A parábola do filho pródigo é uma das mais conhecidas
e apreciadas das Escrituras. Entretanto, apesar do titulo dado à esta parábola,
o centro da parábola não é o filho relativista, sonhador e inconsequente que
sai de casa. Ele começa falando de um homem: “Certo homem” como bem enfatiza Henry Nouwen no livro “A Parábola do
Filho pródigo”, e Tim Keller no livro “O Pai pródigo”. Como ponto de partida,
Jesus coloca o holofote no Pai, como figura central, levando seus ouvintes a
refletir sobre o caráter deste homem. Logo a seguir ele afirma: “tinha dois filhos”, mais uma vez é
interessante observar que o objeto de sua reflexão não era apenas em um dos
filhos, mas ele queria considerar a atitude dos dois filhos.
Quando a parábola parece ter seu ponto final no vs.
24, na dramática narrativa do filho que volta arrependido para casa, Jesus
começa a falar do outro filho que até então não estava presente na parábola: “Ora, o filho mais velho estivera no campo”
(vs 25). Nouwen afirma que esta parábola fala de uma jornada espiritual, e que devemos
sair da posição de filho e ir em direção à paternidade, já que o pai é o centro
do acontecimento.
O Pródigo
que Sai
O primeiro holofote se volta para o filho mais novo, e
revela as consequências de uma alma que resolve deixar o Pai e ser sincero com
seus sentimentos. Ele pode ser definido como o relativista moral: Sua ética é
subjetivista, ele faz “o que acha que é certo”, todas as convenções humanas,
sociais e familiares não lhe interessam. Ele deseja ser “sincero e autêntico”
com o que sente, não levando em conta nada, além da sua própria noção do que é
certo e errado.
Salvação para ele é ser leal e determinar o que é
certo e errado para consigo mesmo. Revela também o conflito entre o real e o
imaginário. Era sonhador e utópico. O resultado foi a fome e a miséria. Este é
o retrato de centenas de jovens que desprezam os princípios de Deus e a
orientação de seus pais, porque acha que é certo fazer o que lhe der na cabeça,
afinal, o que importa é ser leal aos seus próprios sentimentos
Vejamos algumas descrições que o texto faz sobre ele e
que reflete sua jornada espiritual:
1. Ele é irresponsável e leviano
- “Dá-me a parte dos bens que me cabe”
(vs 12). Ele não pensa na unidade familiar, no pai, nos amigos. Só tem projeto
para seu egoísmo e consumismo. O texto o descreve como “dissoluto” (vs. 13). Ele tinha razão no que pedia? Não!
Absolutamente não! Herança é algo que se recebe quando morrem os pais.
Inconscientemente ou não ele envia uma mensagem que desejava a morte prematura
dos pais para ter direito à sua herança.
Ele pode ser também definido como um relativista moral. Aquele tipo de pessoa que deseja fazer suas próprias regras. Acha que não precisa de ninguém, que ninguém tem nada a ver com sua vida, que vai viver de forma a quebrar todos os paradigmas morais e religiosos, que despreza a família, ordem social e hierarquia e acredita que ele é a fonte de todo saber. Que ele pode fazer as coisas de sua forma. Não há nada que possa nortear sua história, ele faz do jeito que quer, sem querer dar satisfação a ninguém. A frase preferida do relativista moral é que ele sabe o que está fazendo e que tem direito a ser feliz e fazer as coisas a seu modo.
Ele pode ser também definido como um relativista moral. Aquele tipo de pessoa que deseja fazer suas próprias regras. Acha que não precisa de ninguém, que ninguém tem nada a ver com sua vida, que vai viver de forma a quebrar todos os paradigmas morais e religiosos, que despreza a família, ordem social e hierarquia e acredita que ele é a fonte de todo saber. Que ele pode fazer as coisas de sua forma. Não há nada que possa nortear sua história, ele faz do jeito que quer, sem querer dar satisfação a ninguém. A frase preferida do relativista moral é que ele sabe o que está fazendo e que tem direito a ser feliz e fazer as coisas a seu modo.
2. Ele é individualista - Não está
interessado na unidade familiar, apenas em si mesmo – (vs.12). Seu pedido é
duplo:
a.
