quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Salmo 139 Assombrosamente maravilhoso


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Introdução:
Brennan Manning relata a visita que fez a um velho sacerdote no leito da morte, que lhe declarou que nunca pedira a Deus riqueza, fama, sucesso, aplauso público, mas que não queria jamais perder a capacidade do assombro.
Quando a Bíblia descreve o dia a dia da Igreja Primitiva, um dos aspectos contagiantes da espiritualidade daquele povo era a admiração. “Perseveravam na doutrina dos apóstolos, nas orações, e no partir do pão, e em cada alma havia temor” (At 2.42). A palavra “temor” é traduzida pela NVI por “espanto”, e na língua inglesa, os tradutores preferiram apenas usar o termo “awe”, que é uma interjeição, que apesar da forma como é escrita, deve ser lida como “oh!”. 
Esta capacidade de espanto é algo que temos perdido. 
No Salmo 139 é exatamente com esta profunda admiração que vemos o rei Davi falando das coisas de Deus e do próprio Deus. Tudo se torna, na sua perspectiva, algo apaixonante e envolvente. Certamente é um dos textos mais admiráveis de todas as Escrituras. Ele descreve sua percepção de Deus como algo “assombrosamente maravilhoso” (Sl 139.16).
Várias coisas podem gerar admiração em nós? E

O Belo
A beleza é uma delas. 
Uma obra de um artista, pode gerar profunda admiração e espanto em nós, uma melodia bem elaborada, a beleza de uma criança, de uma mulher, do por do sol, da natureza, da flor. A Bíblia fala para adorarmos a Deus “na beleza de sua santidade”. Há uma beleza em Deus, no seu caráter, que inebria a alma humana. Davi, como adorador está descrevendo tal beleza, e sua admiração o encanta.

O Feio
Podemos, equivocadamente nos encantar com nossos feitos, com nossa performance espiritual, achando que Deus está impressionado com nossa capacidade de justiça e retidão. Certo pastor era tão auto enamorado, que o seu hino predileto era “tão grande és tu”. Ele sempre o cantava olhando para o espelho que refletia sua imagem. Pessoas impressionadas com sua religiosidade, geralmente não se admiram das coisas de Deus. Sua justiça própria não lhe permite olhar a Deus com admiração. Isto aconteceu com Lúcifer antes de sua queda. “Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filho da alva! Como foste lançado por terra, tu que debilitava as nações! Tu dizias em teu coração: eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do Norte; subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao Altíssimo”(Is 14.12-14). 

A admiração do Salmista
O que gera admiração em Davi?

Primeiramente, ele está “assombrado” com os atributos de Deus. Ele percebe que Deus está em todos os lugares:
Antes de mais nada, ele considera que Deus está nos segredos internos da alma humana – “De longe penetras os meus pensamentos” (Sl 139.2b); “Ainda a palavra me não chegou a língua, e tu, Senhor, já a conheces toda” (Sl 139.4). Os pensamentos e sentimentos inexprimíveis ou indeclaráveis, são absolutamente transparentes aos olhos do Senhor. Deus sabe o que está acontecendo.

O salmista considera também que Deus está nos lugares mais remotos da terra. “Se subo aos céus, lá estás; se faco a minha cama no mais profundo abismo, la estás também; se tomo as asas da alvorada e me detenho nos confins dos mares, ainda la me haverá de guiar a tua mao e a tua destra me susterá” (Sl 139.8-10). Não há lugar mais abscôndito e impenetrável que não seja impactado pelos olhos daquele que a tudo ve em todas as coisas. Não ha lugar para se esconder ou fugir da presença do Deus onipresente.

Davi considera ainda que Deus sabe de todas as coisas até no meio das trevas. As coisas estão claras para Deus ainda que na escuridão. “Se eu digo: as trevas, com efeito, me encobrirao, e a luz ao redor de mim se fará noite, até as próprias treas não te serão escuras; as trevas e a luz são a mesma coisa” (Sl 139.11-12). Deus não precisa de retina e luminosidade para enxergar. As coisas estoa absolutamente descobertas aos seus olhos. Trevas e luz, não fazem direferenca. Tudo é claro. Esta oposição trevas/luz, faz sentido para as limtiacoes humanas, mas não para o Deus que está muito além destas divisões clássicas de suas criaturas.

