domingo, 6 de setembro de 2020

Mentoria na revitalização de igrejas



 


Para ouvir esta palestra, este é o link: https://www.youtube.com/watch?v=_89YQPLI8CM&t=4s 

 

 

 

Introdução


Revitalizar igrejas é um processo árduo, longo e cansativo. Alguém disse que revitalizar igreja é como fazer um conserto no motor de um avião em pleno voo, enquanto ele está no ar. É uma tarefa complexa e arriscada. É necessário paciência, tenacidade, sabedoria e competência. Quem possui todas as habilidades para esta tarefa? Na verdade, ninguém.

 

Não existe alguém que esteja perfeitamente habilitado. Sempre existem deficiências a serem corrigidas, pontos a serem ajustados. Quando Paulo fala do ministério da Nova aliança ele faz uma intrigante pergunta:

 

Quem porém é suficiente para estas coisas?”

2 Co 3.5

 

Ter alguma assessoria pode ser extremamente positivo. Alguém para orientar, discutir, avaliar, apontar direções. Apesar de ser algo extremamente interessante, sabemos que esta tarefa não é muito fácil. O papel da mentoria em plantação e revitalização de igrejas tem sido cada vez mais considerado como uma necessidade real e urgente.

 

Creio que um dos grandes desafios atuais da igreja é termos saudáveis modelos pastorais e comunitários. Por modelo pastoral penso na figura de pastores que se tornam referências, apontam a direção que jovens pastores devem assumir, é um marco. Grandes pastores  formam outros grandes líderes ao seu redor e abençoam a igreja de Cristo por anos a fio.

 

Da mesma forma, modelos eclesiásticos, eles ajudam as pessoas a descobrirem como uma igreja pode ser eficiente na sua trajetória. Modelos e métodos podem ser mudados, mas princípios e valores são eternos, ajudam e orientam. Precisamos de aprender com igrejas saudáveis e assim termos uma geração de igrejas com tais características.

 

Entretanto, algumas perguntas precisam ser feitas:

 

§  Como encontrar pessoas competentes para mentoria? Líderes institucionais não necessariamente são lideres para este tipo de tarefa.

 

O presidente de um presbitério ou sínodo pode ser muito competente na sua função executiva, mas isto não significa que o seja quando o assunto é estratégia, metodologia e discussão em torno da plantação e crescimento de igreja.

 

§  Como superar a cultura de independência dos obreiros. Em geral, obreiros não gostam muito de supervisão.

 

Basta observar que a maioria dos plantadores de igrejas não possui mentoria, e nem sequer passam por um treinamento regular nas suas atividades. A seleção é importante, mas é necessário treinamento constante e supervisão para maior efetividade.

 

§  Como superar a falta de modelos eclesiásticos? Quando se trata de plantação de igrejas, observamos que poucos são aqueles que plantaram igrejas e são aptos para supervisionar.

 

De um lado, temos bons plantadores, mas sem qualificação para supervisão. De outro lado, há uma porção de teóricos acerca de plantação de igrejas, que possuem bom conteúdo teológico, mas que nunca se envolveram numa plantação de igrejas. Os congressos realizados no Brasil, mostram que muitos convidados, são pregadores aclamados, mas jamais estiveram envolvidos em plantação de igrejas e não conhecem os desafios diários que um plantador ou aquele que está envolvido na revitalização de igrejas tem passado.

 

Algumas denominações, pela sua própria estrutura, encontram mais facilidade na mentoria. Os modelos episcopais, como da igreja católica, metodistas e anglicanos, corroboram nesta direção. Modelos neo-pentecostais e independentes, são autônomos na sua natureza e dependem muito da capacidade do líder maior da denominação. Entretanto, não há uma cultura de mentoria, porque o “apóstolo”, não mentoria, ele determina como as coisas acontecerão e cobra os resultados. O modelo autocrático, que pode ser eficiente, é por sua natureza centralizador, mas nem sempre é capacitador. Líderes soberanos não querem capacitar e treinar outros, porque eles não pensam em substitutos, mas buscam pessoas que sejam obedientes e submissos à sua forma de conduzir a igreja.

 

I. Definição de Coaching e mentoria

 

Qual é a sua definição de coaching? Qual é a sua definição de mentoria?

 

èPausa para escrever sua definição de coaching...

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èPausa para escrever sua definição de Mentoria...

