domingo, 25 de agosto de 2019

Lc 15.11-32 O Pai Generoso



                Resultado de imagem para imagens o filho prodigo                                                


Introdução:

Como vimos antecipadamente, a centralidade da parábola não está no filho que sai, nem no filho que fica, mas no amor do Pai. Os dois filhos não são o centro da parábola, mas o pai, como como aquele que lida com as tensões da casa: Com o filho que sai, com sua atitude egoísta e relativista; e com o filho que fica, que nunca saiu, mas nunca esteve por inteiro.

Esta parábola nos ensina sobre ser pai. Como o Pai lida com cada um deles?
Esta parábola nos fala sobre Deus, como ele nos trata.

Como o pai trata o filho que sai?

  1. Sabe deixar sair - Há pais que não deixam sair, e isto impede que os filos amadureçam. Precisamos deixar os filhos crescerem e muitas vezes para que isto aconteça, eles precisam sair.

Este é um tempo difícil e dolorido, principalmente para a mãe que possui uma relação uterina com seus filhos.

Existem muitos filhos que não querem sair, porque quebrar o cordão umbilical implica em dores, exige maturidade. Existem muitos pais que não querem deixar sair: Isto implica em impedir que os filhos se tornem maduros.

Existem filhos que saem, sem sair. Mantém sempre uma relação de recaídas, mesmo depois de casados, ficam numa relação simbiótica, que é reforçada ora pelos pais, que não querem que eles voem, nem por eles mesmos, que se sentem ameaçados e com dificuldades de voar.

Deixar sair, não é um processo fácil. Envolve sofrimento e dor, mas ajuda no crescimento e desenvolvimento. Recentemente vi uma filmagem no Discovery Channel sobre a criação de uma águia. Durante 1 ano eles alimentam o filhote, que passa a ficar cada vez mais impaciente e com o ninho cada vez menor, na medida em que cresce. Então, um dia, quando o filhote já pode voar e não o faz, a águia simplesmente deixa seu filhote no ninho e não volta mais. Então, o filhote percebe que esta é a hora de voar, e ele, de forma indeciso, inicialmente, finalmente assume coragem e risco e salta do ninho, dando seu primeiro voo solo.


  1. Deixa a porta aberta para o filho voltar – Deixa o filho sair, mas não fecha as portas para ele voltar.

O Pai não é ranzinza nem mau humorado. A casa continua sendo sua casa, mas ele deixa claro que tem saúde emocional suficiente para perdoar, restaurar e acolher. Quando o filho tem dificuldades, sua casa está aberta para curar, abraçar e beijar.

Alguns anos atrás, ainda pastor no Rio de Janeiro, recebi uma inesperada ligação da policia de madrugada. O Rio de Janeiro faz muito calor, mas naquele dia, estava frio. O policial me disse que havia alguém na delegacia da Urca, que precisava de minha ajuda. Depois de saber quem era, me lembrei vagamente daquela moça que esporadicamente frequentava nossa igreja. Atendendo ao pedido policial, fui àquela delegacia, e encontrei aquela moça, com seus 19 anos de idade, encolhida num banco frio de cimento, numa posição quase fetal, meio dormindo meio acordada. E ela comecei a conversar com ela.

Ela vinha de uma igreja evangélica, e era fumante de maconha e estava absolutamente dependente. Em geral as pessoas afirmam que não são viciadas, mas se você está passando por uma situação na qual você não consegue viver sem beber ou fumar um baseado, esteja certo de que você já é um dependente. Na tentativa de conseguir algum cigarro de maconha, ela foi até uma boca de fumo, tentando conseguir um trago, e ali foi envolvida numa situação com os traficantes e o resultado foi que ela acabou sendo abusada sexualmente e foi neste estado de vergonha e humilhação que a policia a encontrou e a trouxe.

