terça-feira, 8 de setembro de 2020

A formação de igrejas nos campos transculturais

Plantando Igrejas no Contexto Multicultural 




 

Introdução:

Voce pode ouvir esta palestra utilizando o link abaixo!


https://www.youtube.com/watch?v=cQq2GKJJiUI&t=33s 


 

Como professor de Plantação e Revitalização de igrejas, um dos aspectos mais inquietantes para mim tem sido entender a lógica de boa parte dos missionários. A maioria não vai para o campo desejoso de plantar igrejas, eles querem pregar o evangelho e dar testemunho de Cristo, o que já é muito importante, mas não há preocupação com o futuro do trabalho, já que, se não houver plantação de igrejas, isto significa que todo seu esforço missionário acabou nele mesmo.

 

Será que minha preocupação é legitima ou apenas reflete minha ênfase ministerial em plantação de igrejas? Será que todo projeto missionário teria que levar em conta o estabelecimento da igreja ou apenas o testemunho já seria suficiente? Minhas inquietações encontram base bíblica ou são deficientes?

 

Alguns anos atrás estava plantando igrejas nos Estados Unidos, e num congresso ouvimos o testemunho de uma missionária que estava no Taiwan. Ela trouxe consigo dois discípulos, um homem e uma mulher, sendo que o homem já estava se preparando para ser encaminhado ao ministério. Ela estava naquele país há 10 anos, e já tinha cinco convertidos, mas lembro que quando ouvi seu relatório fiquei me imaginando trabalhando num campo por 10 anos e tendo apenas 5 discípulos, mas depois refletindo melhor, compreendi que ela estava no caminho certo: Fazer discípulos locais, deixar liderança indígena estabelecida, e implantar a igreja. Este projeto, tem todos os componentes que julgo essencial para que seja definitivamente implantado naquela região.

 

Um olhar nas Escrituras

 

Quando estudamos a visão missionaria dos apóstolos no livro de Atos, não temos duvida alguma que o grande projeto deles era a implantação de uma igreja local com lideres daquela cidade sendo treinados e ordenados. Eram os presbíteros. Em todos os lugares onde os apóstolos foram, em qualquer uma de sus viagens missionárias, eles estavam atentos a esta estrutura básica:

 

§  Evangelizar

 

§  Formar discípulos

 

§  Estabelecer a Igreja

 

§  Treinar lideres locais

 

Depois, naturalmente, retornavam para as cidades para ver como as coisas estavam, supervisionar a obra, corrigir distorções teológicas e encorajar o coração dos irmãos.

 

Quando Paulo coloca Tito em Creta, sua ordem é clara: “Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses as coisas restantes e constituísses presbíteros” (Tt 1.4). O estabelecimento de uma igreja numa cultura diferente pode sofrer vários percalços, principalmente porque há aspectos culturais que não são facilmente perceptíveis na superfície e nos primeiros contatos, mas depois, como vimos anteriormente, podem brotar trazendo aspectos que geram sincretismo e confusão na interpretação e aplicação do evangelho.

 

A Igreja Primitiva tinha em mente o estabelecimento de novas igrejas no projeto missionário. A obra missionária consistia basicamente nisto.

 

Quando Jesus dá a Grande Comissão em Mt 28.18-20: Toda autoridade me foi dada nos céus e na terra, portanto, ide (indo), fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a guardar todas as coisas. E eis que estarei convosco até a consumação dos séculos”. Qual é a estrutura da obra missionária? Como Jesus a fundamenta?

 

A AUTORIDADE DE CRISTO

(Fundamento)

 

INDO

(processo)

 

FAZEI DISCIPULOS

(Método)

 

BATISMO

(selo)

 

ENSINANDO

(Educação continuada)

 

ESTAREI CONVOSCO

(promessa de sua presença).

 

Podemos fazer discípulos sem uma inserção comunitária? Parece-nos que não, porque o batismo implicava num compromisso comunitário, de ser de Cristo e fazer parte de um povo. Era necessário uma identidade comunitária. Da mesma forma, não é possível pensar numa comunidade ensinando continuamente, se não existe uma igreja, embora não institucional, mas orgânica, não há como cuidar, nutrir, apoiar. A igreja é fundamental neste processo.

 

Então, podemos afirmar que, no núcleo central da Grande Comissão, está implícita a ideia de uma igreja sendo estabelecida. Por isto, esta é a estratégia da Igreja Apostólica: Plantar Igrejas em todas as cidades.

 

Dificuldade na formação da igreja: A transição do anúncio kerigmático para a experiência comunitária.

 

Sabemos que entre este processo inicial de ser testemunha, para o projeto posterior da implantação da igreja há um salto gigantesco. Anunciar e proclamar Jesus como Salvador e Senhor já é uma grande tarefa, mas daí para as pessoas entenderem a necessidade de serem um corpo visível, tangível, local e histórico, há um grande desafio. Várias razões corroboram para isto:

 

A.   Uma latente suspeita missionária – Infelizmente, há na mente do missionário, uma questão: Será que podemos confiar na liderança local? Eles realmente entenderam o suficiente da mensagem para assumir o projeto?

 

Isto se torna ainda mais complexo quando o missionário vem de uma cultura que se julga superior àquela que ouve a mensagem. Estas suspeitas são claramente perceptíveis na história das missões. Os missionários levam dinheiro, tecnologia, recursos, e com todo este aparato, podem subliminarmente pensar que estão lidando com uma cultura inferior.

