sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Ef 4.1-4 Preservem a unidade da Igreja

Resultado de imagem para imagens unidade

Introdução:

A unidade da igreja sempre sofreu duras batalhas na história.

Católicos e protestantes lutaram, desde a Reforma, com o massacre dos huguenotes na França, quando em apenas uma noite fatídica conhecida como “Noite de São Bartolomeu”, foram assassinados 70 mil pessoas pelos católicos, até os recentes incidentes que separam a Irlanda entre grupos políticos do Ira. Verdadeiro e lamentável ódio religioso entre cristãos. os protestantes também muitas vezes, em nome da pureza da fé, foram impiedosos contra os católicos.
No Brasil, não apenas os conflitos entre católicos e protestantes foram bastante acentuados, mas entre os evangélicos, principalmente igrejas pentecostais & históricas. Felizmente tais conflitos tem perdido sua intensidade e são encontrados apenas entre grupos mais radicais.
Desvios e lutas, na verdade conspiram contra o projeto de unidade que Cristo tem para a sua igreja. Na oração sacerdotal, Jesus expressa seu desejo:
A fim de todos sejam um; como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviastes. Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens dado, para Pai santo, para que sejam um, como nós o somos; eu neles, e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que tu me enviaste e os amaste, como também amaste a mim” (Jo 17.21-23)

Três aspectos podem ser destacados aqui:
Primeiro, a unidade fortalece o testemunho entre os descrentes: “Para que o mundo creia que tu me enviastes”.

Segundo, a unidade revela o caráter de Deus. “A fim de todos sejam um; como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti”. A Trindade é uma comunidade que vive em perfeito relacionamento. O Pai, o Filho e o Espirito Santo. Jesus destaca sua unidade com o Pai, revelando desejo de que seu povo se inspire na experiência trinitariana de amor.

Terceiro, a igreja precisa de unidade para ser aperfeiçoada. Não há crescimento, santidade, ou maturidade, sem que haja unidade. “A fim de que sejam aperfeiçoados na unidade”.

Apesar disto, a comunidade cristã sempre enfrenta lutas quando o assunto é unidade.
Por um lado, alguns aceitam a unidade a despeito da verdade; por outro, muitos rejeitam a unidade por causa de convicções particulares da fé. As razões são diversas: vaidade denominacional, arrogância dos líderes e filigranas teológicas e litúrgicas. Na maioria, divisões se ocultam numa aparência de santidade e defesa do cristianismo puro, mas a falsa piedade apenas encobre a soberba e luta pelo poder.
A verdade é que a igreja protestante, tem dividido mais que unido. Por que? 
Duas rápidas possibilidades:
A. Vaidade pessoal da liderança - Lutas pessoais pelo poder, desejo de proeminência, controle, estão sempre presentes no coração humano. As grandes e históricas divisões, na sua maioria acontecem por causa deste pecaminoso ingrediente, ainda que na fachada, surjam questões espirituais como: " Esta igreja é fria!" ou "saímos da igreja porque era pentecostal demais!" e ainda: "Não gosto da liturgia", ou mesmo "problema de doutrina". Embora muitas vezes os argumentos acima sejam "razoáveis", muitas vezes escondem e ocultam verdadeiros disfarces da luta pelo poder e controle.
B. A confusão hermenêutica - Uma das clássicas questões é confusão entre "livre exame x livre interpretação das Escrituras". Muitos acham que a Reforma defendeu a livre interpretação. (Cada um interpreta a Bíblia como quer, como acha, ou como entende), mas o que a Reforma defendeu foi o livre exame. (Todos devem ter acesso e examinar cuidadosamente a Bíblia). A interpretação, contudo, deve ser feita com o corpo, e não pela mente particular de  um pregador imaginativo, sem regras hermenêuticas e sem conhecimento da história e do contexto em que ela foi escrita. O Método Histórico Gramatical de interpretação, adotado pelas igrejas reformadas, nos ajuda a superar tais tentações. Alguns destes princípios são: A Bíblia é o melhor intérprete de si mesma; devemos entendê-la no seu contexto histórico e cultural; precisamos nos aproximar linguisticamente do pensamento original do escritor. 
C. Ação Maligna - Não podemos deixar de considerar que o diabo, por definição, é aquele que divide. Portanto, ele estará sempre criando mau entendido, competição, oposição, intriga, porfia, ciúmes e contendas. Tudo isto, naturalmente, associado às obras da carne. Esta mistura fatídica da ação demoníaca, com a carnalidade humana é um química poderosamente maligna.
O desejo do Pai, a oração do Filho e o ministério do Espirito Santo, focam na unidade. Este texto nos apresenta sete elementos presentes e fundamentais nesta unidade:

