Introdução:
Todos lidamos com grandes questões do coração. Algumas filosóficas, outras teológicas, outras ainda de ordem emocional ou prática. Uma das mais devastadoras coisas que pode acontecer numa comunidade local é quando um pastor ou líder resolve usar a tribuna ou o microfone para publicar suas dúvidas, trazendo assim efeitos nefastos para a igreja de Cristo, gerando heresias e até mesmo apostasia.
Muitas das questões são privativas e se resolverão com o tempo, outras nos acompanham sem que cheguemos a uma conclusão plausível, e neste caso é bom aplicar o princípio de Dt 29.29: “As coisas reveladas pertencem a nós e aos nossos filhos, e as ocultas pertencem a Deus”. Silenciar-se diante do mistério, ou mesmo do paradoxo da fé, pode ser uma atitude de humildade, momento propício para acolher o mistério de Deus e de forma madura e profunda lidar com tais questões.
Neste texto vemos um homem angustiado com suas questões.
Ele faz seis perguntas, sendo que a segunda está ligada à quarta. Pilatos não tem resposta para elas, ou não aceita as respostas dadas. Não aceitar as respostas dadas por Cristo é um problema sério na humanidade. Eventualmente o problema do homem não é a falta de resposta, mas a não concordância com elas. Determinadas orientações dadas pela Palavra de Deus não são aceitas, não porque haja discordância intelectual quanto ao seu conteúdo, mas porque, ao aceitá-las, para sermos coerentes, mudanças éticas e de caráter precisarão ser adotadas e isto pode custar caro em termos de comodismo, conforto, bem estar, popularidade e reconhecimento público.
Jesus afirmou que muitas pessoas não o seguiram porque amaram mais a glória dos homens que a de Deus. O problema não era na sua essência, teológico ou filosófico, mas de ordem prática. Seguir a Cristo, muitas vezes na história, e até o dia de hoje, significa desprezo, exclusão social, oposição, zombaria e até mesmo a morte.
Eis as questões de Pilatos.
Primeira, “que acusação trazeis contra este homem?” (Jo 18.29).
Pilatos era o preposto do governo romano. Um procurador biônico, colocado ali na Judéia pelo Império. Ele era o juiz no pretório, podendo livrar ou condenar pessoas. Ali eram julgadas as causas públicas, problemas do Estado e motins. Ele tinha o poder público por detrás. Pilatos era o responsável em plenos direitos para julgar as causas.
No entanto, ele percebeu que a acusação contra Jesus era sem fundamentação jurídica. Por duas vezes afirma: “Não venho neste homem crime algum”. Percebeu logo que se tratava de questões religiosas das quais ele tinha pouco conhecimento. Ele podia, pela sua autoridade liberar Jesus contra o radicalismo religioso dos judeus, mas isto lhe custaria perda de apoio político e popular.
Quando a vida é decidida à base da aclamação pública, pode-se estar certo de que existe grave risco espiritual. É fácil trocar a glória de Deus pela glória dos homens. Saul perdeu seu reinado pois ficou com medo da reação dos seus subordinados: “Pequei, pois transgredi o mandamento do Senhor e as tuas palavras; porque temi o povo e dei ouvidos à sua voz ”(1 Sm 15.24).
Segunda questão: “És tu o rei dos judeus?” (Jo 18.33)
Esta segunda pergunta gira em torno da acusação dos judeus contra Cristo. Como afirmamos, esta pergunta deve ser associada à quarta questão: “Então, lhe disse Pilatos: Logo, tu és rei?” (Jo 18.37).
Na vs 23, Jesus leva Pilatos a pensar, porque ele usa o argumento de responder à pergunta com outra pergunta: “Vem de ti mesmo esta pergunta, ou to disseram a meu respeito?” (Jo 18.34). No vs 36 ele afirma: “respondeu Jesus: o meu reino não é desse mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus ministros se empenhariam por mim, para que não fosse eu entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui” (Jo 18.36).