 

Então, os missionários se tornam inseguros em deixar o campo ser conduzido pelos membros que são novos na fé e encontram dificuldade em permitir que o campo tenha uma nova liderança, e confiar na graça de Deus que ama sua igreja e vai edificá-la.

 

B.    Falta de intencionalidade dos missionários em buscar a organização das igrejas locais com lideranças locais.

 

Eventualmente missionários falham, porque não entendem que este é o projeto. Eles não estão plantando igrejas para si mesmos, nem para suas denominações de origem. Perder o controle é desafiador. É como deixar o filho sair de casa para estudar, trabalhar ou casar: ficamos sempre nos indagando se eles realmente terão condições de levar a vida sem nossa controle. Não entendemos que eles realmente cresceram.

 

C.    A dependência que os campos criam dos missionários.

 

Quando chega a hora do missionário partir, e deixar os trabalhos por conta dos lideres locais, surge muita insegurança. Será que vão conseguir manter a igreja teológica e administrativamente firme? Terão os recursos necessários para sua manutenção? Eventualmente igrejas fruto do trabalho missionário transcultural podem se tornar viciosamente dependentes dos recursos da missão.

 

Isto aconteceu nos campos da Missão Presbiteriana Oeste (USA) na região do Centro Oeste do Brasil. As igrejas, que recebiam todo dinheiro para construção e manutenção dos obreiros na região, com a saída dos missionários, não aprenderam a contribuir fielmente, e muitas tiveram muitas lutas para sua manutenção. Eventualmente até venderam propriedades deixadas pela missão para honrar seus desafios financeiros.

 

Houve erro dos missionários? Eventualmente sim. Mas o problema é que, quando o dinheiro chega fácil, ninguém se preocupa com sua manutenção. Por esta razão é sempre difícil transformar um projeto social em um projeto de plantação de igrejas, porque as pessoas que estão ligadas ao projeto social, na maioria possui uma dependência dos recursos externos. Estão ali para receber, e não para doar. Existem uma mentalidade de dependência.

 

Quando os missionários presbiterianos chegaram eles tinham quatro pilares para o estabelecimento de um trabalho:

a.     Um templo

b.     Um casa pastoral

c.     Um evangelista em cada campo

d.     Uma escola anexa ao templo.

 

Certamente fomos muito abençoados pela visão, sensibilidade e generosidade destes irmãos, a crítica não tem a ver com o que fizeram, mas apenas para demonstrar quão complexo é esta dependência.

 

Considerações:

 

Tentando alinhar alguns princípios relacionados à plantação de igrejas na missão transcultural é importante ter em mente esta linha de ação.

 

Primeiro, todo projeto missionário deveria ter como alvo a plantação de igrejas.

 

Isto implica em três alvos:

§  Estabelecimento de uma comunidade autóctone, local

§  Formação de liderança local

§  Afastamento gradual e intencional do missionário no campo.

 

Segundo, só podemos afirmar que um projeto transcultural foi estabelecido, quando uma igreja for estabelecida, com liderança local.

 

Se isto não acontecer, quando o missionário sair do campo, a obra acaba. O projeto inicia e termina nele.

 

Problemas:

ü  Muitos missionários não tem foco em plantação de igrejas e nem em treinamento de lideres locais para este objetivo.

 

ü  Muitos missionários não gostam de igrejas locais. Eventualmente são até críticos das igrejas que os sustentam.

 

ü  Muitos missionários vão para o campo, sem terem dons pastorais. Alguns até afirmam orgulhosamente: “sou missionário mas não sou pastor”. Costumo afirmar que “você pode não ser missionário e ser pastor (não deveria, mas infelizmente acontece), mas é impossível ser missionário sem coração profundamente pastoral”.

 

ü  Muitos missionários, embora estejam ligados financeiramente com suas igrejas, não estão ligados emocionalmente e com elas. Conheço missionários que, com o passar do tempo, foram excluídos do rol de membros. Eram missionários sem serem membros de uma igreja local. Não me causaria espanto se soubesse que muitos encontram-se nesta situação.

 

Algum tempo atrás um missionário muito querido me pediu que escrevesse uma carta de apresentação dele como membro da igreja. Eu disse que não poderia fazer isto porque ele não era membro de nossa igreja. E ele afirmou que, ao sair para o campo, possuía uma relação muito positiva com a liderança local e com seu pastor, mas que a igreja havia passado por graves e sérios conflitos, e que ele não possuía qualquer relação atualmente, nem afetiva, nem financeira, nem institucional com sua igreja. Portanto, era um missionário que não era membro de uma igreja

 

Terceiro, não há missão no Novo Testamento, sem uma compreensão clara de plantação de igrejas

 

Para que isto aconteça, há três elementos indispensáveis:

 

a.     Na formação dos missionários precisamos de uma boa teologia bíblica para entender que o cerne da missão é plantação de igrejas. A visão teológica determina a prática missionária.

 

b.     Foco – O missionário, ao sair para o campo, deve compreender seu objetivo e alvo: Estabelecer uma igreja no campo para o qual ele se dirige.

 

c.     Intencionalidade – Nada é mais importante, na sua visão e da igreja que envia, e para o missionário que se dispõe a ir, que a compreensão de que o alvo será a plantação de igrejas

 

Alguns anos atrás, recebemos um relatório de um missionário, por quem tenho grande apreço, que estava se dirigindo para um campo e nem sequer mencionava a ideia de plantar igrejas. Li preocupado o seu projeto, nós somos parceiros dele na obra missionária, e expressei minha percepção à sua agência missionária. O Secretário Executivo me disse que ele já havia notado isto e que iria ajudá-lo a refazer seu projeto. O resultado não poderia ser melhor. Ele não apenas implantou a igreja naquele país, como já está surgindo uma segunda igreja pelo seu projeto missionário.

