Introdução
Um dos maiores desafios para o cristianismo nestes tempos modernos é a transmissão da fé à próxima geração.
Estatisticamente 80% dos jovens abandonam a igreja quando entram nas universidades, 20% retornam depois, e apenas 40% mantem a fé recebida dos pais.
A pergunta intrigante é:
A fé cristã é relevante para nossos filhos?
Eles conseguirão firmes se manter diante dos desafios apologéticos que enfrentam?
Recentemente conversei com uma pessoa, em torno dos seus trinta anos, que estava chocada com o fato de que um de seus melhores amigos na época de mocidade, renunciou abertamente a fé, se tornou inimigo da igreja e da Bíblia e tem se tornado um paladino do ateísmo, ele afirma que há vários amigos dele, filhos de líderes, que ainda não tiveram coragem de dizer aos seus pais que não creem mais em Jesus, para não magoá-los. Um deles teria chegado a dizer que morre que nos almoços de domingo com a família, tem medo de que seu pai lhe peça para orar, porque ele não crê em mais nada e não sabe como se comportaria se isto acontecesse...
Assim que lemos as primeiras palavras sobre o rei Acaz na Bíblia, este é exatamente o cenário que encontramos: “Tinha Acaz vinte anos de idade quando começou a reinar e reinou dezesseis anos em Jerusalém; e não fez o que era reto perante o Senhor, como Davi, seu pai.” (2 Cr 28.1). Portanto, parece que este problema não é novo.
A fé de seus pais não fazia nenhum sentido, e desta forma ele começou a desenvolver novas formas de interpretar a vida, uma nova cosmovisão.
Ele abandonou a fé de seus pais.
Nos assusta sua atitude, principalmente quando olhamos sua biografia.
Ele era neto de Uzias, um dos reis mais piedosos de todos os tempos em Jerusalém.
A Bíblia assim relata sua relação com Deus:
“Ele fez o que era reto perante o Senhor, segundo tudo o que fizera Amazias, seu pai. Propôs-se buscar a Deus nos dias de Zacarias, que era sábio nas visões de Deus; nos dias em que buscou ao Senhor, Deus o fez prosperar.” (2 Cr 26.4,5). Não somente o avô era consagrado a Deus, mas seu bisavô, Amazias, também o era. Portanto, ele vinha de uma ancestralidade de pessoas tementes a Deus, e que lutavam para colocar Deus no centro da vida de Israel.
Mas a fé de seus pais, não fazia qualquer sentido para a vida de Acaz.
Outro detalhe curioso e assustador. Depois da morte do seu avô, seu pai Jotão assumiu o trono e só ficou quatro anos no reinado, e morreu. Portanto, entre o reinado piedoso de seu avô Uzias, e o início do seu reinado, são apenas quatro anos. Neste curto período de tempo, ele desprezou todo esforço de seu avô em fazer com que Israel fosse um povo voltado para Deus.
Ele desenvolveu uma nova forma de espiritualidade.
“Andou nos caminhos dos reis de Israel e até fez imagens fundidas a baalins. Também queimou incenso no vale do filho de Hinom e queimou a seus próprios filhos, segundo as abominações dos gentios que o Senhor lançara de diante dos filhos de Israel. Também sacrificou e queimou incenso nos altos e nos outeiros, como também debaixo de toda árvore frondosa.” ( 2 Cr 28.2-4).
Preste atenção:
Ele deixou a espiritualidade de seus pais, e decidiu buscar outras fontes para sua fé. Ele não deixou de ter fé, mas agora sua fé havia se deslocado, indo em outra direção. Ele se envolveu numa devastadora e bizarra forma de espiritualidade. Ele fez templo para Moloque, que exigia sacrifícios vivos de crianças que eram queimadas no altar, e ainda diluiu a fé em Yahweh, fazendo com que em toda árvore frondosa, fizessem um altar aos deuses que ele invocava.
O texto paralelo de 2 Rs 16 descrito no livro dos reis de Israel conta que ele vai a Damasco para se encontrar o rei da Assíria (que havia invadido a Siria), e ali ele fica impressionado com os altares que vê, e dá ordens ao sacerdote de Jerusalém, para que fizessem um altar semelhante. Sua lógica de fé era pragmática: “Pois ofereceu sacrifícios aos deuses de Damasco, que o feriram, e disse: Visto que os deuses dos reis da Síria os ajudam, eu lhes oferecerei sacrifícios para que me ajudem a mim.” (2 Cr 28.23).
Em outras palavras, a fé histórica, herdada de seus pais, não era bastante, por isto mandou reproduzir os altares de Damasco (2 Rs 16.10-11), retirando do centro o antigo o altar de bronze, que Salomão havia mandado edificar: “Salomão também mandou fazer um altar de bronze de nove metros de comprimento, nove metros de largura e quatro metros e meio de altura.” (2 Cr 4.4), colocando em seu lugar altares para outros deuses. (2 Rs 16.14). O antigo altar do holocausto havia sido construído por Bezalel, o artesão chefe da construção do Tabernáculo, e ele construiu o altar do holocausto de acordo com as instruções divinas dadas a Moisés. Deus revelou a Moisés cada detalhe de como deveria ser o altar. Isso incluía seu formato, suas medidas e os materiais a ser utilizados (Ex 27.1-8.
