Introdução:
Uma
das matérias que ministro para pastores em congressos e seminários é
“revitalização de igrejas”. Uma das questões curiosas sobre este assunto é:
“Por que determinadas igrejas experimentam crescimento, vitalidade e
entusiasmo; enquanto outras passam por declínio, mau humor e decréscimo de
membros?”. São muitas as variáveis, mas ao ler este texto, acho que ele nos
revela alguns sinais de renovação que se aplicam a igrejas locais e também às
nossas realidades espirituais.
Tenho
visto muitas pessoas desanimadas na fé, algumas eventualmente se afastando,
frias na fé, ainda confessam a Cristo como senhor de suas vidas, mas vivem uma
fé pálida, a experiência comunitária se enfraquece, há pouca alegria nas orações
e na leitura da Bíblia e Deus parece alguém distante de sua realidade
espiritual.
Contexto:
O
livro de Reis descreve um período de trevas espirituais para o povo de Israel.
Ele nos mostra como a fé comunitária é frágil, pois basta um líder infiel para
que a maioria do povo se desvie, indo em direção a deuses falsos e
práticas religiosas nada convencionais e
até mesmo estranhas.
Este
texto nos fala que a decadência espiritual de Israel chegou a um nível tão
degradante que quem agora governa o povo de Deus é a inescrupulosa rainha
Atalia, que reinou por seis anos em Israel. Você sabia que Israel foi governado
por uma mulher? Como ela fez para assumir o trono? Ela simplesmente mandou
matar todos os seus netos. Isto mesmo. Aqueles pequenos garotos que corriam nos
palácios, e que eventualmente a abraçaram, todos, sem exceção, foram
exterminados para que ela pudesse assumir o poder. O único que conseguiu
escapar foi Joás, garoto de berço, que se livrou da morte pela intervenção de
Jeoseba, uma mulher, que não era de Jerusalém, mas do reino do Norte. Ela
escondeu este menino, e o encaminhou a Joiada, sumo sacerdote, que o escondeu
no templo por seis anos, como um segredo de Estado, correndo risco de vida e de
ser acusado de sedição.
Quando
Joás completou sete anos, ele fez uma cerimonia muito bem planejada e com apoio
de lideranças de Israel, revelou a existência deste garoto e o declararam rei.
Quando Atalia descobriu nada mais poderia ser feito, e ela foi executada, e
assim um menino assume o reino, tendo a tutela do sábio e piedoso Joiada.
Assim,
um novo tempo se inicia em Jerusalém. Monitorado por Joiada, Joás lidera uma
das maiores reformas espirituais do povo de Deus. Este texto nos mostra o que
aconteceu, e quais os fatores presentes que revelam renovação espiritual. Isto
se aplica a indivíduos, igrejas e neste texto, a uma nação inteira.
1.
Uma Nova
aliança com o Senhor – “Joiada fez
aliança entre o Senhor, e o rei, e o povo, para serem eles o povo do Senhor”
(2 Rs 11.17). Tudo começa aqui, num retorno espiritual do povo.
O
pacto é feito entre a liderança, o povo e Deus.
Acazias
era filho de um rei com um currículo tão ruim que a Bíblia afirma que ele
“morreu, sem deixar de si saudades” (2 Cr 21.20). Que descrição horrível para
qualquer ser humano... Quando seu filho Acazias assumiu o reinado, fez pacto
com o iniquo rei Jorão, que governava Samaria, e este pacto lhe custou a vida.
Seu reinado sobre Israel foi de apenas um ano.
Aproveitando
o vácuo politico, sua mãe não teve dúvidas e assassinou todos os seus netos
para assumir o governo de Israel, e por seis anos reinou sobre Israel (2 Rs
11.1-3). Atalia era perversa, e isto já era visível durante o curto reinado de
seu filho a quem “aconselhava a proceder iniquamente”(2 Cr 22.3).
O
povo de Deus estava perdido e desorientado quando Joás começou a reinar. Para
quem está perdido espiritualmente, o único caminho possível é o da entrega e
rendição, só um retorno radical, intencional e decisivo pode mudar a história.
Joiada, o mentor de Joás, convida então o povo a formar uma aliança com o
Senhor (2 Rs 11.17).
Esta
volta pode ser chamada de conversão ou arrependimento, mas não se retoma o
caminho a não ser este retorno a Deus. O filho prodigo só mudou sua trajetória
quando “Então, caindo em si disse:
Quantos trabalhadores de meu pai tem pão com fartura, e eu aqui morro de fome!
Levantar-me-ei, e irei ter com o meu pai, e lhe direi: Pai, pequei contra o céu
e diante de ti, já não sou digno de ser chamado seu filho, trata-me como um dos
teus trabalhadores”(Lc 15.17-18).