  1. Um só corpo Há somente um corpo” (Ef 4.4). A verdadeira igreja é uma só! Embora haja diversidade na função dos membros, há uma unidade no corpo. São muitos membros, e muitas formas de governo, estilos litúrgicos e tradições, mas somente um corpo.
Podemos discordar teologicamente em alguns pontos não essenciais, determinadas abordagens doutrinárias, estilo musical, ordem do culto, tipos de batismo, ou gosto, predileção e temperamento. Podemos ter diferenças culturais, denominacionais e formatações eclesiológicas distintas, mas a verdadeira igreja de Cristo é uma só. ela possui uma marca, um distintivo específico. Muitas vezes, ao invés de celebrarmos a multiforme sabedoria de Deus, esta maravilhosa “policromia divina” (Ef 3.10), passamos a lutar contra aqueles que se expressam de forma diferente. M.L. Jones afirmou: "Deus ama a diversidade e tem criado uma rica profusão de tipos humanos, entretanto, nossos temperamentos tem mais influência na nossa teologia que imaginamos".
Apesar de tantas denominações, a igreja de cristo é uma só. Conta-se que Wesley sonhou estar na porta do céu e perguntou: Quantos metodistas há aqui? A resposta foi: Nenhum. Quantos católicos? nenhum. Quantos presbiterianos? Nenhum. Frustrado perguntou: "Mas afinal, quem se encontra aqui? " e a resposta foi: "Todos os que foram lavados pelo sangue do Cordeiro".
Na volta de Cristo, quando todas as nações se reunirem diante do trono de Deus, encontraremos pessoas vindo de todas as tribos, povos, língua e nação na presença do Pai (Ap 7.9-10), trazendo seus estilos, roupagens, configurações distintas, para escândalo de muitos, mas há algo que distingue e marca este povo. “Estes são os que lavaram suas vestes no sangue do Cordeiro (Ap 7.14-15).
Há um só corpo; um só rebanho. “Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas e elas me conhecem a mim. Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco, a mim me convém conduzi-las; elas ouvem a minha voz; então, haverá um rebanho e um pastor” (Jo 10.15).

  1. Um só Espírito – “Há somente um corpo e um só Espírito” (Ef 4.4). O segundo elemento que a Bíblia descreve é a unidade em torno do Espírito.

Não há unidade sem o Espírito, porque ele é quem gera esta unidade.  Sem ele, a arrogância e a vaidade prevalecem. O Espírito é quem produz unidade e a nós cabe preservá-la (Ef 3.3). Ele é a verdadeira fonte de unidade.