Requer a divisão da herança
b.
Pressiona o pai para dispor dela imediatamente (Bailey, 214)
Apesar de não ter, nenhum direito real sobre o pedido
que fazia, já que ninguém pode requerer a herança antes da morte dos pais.
3. Ele é consumista - “Partiu para uma terra distante e lá dissipou
todos os seus bens, vivendo dissolutamente” (Lc 15.12). O mais velho o
classifica como gastador e boêmio, seu materialismo era irresponsável (vs 13-14).
Acha que dava para viver sem
planejamento. Resolve gastar irresponsavelmente o que lhe cai na mão. Nenhum orçamento,
nenhum planejamento. A Bíblia diz que “pela frouxidão das mãos o teto desaba” e
é exatamente isto que vemos na atitude deste rapaz. “...lá dissipou todos os seus bens, vivendo dissolutamente”.
4. Não sabe fazer escolhas corretas – Decide sair de casa sem resolver seu próprio coração,
rompe com a família, junta-se com pessoas que o levam ainda mais para a
devassidão e destruição. Todas as suas decisões se mostram equivocadas. No
desespero, procura outra pessoa errada, um patrão, desumano e injusto,
demonstrando que era incapaz de, até mesmo, escolher o tipo de trabalho que
faria (Lc 15.15).
O que ganhava não era sequer suficiente para sua alimentação.
Experimentou um patrão que aplicava um capitalismo selvagem, explorador, que o
envia a trabalhar na condição mais desumana possível, e ainda por cima, com
fome. Isto é pior que escravidão, no sentido que, o escravo era bem tratado
para produzir mais.
5. Submete-se a tarefas incompatíveis com sua fé – “...e este o mandou para os campos, a guardar
porcos”(vs. 15) Vai cuidar de animais considerados imundos tanto para se
comer quanto para qualquer cerimonial judaico. Lidar com porcos era abominação
(é como se um crente fosse trabalhar no Brasil como bicheiro, ou dono de um
prostibulo). Como afirma Joachim Jeremias, ele chega “ao extremo da humilhação,
e nega sua história de fé” (J.Jeremias, 131).
No meio de todo este desencontro, algo inusitado e
miraculoso acontece. Seu coração é inundado por uma nova experiência. Ele sente
saudade do Pai. Para mim, esta saudade de casa é o ponto de partida de seu
reencontro com sua alma, com sua história, com sua vida.
Vejo muitos que se afastam de Deus. Tenho muitos
amigos de Escola Dominical, afastados do Senhor. Quando os vejo tenho vontade
de perguntar-lhes: “Vocês não tem saudade de Deus? Não sentem vontade de voltar
para sua igreja, cantar um hino de louvor a Deus, orar, ler a Bíblia, restaurar
a experiência de voltar para a casa de Deus, para os braços do Pai amado?”
A lembrança de casa, mexe com as estruturas emocionais daquele rapaz.
1.
Abre-se para mudanças - “Então, caindo
em si” (vs.17). Esta frase reflete muito bem o que acontece no seu
interior. Que coisa preciosa é este “cair em si”. Infelizmente muitos caem nos
outros. Shedd afirma: “Antes estava fora de si. A frase indica que pecado é
loucura, alienação e desintegra o homem de si mesmo”. “Tanto no hebraico como
no aramaico, esta expressão era usada para conversão” (J.Jeremias, 131).
2. Torna-se
disponível para correção - “Levantar-me-ei, e irei ter com meu pai” (vs.18). Revela
sua vontade e determinação. Resolve confessar o seu pecado, pedir perdão. Assume
sua culpa, reconhece que errou, não deseja culpar ninguém, sabe que a decisão
foi dele e não procura transferir sua culpa ou justificar seus erros. Não tem mais
herança, não possui amigos, está só e precisa mudar. Muitos querem voltar, mas
estão cheios de razão demais. Possuem desculpas demais, sua justiça própria os
impede de um retorno. Sabem mais que Deus, tem mais razão que o Pai.