Em segundo lugar, Davi está assombrado com a profundidade do conhecimento que Deus tem dele.
a.     Deus conhece seus movimentos: “sabes quando me assento e quando me levanto”. (Sl 139.2a), e ainda, “esquadrinhas o meu andar e o meu deitar e conheces todos os meus caminhos” (Sl 139.3). Esquadrinhar é como “tabular” movimentos. Cerca de 30 anos atrás, nos desenhos de arquitetura era comum observar que os trabalhos eram preparados sobre determinadas folhas com pequenos e quase invisíveis quadrados, que ajudavam o autor a fazer os desenhos com mais precisao. Eles eram minuciosamente “esquadrinhados” para ajudar a obter a forma mais correta.

b.     Deus está adiante dele e por detrás dele: “Tu me cercas por trás e por diante (Sl 139.5). Ele está antes de nós termos ideia de sua presença, e chega antes de qualquer concepção mais elaborada de sua atividade. Como um fiel escudeiro protegendo-nos das setas inflamadas que são atiradas.

c.      Deus conhece seus pensamentos: De longe penetras meus pensamentos” (Sl 139.2b). Não apenas o que ele faz ou diz (Sl 139.2,4), mas o que ainda se encontra no campo das conjecturas e observações da alma. Não ha segredos para Deus.

d.     Deus o conhece antes dele mesmo se conhecer – “Pois tu formaste o meu interior, tu me teceste no seio de minha mãe... Os meus ossos não te foram encobertos, quando no oculto fui formado e entretecido como nas profundezas da terra. Os teus olhos me viram a substância ainda informe” (Sl 139.13,15,16a).  Davi reconhece que Deus está lá na formação do feto, quando ele era apenas um zigoto, quando o espermatozoide de seu pai se uniu ao óvulo da sua mãe. Ele ainda não sabia nada sobre si mesmo, mas Deus já o conhecia. Nada foi feito sem seu consentimento ou autorização. Deus o conhecia antes dele mesmo se conhecer.

e.     Deus conhece o seu futuro, que o salmista ainda não conhece – Davi fala não apenas do Deus que estava no seu passado, mas daquele que ainda estará no seu futuro. “No teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e determinado, quando nem um deles havia ainda” (Sl 139.16b).  Ele não sabe o que lhe acontecerá, nem quando, mas Deus sabe, porque conhece o seu futuro.

Alguns anos atrás ouvi o testemunho de uma mulher que foi gerada por um estupro. Sua mãe tentou abortá-la, sem sucesso, por oito vezes. Quando ela nasceu, foi adotada e criada por uma família com quem viveu até os 12 anos, quando então foi vítima de abuso sexual do pai adotivo. Fugiu de casa, enveredou pelas drogas e prostituição, e um dia estava pensando em suicidar, mas foi atraída a uma igreja perto de sua casa. O pastor estava lendo o Salmo 139 e ela foi profundamente impactada por estas verdades. Percebeu que se Deus a deixou viver, apesar de toda conspiração contra sua vida, é porque ele tinha um maravilhoso plano para ela. Entregou sua vida a Cristo, e dai em diante Jesus começou a construir uma nova história na sua caminhada, constituindo uma família e construindo um lar.

Em terceiro lugar, Davi se assombra com a capacidade de Deus transitar por lugares tão inusitados e inesperados. 
Ele afirma que Deus caminha pelas luz e trevas, com a mesma facilidade. Em Deus, o escuro e o claro se relativizam. O profeta Naum afirma que “o Senhor tem o seu caminho na tormenta e na tempestade, e as nuvens são o pó de seus pés” (Na 1.3b). Deus não somente relativiza lugares impenetráveis, mas relativiza ainda conceitos aristotélicos de espaço e tempo.
O apóstolo Pedro afirma “Há, todavia, uma coisa amados, que não deveis esquecer: que para o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos, como um dia” (2 Pe 3.8). Os planos e projetos humanos encontram-se dentro de uma cronologia, que o Eterno desconhece.
Muitas pessoas se perguntam sobre o que acontece depois da morte. João Libânio, teólogo católico, afirma que tal pergunta é meramente retórica, já que, quando deixamos a esfera do temporal, adentramos a eternidade, na qual categorias de tempo e espaço não fazem muito sentido. Não é isto que nos ensina as Escrituras? Em Ap 13.8 lemos espantados que o Cordeiro de Deus foi morto desde a fundação do mundo. Se olharmos cronologicamente, sabemos que sua morte se deu num tempo e espaço e geografia específicos. Ele viveu na Judéia e Galiléia, entre o ano 6 a.C e 27 d.C, morreu sob o poder de Pôncio Pilatos na cidade de Jerusalém, mas o livro de Apocalipse faz uma leitura da perspectiva a-histórica e nos informa que sua morte se deu, na eternidade. O apóstolo Pedro diz a mesma coisa. O sangue de Cristo foi, “conhecido com efeito, antes da fundação do mundo, porem manifestado no fim dos tempos, por amor de vós” (1 Pe 1.20). Antes da história, na eternidade, o sacrifício de Cristo já havia se concretizado, porque Deus transcende a história humana e o plano de redenção já era realidade.
A mente humana nunca conseguirá traduzir categorias da eternidade e aquelas que não se restringem a um espaço definido, por isto conceitos de infinito são tão árduos de serem elaborados pela logicidade e pela epistemologia. Não são categorias aristotélicas...
Ao perceber a grandeza de Deus, Davi expressa sua admiração: “Que preciosos para mim, ó Deus, são os teus pensamentos! E como é grande a soma deles! Se os contasse, excedem os grãos de areia; contaria, contaria, sem jamais chegar ao fim”(Sl 139.17-18). A majestade de Deus não pode ser esquadrinhada. Não se pode mensurar os grãos de areia, nem contar as estrelas do firmamento.