Um exemplo maravilhoso deste se deu no dia do Pentecoste, quando ele foi derramado sobre a igreja. Há um contraste nítido entre Babel, na confusão nos dialetos e, línguas e pessoas que não mais conseguiam se entender, ainda que, até então, falassem a mesma língua (Gn 11) e no Pentecostes, quando falavam línguas diferentes, mas conseguiam se entender maravilhosamente bem (At 2). Em Babel, confusão, no Pentecoste, fusão. Sem o Espírito, mesmo que a língua seja igual, surge Babel; no Pentecostes, mesmo quando a linguagem é diferente, surge a capacidade de entender e comunicar. Babel traz desentendimento, Pentecostes traz identificação.
No Congresso internacional de Manilla (1984), um pastor brasileiro relatou um fato que o marcou profundamente. Cristãos do Iraque e do Irã, quando seus países se encontravam no auge de uma guerra sem trégua, publicamente se abraçaram e oraram juntos, demonstrando o que o Espirito de Deus é capaz de fazer. Deus não está limitado aos conflitos dos povos.
A Igreja Apostólica foi capaz de experimentar algo profundo, e tornar-se "uma só alma, e um só coração".
Stanley Jones afirma: O Evangelho tinha a intenção de unir, sarar, mas tem sido tão mal interpretado, que tem servido para dividir e ferir" (O Cristo de todos os caminhos, Imprensa Metodista, página 190)
Os apóstolos eram formados de pessoas de temperamentos e ideologias diferentes: Mateus, era cobrador de impostos; Simão, era zelote, mas, a ideologia nunca foi maior que a unidade. Podiam celebrar a benção de estarem em Cristo.
Stanley Jones afirma que a razão do cristianismo estar tantas vezes dividido é porque "o Espírito Santo tem se apagado de nossa consciência e o espírito do denominacionalismo, da inveja e da rivalidade tomou o seu lugar" (Pg 191)
Há um só Espírito, e Ele nos ajuda a falar a mesma língua, sem dialetos. Torna compreensível vozes diferentes. Ele gera a unidade. Por isto o texto não nos exorta a "criar a unidade", esta obra é prerrogativa do Espírito, mas nos encoraja a "preservar". Só se pode preservar o que já existe. Quando a Palavra de Deus fala da necessidade de nos esforçarmos, isto aponta para disposição pessoal, já que nem sempre a vaidade e a atitude pecaminosa nos distancia. Quando diz que tal esforço precisa ser diligente, isto tem a ver com "intencionalidade", não é algo espontâneo e natural apenas, mas precisa de vontade para que isto se realize na história. 

  1. Uma só Esperança - ... como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação” (Ef 4.4).

Nossa esperança possui um aspecto escatológico: "Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça" (2 Pe 3.13). A Bíblia fala sempre da iminente volta de Cristo. Apesar das diversas interpretações, continua claro para todos os cristãos, o fato de que Ele voltará. E esta esperança está presente no coração do povo de Deus.

Temos uma só esperança: Ele voltará! Isto, contudo, não impediu que várias interpretações fossem formuladas sobre este assunto:

Os Pré-milenistas, afirmam que há sete épocas da criação até à volta definitiva de Cristo até a grande tribulação, quando Israel reconstruirá seu templo e restabelecerá os sacrifícios da lei mosaica, e a ira de Deus será derramada sobre a terra numa série de julgamentos cataclismáticos; a besta romperá com a nação israelita e provocará a guerra do Armagedom. Após estas coisas, Jesus instaurará seu reino messiânico sobre a terra por literalmente mil anos, e Satanás será solto e encabeçará a revolta dos não regenerados. A interpretação pré-milenista usa muitos textos simbólicos e proféticos, despertando a imaginação dos leitores, e traz grande apelo popular. Ela se tornou mais conhecida através dos escritos de J.N. Darby e da Bíblia de Scofield.

Os A-milenistas, seguem a interpretação de Agostinho. Não há milênio, ou antes, que o milênio já foi instaurado desde a vinda de Cristo, quando começou um novo tempo na história, portanto, já estamos no milênio. As confissões de Augsburgo e de Westminster rejeitaram a visão do milênio afirmando tratar-se de expressão de "sonhos judaicos", e entendem que as promessas outorgadas a Israel pertencem à Igreja, o novo Israel de Deus (Gl 6.10). Os últimos dias" já começaram (Hb 1.2), e estamos "na plenitude dos tempos" quando através de Cristo, iniciou-se uma nova época (Gl 4.4) e "o tempo está cumprido" (Mc 1.15).