 

Quarto, Jesus está comprometido com sua igreja.

 

“Nada mais é mais importante na missão e evangelização que plantação de igrejas: Nem cruzadas, programas evangelísticos, ministérios para eclesiásticos ou mega-igrejas terão o mesmo impacto”(Tim Keller)

 

 Jesus profeticamente se comprometeu com sua igreja ao afirmar: “Eu edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”. (Mt 16.18). Desta sua afirmação três conceitos são fundamentais:

 

A.   A Igreja é de Cristo“Eu edificarei a minha igreja”. Muitas pessoas esquecem disto ou agem como se a igreja fosse deles. João Batista entendeu muito bem este princípio ao afirmar: “Quem tem a noiva é o noivo” (Jo 3.29).  Precisamos resgatar a compreensão de que a igreja é de Cristo e ele está empenhado na sua edificação.

 

B.    Quem edifica a igreja é Cristo – “Eu edificarei a minha igreja”. Muitas vezes pensamos que somos nós quem fazemos, mas a obra d\é de Cristo. “Eu plantei, Apolo regou, mas o crescimento veio de Deus” (1 Co 3.6). Igreja não é projeto humano.

 

C.    Apenas a igreja tem o poder de enfrentar as trevas – “As portas do inferno não prevalecerão contra ela”. Satanás não pode vencer a igreja porque quem a protege é Jesus.

 

D.   O projeto da igreja tem uma dimensão transcendental – “Para que, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja agora conhecida dos principados e potestades, nas regiões celestiais” (Ef 3.10). A igreja está no centro do propósito redentivo de Deus para a humanidade. Seu impacto não é apenas local, mas cósmico.

 

E.    Mais que “um projeto missionário local”,  precisamos ter projetos de plantação de igrejas transculturais ao redor do mundo. A essência da missão transcultural é o estabelecimento de novas igrejas que proclamem com fidelidade a salvação que está em Cristo Jesus.

 

Conclusão

 

A Igreja de Cristo é chamada para ser cooperadora na obra evangelística e missionária no mundo. É muito comum as pessoas afirmarem que “a missão da igreja é fazer missão”, e esta frase pode até ser considerada verdadeira, a não ser por duas razoes:

 

A obra missionária não é o objetivo final da igreja. Quando se usa o lema acima, parece que a obra missionaria é um fim em si mesma, mas isto não é toda verdade.

 

Então, qual é a missão da igreja? A missão da igreja é glorificar a Deus. Esta é sua razão de existir. Ao fazer missão ela dá glória a Deus. Negar sua missão é deixar de proclamar a glória de Deus. O Salmo 67 diz: “Seja Deus gracioso para conosco e nos abençoe. Para que se conheça na terra o nome do Senhor”. O objetivo é fazer missão, para glorificar a Deus. Missão não é o fim, mas o meio.

 

Quando plantamos igreja, embora entendamos que igrejas locais não abarcam toda a dimensão da glória de Deus, ainda assim, igrejas bíblicas evidenciam a glória de Deus na terra. Por isto plantamos igrejas, e trabalhamos para que, em cada rincão mais distante do nosso planeta, igrejas sejam estabelecidas, e o nome de Deus seja glorificado.

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

O Desafio da Urbanização e as Missões Transculturais

 

 

 

 

Para ouvir esta palestra, este é o link: 

 

https://www.youtube.com/watch?v=YisfQUiTav0&t=16s 



Introdução:

 

Quando falamos em Missão transcultural, parece meio anacrônico juntar este tempo ao tempo das Missões urbanas, entretanto, cidades tem se tornado cada vez mais cosmopolitas e eventualmente se tornam um enorme campo missionário para alcançar pessoas do mundo inteiro. Já imaginaram a logística que temos em enviar um missionário a um campo missionário? O custo que envolve, o preparo, o deslocamento? E se Deus nos desse a graça de alcançar aqueles, que por alguma razão, seja por trabalho, estudo ou fugindo de uma situação econômica de líderes desastrosos, e posteriormente estes homens e mulheres, alcançados no contexto urbano, voltassem para sua terra para serem missionários entre o seu povo.

 

Existem dois casos no Novo Testamento, em que novos convertidos foram enviados para sua terra. O primeiro não estava num contexto urbano, o outro sim. São eles, o tesoureiro de Candace, a da rainha da Etiópia, em Atos 8, e o endemoninhado gadareno (Mc 5). Ambos eram estrangeiros ouvindo a palavra e retornando evangelizados para sua terra.

 

No caso do eunuco, que por sua posição de destaque era superintendente de todo o tesouro da rainha, uma espécie de ministro de estado, ele retornou para sua cidade natal, cheio de júbilo, testemunhando a obra de Deus em seu coração. Ele se tornou um dos primeiros missionários transculturais.