Diante disto, o salmista experimenta outro sentimento: como o homem pode ser ímpio e não contemplar a grandeza de Deus? Como podem os ímpios se rebelarem contra Deus? (Sl 139.20). Davi expressa certa indignação contra o homem sem Deus e sua linguagem é forte. Temos aqui aquilo que em teologia bíblica é chamado de “orações imprecatórias”, quando o salmista ora pedindo a morte e o fim do homem ímpio.
O salmista não conseguem entender e ficar maravilhado com a existência de Deus? Davi se declara inimigo daqueles que são inimigos de Deus. Ele está encantado com Deus a tal ponto que não faz sentido algum a atitude dos opositores e inimigos de Deus (Sl 139.19-22). 

Conclusão:
Pessoas assombradas com Deus experimentam algumas coisas maravilhosas:

1.     Consciência de que não dá para fugir de Deus – “Para onde me ausentarei do teu Espirito? Para onde fugirei da tua face?” (Sl 139.7). Se Deus ocupa todos os lugares, até mesmo inusitados, tentar escapar de sua face é ridículo!
Talvez seja por isto que o texto conclui com a afirmação: “Sonda-me, é Deus, e conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno” (Sl 139.23-24)

2.     Não dá para lutar contra Deus – compare a grandeza de Deus e a limitação humana. Como competir com sua soberania e majestade? 
Um grupo de formigas estava indignada porque diariamente o elefante passava em cima do seu formigueiro, destruía todo trabalho do dia anterior, esmagava milhares de formigas. Então resolveram fazer um plano. Ficariam todas em cima de um galho da árvore por onde passava o elefante, e pulariam juntas sobre ele para enforcá-lo. Fizeram um treinamento certo, e no outro dia tudo foi executado como o planejado. Mas o elefante, apenas bateu sua grande orelha, e todas formigas foram atiradas longe dele, apenas uma resistiu bravamente. As demais, então, começaram a gritar: “enforca! Enforca! Enforca!”

3.     Ter certeza da direção de Deus – Todas as vezes que este salmo fala da grandeza de Deus, o faz não no sentido de que pela sua onipresença ele fica fiscalizando o comportamento errado das pessoas, e sim, para cuidar. 
No vs 5 ele diz: “Tu me cercas por trás e por diante e sobre mim pões a mão”; no vs 10, quando descreve Deus caminhando por estranhos lugares e profundos lugares, afirma: “ainda lá me haverá de guiar a tua mão, e a tua destra me susterá”. Deus não é um big brother fiscalizador, mas um Deus que, por penetrar todas as coisas, nos sustenta e protege. 

4.     Louvor – O salmista está glorificando a Deus. Quanto mais impressionado você estiver com Deus, mais louvor haverá. A admiração e o assombro são a esfera apropriada de uma espiritualidade contagiante e viva. Na Igreja primitiva havia temor e espanto em cada alma, e isto gerava adoração profunda.
Quanto mais impressionado você estiver com a grandeza de Deus, mais o seu coração de adorador se aprofundará no louvor e exaltação. 

Assim foi com Jó. 

Ele era um homem crente, mas Deus resolveu permitir que a dor e a enfermidade lhe acometessem. Ele passou a questionar seriamente a Deus, e o Senhor resolveu demonstrar seu poder e glória sobre todas as coisas, sobre a criação, sobre a preservação do universo, sobre as forças espirituais e sobre sua vida. Quando Jó percebeu a grandeza de Deus ele afirmou o seguinte: “Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem!” Quando a grandeza de Deus se revela diante de nós, o resultado é um profundo impacto sobre nossa espiritualidade. Só encantando e assombrado com sua glória e majestade, seremos verdadeiros adoradores. 

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