3. Tem coragem
para voltar – (vs. 20) “Levantando-se foi”. Não é fácil admitir que errou, que fez algo
errado. Seus pecados são evidentes, causam vergonha, geraram dor em muitas
pessoas, mas ele não deseja continuar naquela situação. Está sofrendo na carne
e deseja mudanças, não fica apenas nas intenções, ele age, levanta-se, toma a decisão
que deveria tomar e vai.
4. Dispõe-se
a aceitar uma nova condição – (vs.19) Não volta com pretensões, não faz exigências, não
requer nada. Sabe que não possui direito algum. Está convencido que ainda que
haja séria disciplina do pai, ainda é melhor estar com o Pai. Fora de Deus não
dá, está consciente disto, e deseja mudança e volta para Deus.
Conclusão:
Este moço é o nosso retrato.
Pecadores firmados nos direitos da criação e nas bençãos
da herança cristã, podemos ir e vir, somos livres, mas às vezes, desprezamos
nossos valores, ignoramos e gastamos os bens dados por Deus em propósitos
individualistas. Desprezamos nossa herança e nossa história, tomamos nosso
corpo, tempo, saúde, mente e coisas materiais e os gastamos de forma leviana e
irresponsável. Afastamo-nos e ferimos o Pai. Apesar de tudo isto, Deus não leva
em conta os tempos perdidos e nossa ignorância, abre os braços e nos acolhe,
tornando-se disponível para nós. Mesmo na miséria, entre os porcos, ainda há
espaço para a restauração. Este texto fala de esperança e do amor do Pai. Nossa
história não precisa acabar entre os porcos, podermos retornar ao Pai.
Rev. Eudaldo Silva Lima contava a história de um
conhecido seu chamado Calixto, filho de Elias, que resolve sair de casa e sumir
no mundo, os tempos passaram e o velho Elias sempre esperando seu filho, sem
noticias, sem saber sequer se ele estava vivo. Um dia, depois de longos anos,
Calixto retorna.
Seu pai, depois de celebrar a chegada do filho
pergunta-lhe em particular:
-“Tivestes
saudades de nós ?”
E o filho lhe respondeu:
-“Eu
estava para endoidecer... queria ouvir de novo sua voz na salgadeira cantando:
“Pelo sinal da santa cruz e do santo gral, feijão com tripa no domingo, não faz
mal”. Queria ouvir de novo seu cantar.
É o sortilégio da saudade que faz reviver almas e
renovar corações.
Este jovem é o nosso retrato, de sociedade caída,
independente, que despreza valores, relativiza a moral, que em nome da coerência
para consigo mesmo e seus sentimentos, desprezamos o respeito, os valores,
somos desagregadores, rompemos com o Pai.
Gostaria de encerrar esta palavra fazendo a seguinte
pergunta:
Você sente saudades do Pai? Acha que já foi longe de
mais, tem vergonha de voltar e não sabe o que fazer? Hoje o Espírito de Deus
está convidando você a se aproximar do Pai, é retornar aos seus braços. Você
não gostaria de voltar a Deus? Refazer sua história? Recomeçar?
A Palavra de Deus nos afirma que Deus estava em Cristo,
reconciliando consigo mesmo o mundo. Jesus assumiu o lugar daquele que acolhe,
que afirma a capacidade de um Deus em perdoar até seus algozes. O Evangelho nos
faz lembrar que Deus pode mudar qualquer pessoa em qualquer circunstância. Você
não gostaria de voltar ao Pai?
Em 1994, eu era pastor na Gávea, Rio de Janeiro, e ao
lado da igreja havia uma conhecida psicanalista judia, que era muito respeitada
nos meios sociais da Zona Sul do Rio. Eu era ainda um jovem pastor, com 30 anos
de idade e ela me chamou para conversar comigo. Pensei que se tratasse de algum
problema relacionado ao fato de que sua clínica era ligada à Igreja e
poderíamos estar fazendo alguma coisa que lhe desagradasse, mas o assunto que
ela trataria comigo tinha outra natureza.
Ela era de família judia, criada num ambiente com uma
forte marca de espiritualidade, mas durante sua juventude, estudos acadêmicos,
leituras de Freud, tornou-se cética e distante de qualquer concepção de Deus.
