). Jacó percebia que a natureza possuia ciclos, o animal tem um ritmo e a vida segue o ritmo natural. É neste compasso que precisamos caminhar. Queremos atalhos, o jeitinho, a solução imediata, mas Deus se interessa mais pela estabilidade que pela velocidade.
5.        Precisamos ir no ritmo natural, mas sabendo onde queremos chegar – Jacó afirma que seguiriam “Até chegar em Seir” (Gn 33.14). Era neste lugar que eles gostariam de chegar.

Onde você quer chegar com seus filhos? “Não apresse o rio, ele corre sozinho”. A vida não tem este senso de urgência, mas tem propósito. Você sabe onde quer chegar? Em qual lugar você deseja construir sua casa? O cronograma de Deus raramente coincide com o nosso, por isto quase sempre estamos apressados, mas Deus não.

Rick Warren afirma: “Enquanto nos preocupamos em crescer rapidamente, Deus se preocupa em que cresçamos fortes. Deus vê a nossa vida desde a eternidade e para a eternidade; então, nunca está com pressa” (Vida com propósitos, pg 188).

Conclusão

ü       O estilo de vida de Jesus – Durante 30 anos de vida terrena, Jesus soube respeitar tempos e épocas. Eventualmente foi provocado a agir no ímpeto, e chegou mesmo a repreender quando pessoas esperavam que ele fizesse as coisas no tempo não planejado e adequado: “Ainda não é chegada a minha hora” foi uma afirmação usada por ele, para levar as pessoas a entenderem que havia um ciclo natural para o exercício do ministério. Durante estes 30 anos, deve ter visto muito sofrimento e dor, situações nas quais poderia intervir, mas pacientemente soube esperar a hora de manifestar a sua glória entre os homens.

ü  Jesus e os seus discípulos – Passado os 30 anos, ao iniciar seu ministério, durante três anos pacientemente treinou e liderou um grupo de seguidores. Ele não demonstrou pressa, embora às vezes se mostrasse impaciente com a incredulidade e incapacidade de ver as coisas do ponto de vista de Deus. Ele sabia que a visão do Reino de Deus estava sendo solidificada em seus corações, e por isto pacientemente os orientava nesta missão;

ü       Jesus e o discipulado – Ainda hoje ele espera que seus seguidores aprendam da sua vida. Discipulado leva tempo. Alguém já disse que todo cristão deveria escrever na sua testa, de forma bem visível: “Seja paciente comigo, Deus ainda não me completou”. Dia a dia precisamos nos arrepender dos pecados, buscar orientação de Deus, aprender de sua Palavra. Ele convida seus discípulos a andarem com ele. “Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim”. Jugo não é uma palavra muito conhecida no nosso vernáculo, mas se a traduzirmos por “canga”, entenderemos o que Jesus queria. Ele desejava compartilhar as cargas conosco, andar atrelado a nós, para que assim aprendêssemos dele como a vida deve ser.


ü       Jesus e o processo do discipulado – Ele sabe que por levar tempo, precisamos continuar firmados nos mesmos princípios recebidos para que deles não nos desviemos. Na grande comissão ele disse que deveríamos fazer discípulos de todas as nações, isto exige tempo e perseverança, eles deveriam ser batizados e inseridos numa comunidade, mas deveriam continuar o processo. “Ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado!”. Continuemos no aprendizado, pouco a pouco, no “ritmo do gado”, como afirmou Jacó!

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