Joiada
sabia que sem retorno radical a Deus, sem novos compromissos e disposição de
coração, não haveria mudança. Tudo se reinicia quando restauramos a comunhão
com Deus.
2.
Abandono
do paganismo e idolatria – “Então,
todo o povo da terra entrou na casa de Baal, e a derribaram; despedaçaram os
seus altares e as suas imagens” (2 Rs 11.18).
Não
há avanço espiritual se nossos olhos ainda estão presos aos ídolos. Podemos
cultivar ídolos do coração (Ez 14), e até mesmo termos certos nichos familiares
que são chamados na Bíblia de “ídolos do lar”(Gn 31.19,34,35).
Uma
igreja pode facilmente construir detestáveis ídolos como nos descreve o livro
de Ezequiel, quando Deus lhes mostrou que dentro do templo, os anciãos de
Israel estavam levando incensos para os ídolos, substitutos de Deus. Não
podemos afirmar com certeza se estes ídolos eram realmente concretos, mas o
fato é que, os “substitutos de Deus” que são os ídolos, podem facilmente se
esconder na tradição e nas estruturas eclesiásticas de uma igreja ou denominação,
como estava acontecendo em Jerusalém (Ez 8.1-12).
Quais
são os ídolos que podem estar impedindo nosso retorno à Deus? O que nos mantém
presos e nos afasta do Senhor? Qual ídolo do seu coração precisa ser derribado?
Que estruturas pagãs estão impedindo sua igreja de uma maior renovação
espiritual?
3.
Novo
entusiasmo interior – “Alegrou-se
todo o povo da terra, e a cidade ficou tranquila”(2 Rs 11.20).
Outro
sinal presente numa comunidade quando experimenta renovação espiritual é a
alegria e disposição interior.
Gosto
de ver pessoas começando sua vida com Deus. Elas apresentam uma vitalidade e
uma alegria surpreendente. O mesmo acontece com aqueles que estão renovando
seus votos com Deus, pois geralmente apresentam um novo entusiasmo para a obra,
uma alegria de estar voltando para o Senhor, prazer em estudar a Palavra, orar,
vir à igreja, contribuir.
Durante
esta renovação espiritual que o povo de Deus está vivenciando, vemos esta
descrição de que “todo o povo da terra se alegrou”. Cria-se uma atmosfera de
vida e graça.
Quando
o povo de Deus retornou da Babilônia, encontraram Jerusalém totalmente destroçada
pelo abandono e esquecimento. Nela não havia vida, apenas escombros e ruinas,
mas o povo de Deus começou a trabalhar, e a obra, quase impossível de ser realizada,
pode ser feita. Qual era o fator motivacional? “Assim, edificamos o muro, e todo o muro se fechou até à metade de sua
altura; porque o povo tinha animo para trabalhar” (Ne 4.6).
Grandes
projetos podem ser realizados quando há entusiasmo interior numa comunidade.
Existem dois tipos de igreja: Uma com auto-estima alta, e outra, com baixa
auto-estima. Quando uma comunidade está com seu moral alto, falando bem de si
mesma, sendo desafiada pelos projetos e alegre na obra, o resultado é sempre extremamente
positivo e quase sempre surpreendente. Uma comunidade deprimida espiritualmente
pouca coisa será capaz de realizar.
A
Palavra de Deus afirma neste texto que “Alegrou-se
todo o povo da terra”(2 Rs 11.20). Que ambiente propicio para o crescimento
da obra e para que o Senhor se revele num clima com este entusiasmo.
4.
Preocupação
com a obra de Deus – “Depois disto,
resolveu Joás restaurar a casa do Senhor” (2 Cr 24.3).
Tanto
no nível individual quanto comunitário, um dos sinais mais explícitos de renovação
espiritual é a preocupação com a obra de Deus.
O
povo judeu identificava o templo como lugar da habitação do Senhor, mas nestes
dias, os recursos e olhares eram voltados para um detestável ídolo que sempre
rondou o povo de Deus: Baal. Israel havia construído templo para ele, havia
sacerdotes, altares e toda uma estrutura religiosa em Israel. O dinheiro do
palácio era para promoção deste falso deus.
Agora,
porém, novamente os olhares se voltam para a realidade do templo. Era
necessário restaurar os fundamentos, restabelecer o culto, restaurar os
“estragos da casa” (2 Rs 12.5). Longos anos de abandono causam grandes estragos
na obra.
Igrejas
revitalizadas possuem uma característica: investir na obra de Deus, tanto no
plano local quanto mundial. Por isto igrejas vivas estão sempre abrindo novas
congregações, criando novos projetos, enviando recursos para missões. Igrejas
missionárias revelam o desejo de cuidar das coisas de Deus, dos projetos
sociais, e até mesmo do seu templo.