Levei aquela moça para sua casa, ela neste tempo estava morando com um rapaz que em troca de sexo fornecia o dinheiro para ela fumar, e ele agora não a queria mais recebe-la em casa. Disse-lhe então, que a única possibilidade dela seria voltar para casa, no interior do Paraná, e ela então me revelou que quando saiu de casa, tivera um briga muito feia com seu pai, e ele lhe disse que se ela saísse nunca mais deveria voltar. E agora, na sua angústia, precisava voltar, mas as portas estavam fechadas para ela. Eventualmente ligamos para seu pai, que decidiu aceitá-la novamente, e ela retornou para sua cidade natal.

Este é o cenário comum de tantas casas, nas quais os filhos desorientados, machucam, ferem seus pais, e perdem para sempre a possibilidade de voltar.

O pai deixa sair.
O pai deixa voltar.
Existem lares que não querem deixar sair – e impedem o crescimento, ainda que doloroso.
Existem lares que não querem deixar voltar – e impedem o processo da cura e da reconciliação.

  1. Tem capacidade para restaurar o filho –Pais são facilitadores da restauração e da redenção dos filhos.

O Pai se revela mediador, ele é agente de Deus para curar e salvar aquele garoto tão ingênuo e tolo, de dar uma segunda oportunidade.

O que o pai faz:
  1. Ele lhe veste com a melhor roupa – Isto significa tirar a vergonha do filho. A Bíblia muitas vezes afirma que Deus nos dá, por meio de Jesus, uma nova roupagem.

Isto pode ser visto na parábola das bodas, quando o honrado senhor convida as pessoas para virem para a sua festa, e coloca roupas novas naqueles que são seus convidados. É o amor do pai que nos restaura.

Em Apocalipse lemos: “Alegremo-nos e exultemos e demos-lhe a glória, porque são chegadas as bodas do Cordeiro, cuja esposa a si mesma se ataviou, pois lhe foi dado vestir-se de linho finíssimos resplandecente e puro. Porque o linho finíssimos são os atos de justiça dos santos” (Ap 19.7-8).

Esta é a figura do amoroso Deus, que dá nova roupagem para aqueles que são redimidos pelo sangue do Cordeiro.
  1. Ele lhe coloca anel no dedo – Este é o símbolo da autoridade familiar.
Cada família tinha um anel de identidade familiar. Quando o filho saiu, ele rompeu com sua família, ele desprezou os vínculos familiares, mas agora seu pai lhe coloca de novo um anel. Há muitos filhos aqui que precisam novamente, colocar anéis da família em seus dedos. Precisam voltar à identidade familiar.

  1. Ele lhe coloca sandália nos pés. A verdade é que escravos não usavam sandálias.

Seu pai muda sua condição e seu status, que nem o próprio filho cria que teria mais. Ao retornar para casa, ele sabia que havia quebrado todas as convenções sociais, e desrespeitado todos valores, por isto afirma: “Pai, pequei contra os céus e diante de ti, já não sou digno de ser chamado teu filho, trata-me como um dos teus trabalhadores” (Lc 15.18-19).

Ele havia perdido seus direitos, por todos os erros cometidos.
Muitos filhos vivem assim, e perdem todo respeito e dignidade. O Pai restaura sua vida.

  1. O pai faz uma festa para recebê-lo -  Isto é deixar a porta aberta!

Às vezes a restauração é aparentemente feita, mas a volta do filho se torna um peso.
Existe um fenômeno que precisa ser estudado em relação à recuperação de drogados. Muitos jovens saem para clinicas ou casas de recuperação para se livrar da sua dependência de drogas ou álcool, e ali, depois de seis meses ou mais, encontram-se completamente limpo, eles não precisam mais da droga para viver, seu organismo foi descontaminado. Entretanto, o que acontece quando voltam para casa? Mesmo sem que seus organismos precisem da droga, eles voltam à droga.

O que está acontecendo? O problema não é apenas droga, mas o sistema em torno do qual a droga se retroalimenta. O ambiente precisa ser também descontaminado, porque ele está tóxico.