Os Pós-milenistas, afirmam que o reino de Cristo é espiritual, não geográfico e por isto, não realizado neste mundo. Na verdade entendem que onde está a igreja aí está o reino de Deus. A escatologia se realiza por meio do povo de Deus na história. C.H. Dodd; G. Ladd e Moltmann defendem esta visão, também chamada de “Escatologia inaugurada”. Em Cristo, o parcial cederá ao perfeito, ao "telos". Não interpretam literalmente Apocalipse 20 e afirmam que no fim dos tempos haverá outro lampejo da maldade antes da vinda do Senhor, seguida da ressurreição de todos os mortos e a igreja de cristo se plenificará criando uma nova comunidade.

            .
Jesus desestimulou qualquer tentativa de estabelecer dias e datas (como tentaram fazer os adventistas, e testemunhas de Jeová). "Não vos compete conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou para sua exclusiva autoridade" (At 1.7), mas é certo que o relógio de Deus anda na direção da consumação, e por isto a perspectiva histórica da Bíblia não é cíclica, nem ascensional, um evento sobrenatural e portentoso se dará no fim desta era. Ninguém tem condições de precisar "dia e hora" em que o despertador soará desencadeando sua ação histórica final.
Também não sabemos detalhes específicos e o tempo, mas há uma esperança permeando o coração do povo de Deus. Há uma expectativa do dia em que toda criação será liberta do cativeiro que o pecado lhe impôs (Rm 8.20-21); Satanás será destruído (Ap 20.10) e será decretada a morte da morte, o último inimigo a ser derrotado (1 Co 15.24-25), mas uma coisa é certa: Há uma só esperança. Jesus volta. Por isto dizemos: Maranatha, vem Senhor Jesus! (Ap 21.17)

  1. Um só Senhor - “Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo” (Ef 4.5). Certo pastor, ao receber o convite de uma Igreja para pastoreá-la perguntou: "Quem é o dono desta Igreja, por que se ele tiver outro dono senão Jesus, eu não a pastoreio". A Igreja tem um só Senhor: Jesus! Quando alguém tenta usurpar este lugar, corre sério perigo no seu coração. Afinal, “Quem tem a noiva é o noivo” (Jo 3.29-30)

Senhorio implica em autoridade. A base do senhorio de Cristo é sua natureza divina: "Toda autoridade me foi dada no céu e na terra" (Mt 28.18), e por conseguinte, isto implica também na nossa condição de servo.  Muitas pessoas se acham chefe e donos. Fazem decretos a Deus como se ele fosse servo, e até as orações se transformam em ordem: "faça-me isto, livra-me, protege-me, eu ordeno, dá-me!”. A Igreja precisa, mais do que nunca se lembrar que há um só Senhor.
Jesus reivindica seu lugar: "vós sois meus amigos se fazeis o que vos mando". Ele tem a autoridade, o poder de mando, a nós cabe obedecer. Ele é o Rei.
É fácil criar “o evangelho dos santos evangélicos" como definiu Juan Carlos Ortiz. Ou buscarmos o evangelho das promessas e dos milagres. Queremos a salvação, mas não queremos assumir o custo do discipulado, a obediência.
Quando o trono de Jesus se estabelece no coração, deve-se abdicar da direção da vida e entregá-la. Antes o domínio era meu, agora é de Jesus “Seja feita tua vontade, aqui e agora”. Muitos querem salvação à prestação: entregue-se agora, depois assuma compromisso. Assim se comporta o evangelho centrado no homem.
Quando Jesus é Senhor, a finalidade dos servos é fazer a sua vontade, agradá-lo, expandir o seu reino cada vez mais. Em todos os lugares que há o cristianismo autêntico, haverá compromisso sacrificial. Esta é a marca inconfundível do cristão genuíno: Obedecer a Deus e fazer a sua vontade.

  1. Uma só fé - “Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo” (Ef 4.5).  A qual fé se refere o texto? Alguns dizem: O importante é ter fé, e ao afirmarem isto acreditam que a fé pode se direcionar a qualquer coisa, independentemente de Deus ao qual esta fé se dirige. Não é raro encontrarmos pessoas sinceros, mas erradas, como o povo de Israel. “Dou-lhes testemunho de que tem zelo por Deus, porém não com entendimento” (Rm. 10:1) A fé cristã não é fé na fé, nem esperança, na esperança.