Na primeira resposta, Jesus inquieta a perturbada alma de Pilatos. No seu coração haviam graves e profundas questões em torno deste suposto Messias. Sendo preposto de Roma, tinha seus informantes e as notícias chegavam facilmente à sua tribuna. Ele ja devia ter ouvido dos feitos prodigiosos deste homem, das suas intervenções sobrenaturais, das curas e milagres, de suas palavras e enfrentamento. Pilatos poderia ter aquilo que poderíamos chamar de “fé antes da fé”. Este momento que antecede uma entrega genuína e radical da vida a Deus. Ao responder desta forma, Jesus toca no núcleo inquieto desta alma humana.
Na segunda resposta, Jesus deixa claro sua identidade: “Eu para isso nasci e para isso vim ao mundo”. Ele afirma sua realeza. Não esconde mais quem ele é.
Quando Jesus faz uma afirmação tão radical, fico pensando naqueles que questionam a divindade de Cristo e sempre chego à clássica conclusão de Josh MacDowell: “Ou Jesus era um louco, ou um falastrão mentiroso, ou era Deus”. Suas afirmações sobre sua divindade são tão contundentes que devemos crer honestamente nisto, ou chegamos à conclusão de que Jesus era insano e louco.
Terceira Questão: “Que fizeste?” (Jo 18.35).
Esta pergunta tem a ver com a acusação que deveria ser imputada a Cristo. A não ser que o tribunal seja iníquo, nenhuma culpa pode ser atribuída a pessoas inocentes. As pessoas devem ser julgadas com base nos seus atos.
Pilatos quer encontrar o motivo da acusação. Na verdade, nem o povo sabia responder qual era o crime de Jesus, porque quando Pilatos indaga à multidão, ela se resume a gritar freneticamente: “Seja crucificado” (Lc 27.23).
Segundo o evangelista Lucas, esta pergunta de Pilatos é feita por três vezes (Lc 23.22). Finalmente vem o veredito conclusivo da boca de Pilatos: “Eu não acho nele crime algum” (Jo 19.4). Marcos também descreve: “Então, Pilatos, querendo contentar a multidão, soltou-lhes Barrabás” (Mc 19.15).
Pilatos tem o típico e lamentável comportamento humano de saber o que é certo e fazer o errado, por conveniência ou preguiça. Pilatos cede, não porque estava convencido, mas por causa da pusilanimidade e fraqueza de caráter.
Sua atitude de omissão quanto à verdade, e de lavar suas mãos numa bacia, não o desculpava perante o tribunal de Deus, assim como, a atitude moderna de muitos que ouvem, concordam sobre Jesus, mas não tomam uma posição quanto a segui-lo. Tais pessoas não estarão isentas no tribunal de Deus, no dia do juízo.
Quarta Questão: “Que é a verdade?” (Jo 18.38).
Esta é a mais filosófica de todas. Muitos gostariam de ouvir a resposta de Cristo, apesar dele já ter declarado: “Eu sou o caminho, a verdade e a vdia, ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14.6). Esta pergunta é típica de pessoas que ao serem confrontadas com a verdade, tentam desviar o assunto.
Não foi assim que aconteceu com a mulher samaritana?
Quando Jesus a encontra e a confronta com a realidade de sua solidão, ética frouxa, vida desordenada, ela imediatamente levanta uma questão teológica: “nossos pais adoram neste monte, vós, entretanto, dizeis que em Jerusalém é que se deve adorar” (Jo 4.20). Viram o que ela fez? Levantou uma questão para fugir da desafiadora tarefa de olhar com honestidade sua própria alma.
Não é assim ainda hoje?
Quantas vezes o evangelho começa a confrontar o coração do pecador, e ele vai se sentindo acuado e incomodado, então, ao invés de dizer: “Senhor, eu realmente necessito de sua graça, e me rendo”, prefere levantar uma questão para desviar a atenção.