O pai da parábola faz uma festa. Convida amigos para festa,  celebra a volta do filho. Seu retorno, apesar das circunstâncias tão pesadas, não é um peso, portanto, há espaço para dança. Quantos lares carecem de dança e alegria...

  1. O pai, ajuda o filho rebelde a ser gracioso para consigo mesmo – O Filho que volta precisa experimentar novamente a dimensão da vida perdoada.

Muitas pessoas jamais recuperam a graça da vida, depois de rupturas, porque não conseguem se perdoar, sentem-se envergonhadas de tudo que fizeram de errado.

Certa vez convidei uma pessoa a assumir uma posição de liderança numa igreja que pastoreei, e ele se mostrava relutante. Eu o havia levado a Cristo, ele se convertei através de meu ministério, eu via seu crescimento espiritual, ele se tornara um dos homens mais ativos e generosos no serviço e na obra da igreja, mas não queria assumir sua liderança oficialmente. Um dia ele me disse porque. Ele afirmou que muitos naquela igreja conheciam sua vida pregressa e sabiam tudo o que ele fez de errado, então, pensava ele, ele nunca poderia ser um líder por causa de sua vida pecaminosa do passado. E então, ele sinceramente olhou para mim e me disse: “O Senhor me entende pastor?”

Eu olhei para ele, e da forma mais sincera, direta e amorosa que eu poderia falar respondi que não o entendia. Ele ficou assustado com minha resposta. E eu expliquei:
O que você está dizendo tem alguns problemas:
ü  Primeiro, o que você está dizendo é anti-evangélico – O que Cristo fez por nós? Ele nos perdoou completamente. Através de seu sangue fomos declarados justos pelo pai eterno. Nós fomos absolvidos. Sua declaração me dá a impressão de que você ainda está debaixo da condenação e culpa do diabo. Você não está entendendo o evangelho.
ü  Segundo, as pessoas tem duas opções ao te olhar com líder da igreja. Ou elas, legalisticamente afirmam que você não pode ser um líder por causa de sua vida pecaminosa, e não entenderam a essência do evangelho; ou podem dizer: A vida daquele homem era tão complicada, e é um milagre que ele possa agora estar vivendo desta forma, portanto, se Deus fez isto com ele, pode fazer também comigo. E isto serviria como testemunho ao evangelho.

Foi exatamente o que o pai da parábola fez. Ele ajudou o filho a entender a graça do pai celestial. Ele realmente não tinha nada a oferecer ao pai, mas o pai o ajuda a olhar para si mesmo como pessoa perdoada e aceita.

Como você se vê em relação a Deus?

Como o pai trata o filho que fica?

Na parábola, o pai tem dois filhos perdidos:
Um é auto centrado, narcisista, imediatista, que acha que o correto é fazer o que lhe dá na cabeça, sem dar satisfação a ninguém,
O outro filho, é um legalista religioso, faz tudo certinho, mas é frio, amargurado, duro, e desamoroso.

O pai tem que lidar com os dois filhos. Porque há duas formas de estar perdido, e só existe uma forma de ser perdoado: você pode estar perdido por achar que não tem responsabilidade com ninguém, ou por achar que é tão  bom que não precisa do pai, mantendo seu coração frio e distante, tanto do pai, como de seu irmão, como o segundo filho faz.

II. Sua relação que com o filho que fica
  1. O Pai administra as tensões do filho que fica.

O filho não era rebelde, mas era complicado, reprimido, amargurado, duro e descaridoso. Ele está perto do pai, mas não conhece o coração do Pai. Infelizmente algumas das pessoas mais frias e mau humoradas que já vi na vida são religiosos zelosos e ciosos de sua responsabilidade.

Eu fujo de pessoas assim, como disse Tereza D’Ávila: “Deus me livre dos santos de cara amarrada”.

  1. O pai procura levar o filho à dimensão do afeto.

O Pai procura mostrar o outro lado do relacionamento que aquele rapaz certinho não conhecia. A dimensão do acolhimento, da aceitação, do abraço que restaura.

