domingo, 4 de agosto de 2019

Lc 15.11-32 O irmão mais velho: O justo amargurado



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Introdução:

O texto começa com a seguinte expressão: “Certo homem tinha dois filhos”. Jesus não estava querendo falar apenas de um filho, mas de dois filhos.

Se nos concentrarmos apenas no primeiro irmão, esta história torna-se sentimental, mas se olharmos os dois irmãos, veremos que Jesus estava ofendendo seus ouvintes originais. Jesus coloca abaixo as categorias humanas de como abordar a Deus. O texto parece ser completo até o vs. 24. No vs. 25, porém, os holofotes se voltam para outro cenário: A chegada do filho mais velho e sua atitude.

Henry Nouwen ainda faz outra afirmação mais interessante ainda ao refletir na frase: “Certo homem tinha dois filhos”. Para ele, o foco não era nem o filho perdulário e gastador, nem o filho religioso e legalista, mas o Pai. A ênfase recai na figura paterna: “Certo homem”.

Quais são as características deste irmão?
  1. Irmão mais velho não sente prazer na aproximação do irmão mais novo - Ele é indiferente ao novo. Sua religião era ortodoxamente correta, mas era fria, Peca pela rejeição e a rejeição é crime teológico.
    1. Já paramos para considerar quão grave pode ser a indiferença para o nosso irmão?
    2. O que significa a frase: “O que come e bebe juízo para si?”. A ênfase não está sendo dada pelo fato de que alguns irmãos ricos menosprezavam os pobres na celebração da ceia e na festa que se seguia à ceia que era chamada “festa do ágape”, na qual, aqueles que tinham melhores condições financeiras traziam melhores porções para dividir com os demais irmãos?

  1. Quando as coisas não andam como ele acha que deveria andar, fica infeliz e muito irado. Ele pode até dizer que é salvo pela graça e não pelas obras, mas seu coração não acredita isto. Acha que Deus não cumpriu sua parte.
    1. Por esta razão muitos tem dificuldade com a graça. Quando estou operando espiritualmente na base da lei, eu creio que eu posso cobrar algo de Deus.
    2. Certa mulher procurou seu pastor e disse: “Não gosto da graça!” E ele olhou admirado para ela e perguntou a razão. Ela respondeu: “Porque se tudo bem pela graça, não posso cobrar nada de Deus”.

  1. Desenvolve uma obediência mecânica e sem alegria – “tenho servido como escravo” (vs 29). Obedecer o pai, era trabalho escravo. Obedecia mas não tinha alegria.
    1. Esta é a típica atitude do legalismo religioso. Posso fazer todas as coisas mecanicamente para Deus, mas o coração está desacompanhado de meus atos. “Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe”.
    2. Paulo questiona os irmãos de Gálatas, que haviam desprezado o evangelho da graça e estavam agora se firmando novamente na lei: “O que é feito da vossa exultação?” (Gl 4.15). Eles perderam o entusiasmo da sua fé baseada na obra de Cristo.
    3. O resultado da lei é sempre o ritualismo. A rotina dos atos pode esvaziar o senso do sagrado em nossos corações.
  2. Nega sua relação de irmandadeVindo este teu filho” (vs. 30). Ele não se refere ao seu irmão como “meu irmão”, prefere chamá-lo “este teu filho”. Nega as relações afetivas.
    1. O irmão mais velho se sentia superior moral e espiritualmente. Mas o texto bíblico demonstra que apesar de estarem em situações diferentes, ambos estavam perdidos. Um estava perdido no seu relativismo moral, ao desprezar o Pai, ao se afastar de Deus e fazer o que achava certo independentemente das consequências de suas atitudes, o outro, entretanto, também estava perdido por ser incapaz de olhar com misericórdia o irmão mais jovem.
    2. “Síndrome do justo amargurado”. Já viram como pessoas supostamente religiosas tendem a se tornar prontas para julgar os outros e condenar? Tereza D’Ávila afirma: Deus me livra dos santos de cara amarrada.”

  1. Irmão mais velho tem uma visão equivocada do Pai - Pai é punitivo, repressor. “Nunca me deste um cabrito”. Não consegue entender a linguagem da graça e do perdão, rejeita a dança, a alegria, a música e o churrasco. Estranha a nova liturgia da casa porque é “muito alegre”.
    1. Ele vê o Pai, não como alguém em quem ele encontra prazer, mas alguém pronto para cobrar.
    2. Uma característica das pessoas religiosas é que Deus é visto essencialmente como punitivo, vingador.