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Podemos afirmar que mentor é uma pessoa treinada e qualificada, com ferramentas adequadas para ajudar outros de forma eficiente tanto no campo pessoal quanto na qualificação profissional. Em se tratando de coaching, a ênfase está no processo de ajudar o outro, a descobrir o potencial que ele tem. Trazer a pessoa para um melhor nível.

 

Coaching é um relacionamento com propósito de focar e facilitar a mudança. ajudar a descobrir a agenda de sua vida ministério e cooperar para que esta agenda se torne uma realidade.

 

Coaching é uma pessoa treinada e qualificada para ajudar outros de forma eficiente tanto no campo pessoal quanto na sua qualificação profissional, ajudá-la a descobrir seu potencial. Trazer a pessoa para um melhor nível.

 

Aconselhamento, Coaching, Consultoria, Mentoria e Discipulado

 

É importante estabelecer algumas diferenças entre estas tarefas. Embora todas elas sejam parceiras, cada uma exerce uma função diferente.

 

ü  Aconselhamento:  Olha para o passado

 

ü  Coaching : Olha para o futuro. Ajuda nos passos, ouvindo e fazendo perguntas

 

ü  Consultoria: Conhecimento específico. Expertise. Tem uma agenda. Sabe o que fazer. Passos.

 

ü  Mentoria: Ensino específico para algum assunto. ensino, transferindo informação sobre assunto. relacionamento para a vida. específica habilidade para comunicar ao outro.

 

ü  Discipulado: Algo entre mentoria e formação

 

 

Buscando a Base Bíblica da Mentoria

 

Na verdade, a Bíblia toda nos ensina sobre liderança, mentoria e cuidado, mas o termo coaching não aparece nas Escrituras. Dai a razão pela qual, alguns sejam tão críticos desta palavra em teologia. Contudo, os melhores processos de sucessão de líderes que encontramos na Bíblia, refletem o cuidado de um líder em encontrar, apontar e treinar seu substituto. Algumas vezes, temos rupturas na transição, e quando isto acontece o resultado é sempre traumático. Vemos rupturas, por exemplo, entre Samuel e Saul; entre Saul e Davi, etc. E a experiência em todos estes casos, é conflituosa, marcada com lutas e conflitos.

 

Por outro lado, podemos encontrar bons modelos de lideranças bem sucedidos. Por causa da limitação de espaço vamos falar de apenas dois.

 

Moisés & Josué

 

Liderança se aprende por imitação e observação, vendo como outros fazem a tarefa. Não há liderança sem este cuidado. Um líder não brota do nada. Ele é antes de mais nada, um observador, um aprendiz. “O moço Josué não se apartava da tenda” (Ex 33.11b).

 

Josué nunca se afastava da companhia de Moisés. Ele estava sendo forjado ali na observação diária deste grande homem de Deus, servindo, vendo seu estilo de liderar, aprendendo a lidar com gente e dar ordens. A transição da liderança de Moisés para Josué foi natural e por isto eficiente e tranquila. Josué aprendeu como liderar, andando ao lado de Moisés e servindo. Em Êxodo ainda lemos que o moço Josué, seu servidor (Ex 33.11b). O que ele fazia na tenda? Servia. Imitando, observando e servindo seu caráter e suas qualificações foram se evidenciando.

 

A melhor forma de saber como uma pessoa será é observando como ela agiu em tarefas anteriores. Padrões e atitudes arraigadas são duras de serem mudadas. A liderança de Josué não surgiu no vácuo, assim como uma liderança não se faz no vácuo. Josué se tornou um grande líder, porque sua vida foi uma vida de determinação, entrega, serviço e doação e ele aprendeu isto andando ao lado de Moisés, prestando serviço abnegado, estando disponível para as tarefas propostas.

 

Barnabé & Paulo

Outro modelo claro de mentoria na Bíblia foi de Barnabé com Paulo.

 

Foi Barnabé quem introduziu Paulo na comunidade cristã, quando ele chegou a Jerusalém depois de sua conversão,  já que ninguém queria se juntar a ele (At 9.36). Era natural que assim acontecesse, afinal, Saulo foi um dos mais aguerridos perseguidores da igreja e ninguém sabia ao certo qual era a real intenção dele ao se aproximar da igreja. Sua motivação era correta? Ele era realmente um convertido, ou estava apenas se infiltrando na igreja?

