Introdução:
A
base de nossa segurança espiritual é a identidade que temos.
Um
dos grandes problemas espirituais e emocionais que temos é a orfandade. Em
ambos os casos, não nos sentimos amados e o resultado é sempre grave. Uma
pessoa que se sente órfã se transforma em vítima ou tirana. Aqui vale uma boa
ressalva. Existem muitos que foram adotados e amados, construíram sua
identidade num ambiente de amor. Existem, porém, muitos que vivem inseguros por
serem na sua natureza emocional, órfãos, apesar de terem sido criados por seus
pais biológicos. É importante ressalvar que a Palavra de Deus nos afirma que em
Cristo fomos “adotados”.
Uma das doutrinas mais grandiosas do Evangelho e
também uma das mais facilmente esquecidas é a de nossa relação com Deus. A
Bíblia nos diz que "fomos feitos filhos de Deus", mas facilmente nos
esquecemos que somos filhos, e desenvolvemos mentalidade de órfão. Uma das
razões para este desvio são as experiências nos nossos relacionamentos e na
nossa história: Gente que já teve experiência de rejeição, tende a desenvolver
sentimento de orfandade, e encontra dificuldade para se sentir amado. Filho
rejeitado pode perder o vínculo afetivo. Criança indesejada eventualmente tem
dificuldade relacional.
O chamado que recebemos de Deus em Cristo Jesus é para
sermos filhos, construindo nossa identidade em Deus. Várias vezes na Bíblia
vemos a expressão "Deus nos adotou". A Bíblia diz que embora todos
sejamos criaturas de Deus, nem todos são filhos de Deus (Jo 1.12). Ser filho é
assumir a condição de uma família, com todos os direitos e deveres que ela tem.
Infelizmente nossa alma facilmente desenvolve um luto existencial, de abandono
de Deus, de distanciamento do Pai.
Neste texto a Bíblia mostra como é importante esta
identidade de amor e de filiação: “Sede imitadores de Deus como filhos
amados”(Ef 5.1). O motivo para querermos imitar a Deus é resultante da
compreensão de que somos filhos, e como filhos, desejamos ser parecidos com o amado
Pai. Quem não se sente filho, desenvolve atitudes de bastardo.
Tentando situar nossa condição
O livro “Coração Selvagem” de John Eldridge, deveria
ser lido por todos os homens, especialmente por aqueles que são pais. Ele afirma que que a maior pergunta no coração
de um filho é se ele tem valor para seu pai. As grandes feridas abertas no
coração do filho acontecem quando
(a): O filho não recebe nenhuma benção de seu pai,
nenhuma afirmação, nenhum reconhecimento de valor;
(b): O filho não vê seu pai quando é pequeno e seu
pai é ausente, porque só pensa em prover e trabalhar para a família;
(c): Através do silêncio. Quando os pais estão
fisicamente presentes, mas se comportam como ausentes em relação a seus filhos.
O silêncio é ensurdecedor. Os pais passivos ou ausentes não respondem a questão
da alma masculina do filho: “eu sou um homem, papai?”, ou “tenho alguma
valor?”. Os perigos tornam-se óbvios: Compulsividade agressiva ou retraimento
depressivo.
Vivendo como órfãos
Como dissemos, pessoas com sentimento de orfandade,
tornam-se vítimas ou tiranos.
Vitimas
O sentimento de orfandade pode no levar a um
processo de vitimização e assim passamos a culpar todos pelo nosso
fracasso: Meus pais me devem, a sociedade me deve, a igreja, e até mesmo Deus.
Acusamos as pessoas de não termos oportunidades, os outros são responsáveis.
Pessoas assim não crescem. Exigem cada vez mais atenção, a alma não se satisfazem,
encontram-se vazias.
Tiranos
Fazem o movimento reverso em relação ao papel de
vitima, mas a rotação é a mesma. Giram em torno de si mesmos. Anseiam por valor
e significado. Tornam-se autoritários em relação aos outros, insistem para que
todos fazem seus desejos, tornam-se mimados e exigentes, cheios de razão.
Em ambos os casos, o coração ainda está vazio.
Falta uma identidade vital com o pai. Falta-nos a
compreensão de que somos filhos.
Como vive um filho?
Antes de mais nada, um filho não precisa
provar nada.