 

Na tradição da igreja, Santo Irineu, um dos pais apostólicos, em seu livro Adversus haereses ( Contra as Heresias, um trabalho teológico anti-gnóstico primitivo) sobre este eunuco etíope: "Este homem (Simeon Bachos, o eunuco) Também foi enviado para as regiões da Etiópia, para pregar o que ele próprio acreditava, que havia um Deus pregado pelos profetas, mas que o Filho deste (Deus) já havia feito (Sua) aparição em carne humana, e tinha sido levou como ovelha ao matadouro; e todas as outras declarações que os profetas fizeram a respeito dele." Portanto, tudo leva a crer que ele levou consigo a mensagem de salvação aos povo de sua terra. Sua conversão em Jerusalém tornou-se abrangente na missão, indo para povos distantes de Jerusalém.

 

Quanto ao endemoninhado gadareno, este sim, tornou-se o primeiro missionário transcultural da igreja. Este é o poder do evangelho: Tirar alguém das mãos do diabo e dar-lhe graça para pregar a salvação aos povos. Depois de ter sido liberto da legião que o atormentava, Jesus o enviou para o meio de seu povo e de sua cultura, e não deixou que ele o acompanhasse para Israel como inicialmente foi o seu desejo, mas lhe disse: “Vai para tua casa, para os teus. Anuncia-lhes o que o Senhor te fez e como teve compaixão de ti. Então, ele foi e começou a proclamar em Decápolis, tudo o que Jesus lhe fizera; e todos se admiravam”. (Mc 5.19,20). Este homem foi alcançado dentro de uma cidade: Da “urbis” para o mundo, extrapolando também as fronteiras de Israel. Ele pregou ao mundo, antes dos apóstolos saírem para pregar aos gentios.

 

Podemos afirmar que os campos missionários transculturais podem ser divididos em pelo menos quatro grandes categorias:

 

Primeiro, Línguas e povos distantes geograficamente – São aqueles povos que só poderão ser alcançados com esforço diligente, transposição geográfica, mudança de país. Dentre estes grandes desafios encontra-se a “Janela 10/40”, que já tem sido amplamente discutida em todos os debates sobre missões transculturais. Em todo o mundo há ainda mais de 2.000 povos sem o conhecimento do Evangelho, cerca de 3.000 línguas sem um verso bíblico em seu idioma e 2 bilhões de pessoas que não conhecem o Senhor Jesus.

 

Segundo, povos não alcançados que vivem em nosso próprio país. Num levantamento realizado em 2009, Ronaldo Lidório fez o seguinte comentário no artigo “O Cenário Indígena Brasileiro e a Atuação Missionária Evangélica”:

 

“Vivemos em um país onde há oficialmente 257 etnias indígenas perfazendo uma população aproximada de 700.000 pessoas. Segundo o pesquisador Paulo Bottrel apenas 4 etnias (Katuena, Mawayana, Wai-Wai e Xereu) possuem a Bíblia completa em seus idiomas, 34 dispõe do Novo Testamento e outras 59 contam com porções bíblicas. Apesar das 25 Agências Missionárias que bravamente atuam entre os índios em nosso país, ainda contamos com um vasto campo que necessita do evangelho: 103 grupos permanecem sem presença missionária e 180 não possuem uma igreja local entre eles.”

“...Nos anos 80 pesquisadores do Museu Goeldi encontraram os dois últimos falantes do Puruborá. Em 1995 foi identificado um grupo arredio como sendo falante do até então desconhecido Canoê e Pierre Grenand reconhece a existência de 52 grupos ainda sem contato com o mundo exterior cujas línguas não foram estudadas, praticamente todas minoritárias.”.

 

Portanto, há um forte apelo das minorias.

 
Ao falarmos de Missões Transculturais, não podemos deixar de olhar com profundidade os desafios e oportunidades que as grandes cidades trazem quando se fala de alcançar povos não alcançados. Este tem sido um fenômeno cada vez mais perceptível com a miscigenação das raças, e o fato de que as cidades tem se tornado cada vez mais cosmopolitas e transculturais. Ministérios com sensibilidade missionária, poderão aproveitar tais oportunidades para fazer com que as pessoas que estão em movimento migratório, possam ser alcançadas pelo evangelho.

 

Terceiro, os povos menos alcançados por causa de sua cultura específica. No artigo “Quem são os menos evangelizados no Brasil?”, o autor comenta que, No Brasil, há oito segmentos reconhecidamente menos evangelizados, sendo sete socioculturais e um socioeconômico.


1. Indígenas - Com 117 etnias sem presença missionária e sem o conhecimento do Evangelho. Estas etnias, com pouco ou nenhum conhecimento de Cristo, espalham-se por todo o Brasil com forte concentração no Norte e Nordeste.

 
2. Ribeirinhos - Na bacia amazônica há 37.000 comunidades ribeirinhas ao longo de centenas de rios e igarapés. As pesquisas mais recentes apontam a ausência de igrejas evangélicas em cerca de 10.000 dessas comunidades.


3. Ciganos (sobretudo da etnia Calon) - Há cerca de 700.000 Ciganos Calon no Brasil5 e apenas 1.000 se declaram crentes no Senhor Jesus. Os Ciganos espalham-se por todo o território nacional nas grandes e pequenas cidades, vivendo em comunidades nômades, seminômades ou sedentárias.


4. Sertanejos - Louvamos a Deus por tudo que tem ocorrido no Sertão nos últimos 10 anos – centenas de assentamentos sertanejos evangelizados e muitas igrejas plantadas. Há, porém, ainda 6.000 assentamentos sem a presença de uma igreja evangélica.


