Introdução:
A tradição cristã elaborou o conceito dos sete pecados
capitais, que são as atitudes humanas contrárias às leis divinas: orgulho,
avareza, luxúria, gula, ira, inveja, preguiça. São chamados de capitais, porque
deles originam-se os demais pecados, como um efeito cascata, são os matizes dos
outros.
Apesar de não fazer parte deste conjunto de pecados,
nenhum pecado foi censurado por Jesus mais que a incredulidade, o que nos leva
a pensar que este é o pecado em maior evidencia que todos os demais pecados.
Lutero falava do “pecado por detrás de todos os pecados”, que para ele era a
idolatria, mas pela ênfase que Jesus deu aos seus discípulos sobre a
necessidade de crerem, de dependerem de Deus para suas vidas, temos a convicção
de que este é o pecado básico, capital. O ponto de partida de todos os demais.
Neste texto, mais uma vez Jesus fala da necessidade da fé.
Numa circunstância até mesmo singular. Ele estava falando da necessidade de
perdão.
“Acautelai-vos. Se teu irmão pecar contra ti,
repreende-o; se ele se arrepender, perdoa-lhe” (Lc 17.3). E os discípulos disseram: “Aumenta-nos
a fé” (Lc 17.5). Eles
entenderam que, para lidar até mesmo com coisas comuns como uma ofensa recebida
repetidamente e mágoas sofridas, precisavam de fé. Para perdoar é necessário
crer, receber de Deus a capacidade de crer que o seu ensinamento quanto a este
assunto específico realmente deve ser seguido, de que não devemos vingar, mas
deixar nas mãos daquele que afirma que retribuirá.
Isto se aplica a todas as áreas de nossas vidas.
Precisamos de fé para sermos salvos, libertos, e para
confiarmos na sua provisão e cuidado. Sem fé a espiritualidade cristã torna-se
deficiente e frágil. Precisamos de fé.
Duewel escreveu o valioso livro “Avalie a sua vida” (São
Paulo, Ed. Candeia, 1996) no qual fala de várias áreas que precisamos
considerar na nossa caminhada com Deus, como a alegria, intercessão, humildade,
obediência. Um dos tópicos que ele afirma ser urgentemente considerada na nossa
caminhada cristã, é a fé (Cap. 9: Avalie sua vida pela fé, pg 81).
Para Duewel, “a essência da vida cristã é a fé. Somos
salvos pela fé na expiação de Cristo mediante a graça surpreendente de Deus (Ef
2.8). somos justificados pela fé e temos acesso a Deus pela fé (Rm 5.1-2).
Somos purificados pela fé (At 15.9), santificados pela fé (At 26.18). vivemos
pela fé (Gl 3.11). Cristo habita em nosso coração pela fé (Ef 3.17).
Aproximamo-nos de Deus com liberdade e confiança pela fé (Ef 3.12)”.
A verdade é que Cristo avaliou seus discípulos pela fé.
Cinco vezes ele disse: “Homens de pouca fé!”
Três vezes falou da falta de fé.
Algumas vezes indagou: “Como é que não tendes fé?” (Mc
4.40) e,
“Onde está a vossa fé?” (Lc 8.25).
Esta parece ser a maior decepção de Cristo com seus
discípulos, pois ele percebia que lhes faltava a capacidade de crer. Por isto
os exortava a terem fé em Deus (Mc 11.22). Os discípulos entenderam tanto a
necessidade de crerem pedem a Jesus que lhes aumente a fé. Não seria esta a
oração que deveríamos fazer hoje?
Aumenta-nos a fé...
Duewel chama a atenção para o fato de que a Bíblia fala de
pouca fé, nenhuma fé, fé morta, fé fraca, fé deficiente, fé inútil e até mesmo
de fé vã, mas fala também da sincera, grande fé, fé santa, preciosa, crescente
e completa.
A fé traz resultados maravilhosos:.
Nos
protege como um escudo – Ef 6.16
Nos
sustenta como uma couraça – 1 Ts 5.8
A fé
é a vitória que vence o mundo – 1 Jo 5.4
Duas vezes a bíblia nos sugere que busquemos a fé – 1 Tm
6.11; 2 Tm 2.22, por que sem fé é impossível agradar a Deus (Hb 11.6)
Nem sempre é fácil avaliar a fé na vida espiritual.
Recentemente uma mulher me encontrou num restaurante, ela
não é de nossa comunidade, mas já me ouviu pregando e me disse: “Pastor, você
que é um homem de fé, ore por minha irmã”. Fiquei me perguntando sobre o
critério dela para avaliar a minha fé, já que, particularmente me sinto tão
fraco. Como saber se alguém tem fé? A fé muitas vezes é medida com mais
exatidão pela serenidade interior que uma pessoa demonstra diante das situações
nas quais ela não tem controle e mesmo diante de realidades nas quais as
evidencias externas das respostas de Deus não são perceptíveis.
