Introdução:
O texto começa com a
seguinte expressão: “Certo homem tinha
dois filhos”. Jesus não estava querendo falar apenas de um filho, mas de
dois filhos.
Se nos concentrarmos
apenas no primeiro irmão, esta história torna-se sentimental, mas se olharmos
os dois irmãos, veremos que Jesus estava ofendendo seus ouvintes originais. Jesus
coloca abaixo as categorias humanas de como abordar a Deus. O texto parece ser completo até o vs. 24. No
vs. 25, porém, os holofotes se voltam para outro cenário: A chegada do filho
mais velho e sua atitude.
Henry Nouwen ainda faz
outra afirmação mais interessante ainda ao refletir na frase: “Certo homem tinha dois filhos”. Para
ele, o foco não era nem o filho perdulário e gastador, nem o filho religioso e
legalista, mas o Pai. A ênfase recai na figura paterna: “Certo homem”.
Quais são as características deste irmão?
- Irmão mais velho não sente prazer na aproximação do irmão mais novo - Ele é indiferente ao novo. Sua religião era ortodoxamente
correta, mas era fria, Peca pela rejeição e a rejeição é crime teológico.
- Já paramos para considerar quão grave pode ser a
indiferença para o nosso irmão?
- O que significa a frase: “O que come e bebe juízo para si?”. A ênfase não está sendo
dada pelo fato de que alguns irmãos ricos menosprezavam os pobres na
celebração da ceia e na festa que se seguia à ceia que era chamada “festa
do ágape”, na qual, aqueles que tinham melhores condições financeiras
traziam melhores porções para dividir com os demais irmãos?
- Quando as coisas não andam como ele acha que deveria andar, fica
infeliz e muito irado. Ele pode até dizer
que é salvo pela graça e não pelas obras, mas seu coração não acredita
isto. Acha que Deus não cumpriu sua parte.
- Por esta razão muitos tem dificuldade com a
graça. Quando estou operando espiritualmente na base da lei, eu creio que
eu posso cobrar algo de Deus.
- Certa mulher procurou seu pastor e disse: “Não
gosto da graça!” E ele olhou admirado para ela e perguntou a razão. Ela
respondeu: “Porque se tudo bem pela graça, não posso cobrar nada de
Deus”.
- Desenvolve uma obediência mecânica e sem alegria – “tenho servido como
escravo” (vs 29). Obedecer o pai, era trabalho escravo. Obedecia mas
não tinha alegria.
- Esta é a típica atitude do legalismo religioso.
Posso fazer todas as coisas mecanicamente para Deus, mas o coração está
desacompanhado de meus atos. “Este
povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe”.
- Paulo questiona os irmãos de Gálatas, que haviam
desprezado o evangelho da graça e estavam agora se firmando novamente na
lei: “O que é feito da vossa
exultação?” (Gl 4.15). Eles perderam o entusiasmo da sua fé baseada
na obra de Cristo.
- O resultado da lei é sempre o ritualismo. A
rotina dos atos pode esvaziar o senso do sagrado em nossos corações.
- Nega sua relação de irmandade
–“Vindo este
teu filho” (vs. 30). Ele não se refere ao seu irmão como “meu irmão”, prefere
chamá-lo “este teu filho”. Nega as relações afetivas.
- O irmão mais velho se sentia superior moral e espiritualmente.
Mas o texto bíblico demonstra que apesar de estarem em situações
diferentes, ambos estavam perdidos. Um estava perdido no seu relativismo
moral, ao desprezar o Pai, ao se afastar de Deus e fazer o que achava
certo independentemente das consequências de suas atitudes, o outro,
entretanto, também estava perdido por ser incapaz de olhar com
misericórdia o irmão mais jovem.
- “Síndrome do justo amargurado”. Já viram como
pessoas supostamente religiosas tendem a se tornar prontas para julgar os
outros e condenar? Tereza D’Ávila afirma: Deus me livra dos santos de
cara amarrada.”
- Irmão mais velho tem uma visão equivocada do Pai - Pai é punitivo, repressor. “Nunca
me deste um cabrito”. Não consegue entender a linguagem da graça e do perdão,
rejeita a dança, a alegria, a música e o churrasco. Estranha a nova
liturgia da casa porque é “muito alegre”.
- Ele vê o Pai, não como alguém em quem ele
encontra prazer, mas alguém pronto para cobrar.
- Uma característica das pessoas religiosas é que
Deus é visto essencialmente como punitivo, vingador.