  1. Irmão mais velho tem sempre muita razão. Este rapaz é tristemente salvo. Vive sem gozo. É tão rico e tão pobre. Tem até medalhas de integridade: “Nunca falhei”.
    1. Usa duas coisas para justificar-se diante do Pai
                                               i.     Sua bondade: “Há tantos anos te sirvo”. Sua bondade e tempo de serviço se tornam sua armadilha. Era um moço trabalhador.
                                             ii.     Sua conduta: “Sem jamais transgredir uma ordem sua”. Ele se julga irrepreensível.

  1. Não entende a linguagem da graça - Trabalha com o Pai e pelo Pai, mas não sabe o que é ser gracioso. Ele relaciona-se bem com a justiça.
    1. Sua linguagem é retributiva: Eu tenho direitos adquiridos, eu conquistei o direito. Se você se relaciona assim com Deus, certamente você está experimentando a síndrome do irmão mais velho.
    2. Vive aquém daquilo que pode viver - Vive uma vida miserável na casa de um Pai generoso e abundante.

COMO SUPERAR A SÍNDROME DO IRMAO MAIS VELHO?

O texto demonstra que há sempre duas formas de se estar perdido:

  1. Como um relativista moral, que despreza todas as convenções e regras, e segue o que acha certo fazer, crê que o importante é ser “honesto consigo mesmo”,  e seguir suas emoções, sem considerar ninguém mais.

  1. Como um justo amargurado, religioso e legalista, que acha que fazer as coisas certas para Deus o torna justificado diante do Pai, independentemente do coração e dos afetos.

Mas o texto ensina que só existe uma forma de ser salvo. Só o Pai pode nos redimir de nós mesmos. Do nosso relativismo e da nossa moralidade religiosa. Eis alguns princípios que este texto nos revela:

  1. Precisamos da iniciativa da graça de Deus – o Pai vai em direção aos dois filhos. Ele não diz  ao filho leviano e relativismo: “Se você se arrepender eu o beijo”, mas o beija para ajudá-lo a se arrepender. O Pai sabe que sem a graça ninguém consegue voltar para casa. Aquele filho precisa ser restaurado.
    1. Certa vez li uma frase assustadora de um homem que foi capelão numa penitenciária: “Bandido não tem medo de policia, nem da apanhar, nem mesmo da morte. O que muda o coração de um bandido, é a compreensão de que há perdão”.
    2. Esta é a pedagogia do perdão. O Dr Erni Walter Seibert, Presidente da Sociedade Bíblica do Brasil afirmou numa palestra da MPC em Manaus: “Como criança não tinha medo de vara, mas o que me quebrava mesmo era o colo da mãe”.
    3. A graça transforma – Tt 2.14

  1. Precisamos nos arrepender – Não apenas arrependimento pelos pecados, mas também de nossa justiça própria.
    1. Arrependimento é a percepção de nossa miséria e distância de Deus. O texto demonstra que o filho perdulário e leviano, se arrependeu. Mas será que o filho religioso se arrependeu? Não podemos concluir isto a partir deste texto.
    2. Muitas vezes é mais fácil nos arrependermos de pecados grosseiros, que do pecado da justiça própria, quando nos achamos justos diante de Deus. Afinal, “Os sãos não precisam de médicos, e sim os pecadores” . Como tratar de alguém que julga não estar doente?

  1. Precisamos ser completamente derretidos por aquilo que custou te trazer de volta para casa - Qual o preço de trazer o irmão mais velho para casa?
    1. O que custou ao Pai? O pai aqui é o mediador entre os dois irmãos. Ele é que sai em busca dos dois. Ele ama os dois: O leviano e o religioso.
    2. O Beijo do pai, quebranta o filho leviano. Será que o afeto do Pai atingiu o endurecido coração do filho religioso? Precisamos nos arrepender da nossa justiça.

  1. Aceite o que o Pai afirma sobre você:
    1. Você é filho dele - “Meu filho”.
    2. Tudo o que é dele, é seu. “Tudo que é meu é teu” Portanto, desfrute das riquezas de Deus. Não apenas no futuro, na vida eterna, mas agora. Receba sua aceitação, perdão, ore pelo seu coração, para ser mais inclinado ao pai e não distante do Pai. Olhe com perdão o seu irmão transgressor. Todas as riquezas que Cristo conquistou na cruz lhe pertencem.

Conclusão:

O texto mostra que o Evangelho não é um ponto entre o moralismo e relativismo, mas algo completamente diferente. Ambos estão perdidos, mas existe apenas uma forma de voltar para casa: Por meio do Pai.

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