Duewel fala de algumas formas para avaliarmos nossa fé:
1. Avalie sua fé pela
profundidade da sua confiança – Fé e confiança são teologicamente
inseparáveis. Uma fé bíblica sem fé é inexistente. Fé é confiança de que Deus
está no controle do presente e do futuro. Jó faz uma citação estranha no meio
de sua crise. “Ainda que ele me mate, nele esperarei” (Jó 13.15, IBB).
“Avalie sua fé pela sua segurança confiante de que seu Pai é bom demais para
esquecer-se de você, sábio demais para cometer um erro, amoroso demais para
permitir que você seja magoado ou venha a perder no final e poderoso demais
para ser derrotado”.
O Dr. A. B. Simpson quando pregava na Irlanda,
afirmou em um de seus sermões que permanecer em Jesus é dizer minuto a minuto:
“Tenho Jesus para isto!”. Ao enfrentarmos oposição e medo, podemos dizer:
“Tenho Jesus para isto!”. Diante da doença e do luto, dizer: “Tenho Jesus para
isto!”. Quando as circunstâncias forem de ansiedade e tristeza, “Tenho Jesus
para isto!”. Quando o culto terminou, a pianista que tocou no culto da igreja
recebeu a triste noticia da morte de sua mãe, e afirmou confiadamente: “É para
isto que tenho Jesus!”.
2. Avalie sua fé pela
obediência – Na Bíblia, fé e obediência sempre andam juntas. Fé sem ação é
nula. A fé obedece porque Deus manda, mesmo quando não pode ver, quando os
fatos apontam numa direção diferente, ou quando os outros não entendem. Deus
disse a Moisés diante do Mar Vermelho: “Diga ao povo que marche!”. Moisés foi
para a praia do Mar Vermelho e colocou o seu cajado na água e atravessaram o
mar a pé enxuto.
3. Avalie sua fé pela
sua visão - Pela capacidade de ver as coisas na perspectiva de Deus, a
capacidade de olhar para o futuro. A fé obedece à luz do plano eterno de Deus.
A fé é sustentada pela sua visão do amanhã de Deus. Avalie sua fé pela visão da
fidelidade de Deus, pela sua visão da recompensa futura, pela emocionante
grandeza da bondade de Deus, dos anjos invisíveis que o rodeiam (2 Rs 6.17).
Avalie sua vida pela visão.
Maria José Elias afirmava que a fé é como um farol
escuro de um carro na escuridão. O motorista não sabe o que vai aparecer depois
do farol, mas ele caminha seguro. Quando o farol se aproxima à frente, novas
perspectivas vão sendo mostradas, e assim as coisas vão se clareando. A
luminosidade que temos não contempla todo o futuro, mas nos dá segurança
suficiente para vermos o suficiente.
4. Avalie sua fé pelo
amor que substitui a amargura, pela alegria que substitui o desânimo e o
desespero, pela vida que substitui as condições extremas, como a falência, o
luto, a doença. Quanto mais você crer, mais o ambiente ao seu redor irá mudar.
Você leva Deus em toda situação que entra, e as bençãos fluem dele. A fé não
exige ver todo o caminho à frente, mas vive pelo maná que diariamente cai no
deserto, em santa dependência de que se Deus não der, morreremos.
5. Avalie sua fé pela
capacidade de louvar, apesar das circunstâncias. A fé é realista, não é utópica
e nem romântica. Não nega a dor, nem as aflições, mas ainda assim é capaz de
louvar a Deus em qualquer situação. Ela pode estar sendo pressionada de todos
os lados, mas se recusa a desesperar (2 Co 4.8). Pode estar com as costas
sangrando mas à meia noite encontrar forças dar louvores a Deus. Ela é tão
centrada em Deus que vive “apesar de”. Persevera apesar das ameaças, da
fraqueza tira força. Avalie sua fé pela sua canção noturna.
6. Avalie sua fé pela
confiança na obra absoluta de Cristo para sua salvação – Certa vez
perguntaram a Jesus: “Que faremos para realizar as obras de Deus?”, e Jesus
respondeu: “A obra de Deus é esta: que creiais naquele que por ele foi
enviado”(Jo 6.29).
Onde você tem colocado sua confiança para sua
salvação? Na obra de Cristo ou nas suas obras? Naquilo que Cristo, o Cordeiro
de Deus, fez por você, ou na sua performance? Precisamos pedir a Deus para
aumentar a nossa fé, para crermos nele, e apenas nele, para nossa salvação.
Conclusão:
O livro de Hebreus afirma que Cristo é o “Autor e consumador de nossa fé”. Ele não
apenas a inicia, mas a leva a bom termo.
Precisamos de fé não apenas morrer, mas para viver.
Jesus veio preparar seus discípulos não apenas
para a vida eterna, mas para uma vida em abundância hoje.
Precisamos
de ambas.
Não
podemos caminhar sem convicções claras sobre a vida eterna, e nem podemos andar
sem a graça de Deus para enfrentar as batalhas diárias da nossa breve vida.
“Aumenta-nos
a fé”.
Precisamos para que a nossa vida seja dirigida pela
confiança absoluta da fé, que nos solidifica em Cristo.
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