- Irmão mais velho tem sempre muita razão. Este rapaz é tristemente salvo. Vive sem gozo. É tão rico e tão
pobre. Tem até medalhas de integridade: “Nunca falhei”.
- Usa duas coisas para justificar-se diante do Pai
i. Sua
bondade: “Há tantos anos te sirvo”. Sua
bondade e tempo de serviço se tornam sua armadilha. Era um moço trabalhador.
ii. Sua
conduta: “Sem jamais transgredir uma
ordem sua”. Ele se julga irrepreensível.
- Não entende a linguagem da graça - Trabalha com o Pai e pelo Pai, mas não sabe o que é ser gracioso.
Ele relaciona-se bem com a justiça.
- Sua linguagem é retributiva: Eu tenho direitos
adquiridos, eu conquistei o direito. Se você se relaciona assim com Deus,
certamente você está experimentando a síndrome do irmão mais velho.
- Vive aquém daquilo que pode viver - Vive uma vida miserável na casa
de um Pai generoso e abundante.
COMO SUPERAR A SÍNDROME DO IRMAO MAIS VELHO?
O texto demonstra que há
sempre duas formas de se estar perdido:
- Como um relativista moral, que despreza todas as convenções e
regras, e segue o que acha certo fazer, crê que o importante é ser
“honesto consigo mesmo”, e seguir
suas emoções, sem considerar ninguém mais.
- Como um justo amargurado, religioso e legalista, que acha que fazer
as coisas certas para Deus o torna justificado diante do Pai,
independentemente do coração e dos afetos.
Mas o texto ensina que
só existe uma forma de ser salvo. Só o Pai pode nos redimir de nós mesmos. Do
nosso relativismo e da nossa moralidade religiosa. Eis alguns princípios que
este texto nos revela:
- Precisamos da iniciativa da graça de Deus – o Pai vai em direção aos dois filhos. Ele não diz ao filho leviano e relativismo: “Se você
se arrepender eu o beijo”, mas o beija para ajudá-lo a se arrepender. O
Pai sabe que sem a graça ninguém consegue voltar para casa. Aquele filho
precisa ser restaurado.
- Certa vez li uma frase assustadora de um homem
que foi capelão numa penitenciária: “Bandido não tem medo de policia, nem
da apanhar, nem mesmo da morte. O que muda o coração de um bandido, é a
compreensão de que há perdão”.
- Esta é a pedagogia do perdão. O Dr Erni Walter
Seibert, Presidente da Sociedade Bíblica do Brasil afirmou numa palestra
da MPC em Manaus: “Como criança não tinha medo de vara, mas o que me
quebrava mesmo era o colo da mãe”.
- A graça transforma – Tt 2.14
- Precisamos nos arrepender – Não apenas
arrependimento pelos pecados, mas também de nossa justiça própria.
- Arrependimento é a percepção de nossa miséria e
distância de Deus. O texto demonstra que o filho perdulário e leviano, se
arrependeu. Mas será que o filho religioso se arrependeu? Não podemos
concluir isto a partir deste texto.
- Muitas vezes é mais fácil nos arrependermos de
pecados grosseiros, que do pecado da justiça própria, quando nos achamos
justos diante de Deus. Afinal, “Os sãos
não precisam de médicos, e sim os pecadores” . Como tratar de alguém que
julga não estar doente?
- Precisamos ser completamente derretidos por aquilo que custou te
trazer de volta para casa - Qual o preço de
trazer o irmão mais velho para casa?
- O que custou ao Pai? O pai aqui é o mediador
entre os dois irmãos. Ele é que sai em busca dos dois. Ele ama os dois: O
leviano e o religioso.
- O Beijo do pai, quebranta o filho leviano. Será
que o afeto do Pai atingiu o endurecido coração do filho religioso?
Precisamos nos arrepender da nossa justiça.
- Aceite o que o Pai afirma sobre você:
- Você é filho dele - “Meu filho”.
- Tudo o que é dele, é seu. “Tudo que é meu é teu” Portanto, desfrute das riquezas de Deus.
Não apenas no futuro, na vida eterna, mas agora. Receba sua aceitação, perdão,
ore pelo seu coração, para ser mais inclinado ao pai e não distante do
Pai. Olhe com perdão o seu irmão transgressor. Todas as riquezas que Cristo
conquistou na cruz lhe pertencem.
Conclusão:
O texto mostra que o Evangelho
não é um ponto entre o moralismo e relativismo, mas algo completamente
diferente. Ambos estão perdidos, mas existe apenas uma forma de voltar para
casa: Por meio do Pai.
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