5. Quilombolas - Formados por comunidades de afrodescendentes que se alojaram em áreas mais ou menos remotas nos últimos 200 anos. Há possivelmente 5.000 comunidades quilombolas no Brasil, sendo 3.524 oficialmente reconhecidas. Estima-se que 2.000 ainda permaneçam sem a presença de uma igreja evangélica8. 

6. Imigrantes - Há mais de 100 países bem representados no Brasil por meio de imigrantes de longo prazo com uma população de quase 300.000 pessoas9. Dentre esses, 27 são países onde não há plena liberdade para o envio missionário ou pregação do Evangelho. Ou seja, dificilmente conseguiríamos enviar missionários para diversos países que estão bem representados entre nós, sobretudo em São Paulo, Brasília, Foz do Iguaçu e Rio de Janeiro.


7. Surdos, com limitações de comunicação  - Há mais de 9 milhões de pessoas nesta categoria em nosso país e menos de 1% se declara crente no Senhor Jesus. Há pouquíssimas ações missionárias especificamente direcionadas para os surdos em todo o território nacional.


8. Os mais ricos dos ricos e os mais pobres dos pobres - O oitavo segmento não é sociocultural como os demais, mas socioeconômico. Divide-se em dois extremos: os mais ricos dos ricos e os mais pobres dos pobres. As últimas pesquisas nacionais demonstram que a presença evangélica é expressiva nas escalas socioeconômicas que se encontram entre os dois pontos, porém sensivelmente menor nos extremos. Em alguns Estados brasileiros há três vezes menos evangélicos entre os mais ricos e os mais pobres do que nos demais segmentos socioeconômicos.

 

Quarto, os imigrantes – Apesar de já ter sido citado no tópico acima, gostaria de enfatizar o desafio missionário entre os estrangeiros que moram entre nós. Veja este artigo: “Migração no Brasil, quem vem para cá?”:

 

O relatório World Migration Report, publicado em 2018 pela Organização Internacional para as Migrações (OIM) revelou que, entre 2010 e 2015, a população de migrantes que vive no Brasil cresceu 20%[1]. São 713 mil estrangeiros residindo no país, dos quais 207 mil vêm de outros Estados sul-americanos – tendo a presença dos estrangeiros vindos desse subcontinente também aumentado 20%. (...) 70% dos movimentos migratórios na América do Sul são intrarregionais – ou seja, aquelas pessoas que saem de seus países geralmente deslocam-se para outras nações da região e não para a Europa ou Estados Unidos, por exemplo. Mas não são apenas os “hermanos” que são atraídos pelo Brasil e por outros países vizinhos. A OIM também mostrou que, desde 2010, o fluxo de europeus migrando para a América Latina e o Caribe é maior do que o inverso. Em 2015, cerca de 700 mil estrangeiros vindos da Europa moravam na América do Sul.”

 

Estatísticas não oficiais afirmam que só em São Paulo existam 400 mil bolivianos trabalhando em subempregos. O Brasil é o país que abriga a maior comunidade japonesa fora do Japão. Cerca de 1.6 milhão de pessoas, entre japoneses e descendentes.

 

Entre os árabes no Brasil, o Itamaraty afirma haver entre 7 e 10 milhões de descendentes de libaneses no Brasil, embora apenas 0,9% dos brasileiros brancos entrevistados disseram ter origem familiar no Oriente Médio, o que daria cerca de um milhão de pessoas. De acordo com o Censo 2010 do IBGE existem 35 mil muçulmanos no país, mas algumas entidades islâmicas afirmam que são 1,5 milhão. Somente no Paraná existe presença islâmica em 24 municípios. Foz do Iguaçu reúne a maior parte deles, sendo que muitos imigraram para o Paraguai, mas vivem do lado de cá da fronteira. Oficialmente, existem hoje 13 mesquitas e oito mussalas no país. As mussalas são como capelas, onde não existe um imã (líder espiritual) presente.

 

Isto tudo se constitui em um grande desafio missionário para as igrejas que estão presentes em grandes centros urbanos e tem a oportunidade de conviver com pessoas de religiões, nacionalidades e culturas diferentes e a quem o evangelho precisa ser ministrado.

 

Com o agravamento da crise econômica e social na Venezuela, o fluxo de cidadãos venezuelanos para o Brasil cresceu maciçamente nos últimos anos. Entre 2015 e maio de 2019, o Brasil registrou mais de 178 mil solicitações de refúgio e de residência temporária. A maioria dos migrantes entra no País pela fronteira norte do Brasil, no Estado de Roraima, e se concentra nos municípios de Pacaraima e Boa Vista, capital do Estado. Mais de 6,3 mil pessoas, das quais 2,5 mil são crianças e adolescentes, vivem nos locais e estima-se que quase 32 mil venezuelanos morem em Boa Vista. Projeções das autoridades locais e agências humanitárias apontam que 1,5 mil venezuelanos estão em situação de rua na capital, entre eles, quase 500 têm menos de 18 anos de idade.

 

Se a igreja tiver estratégia e intencionalidade, poderá alcançar este povo com a mensagem do evangelho, isto sinaliza para o fato de que a Missão Transcultural começa na minha rua. Nestes casos, não há necessidade de deslocamento geográfico para a obra missionária.

 

Todos estes quatro grupos descritos acima, nos apontam para o Desafio da Urbanização no mundo visto sob a ótica de Missões Transculturais.

 

O Desafio da Cidade

 

Gostaria de apresentar alguns desafios que julgamos importante para compreender a real dimensão da Missão Transcultural no contexto urbano.