O pai procura demonstrar que é possível restaurar alguém que já fez tudo errado na vida e precisa de reconciliação. O pai tenta lhe mostrar como Deus nos trata. Ele trabalha da dimensão do afeto com aquele filho tão cheio de direitos e tão vazio de alegria.

A verdade é que não há maturidade espiritual sem maturidade emocional. Quando os “entranhados afetos de Cristo” (Fp 2.1) se mesclam com nossa história, só assim estamos descobrindo a verdadeira essência e significado do que significa ser cristão. Por isto devemos, como filhos de Deus, nos revestirmos dos “ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão e de longanimidade” (Col 3.12).

  1. O pai ensina a virtude do perdão.

O pai procura demonstrar o quanto o perdão pode ser transformador. Como disse no sermão anterior, sua disposição é tão impressionante em perdoar, que ele não espera o filho pedir perdão para perdoar e beijá-lo, mas o beija para ajudar a perdoar.

Existe um texto que tem desafiado minha compreensão do poder da restauração. “Ou ignorais que a bondade de Deus é quem te conduz ao arrependimento” (Rm 2.5). Somos transformado pela bondade de Deus, pela sua aceitação. Certa vez ouvi uma palestra na qual o homem dizia que quando era criança, arteira, ele não tinha medo de quando sua mãe lhe batia, mas sentia muita vergonha quando sua mãe o colocava no colo para conversar sobre algo que ele precisava mudar.

O que nos muda não é a pancada, mas a aceitação.
O que nos transforma, não é a disciplina, mas o amor que deve estar presente até mesmo na disciplina. Sem ela, a disciplina falha. “O que semear a perversidade segará males; e a vara da sua indignação falhará.” (Pv 22.8). 

  1. O pai ensina a importância de ser gracioso.

O Evangelho nos ensina que Deus não nos trata mediante a nossa justiça, mas através da sua graça. Este foi o grito desesperado do salmista: “Se observares, Senhor, iniquidades, quem Senhor, subsistirá? Contigo, porém, está o perdão, para que te temam” (Sl 130.3,4).

O pai promove um ambiente de paz e alegria em sua casa. Esta é  função de um pai e de uma mãe. Ele busca a conciliação entre os filhos. Eles precisam aprender, vendo o exemplo em seus pais.
           
Conclusão:
Nouwen no livro, “a volta do filho pródigo”, afirma que esta parábola fala de uma jornada espiritual, que esta relação é um espelho para nossas almas, e que devemos sair da posição de filho e caminhar em direção à paternidade, já que o pai é o centro do acontecimento.

“O chamado é para que eu mesmo me torne o Pai. Por muito tempo vivi com a convicção de que voltar à casa do meu Pai seria o chamado final...Há um outro chamado. É o apelo para que me torne o pai que acolhe e deseja festejar. Tendo recuperado a minha filiação, tenho agora de reivindicar a paternidade (pg 129).

Minha vocação final é realmente me tornar como o Pai e exercer no meu dia-a-dia sua divina compaixão...(pg 132).

“Você quer ser como o pai?”... Será que desejo ser não somente aquele que está sendo perdoado, mas também aquele que perdoa; não somente aquele que é bem-vindo, mas aquele que acolhe; não unicamente aquele que é tratado com compaixão, mas aquele que tem compaixão? (pg 133).

“Chegou a hora de ultrapassar todas as barreiras e confessar a verdade que tudo o que desejo é me transformar no velho à minha frente. Não posso permanecer criança para sempre, não posso continuar usando meu pai como uma desculpa para a minha vida” (pg 135).
“O... caminho para se tornar como o Pai é o da generosidade. O Pai não somente dá a seu filho tudo o que pede, mas também o cumula de presentes na sal volta. Todas as vezes que dou um passo em direção à generosidade, sei que estou me movendo do medo para o amor” (Pg 144).

Questões:
Em que sentido sou confrontado com estas verdades?
Será que poderíamos caminhar um pouco a mais para a paternidade?
Quem aceita o convite para se tornar como pai?

Nenhum comentário:

Postar um comentário