 

Depois das controvérsias de Paulo com os judeus acerca de Cristo, ele teve que ser retirado da igreja e levado às pressas para Cesareia (At 9.31). Estudiosos afirmam que entre Atos 9 e 11, são decorridos de 9-14 anos. Não há noticias de que tenha feito algum ministério relevante ou fundado alguma igreja durante este período. Quando Barnabé chega a Antioquia (At 11), vendo a graça de Deus entre tantas pessoas se convertendo, ele sai à procura de Saulo.

 

Para onde ele vai? Para Tarso, porque sendo ali a cidade onde Saulo nasceu, certamente alguém saberia dar noticias dele. Barnabé era um caça talentos, e se lembrou da competência de Saulo, um nome ainda desconhecido na igreja e o trouxe para fazer parte da sua equipe. Durante um ano inteiro Barnabé e Saulo se reuniram com a igreja e ensinaram a muitos.

 

Depois de um ano de mentoria de Barnabé saíram para mudar a história da Igreja na primeira viagem missionária. Logo no início já percebemos que Barnabé já não era mais o líder, uma vez que o nome de Paulo surge no primeiro plano: “Paulo e seus companheiros navegaram para Perge, na Panfília.” (At 13.13). Daí em diante, o nome de Paulo passa sempre a figurar antes de Barnabé (At 13.42,43,46,50; 14.1,3). Barnabé mentoria Paulo no trabalho mas ao perceber sua competência, não se importa de deixar que ele assuma o comando enquanto ele se torna coadjuvante.  

 

Paulo & Timóteo

 

Paulo aprendeu o modelo, e logo o vemos como mentor de vários outros obreiros: Entre eles Tíquico, Tito e Timóteo.

 

Em 2 Tm 2.2 vemos a síntese do pensamento de Paulo sobre este assunto:

“E o que de minha parte ouviste através de muitas testemunhas, isso mesmo

 transmite a homens fiéis e também idôneos para instruir a outros.”

 

Temos aqui quatro grupos envolvidos:

 

PAULO

 

TIMÓTEO

 

HOMENS FIEIS E IDÔNEOS

 

OUTROS

 

O método consistia em evangelização e discipulado. O trabalho não terminava com a conversão, mas começava com a conversão. Consistia em seleção, treinamento, envio e supervisão.

 

Na década de 1970, Daniel Coleman[1] escreveu um best-seller sobre o método que Jesus aplicava aos seus discípulos. Ele é composto de sete etapas:

 

1.     Seleção: Homens eram o método de Jesus (Lc 6.13).

2.     Associação: Jesus ficava com seus discípulos. (Mt 28.20)

3.     Consagração: Exigia obediência Mt 11.29 Jesus não exigia que fossem espertos, mas leais. Eram "aprendizes".

4.     Transmissão: Ele deu de si mesmo. Deu a tarefa mas sabia que ela não poderia ser concretizada sem poder, (Jo 20.20).

5.     Demonstração: Jesus mostrou como se deve viver. Ensinou como viver diante de Deus (Jo 13.15).

6.     Delegação: Jesus distribuiu trabalho entre os discípulos:   “E eu vos farei pescadores de homens" (Mt 4.19)

7.     Supervisão: Jesus acompanhou os discípulos. Os discípulos davam relatórios (Lc 9.10).

8.     Reprodução: Jesus esperava que seus discípulos se multiplicassem. A Grande Comissão – Mt 28.18-20

 

 

 

Princípios básicos na mentoria

 

Gostaria de considerar pelo menos quatro princípios que devem nortear o processo de mentoria:

 

1. Lideres reproduzem líderes

 

A.   eu faço, você observa

B.    Eu faço, você faz comigo

C.    Você faz, eu faço contigo

D.   Você faz sozinho

E.    Você faz com outro.

 

2. Um líder que não faz sucessor, não é um sucesso

 

Verdadeiros líderes se fazem desnecessários. Grandes líderes medem sua grandeza pela sua ausência.  O maior ato de liderança é o que acontece com a sua ausência. Sucesso, sem sucessor, é fracasso!