Ao entrar no seu elegante consultório, ela abriu seu coração para mim dizendo
aos prantos: “Eu preciso resgatar a criança que perdi!”, referindo-se à perda
significativa da sua fé e espiritualidade”. Confesso que não lembro de nada que
lhe disse naquele dia, de fato gostaria de lembrar, mas eu sei que falei alguma
coisa sobre a fé cristã e sobre a necessidade de Deus em sua vida, e depois fui
para a igreja para atender outras necessidades relativas ao meu trabalho no
escritório.
Este é o típico caso de pessoas que sentem saudade de
Deus, do Eterno, de algo não específico, eventualmente um sentimento vago de
solidão cósmica, e que se sentem separadas de algo significativo para suas
vidas.
Em 2009, preguei um sermão baseado neste mesmo texto
de Lucas 15, falando da importância de sentir saudade de Deus, e do necessário processo
da restauração.
Ao terminar o sermão, saímos e ficamos conversando na
porta da igreja. Os diáconos fecharam as portas e continuamos conversando na
calçada. Estávamos em quatro pessoas: Frederico Silveira, Ana Paula, eu e Sara.
À noite, eu não gosto de ficar sozinho na porta da igreja, porque ela fica na
zona central, e a maioria dos prédios está fechado, raramente se vê alguém
passando à pé na rua, sempre fico alerta com medo de assalto, quando tenho que
demorar um pouquinho a mais. Mas naquela noite, estávamos desapercebidos e
falando de temas variados, quando vi que um motoqueiro fez uma manobra na
esquina. Embora ninguém tenha percebido, eu fiquei apreensivo, ele mudou sua
trajetória e veio em nossa direção. Interiormente, as bandeiras vermelhas de
alerta se acenderam, mas não havia nada que fazer, não podíamos correr,
estávamos à mercê dos acontecimentos.
O motoqueiro chegou perto de nós, parou a moto e eu
estava inseguro mesmo quanto ao que poderia acontecer, mas para minha surpresa,
ele tirou seu capacete, e aos prantos disse: “Estou com saudades do Pai”. Ora,
este havia sido o tema de minha mensagem, logo conclui que ele estivera no
culto, e estava agora reagindo à mensagem que eu havia pregado. Mas algo
surpreendente, na verdade estava acontecendo ali, alguma coisa sobrenatural,
divina. Sara Maria logo percebeu que ele não
estivera no culto, embora eu continuasse conversando com ele como se ele
estivesse ouvido o sermão há pouco tempo atrás, mas de fato, ele não estivera
na igreja naquela noite.
Com lágrimas, nos contou sua história. Estava afastado
de Cristo, havia se desviado da fé, se separado da comunhão com sua igreja,
estava perdido espiritualmente, longe de Deus, longe de sua família, mas ao
passar em frente à igreja, foi movido pelo Espírito Santo a vir conversar
conosco e pedir oração a fim de que restaurasse a sua espiritualidade. Tivemos
oportunidade de ministrar algumas palavras ao seu coração, oramos com ele, e
ele retornou agora para sua casa, com uma nova disposição de seguir a Cristo.
A mesma mensagem que havia pregado, que ele não havia
ouvido, havia sido comunicado pelo Espírito Santo. Até mesmo o tema do sermão
era o mesmo: “saudades do Pai”. De forma direta, amorosa, o Espírito Santo
havia lhe comunicado verdades eternas.
Talvez seja esta a situação sua ao ler esta mensagem.
Pode ser que você esteja longe, mas seu coração percebe sua desesperadora
realidade. É preciso voltar, é preciso confessar, é preciso reconhecer que
errou, é preciso abraçar o Pai, receber o beijo do Pai celeste, trocar as
roupas imundas e receber roupas limpas, colocar sandálias nos pés, receber o
anel da dignidade e da honra do próprio Pai.
Foi isto que Jesus fez na cruz.
Ele restaurou a nossa dignidade junto ao Pai. Ele nos
reconciliou com o Pai. O Pai nos perdoou. Você não tem saudades do pai? De
Sentir novamente o cheiro de suas vestes? De reconquistar a intimidade que se
perdeu?
Nenhum comentário:
Postar um comentário