Então, como podemos definir esta fé?
0 39º capítulo da Confissão de Westminster afirma que "Fé é um corpo de verdades". Isto é, fé é um conjunto doutrinário com fundamentos comuns. Daí dizermos: Fé apostólica ou fé evangélica.
O apóstolo Judas, que escreveu sua pequena carta no Novo Testamento refere-se: “a fé que foi entregue uma vez aos santos” (vs. 3). Não é interessante esta ideia? A fé a que Judas se refere é um legado divino, um conjunto de verdades, um corpo doutrinário. Envolve todo o plano de Deus para a humanidade
A Fé bíblica, por ser um conjunto de pressuposições definidas por Cristo e pelos apóstolos, é constantemente ameaçada por heresias. Judas fala de "indivíduos que se introduzem com dissimulação e transformam a libertinagem a graça de nosso Senhor Deus e negam o nosso único e soberano senhor, Jesus Cristo” (vs. 4).  Heresia teologicamente falando, é a distorção da fé e apostasia é a negação deste conjunto de verdades. Heresia não é algo distante da Igreja, e constantemente se manifesta dentro dela. Apostasia refere-se a pessoas que uma vez assumiram a fé, mas posteriormente a negam. Grandes heresias e notórios apóstatas, portanto, são pessoas que, de alguma forma, já estiveram na comunidade.
O termo "dissimulação" usado por Judas, significa assemelhar-se no geral e desassemelhar-se no específico. Aparentar acordo no superficial e pequeno desacordo no essencial. Judas se refere a pessoas que se vestiam como influentes arcanjos da comunidade, falando aparentemente com autoridade e ensinando como mestre, mas que negavam o corpo de verdades, que envolve a cosmovisão bíblica da criação, queda, redenção e consumação.
Heresias sempre desembocam na ética. Nos dias bíblicos, alguns estavam transformando em libertinagem a graça de Deus. A ética pecaminosa é o sintoma evidente da heresia.  O viver irresponsável e dissimulado revela o que se crê. Para Jesus, ética é uma expressão do coração: "A boca fala daquilo que o coração está cheio".
Por ser heresia, é sutil, começa com a perda das referências, e culmina na negação de Jesus como soberano Senhor. O último e mais grave grau da heresia é a incapacidade de se submeter a Cristo, e a submissão à Palavra já não mais importa, então, cria -se mecanismos e racionalizações para a rebeldia e desobediência. Tais atitudes, inexoravelmente desembocam noutra fé e noutro evangelho. 

  1. Um só Batismo - “Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo” (Ef 4.5). Este é um assunto que sempre gera controvérsia na igreja. Inicialmente pelos donatistas (Sec.IV), que insistiam em batizar as pessoas que vinham para sua comunidade, e posteriormente, os anabatistas, que também rejeitavam o batismo realizados pelas outras comunidades e exigiam um novo batismo, realizado apenas por eles.

Por esta razão, falar em um só batismo é complexo, a menos que definamos a que tipo de batismo a Bíblia se refere neste texto. Uma distinção clássica nos ajuda.
Existem dois tipos de batismo na Bíblia: o real e o simbólico. O real, é realizado pelo Espírito Santo ao aplicar o plano da salvação em nosso coração, Ele nos regenera. O simbólico é aquele, feito com água, ou nas águas, como preferem os anabatistas. Este ato público, aponta para algo maravilhoso e invisível que acontece dentro do coração do homem. É um sinal visível de uma graça invisível.
As diferenças surgem de forma mais acentuada no batismo simbólico, quanto à sua forma. Para alguns deve ser feito efusão, quando se borrifa água sobre as pessoas, como aparentemente aconteceu no dia do Pentecostes, quando foram batizadas 3 000 pessoas numa praça pública. Outros batizam por imersão. As pessoas neste caso precisam ser mergulhadas. A analogia de Rm.6:4-6  pode induzir a semelhante pensamento quando diz que "fomos sepultados no batismo". E finalmente temos a  aspersão, derramando água sobre a cabeça. Textos diferentes apontam para formas diferentes, dando-nos a entender que diferentes formas de batismo estavam presentes na Igreja primitiva, e aparentemente eles não se importavam com o modo.