É comum que pessoas façam isto, quando o Espírito Santo começa a trabalhar em suas vidas e confrontá-las, então elas levantam este tipo de pergunta: “Se foi Deus quem criou o mundo, o que ele fazia antes disto?”, e sentimos vontade de dizer a mesma coisa que Agostinho disse a um dos seus pupilos quando fez tal indagação: “Deus estava fazendo o inferno para colocar pessoas com perguntas cretinas iguais à sua”.
Foi isto que fez Pilatos
Ele pergunta: “O que é a verdade?” e imediatamente, “tendo dito isto, voltou aos judeus” (Jo 18.38). Pilatos não quer resposta, ele quer apenas perguntar. Tome cuidado com as questões de sua alma que se tornaram defesas no seu coração e estão impedindo que você tome uma posição genuína de conversão diante de Deus.
Quinta Questão: e talvez a mais pessoal de todas: "que farei de Jesus chamado Cristo?" (Jo 18.39).
Esta é a pergunta mais pessoal, e tem a ver com a grande indagação que explodiu no peito do próprio Pilatos. “Que farei, então, de Jesus chamado Cristo?” (Mt 26.22).
Aqui, chega-se a um momento crucial. O que fazer com Jesus? Esta é a pergunta que nos inquieta. O que você faremos com Jesus? Que resposta daremos a este Deus que exige de nós uma resposta de rendição? Se ele é o Messias, ele nao pode ser ignorado, porque é o cumprimento de cerca de 600 profecias do Antigo Testamento que se cumprem no Novo Testamento. Se ele é o Filho de Deus, tal veredito demanda de nós uma resposta.
A vida de Jesus é perturbadora, não apenas porque suscita questões filosóficas e teológicas, mas porque exige uma resposta direta, honesta e franca. Não dá para ouvir sobre Jesus, ter conhecimento sobre ele e não chegar a esta séria intersecção: O que faço com Jesus?
Pilatos resolveu manter a neutralidade. Opção mais segura. O problema é que, com Jesus não existe zona neutra. “Quem comigo não ajunta, espalha”. E ainda: “Aquele que me negar diante dos homens, eu também o negarei diante do Pai”. Não existe este lugar seguro da indecisão, porque não decidir por Jesus é também uma decisão, isto é, a decisão de não decidir. Sua vida exige uma resposta.
A multidão resolveu rejeitar: “Crucifica-o, crucifica-o”. Ao dizer isto, fez a opção de suas vidas. Pilatos tenta resolver esta questão assumindo neutralidade. o problema é que, diante de Deus nao existe neutralidade. Jesus afirmou: "quem comigo nao ajunta, espalha." Afirma ainda: "Quem tem o Filho, tem a vida eterna, quem não tem o Filho, não tem a vida." A não decisão, é também uma decisão: A decisão de não decidir. Quando você decide lavar as mãos numa vasilha d'água, você, na verdade, está assumindo a mortal posição de indiferença, apatia e neutralidade que pode levá-lo à morte eterna.
Conclusão
Quais são as perguntas que tem brotado em seu coração?
Que respostas você tem dado a elas?
Você percebe seu coração evadindo-se de uma decisão radical, e tentando buscar a neutralidade como quis fazer Pilatos?
Não acha que está na hora de uma tomada de posição? É necessário decidir.
Quando Jesus curou o cego de nascença, em João 9, o cego não tinha uma clara ideia de quem era Jesus. ele respondeu no primeiro momento que era um homem especial, depois afirmou que era um profeta. Mas quando Jesus lhe perguntou: Crês tu no Filho do homem? Quando ele entendia que Jesus era o Filho do homem, o cumprimento da profecia de Fn 7.13-14, ele caiu de joelhos e o adorou. A compreensão de quem Jesus realmente é, deve nos levar a uma resposta de devoção e adoração. A partir do momento da compreensão, aquele homem torna-se um seguidor e discípulo de Cristo.
E você? O que fará de Jesus chamado Cristo? Esta é uma hora crucial e decisiva. Portanto, “Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o vosso coração”.
O que você fará diante de Jesus?
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