Ouvi
certa vez que podemos conhecer o moral de uma igreja por algumas
características: A fachada do templo, a limpeza e a ordem do banheiro, e as
condições do Departamento Infantil. Parece brincadeira, mas como isto é
verdadeiro. Já viram igrejas em decadência como ficam suas fachadas? A pintura
descascando, aparência de fazenda de viúva...
Quando
há preocupação com a obra de Deus, isto se reflete na casa do Senhor, na obra
missionária, no desejo de dar grandeza às coisas que pertencem à Deus.
5.
Liberalidade
nos recursos – No texto correlato de 2 Crônicas lemos o seguinte: “Então, todos os príncipes e todo o povo se
alegraram e trouxeram o imposto, e o lançaram no cofre, até acabar a obra”
(2 Cr 24.10). “Assim faziam dia após dia
e ajuntaram dinheiro em abundancia” (2 Cr 24.11d).
O princípio é simples: dinheiro segue coração. Não é isto que
nos ensina a Palavra de Deus: “Onde
estiver o teu tesouro, ali estará teu coração”. Já aprendi a duras penas
que quando uma pessoa não participa financeiramente é porque o coração ainda
não veio. Ricardo Gondim afirma que existem três níveis de conversão: (a) Do
deus falso para o Deus verdadeiro; (b) Do meu Eu, à sujeição ao senhorio de
Cristo; (c)- Do meu bolso, investimentos, à Deus.
Igrejas e pessoas cujo coração estão sendo movidos por Cristo
aprendem a dispor seus corações para a obra de Deus. Fé que não custa nada não
vale nada. Por isto Davi afirmou: “Não oferecei culto à Deus que não me custe
nada”, e Bíblia nos exorta a não comparecermos diante de Deus de mãos vazias.
Aprenda a contribuir com a obra do Senhor. Se não tem
conseguido fazer isto, ore a Deus e peça sua graça. Igrejas e pessoas revitalizadas
invariavelmente são generosas com seus recursos.
O texto lido nos mostra que por causa da renovação espiritual
daquele povo, “havia muito dinheiro na caixa”, de forma que “contavam o
dinheiro e o ensacavam” para ser usado na obra (2 Rs 12.11).
Conclusão: Sinal
vermelho.
A história de Joás poderia ter terminado de forma muito
bonita, mas infelizmente seus últimos anos não foram tão abençoados.
Depois da morte de seu mentor, o sacerdote Joiada, a Bíblia
diz que “Deixaram a casa do Senhor, Deus de seus pais, e serviram aos
postes-idolos e aos ídolos, e por esta sua culpa, veio grande ira sobre Judá e
Jerusalém”(2 Cr 24.18). Deus suscitou profetas para os reconduzir ao caminho,
mas ao invés de ouvi-los e mudar o coração, ele se rebelaram. Até que Deus
levantou Zacarias, filho de Joiada, que pregou um sermão duro contra o rei e os
príncipes, que não gostaram de seu discurso e o apedrejaram, a mandado do rei,
no pátio da Casa do Senhor, isto é, em frente do templo.
Isto nos alerta em um ponto:
Precisamos prestar atenção para que os movimentos cíclicos da
alma e da comunidade não se repitam. O fato de Deus estar dando vitalidade
hoje, não significa que haverá vitalidade amanhã. É preciso estar atento.
Os mesmos fatores que hoje podem revitalizar, amanhã podem
destruir, se não forem observados. Não há lugar para descuido e negligencia.
Jesus afirmou: “Aquele que perseverar até o fim, este será
salvo” (Mt 24.13).
Não estamos numa corrida de 100 metros rasos. Vida cristã é
uma maratona.
O povo de Deus precisa estar atento. Não podemos baixar a
guarda, viver de forma negligente e descuidada.
Para isto precisamos:
A.
Renovar constantemente nossos votos e alianças com
Deus.
B.
Abandonar os ídolos e as construções que fazemos
para os falsos deuses em nossos corações.
C.
É necessário pedir a Deus um entusiasmo interior
constante com sua obra e com a vocação cristã que nos foi dada.
D.
É fundamental continuar atento e envolvido na
obra do Senhor. O templo pode ser esquecido, a obra missionária negligenciada,
os dons enterrados.
E.
Dispor nossos recursos e bens para a obra do
Senhor. A forma como temos investido no reino de Deus revelam o nível de preocupação
que temos com sua obra. Não se iluda. Dinheiro segue o coração. Generosidade
tem a ver com adoração.
Que Deus
nos abençoe!
Meu Deus que ensino maravilhoso
ResponderExcluirQuanto Deus tem a ensinar aqueles que estão com os seus corações ardendo por esse desejo
Muito forte e poderosa essa ministração
Quero mais...