 

§  A cidade e suas tribos: Toda cidade esconde e atrai as subculturas e os guetos. Eles possuem um jeito próprio de se vestir, comunicar e ver o mundo. Sua cosmovisão, definitivamente, é diferente da cultura central.

 

As Tribos Urbanas são também chamadas pelos de “subculturas”, e possuem hábitos, valores culturais, estilos musicais e ideologias políticas semelhantes. Esse fenômeno surge da necessidade dos jovens de se agruparem, pertencerem a um grupo e criarem uma identidade. Obviamente eles constroem uma sociedade distinta que se contrapõe à política e economia vigentes.

 

§  A cidade e sua linguagem: Tudo isto exige que se construa uma linguagem simbólica distinta, para que haja uma comunicação mais efetiva.

 

A linguagem vai desde as gírias, expressões grupais, musicalidade e roupas. A linguagem corporal também comunica muito neste contexto. Quem quiser fazer parte do grupo precisa aprender a forma de se comunicar, caso contrário não será aceito pelo grupo.

 

§  A cidade e os excluídos: Uma características dos centros urbanos é a capacidade de criar seus párias sociais e excluir aqueles que não se encaixam nos modelos e expectativas presentes.

 

Exclusão social gera exclusão ou afastamento de pessoas do sistema predominante, na maioria, mas não essencialmente, econômico. Tais pessoas não tem acesso a bens e serviços básicos e muitas vezes se encaixam na lista de “pessoas fantasmas” que sequer existem nos sistemas e organização pública. Os grupos excluídos têm mais dificuldade de acesso ao mercado de trabalho, e torna-se cada vez mais difícil sua ascensão social perpetuando um ciclo histórico e familiar de pobreza e fome.

 

As exclusões podem ser de diversos tipos: Exclusão de gênero, (pessoas que adotam estilo de vida socialmente reprovado, Exclusão Cultural, (pessoas que pertencem a minorias), Exclusão Étnica (rejeição de pessoas de determinados países), Exclusão Patológica: o indivíduo é excluído pela sociedade por ser portador de alguma doença e Exclusão Religiosa: grupos excluídos por não seguirem a religião oficial.

 

Dentre estes grupos surgem os pobres, prostitutas, pretos, drogados, formando todo um exercito de pessoas marginalizados dos bens e acessos à educação e condições de vida minimamente aceitáveis. Como se aproximar destes grupos? Como fazer a mensagem do evangelho aceitável e atrativa para grupos tão específicos? 

 

§  A cidade e as elites: Agora nos voltamos a um outro setor igualmente negligenciado pela mensagem do evangelho: os ricos.

 

Conforme analisamos acima, A presença evangélica é inexpressiva nas escalas socioeconômicas que se encontram os extrecmos. Há três vezes menos evangélicos entre os mais ricos do que em outras classes sociais. Como chegar ao coração deste grupo social? Como penetrar nas suas luxuosas casas e entrar em seus condomínios? Se podemos afirmar que e difícil comunicar de forma eficiente aos pobres, e aos ricos, que acham que não precisam de nada, nem mesmo de Deus, e que podem ter acesso a uma vida de glamour, viagens, restaurantes caros e carros confortáveis?

 

§  A cidade e os estudantes: Outro grande desafio missionário que temos nos centros urbanos é com aqueles que ingressaram nas universidades vindo de outras cidades, ou os que frequentam escolas públicas e privadas.

 

Poucos são os que sabem usar apropriadamente este porta de entrada para comunicar o evangelho aos jovens de forma eficiente. As universidades ainda se constituem num grande campo missionário. Estatísticas americanas apontam que quando os filhos saem para a universidade, 80% deles se evadem da igreja, 20% permanece firme e outros 20%, só mais tarde retornarão à igreja. Portanto, temos o desafio de não apenas alcançar os que ainda não conhecem o evangelho, mas proteger aqueles que vão para as universidades.

 

Todos estes grupos se constituem num enorme desafio missionário para a igreja no contexto urbano. Eventualmente podemos tratá-los como transculturais, porque exigem toda uma linguagem diferenciada e especifica para que a mensagem do evangelho chegue sem ruído aos seus corações, e para que, ouvindo a mensagem, creiam e sejam salvos.

 

Considerações

 

Pensando em fazer uma conexão entre o contexto urbano e as missões transculturais, quatro considerações se tornam importantes:

 

1.     Cada uma destas subculturas possuem linguagem especifica e devem ser tratados com muito cuidado, se desejamos alcançá-los com a mensagem de Cristo.

 

Se você deseja fazer ministério de misericórdia na cidade, precisa entender a cosmovisão que cada um dos mendigos ou grupos minoritários ou vulneráveis que você vai encontrar. Não transpor esta barreira da subcultura pode ser fatal na efetividade da mensagem.

 

2.     Para se envolver no ministério de cada um destes grupos específicos, é necessário um chamado específico.

 

Tanto os grupos privilegiados, como os grupos excluídos, precisam ser considerados na condição em que se encontram. Algumas pessoas são efetivas na comunicação com determinados segmentos, porque conhecem exatamente suas necessidades e sabem responder às suas perguntas com a poderosa mensagem do evangelho.

 

3.     Para cada um destes grupos é necessário que haja dons específicos.

 

Sabemos que quando Deus nos chama para determinada missão, ele nos capacita com os dons adequados. Outrossim, seriamos incapazes de comunicar eficazmente. Por meio do Espírito Santo, os dons são dispensados à igreja e por meio deles, Deus edifica a sua igreja.