 

3. Todos precisam de mentoria

 

É fundamental considerar que todos precisamos de supervisão. Creio que este é um dos maiores problemas quando pensamos em plantação e revitalização de igrejas. Na Igreja Presbiteriana dos Unidos (PCA), todo plantador de igreja deve se reunir periodicamente com o seu líder e outros colegas, para receber instrução, encorajamento, e avaliação e presar relatórios. Eles consideram tão importante este aspecto do ministério, que faz parte da mentalidade este tipo de encontro. Eles em geral alugam um hotel e pagam as passagens, do plantador de igrejas e de sua esposa, para terem este treinamento. Durante este tempo, rotas são alinhadas, encorajamento é feito, e testemunhos, tanto de fracassos como de sucesso são dados. Isto é supervisão.

 

Podemos afirmar que no processo de mentoria, existem quatro passos:

 

VISÃO

(A tarefa deve ser clara)

 

PROVISÃO

(Recursos humanos e materiais devem estar prontos)

 

SUPERVISÃO

(Monitorar e avaliar)

 

REVISÃO

(Tempo de revisar estratégias e corrigir rumos)

 

4. A importância da mentoria

 

Líderes servos seguem a Jesus e não a posições, renunciam seus direitos para encontrar grandeza servindo os outros. Devem adotar o estilo de liderança de Jesus, que lavou os pés de seus discípulos. Os líderes servos multiplicam sua liderança delegando responsabilidade. Como?

 

Ø  Motivação – um dos maiores problemas na revitalização de igrejas é a perda de paixão e alegria do obreiro. Motivação é chave para a realização do projeto.

 

Ø  Preparação – Motivação sem treinamento é como entusiasmo sem direção. É necessário providenciar ferramentas adequadas

 

Ø  Instrução – Muitos liderados não tem direção, estão sós na sua tarefa. Isto traz aborrecimentos e frustrações.

 

Ø  Mentoria – Um mentor é alguém que guia e dirige outros através de novos terrenos que já conhece e por este motivo encontra-se preparado para dirigir.

 

Ø  Cobertura espiritual - Orando por eles e com eles. Pedindo para que o poder de Deus seja derramado sobre suas vidas.

 

Líderes servos conseguem trabalhar em time. Já que não estão preocupados com posições e cargos. Equipes demandam diferentes habilidades e dons. O propósito da equipe

 

 

Quem é o seu mentor?

 

É Importante, desde o início, sermos mentoriados por alguém. A figura do tutor é importante, mas na maioria das vezes ela é meramente institucional. Talvez o melhor fosse a figura de alguém que pudesse dar tempo nesta área. Infelizmente no sistema presbiteriano, pelo menos, não ha pastores disponíveis para este tipo de atividade. Presbitérios ou sínodos poderiam votar verbas para que houvesse um mentor regional que pudesse acompanhar os trabalhos e dar ferramentas para maior efetividade na ação pastoral, tanto em plantação como revitalização de igrejas.

 

 

Quem você está mentoreando?

 

Outro aspecto importante no ministério de Paulo e de Cristo é que eles esperavam que seus seguidores pudessem reproduzir a si mesmos no ministério. Quando o processo flui naturalmente nesta direção, a tarefa torna-se mais produtiva, porque não apenas multiplica-se a efetividade, como também é possível passar o bastão às próximas gerações.

 

Passos na mentoria

 

A mentoria exige quatro passos:

 

A.   Identificar sucessores. Isto é seleção. Este processo pode ser mais importante que qualquer coisa. Trata-se de encontrar pessoas com competência. Homens certos no lugar certo, com habilidade de realizarem o projeto com eficiência.

 

B.    Dar fundamentos – Nesta fase a fundamentação teológica e pastoral deve ser transmitida. Num edifício, você pode mudar salas de lugar, reconfigurar o projeto, mas ninguém quer mexer nos alicerces, que muitas vezes estão concretados muitos metros abaixo do solo. Fundações são para sempre.

 

C.    Dar ferramentas – É preciso dar treino e materiais adequados. Boas ferramentas fazem toda diferença na obra. Ninguém capina tendo uma pá na mão, por outro lado não se faz reboco com enxada.  

 

D.   Multiplicação - Desenvolver novos líderes. No processo de mentoria, a ideia básica é não permitir que apenas um faça. Na obra de Cristo, está implícita a ideia de encorajar outros a continuarem a obra. Ninguém dura para sempre. Se quisermos dar continuidade ao projeto, Deus precisa suscitar novos obreiros. Se quisermos multiplicar, precisamos capacitar outros.

 

 



[1] Coleman, Daniel- O Plano Mestre de Evangelismo, Sao Paulo, Mundo Cristão, 1976

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