sábado, 5 de março de 2016

Ef 1.3-6 Bençãos que motivam o o louvor- I. Eleição


Introdução:

Este texto é denso no seu conteúdo, e não é sem razão que Calvino pregou 48 sermões apenas sobre ele em Genebra, começando em 1 de maio de 1558, e M. Lloyd Jones pregou 50 sermões em Westmister apenas neste texto, nos anos de 1954-55.

Paulo fala sobre bênçãos espirituais.

Somos uma geração que parece ter pouco interesse em coisas espirituais. Falamos pouco do céu, não gostamos de considerar bençãos espirituais. Igrejas lotam de pessoas interessadas em teologia da prosperidade, auto-ajuda, coisas imediatas como sucesso e prosperidade materiais. Será que há espaço em nosso coração para considerar as bênçãos de Deus?

No sermão anterior considerei que todas estas bençãos procedem de Deus, o Pai; e que nos são dadas “em Cristo”, quando temos um relacionamento pessoal com Jesus de Nazaré, e que são aplicadas pelo Espírito Santo. Estudamos também que tais bençãos se dão numa esfera descrita na carta aos Efésios como “regiões espirituais”, este lugar no qual Deus revela sua graça. Falamos ainda que precisamos responder com louvor a tais bençãos espirituais. É exatamente isto que vemos no texto de Efésios. Paulo está glorificando a Deus, adorando-o, embevecido pela maravilhosa comprensão do amor e da graça de Deus por sua vida.

Agora, queremos considerar algumas destas bençãos descritas nestes textos:

1. Eleição - (exelexato) - Somos especiais para Deus.

Esta doutrina afirma que Deus, e não o ser humano, inicia o processo da salvação. Tudo provém de Deus. Ele dá tanto o querer quanto o realizar. A Bíblia não fala dos seres humanos interessados em procurar Deus, mas descreve um Deus amando e vindo ao encontro de Deus. Paul Washer afirma o seguinte: “Eu não encontrei a Deus, ele me encontrou. O perdido era eu, e não ele”.

Poucas doutrinas são tão pouco pregadas e até mesmo rejeitadas na teologia moderna quanto a eleição. Alguns afirmam que não a aceitam porque é incompreensível, mas outras doutrinas como a da pessoa teantrópica de Cristo, isto é, como Jesus era 100% homem e 100% Deus, também são, bem como a doutrina da Trindade.

A bíblia não explica a doutrina da eleição, ela apenas a expõe. Não é porque a julgamos complexa que tenhamos que negá-la. É igualmente complexa a questão de Jonas sendo engolido por uma baleia, e a ressurreição de Cristo dentre os mortos, mas nem por isto a negamos. Como afirma Hodge: "A bíblia não esclarece o mistério da eleição, mas o declara enfaticamente. Não foi inventada por Agostinho de Hipona, nem por Calvino de Genebra".

A Bíblia nos ensina que a eleição é um ato soberano e exclusivo de Deus, realizado “antes da fundação do mundo” (Ef 1.3), ou "antes dos tempos eternos" e realizado “segundo o beneplácito de sua vontade" (Ef 1.5), ou segundo “o conselho de sua vontade” (Ef 5.11) (no grego, eudokia). Deus escolheu fazer assim, segundo seu propósito e vontade. Portanto, “Não deveríamos diminuir o vulto da eleição procurando fazê-la ajustar-se ao livre-arbítrio, e nem deveríamos diminuir a importância do livre-arbítrio, procurando ajustá-lo à eleição” (Chapmann, Comentário de Efésios, pg. 534)

Considerações necessárias

1. A doutrina da eleição é uma revelação e não uma especulação humana; Devemos aceitá-la humildemente embora não a possamos entendê-la completamente. Não foi criada por homens, mas por Deus. Se você diz eu não a aceito, ou não concordo com ela, ela não deixa de ser verdadeira, porque não está condicionada ao seu humor ou à sua aprovação. Assim como, Deus não deixa de existir apenas porque você afirma que não crê nele.

2. A doutrina da eleição é um incentivo à santidade, e não uma desculpa para o pecado. Neste texto vemos que o propósito básico da eleição, sua finalidade é formar um povo “para sermos santos e irrepreensíveis em amor”(Ef 1.4), e a fim de sermos para louvor da sua glória” (Ef 1.12).

Nós pensamos que precisamos deixar de fazer certas coisas para sermos santos, mas a verdade é que somos santos e por isso não devemos praticá-la. A base de tudo é o chamado para sermos santos. Paulo afirma que "o amor a Cristo o constrangia. Ser puro ou querer a vida santa, tem muito a ver com nossa condição em relação a Deus. "A santidade é o propósito de nossa eleição" (John Stott). Em última análise, a evidência da eleição é uma vida santa. Eleição não é apenas para salvação, mas para a santidade de vida.

A Bíblia usa duas palavras: santos e irrepreensíveis, que descrevem a mesma coisa, mas sob diferentes aspectos. Ambas referem-se à santificação. M.L. Jones faz a seguinte diferença: "Santo, refere-se a um estado interior de pureza. O sangue de jesus aplicado ao coração humano. Irrepreensível (sem ser envergonhado) significa uma condição externa de pureza".

Quando a pessoa diz: Como seu eleito, posso viver uma vida de degradação moral, interna e externa, está afirmando exatamente o contrário daquilo que a eleição faz no ser humano. O propósito básico da eleição é nos fazer santos e irrepreensíveis perante Deus.

3. A doutrina da eleição é um estímulo à humildade e não um motivo para o orgulho. As razões de Deus nos escolher estão fundamentadas em três aspectos:

3.1. Seu amor – “Ele nos tem abençoado com toda sorte de bençãos espirituais” (Ef 1.3). Costumamos afirmar que a razão da eleição é o amor, mas nunca saberemos porque ele nos amou.

3.2. O sacrifício de Jesus - "Nos escolheu nEle" (Ef 1.4) . A posição dos pronomes é enfática. Deus colocou a nós e a Cristo juntos em sua mente.

3.3. Sua livre vontade “segundo o beneplácito de sua vontade”. Deus fez assim, porque quis fazer assim.

4. Eleição é a única garantia nossa que um dia estaremos com o Senhor. Deus me enxerga pelo crivo de Jesus. À semelhança do povo de Deus, quando estava no Egito, na terra de Gósen, o sinal do sangue na umbreira da porta era representativo para que o anjo do Senhor não entrasse. Estamos fundamentados não no que somos e fazemos, mas no que Deus fez em Cristo.

O plano da salvação foi realizado “antes da fundação do mundo”. As obras de Deus estavam concluídas desde à fundação do mundo. Pedro afirma que o sangue de Cristo foi conhecido, antes da fundação do mundo, porem, manifestado no fim dos tempos, por amos de nós (1 Pe 1.20). Na mente de Deus, todas as obras estão presentes, desde a eternidade. Eleição não é um processo histórico, mas eterno.

Conclusão:
O que significa, na prática, a eleição: Somos especiais para Deus. Somos nação santa, sacerdócio real, propriedade exclusiva do Senhor. Quando nos sentimos acuados, desanimados, tristes, ou acometidos por tragédias, devemos considerar o amor especial de Deus em nos amar de forma tão incondicional por Deus. Não estamos nas mãos das circunstâncias e acaso, mas nas mãos de um Deus santo, amoroso e bom.


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