Quem não é filho, cria uma
relação de escravidão. Talvez seja esta a ideia central de Paulo na carta aos Romanos ao
afirmar: "porque não recebestes o espírito de escravidão" (Rm
8.15). Paulo tenta trazer à mente do povo de Deus, que sua relação com Deus
agora em Cristo, é totalmente diferenciada. Não mais escravos, mas filhos.
Embora
vivendo com Deus, nem sempre o vemos como Pai. Muitas vezes Deus se parece mais
com alguém punitivo, que exige uma cota diária de tarefas a serem preenchidas,
e que pode nos castigar e retirar alguns privilégios se não fizermos exatamente
o que ele espera. Esta mentalidade que se fundamenta na funcionalidade,
contudo, não é a de um Pai com um filho, mas de um servo com seu senhor.
Em segundo lugar, quem não é
filho, vive numa insegurança marcante.
Em
Romanos lemos: "porque não recebestes o espírito de escravidão para
viverdes, outra vez, atemorizados" (Rm 8.15). É bom grifar a palavra "atemorizados". Quem já passou por situações de
ameaça e medo, sabe do que estou falando. A Bíblia fala que "no amor
não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo. Ora, o medo produz
tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no amor" (1 Jo
4.18). Amor e medo, são exclusivos. Se nossa relação com Deus é fundamentada no
medo, algo muito grave ronda nossa espiritualidade. O medo produz tormento, e
no medo não crescermos em maturidade, já que quem teme não é aperfeiçoado no
amor.
O resultado de viver como filho é
descanso e paz.
Paulo
afirma que recebemos o Espírito de adoção (Rm 8.15), isto é, uma nova
mentalidade é colocada em nós, não mais de escravo, mas filho. Este é o
espírito de adoção. Podemos encontrar intimidade e aconchego, chamando o Deus
Todo Poderoso de "Paizinho"
(Abba Pai) (Rm 8.15; Gl 4.6). Por meio da adoção, nos é dado acesso direto à
presença do Pai (Gl 4.7) e ainda recebemos herança na família de Deus (Rm
8.17). Além disto, João afirma que "Ainda
não se manifestou o que havemos de ser" (1 Jo 3.2). Isto é, o que sabemos já é grandioso, mas existe muita
coisa maravilhosa que ainda não nos é
dado conhecer.
Um
texto do profeta Isaías veio ao meu coração quando pensava nesta relação de
segurança como filho de Deus: “Porque
assim diz o Senhor Deus, o Santo de Israel: Em vos converterdes e em
sossegardes está a vossa salvação; na tranquilidade e na confiança a vossa
forca, mas não o quisestes. Antes dizeis: Não, sobre cavalos ligeiros
cavalgaremos; sim, ligeiros serão os vossos perseguidores” (Is 30.15-16).
Deus está convidando o povo para entender esta relação de um Pai, em quem podem
confiar. Filho confia no caráter do seu Pai e ao confiar, encontram segurança,
sossego e serenidade.
O tronco da rejeição
O
problema básica do ser humano, a raiz do problema é o seu sentimento de
orfandade. Ele gera, insegurança, medo, ansiedade, stress e ira. Para compensar
todo este abandono existencial, nos entupimos de shopping, sexualidade
distorcida, pornografia, droga, desejo de sucesso, trabalho excessivo. A
compulsão inicial se torna vício, mas o maior problema não é ainda o vício, mas
a fonte do vício. Pior que a ira, é a raiz da ira ou sua fonte. Por que vivemos
irados e zangados? Ira é um pecado de superfície, como estudamos anteriormente.
Orfandade e suspeita
O
órfão possui um núcleo básico de desconfiança na sua relação com o pai. Ele não
conhece sua identidade. Quem sou eu? De onde vim? Sou realmente amado? Por isto
as perguntas se tornam muito graves: O que Deus quer comigo? Por que ele
permite que estas coisas aconteçam comigo? E estas perguntas vem sempre
carregadas de muito medo, ressentimento e raiva.
Jesus e sua identidade de filho
amado
Uma das coisas mais subversivas que temos no Evangelho
é o conceito de Deus como Pai. Jesus agride seus ouvintes, religiosos formais,
ao chamar Deus de “paizinho”. Como ele se atreve a tanto?
A verdade é que o órfão não consegue viver a
dimensão de intimidade, ele tem sempre medo do julgamento e da rejeição, mas o
filho vivencia intimidade e liberdade.
Paulo
afirma que por recebermos o espírito de adoção, podemos afirmar, "Aba,
Pai" (Rm 8.15). O termo "Aba" não é hebraico, mas aramaico.
Era uma forma carinhosa e íntima de se referir ao pais, mas uma linguagem
própria de crianças que estão começando a andar e a falar. É o equivalente ao
nosso termo "paizinho". Esta visão de Pai era escandalosa para os
judeus ortodoxos. Como é que podem chamar Deus de "paizinho"?
Jesus
possui uma identidade clara de filho amado. Por duas vezes Deus Pai declara
publicamente sua relação de afeto com ele: “Este
é o meu filho amado”. A primeira vez logo após seu batismo no Jordão; a
segunda na transfiguração (Mt 4.17; 17.5). Deus reafirma sua relação afetiva,
de forma significativa: “Em quem me comprazo”. Uma expressão que mostra que
Deus sente prazer nele. Pai e Filho, identificados. Este sentimento de filho
amado, sustenta Jesus em todo seu ministério e lhe dá condições de ir para a
cruz e morrer pelos nossos pecados.
Não
é sem razão que, antes da tentação, Jesus ouve esta declaração do Pai, porque
logo depois ele é levado ao deserto, e a primeira coisa que Satanás coloca em
cheque é a sua condição de filho amado: “Se
és filho de Deus!” Esta insinuação é sutil, mas poderosa. Isto acontece
conosco quando nossa identidade não é clara diante. Se você não souber de sua
posição diante de Deus, não entender que você é um filho amado, a primeira
tentação ou crise, sua fé não sobrevive. O Filho de Deus está sendo tentado, mas sua identidade de
filho não sofre uma crise por causa da angustiante situação. Na cruz a tentação
da filiação novamente é colocada em cheque, “Se és Deus, desça desta cruz”.
Jesus não se sente pressionado para provar nada. Ele é filho amado, querido, o
Pai sente nele prazer e ele se contenta com a intimidade com o Pai
Resultado
Prático:
Ser filho,
também traz responsabilidades
A grande
responsabilidade é viver no status de filho. “Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados”. (Ef 5.1). Por
isto Jesus afirmou: "Sede perfeitos como perfeito é vosso Pai"
(Mt 5.48). Somos convidados a viver este novo estilo de vida, identidade de
filho.
O
que nos motiva a querer ser imitador de Deus? Nossa identidade de filho. O
desejo de santidade tem a ver com a compreensão de quem é o nosso pai. Meu pai
não vai me rejeitar, nem desertar, se eu não corresponder, mas eu quero
imitá-lo, porque me sinto amado
Conclusão:
Algum tempo atrás, tive acesso
a um material maravilhoso que faz uma relação entre órfãos e filhos, e achei
interessantíssimo. Gostaria de compartilhar o mesmo. É interessante que, na
medida em que estas coisas são ditas, você faça uma reflexão sobre sua própria
vida.
Como vive um órfão?
Sente-se
só: Falta uma intimidade vital com Deus; Tem um de sentimento vacuidade. É
muito preocupado consigo mesmo. Vive
ansioso com necessidades sentidas: amigos, dinheiro, etc; “Eu estou sózinho e ninguém se importa”., Nunca está bem. Tem uma
vida baseada no fracasso/sucesso. Quer parecer bom a todo custo, é orientado
para a performance. Sente-se condenado, culpado e indigno diante de Deus e dos
outros. Tem uma fé frágil, muito medo e nenhuma habilidade para confiar em
Deus. “Eu tenho que consertar isto”.
Trabalha
com um forte senso de obrigação, trabalhar duro, e sempre vive esgotado. É
rebelde diante de Deus e dos outros, frequentemente é frio e de coração duro. É
defensivo, não consegue ouvir, vive debaixo do escudo da justiça própria, virtualmente
tentando provar sua capacidade a todo
custo. Precisa estar sempre correto, salvo e seguro, nunca fracassa. É
defensivo e incapaz de tolerar críticas, só consegue viver com elogios.
É auto
confiante, mas desencorajado, derrotado, e sem o poder do Espírito Santo. Eu vou lhes mostrar!”. “Vejam o estrago que
vou fazer”... “Onde os outros falharem…” (O poder da vontade). Murmurador e
sem gratidão diante de Deus e dos outros; precisa humilhar os outros, demonstra
um espírito amargo e crítico. Um expert em demonstrar o que está errado; sempre
insatisfeito com alguma coisa.
Fofoqueiro
(gosta de confessar o pecado dos outros);
precisa estar sempre criticando alguém para se sentir seguro. Sente-se um
competente analista das fraquezas dos outros, ele tem o “dom do discernimento”. Está sempre se
comparando. Seus sentimentos variam do orgulho à depressão. (dependendo de quão
mau ou bom os outros parecem ser). Não tem poder para derrotar a carne; não
obtém vitória num nível profundo, sobre seus “pecados da carne”, embora tenha
perdido o sentimento de ser um “grande” pecador”. (Rm. 8:19),
Quase não
ora. Oração é seu “último recurso”; quando tudo o mais falha…ora frequentemente
em público, raramente na vida privada. As promessas de poder espiritual e
alegria contidas na Bíblia zombam dele. “O
que aconteceu com toda alegria?” Está sempre orgulhando-se de si mesmo,
apontando para suas conquistas com medo de que alguém possa superá-los (Gl. 6:14). Está
inconscientemente construindo um “recorde” de boas obras que precisa ser
anunciado e defendido. É auto centrado; “Se eles vissem as coisas da forma como eu vejo!”. Tem uma profunda
necessidade de estar no controle de toda situação, sua e dos outros.
Busca
satisfação em outras coisas além de Jesus. Fundamenta-se nos seus ídolos
(posição e posses), e apenas através destas coisas sente-se valorizado,
reconhecido e justificado. Tem pouco desejo de compartilhar o evangelho (desde
que sua vida cristã é tão miserável); quando o faz, tende a ser motivado por um
senso de obrigação ou dever, não amor.
Como vive um fiho?
Tem uma
segurança crescente de que “Deus é realmente meu amado Pai celestial.”(1 Jo 4.16).
Confia no Pai e tem uma confiança que cresce dia a dia no amor Paterno, vive
livre de preocupação. (Mt 6.25ss). Aprende a viver numa consciência diária e
que sua vida é uma sociedade com Deus. Não se sente amedrontado. Sente-se
amado, perdoado e totalmente aceito porque reconhece que os méritos de Cristo o
cobrem realmente.
Confia
diariamente no soberano plano de Deus para sua vida, sabendo que este plano é
sábio, amoroso e o melhor. Oração é seu primeiro recurso. “Vou perguntar primeiramente ao meu Pai, meu paizinho".
Tem a coragem de ser submisso, tem
um coração quebrado e contrito. (Sl.51:17).
É aberto a
crítica, uma vez que ele conscientemente está
firmado na perfeição de Cristo. Não na sua própria. É aberto para examinar seus
motivos mais profundos. É capaz de se arriscar, mesmo fracassar; desde sua
justiça está em Cristo, ele não precisa ter uma boa performance para se
orgulhar dela, se proteger ou se defender. Está confiado em Cristo e encorajado
nEle. Porque o Espírito Santo está trabalhando. Confia cada vez menos em si
mesmo e cada vez mais no Espírito Santo (diariamente confia na proteção de
Deus).
Confia no
Santo Espírito para guiar sua palavra para adoração, edificação, gratidão e
encorajamento (Ef 4.29, etc.) Não é cego para o que é errado, mas prefere focalizar
no que é bom e amável. (Fp 4.8). É capaz de livremente confessar suas faltas aos
outros; não se sente o dono da razão. Não tem sempre que estar certo. Reconhece
que está frequentemente errado, tem profundo desejo de crescer. Está firmemente
fundamentado em Cristo. sua justiça não está fundamentada em ação humana. (Fp 3.9).
Como ele confia em Cristo, está cada vez mais obtendo vitória sobre a carne.
Tem consciência de ser um “grande pecador”. Oração é uma parte vital do seu
dia, oração não é limitada ao “momento devocional”, tem prazer em falar com o
Pai (I Ts 5.16-18).
As promessas
de poder e alegria são sempre experimentadas por ele (Rm15.13). Descobre que
Jesus é mais e mais o tema de sua conversa. Orgulha-se de sua fraqueza (2 Co12.9,10). A justiça
de Cristo é seu “recorde”, ele está completamente firmado em Cristo. (1 Co 1.28). Tem sido controlado por Cristo;
ministra no poder do Espírito Santo - não na força de sua carne. Cristo é sua
comida e bebida. Deus realmente satisfaz sua alma! “Não há outro em quem eu me compraza na terra!” (Sl 73.25). Tem um
profundo desejo de ver o perdido vindo ao conhecimento de Jesus, reparte o
Evangelho aos outros, mesmo quando não é pressionado por um (bom) programa.