 

Alguns anos atrás conheci um grande músico e compositor negro e evangélico da Bahia, que conseguiu se aproximar, com sua competência e talento, de um dos grupos mais ecléticos e segregados de Salvador: os rastafáris. Trata-se de uma contracultura dentro da cidade. Eles possuem seu estilo próprio de se vestir e falar, usam o mesmo estilo de roupa, e tem como característica o uso das tranças nos cabelos que sempre são longos. Assim que ele começou a fazer parte deste grupo, ele começou a compartilhar do amor de Cristo, e vários rastafáris se renderam a Cristo e o reconheceram como seu salvador pessoal. Qualquer pessoa de fora, não identificada com este grupo, jamais conseguiria compartilhar o evangelho.

 

Em Anápolis encontra-se a sede da Missão Vida. Um belíssimo trabalho fruto do sonho e da dedicação do Pr. Wildo dos Anjos. Ele cresceu na Igreja presbiteriana, mas na sua juventude, Deus lhe deu uma grande paixão pelos mendigos. Começou a se aproximar deles e hoje seu trabalho já alcançou milhares de pessoas no Brasil e existem 8 bases espalhadas no Brasil para acolher e recuperar pessoas em situação de abandono nas ruas. Quando os mendigos eram recuperados, ele percebeu que precisava criar uma igreja que os acolhesse, porque nenhuma comunidade tinha a linguagem daquele povo, e assim nasceu a denominação chamada “Igreja Vida”, que já tem também vários pastores, sendo o Pr. Wildo, o presidente da denominação.

 

Somente com dons específicos alguém pode realizar ministérios tão desafiadores.

 

4.     Nenhuma igreja poderá ser relevante para todos os grupos, portanto, é necessário investir a energia no grupo para o qual Deus designou a igreja para realizar.

 

Em Efésios 3.10 lemos: “Para que, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja agora conhecida dos principados e potestades, nas regiões celestes”. A igreja de Cristo tem uma multiforme sabedoria, e a palavra grega para multiforme é “policromia”, um termo também usado em português para dar ideia de “várias cores”. Dr. Russel Shedd, comentando este texto afirma: “Deus fez igrejas com características diferentes para confundir o inferno, quando satanás pensa que a igreja tem uma única estratégia, logo observa que outra comunidade usará uma metodologia diferente. É desta forma que a glória de Deus se torna conhecida entre principados e potestades.

 

A crítica que podemos enfrentar aqui tem sido feita a Rick Warren quanto ao “Princípio da Unidade Homogênea”, no qual ele afirma que grupos semelhantes tem mais efetividade para alcançar seus iguais e por isto, a igreja deveria se concentrar em tais grupos. Muita crítica tem sido feita ao princípio que ele desenvolveu, afirmando que como igreja de Cristo ela deve alcançar o homem todo, e todo homem, e não pode criar castas, nem ser seletiva.

 

Bem, não sei se Warren tinha realmente em mente a ideia de afastar aqueles que eram diferentes. Talvez sim, talvez não. Mas realmente, torna-se muito mais fácil concentrar esforços e energia para alcançar pessoas mais identificadas com o estilo de vida da igreja local. Obviamente não podemos transformar isto numa visão exclusivista, que seria o anti evangelho, mas em termos de estratégia, devemos considerar tal situação como uma possibilidade.

 

Desafios contemporâneos na MT no contexto Urbano

 

Tentando dar um desfecho a esta discussão, gostaria de dar algumas pistas que podem nos ajudar na ação transcultural dentro da cidade.

 

A.   Precisamos trabalhar com a visão de reino.

 

Precisamos resgatar a compreensão de que uma igreja local não abarca todo desafio da evangelização e missão. O reino de Deus é maior que a igreja local. Com a multiplicação das denominações e a competitividade acirrada entre elas, quase nunca celebramos o avanço do reino e eventualmente nos tornamos invejosos do sucesso do outro.

 

O que está impedindo a celebração? A dificuldade que temos tido de entender o reino de Deus. O reino de Deus transcende suas igreja local e transcende sua denominação. Nenhuma igreja possui monopólio do Espírito Santo e tem todos os dons e todas as competências. Com a visão de reino, podemos avançar muito mais.

 

B.    Precisamos estabelecer parcerias intencionais

 

Quanto a isto eu diria: Se cada igreja possui peculiaridades e estratégias diferentes, seria oportuno que elas aprendessem a cooperar umas com as outras. Mais uma vez, a dificuldade que encontramos está na disputa e competição. Mas como seria positivo, se não criássemos ministérios que competissem entre uma e outra igreja, mas que pudessem ser parceiras para que determinado objetivo voltado para o reino de Deus e para a glória de Cristo, pudesse ser alcançado.

 

Isto envolveria recursos humanos, conhecimento técnico e finanças. Igrejas ricas poderiam ajudar a construir determinados projetos e eventualmente ajudar mensalmente com uma determinada verba. Tais parcerias incrementariam as ações e glorificam a Deus.

 

C.    Precisamos entender o chamado que Deus nos dá

 

Muitas vezes perdemos muita energia querendo fazer o que não fomos chamados a fazer. Certa vez ouvi alguém dizendo: Quando eu sei que não sei, não sofro. Ninguém pode ser tudo para todos, embora o evangelho seja para todos. Então não podemos entender que Deus, na sua infinita misericórdia está fazendo isto com seu corpo, que é a sua igreja?