Um só batismo

O apóstolo não está enfatizando o batismo como símbolo ou sua forma de administração. Ele aponta para o batismo real.
João, o batista, falava deste batismo realizado pelo Messias: "Eu vos batizo com água, ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo" (Mt 1.11). Portanto, onde houver cristãos, haverá este batismo indispensável a cada um. Ele é único, intransferível, pessoal e com fogo. Realizado em nós pelo Espirito Santo, que nos sela até o dia em que Cristo nos resgatará (Ef 1.13-14).
A Igreja Reformada afirma que este batismo acontece na conversão, quando o Espirito Santo abre o coração do pecador para acolher a mensagem da salvação. A Bíblia não estabelece nenhum hiato de tempo entre o "crer" e ter a "experiência do Espírito”. Conversão é a obra maravilhosa de Cristo em nós, através do Espírito Santo, que nos convence do pecado, da justiça e do juízo. Não é possível fazer parte do povo de Deus sem este batismo, sem ser visitado pelo Espírito. Sem este batismo, podemos seguir os ritos, ter cargos na Igreja, e ainda não ser cristão.

  1. Um só Deus e Pai – “Um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos” (Ef 4.6). Este é o sétimo e ultimo elemento que gera unidade. A paternidade de um Deus exclusivo e soberano.

Na oração dominical Jesus começa com a afirmação de que a figura do Pai celestial gera senso de comunidade. “Pai nosso”. Não apenas um Deus individual, mas um Deus em torno do qual se constrói uma unidade familiar. Temos um pai, não somos órfãos, mas este Pai é coletivo.
Não ha cristianismo autêntico no isolamento e na solidão. O Deus da Bíblia é um Deus solidário, não um Deus solitário. No conselho da Trindade e na unidade em que vive, aprendemos como deve ser nossa forma de viver. Cristianismo solitário é uma contradição. Deus nos chama para viver em família, e quando comemos e bebemos sem discernir o corpo, comemos e bebemos juízo para nós mesmos (1 Co 11.29), ignorar o irmão, ou desprezar a família, é uma afronta a Deus.
Nossa unidade se constrói em torno deste Deus Pai. Ele possui características peculiares.

  1. Ele é o Pai de todos – A figura mais proeminente de Deus no cristianismo não é seu poder, nem o fato dele ser rei ou juiz, antes, de pai.

  1. Ele está sobre todos – Por isto tem o controle absoluto de todos os eventos e pessoas, não interessa como os fatos históricos e circunstâncias se movem, nem quão estranho nos pareçam os eventos. Ele está sobre todos.

  1. Age por meio de todos – Isto instrumentaliza homens e natureza, para estabelecer seus propósitos. “Nesta frase está implícita a providência de Deus. Deus não criou o mundo e o deixou como um relógio que vai mantendo seu ritmo. Deus está agindo no cosmo, guiando, sustentando e amando” (William Barclay).

  1. Ele está em todos – Aqui notamos a presença de Deus em todos os seres humanos, através de sua graça comum ou graça especial. Na graça comum, revela-se a todos,  indistintamente, mantendo chuva e dando estações frutíferas e provisão; na graça especial, revelando-se com sua redenção, e aplicando a obra do Espirito santo nos eleitos. 

Conclusão:
Estes são os sete elementos de unidade presentes na igreja de Cristo.
Onde existir o povo de Deus, estes elementos espirituais, subjetivos e profundos serão manifestos.
Todos eles são imprescindíveis. Nenhum deles é dispensável ou descartável
A ausência de qualquer deles compromete a realidade do corpo de Cristo.

Em qualquer tempo, em qualquer lugar, seja a cultura que for, estas realidades se manifestarão sobre o povo de Deus, eleito, predestinado, redimido pelo sangue do Cordeiro. Neste reino de sacerdotes, povo exclusivo de Deus, a fim de proclamar as virtudes daquele que nos chamou das trevas para sua maravilhosa luz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário