Introdução:
Quando
Davi estava pressentindo sua morte, chamou seu filho Salomão para lhe dar
alguns instruções quanto sua vida pessoal e ao seu futuro reinado, disse-lhe o
seguinte: “Eu vou pelo caminho de todos os mortais. Coragem,
pois, e sê homem!” (1 Rs 2.2).
Sua palavra nos conduz a duas
vertentes:
Primeira, a inevitabilidade da morte – Morrer é o caminho de todos os
mortais, esta é a única certeza que podemos ter na vida.
Certo homem, preocupado pelo fato
de que muitas pessoas estarem morrendo em sua cidade, resolveu mudar-se para
uma pequena cidade, e lá perguntou ao coveiro: “Há muita morte por aqui?” E ele
respondeu: “Não. Apenas uma para cada pessoa”.
A morte é o caminho de todos os
homens. Não gostamos de falar sobre ela, fazemos de conta que não acontecerá
conosco, entretanto, ela possui este caráter de inevitabilidade. A única
certeza que realmente temos na vida é a de que morreremos. Apesar de nossas
frágeis projeções e ousados planejamento, não há, de fato, garantia de que
viveremos amanhã. As pessoas nos vendem seguro de vida, mas na verdade, o que compramos
é um “seguro de morte”, que protege financeiramente aqueles que amamos.
A morte é democrática: despreza
camadas sociais, ridiculariza dos poderosos, age de forma incontida,
desconsidera os prognósticos, ri da ciência, zomba dos reis. No seu furor,
outra de suas estratégias está presente: Ela não leva em conta a idade.
Não existe garantia alguma de que viveremos muito. Ela age indiscriminadamente,
atingindo crianças ainda no início de sua história, jovens repletos de vida, e
para nos contrariar, recusando-se a levar aqueles que julgamos ter passado do
horário de partirem, tanto pela condição de saúde quanto a idade.
O Rei Davi compreende claramente
isto. “Este é o caminho de todos os mortais”. Não há privilegiados nem
exceções. Por isto, ele recomenda ao seu filho na hora da sua partida: “Guarda
os preceitos do Senhor, teu Deus, para andares nos seus caminhos”. Precisamos
estar nos caminhos de Deus para enfrentar de forma segura e serena, a
inevitável rota da morte.
O apóstolo Paulo afirma em 2 Co 1.9:
“Contudo, já em nós mesmos, tivemos a
sentença de morte para que não confiemos em nós mesmos, mas no Deus que
ressuscita os mortos”.
Segundo, o enfrentamento da morte
Sobre este assunto, ele dá dois
conselhos:
A. Coragem – Tenho aprendido que precisamos de coragem para viver e
morrer. Davi dá conselhos ao seu filho para que ele enfrente a vida
corajosamente. Para enfrentar tanto a vida como a morte, precisamos de coragem.
Só nos resta duas opções: Desespero
ou fé.
Enfrentando a morte com Desespero.
Quando o filósofo ateu e cínico,
Frederico Niestsche estava enfrentando a morte, agonizava profundamente em sua
angústia existencial e depois de morrer, seu enfermeiro fez a seguinte
afirmação: “Jamais gostaria de novamente assistir a morte de um ateu”.
Outro filósofo, Manuel Maria Barbosa
du Bocage, (1765/1805), conhecido por ser desbocado e cético, ao enfrentar a
morte, ditou o seguinte poema, conhecido como Soneto
Ditado na Agonia.
Já Bocage não sou!... À cova escura
Meu estro vai parar desfeito em vento...
Eu aos Céus ultrajei! O meu tormento
Leve me torne sempre a terra dura;
Conheço agora já quão vã figura,
Em prosa e verso fez meu louco intento:
Musa!... Tivera algum merecimento
Se um raio da razão seguisse pura.
Eu me arrependo; a língua quasi fria
Brade em alto pregão à mocidade,
Que atrás do som fantástico corria:
Outro Aretino fui... a santidade
Manchei!... Oh! Se me creste, gente ímpia,
Rasga meus versos, crê na eternidade!
Meu estro vai parar desfeito em vento...
Eu aos Céus ultrajei! O meu tormento
Leve me torne sempre a terra dura;
Conheço agora já quão vã figura,
Em prosa e verso fez meu louco intento:
Musa!... Tivera algum merecimento
Se um raio da razão seguisse pura.
Eu me arrependo; a língua quasi fria
Brade em alto pregão à mocidade,
Que atrás do som fantástico corria:
Outro Aretino fui... a santidade
Manchei!... Oh! Se me creste, gente ímpia,
Rasga meus versos, crê na eternidade!
Bocage, in ‘Rimas’
Enfrentando
a morte com fé
Quando Jesus estava perto de sua morte, chamou seus discípulos e
lhes disse: “Não se turbe o vosso
coração, credes em Deus, crede também em mim; na casa de meu Pai há muitas
moradas, se assim não fosse, eu vo-lo teria dito, pois vou preparar-vos lugar.
E quando eu for, e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo,
para que, onde eu estou, estejais vós também” (Jo 14.1-3).
Que diferença enorme faz quando se enfrenta a morte com
desespero e quando ela é enfrentada com fé. A forma como Jesus lida com a morte
é completamente antagônica a de Niestsche e Bocage. Ambos enfrentam a morte,
mas as reações diante dela são completamente diferentes.
b. O segundo conselho foi Leve a sério os preceitos de Deus – “Guarda os preceitos do Senhor, teu Deus” (2
Rs 2.3).
O uso da preposição “para” é abundante
neste versículo, mostrando as razões e justificativas de se levar a sério os
mandamentos de Deus e sua palavra:
...para andares nos seus caminhos
...para guardares
os seus mandamentos
... para que prosperes em tudo quanto
fizeres e por onde quer que fores.
Esta foi a recomendação que
Salomão recebeu de seu pai quando ele estava para morrer
O texto continua com algumas
recomendações extras de Davi para concluir: “Davi descansou com seus pais e foi sepultado” (1 Rs 2.10).
Uma expressão comum no Antigo
Testamento para descrever a morte do povo de Deus é a de que estamos voltando
para o nosso povo, para o reencontro espiritual: “E tudo irás para os teus em paz” (Gn 15.15) “Expirou Abraão... e foi reunido ao seu povo”(Gn 25.8). Esta ideia
de reunir-se ao nosso povo é maravilhosa, como diz uma velha cancao: “Lá
encontrarei amigos, que me servem como irmãos”. A vida continua para se
completar com aqueles amados que morreram em Cristo.
Conclusão:
Ao considerar os conselhos de
Davi a Salomão, eu me pergunto:
Que conselhos nossos pais nos
dariam na hora da morte?
Ou ainda:
Que conselhos daríamos aos nossos
filhos se estivéssemos adentrando os portões da eternidade?
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