 

Quando Paulo e seus colegas missionários quiseram ir para a Ásia, o Espírito Santo não permitiu (At 16.6). Estaria o Espírito Santo conspirando contra o avanço da igreja? Ele que é o impulsionador das missões? Paulo e seus companheiros fizeram nova investida, desta vez querendo ir para Bitínia, e novamente o que lemos: “tentavam ir para Bitínia, mas o Espírito de Jesus não o permitiu” (At 16.7). Incertos, foram obrigados a ficar parados em Trôade, aguardando a direção dos céus, até que a visão vem dizendo: “Passa a macedônia e ajuda-nos”(At 16.9).

 

Por que Deus não permitiu que os discípulos fossem para a Ásia e os direcionou para a Europa? Deus tinha um chamado específico para seus filhos, e os orientou sobre o que deveriam fazer. Nem tudo que queremos fazer Deus está nos mandando fazer (e as vezes ele vai intervir diretamente), e Deus muitas vezes quer nos direcionar para outro lado que não estamos considerando, mas não conseguimos ver. Paulo não foi capaz de perceber para onde Deus os queria enviar, até que veio a visão.

 

Paulo estava insistindo com a pregação aos judeus, até que num determinado momento percebeu que Deus o estava direcionando para outro lugar. E o que ele fez? “Opondo-se eles e blasfemando, sacudiu Paulo as vestes e disse-lhes: Sobre a vossa cabeça, o vosso sangue! Eu dele estou limpo e, desde agora, vou para os gentios.” (At 18.6) Este desabafo de Paulo revela que ele agora entende que o que ele estava fazendo não era exatamente o que ele deveria fazer. Não é muito comum gastarmos energia indo para uma direção na qual Deus não queria que fôssemos?

 

D.   Precisamos de uma visão definida e clara da realidade urbana e como ela tem um poder de impactar o mundo, e não apenas sua cidade.

 

Quando consideramos a realidade sociológica, concernente a imigrantes, estudantes, empresários, povos de cultura distinta, estrangeiros e locais, subculturas, precisamos entender que todas estas subculturas podem impactar o mundo, se a mensagem do evangelho for aplicada a seus corações.

 

Quando Josué se estabeleceu em Siló (Js 18), eles precisram fazer um levantamento melhor para que a distribuição da terra fosse feita com critérios de justiça e equidade. O caminho que encontraram foi fazer um gráfico da terra. Apenas nos primeiros dez versículos, lemos cinco vezes: “Façam um gráfico da terra” (Js 18.4,,6,8 - 2x, e 9). O que eles queriam era ter uma fotografia geral da terra.

 

Mesmo depois de cerca de 3 mil anos, nós não conseguimos o básico. Seremos mais efetivos se tivermos uma compreensão do todo, e entendermos quais pontos devem ser considerados e apreciados, e como poderemos fazer para realizar o projeto.

 

Questões importantes devem ser levantadas:

§  Quais são os maiores desafios da cidade?

§  Em quais desafios que minha igreja pode cooperar?

§  O que é possível fazer? Há muitas demandas mas não podemos ir em todas as direções.

§  Onde podemos ser mais relevantes e efetivos?

§  Onde Deus realmente deseja que estejamos, gastando nossos recursos pessoais e financeiros?

 

E.    Fale sobre o assunto.

 

James Meeks, pastor da Bethel Church em Chicago afirma que não devemos dar avisos na igreja, mas “pregar os avisos”.

 

O ponto central de sua ideia é que as pessoas nunca se envolverão, a menos que sejam convencidas pela palavra de Deus, de que é realmente isto que devem fazer. Busque fundamentação teológica e bíblica para aquilo que está desafiando seu coração. Quando Deus dá oportunidade ao líder a visão uma determinada direção, tal visão não pode ser ignorada.

 

Compartilhe com a igreja. Converse com sua liderança. Não traga respostas, mas faça perguntas, para entender que o que você está trazendo de fato foi colocado por Deus no coração de seus irmãos que estão ligados ao seu ministério.

 

F.     Ore pela sua igreja e pela sua cidade, mas olhe o mundo.

 

Há um conhecido slogan que é utilizado constantemente em seminários e congressos que diz: “pense grande, comece pequeno!”. A verdade é que Deus não deseja impactar apenas sua cidade com os recursos que ela tem dado a igreja. Toda igreja genuinamente bíblica precisa ser parceira de Deus no mundo.

 

Quando você observa o desafio da sua cidade local, considere que Deus pode estar começando a colocar fogo no mundo. Sua igreja não existe para si mesma, nem para um foco intramuros, mas seu chamado foi de, na cidade, ter um olhar para o mundo.

 

A obra missionaria começou em Jerusalém. Os discípulos parecem ter perdido a visão inicialmente até que vem a perseguição e os dispersa e os leva compulsoriamente a sair da cidade. (At 8.1) Entretanto, a visão inicial não era de que ficassem em Jerusalém por muito tempo. Eles deveriam ser testemunhas em Jerusalém, Judeia, Samaria, e até os confins do mundo (At 1.8)

 

Da cidade de Jerusalém deveria sair a mensagem.

Em nossa igreja local, em nossa cidade, é que saem missionários e recursos para abençoar o mundo inteiro.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



 



[1] https://www.politize.com.br/migracao-no-brasil-quem-vem-para-ca/#:~:text=S%C3%A3o%20713%20mil%20estrangeiros%20residindo,desse%20subcontinente%20tamb%C3%A9m%20aumentado%2020%25.