Acaz agora o substitui por um altar pagão, cujo modelo ele havia copiado e trazido de Damasco. Ele precisava sustentar alguma crença, mas a fé de seus pais não era suficiente para sua vida, ele precisava de outras expressões de espiritualidade. Desta forma removeu o altar do Senhor e construiu um novo altar. O texto de 2 Reis afirma que ele retirou todos os símbolos sagrados que pudessem ser ofensivos ao rei da Assíria. (2 Rs 16.18) Sua religiosidade transformou-se numa forma politica de expressão.
Ele deu ao altar pagão uma prioridade que não dava às coisas de Deus.
“Vindo, pois, de Damasco o rei, viu o altar, chegou-se a ele e nele sacrificou. Queimou o seu holocausto e a sua oferta de manjares, derramou a sua libação e aspergiu o sangue das suas ofertas pacíficas naquele altar.” (2 Rs 16.12).
Dá para perceber de forma nítida, como a idolatria era atraente para ele e como ocupava seu coração de forma imediata e plena. Assim que viu o altar pagão pronto, cujo modelo havia copiado de Samaria ele estava pronto para oferecer os sacrifícios. Você não o verá tendo esta atitude, em hora nenhuma, em relação as coisas de Deus.
Ele foi além: “Ajuntou Acaz os utensílios da Casa de Deus, fê-los em pedaços e fechou as portas da Casa do Senhor; e fez para si altares em todos os cantos de Jerusalém.” (2 Cr 28.24). Anteriormente havia mandado retirar todos os objetos sagrados do templo e enviado ao rei da Assíria. As coisas de Deus não eram realmente importantes para sua vida, e pouco representavam para ele. Agora ele age de forma impetuosa e manda destruir, despedaçar e quebrar os utensílios da casa de Deus. Não é possível perceber uma forte hostilidade contra Deus? As pessoas nunca ficam neutras em relação a Deus. Eles desenvolvem também uma aversão e oposição a Deus. Por esta razão, muitas pessoas ao invés de serem ateias (não creem em Deus, filosoficamente falando), tornam-se anti Deus (uma forma de ateísmo militante).
É possível perceber como as coisas relacionadas aos ídolos que ele ia edificando eram importantes e como as coisas de Deus não tinham valor algum. Deus não se encontra no seu radar. É isto que acontece quando a fé herdada de nossos pais, não faz nenhum sentido para o coração da nova geração que rejeita a Deus.
Todas estas realidades me fazem pensar no cenário das igrejas dos Estados Unidos e Europa, países outrora cristãos, que foram estruturados em torno dos valores judaico-cristãos e que agora tem sido profundamente desprezados. Reflito ainda sobre a realidade de tantos filhos que tem abandonado a fé cristã no Brasil. Quantos de nossos filhos tem se afastado da casa do Senhor? Precisamos não apenas evangelizar os que estão distante do evangelho, mas aqueles que caminham conosco em nossos acampamentos, encontros, reuniões. Será que o evangelho tem chegado de forma efetiva aos corações da nova geração?
Qual é a consequência deste afastamento de Deus?
O texto mostra que a forma como Acaz conduziu o povo de Israel fez dele um dos reis mais destrutivos para Jerusalém.
Primeiro, vieram os reis da Síria. A descrição da tragédia que veio sobre Israel é angustiante: “Pelo que o Senhor, seu Deus, o entregou nas mãos do rei dos siros, os quais o derrotaram e levaram dele em cativeiro uma grande multidão de presos, que trouxeram a Damasco.” (2 Cr 28.5)
Não bastasse isto, houve uma guerra civil, entre o reino do norte contra o reino do Sul (sobre o qual ele reinava), e veja o que aconteceu. A descrição é dolorosa: “...Também foi entregue nas mãos do rei de Israel, o qual lhe infligiu grande derrota. Porque Peca, filho de Remalias, matou em Judá, num só dia, cento e vinte mil, todos homens poderosos, por terem abandonado o Senhor, Deus de seus pais. Zicri, homem valente de Efraim, matou a Maaseias, filho do rei, a Azricão, alto oficial do palácio, e a Elcana, o segundo depois do rei. Os filhos de Israel levaram presos de Judá, seu povo irmão, duzentos mil: mulheres, filhos e filhas; e saquearam deles grande despojo e o trouxeram para Samaria.”(2 Cr.28.5-8).
Israel foi devastado!
Deus envia um profeta para censurar o reino do Norte, tão trágico havia sido a realidade. (2 Cr 28.9-15).
Depois vieram os edomitas (2 Rs 28.17)
Depois vieram os filisteus (2 Rs 28.18).
A Bíblia diz: “O Senhor humilhou a Judá, por causa de Acaz, rei de Israel” (2 Rs 28.19)
Ao invés de se voltar para Deus, o que fez Acaz?
Ele vai procurar ajuda com o rei da Assíria, e entrega todos os objetos sagrados da Casa do Senhor.
A situação chegou a um ponto que ele inviabilizou o culto, pois ele num gesto talvez de raiva, hostilidade ou frustração, destruiu os utensílios da casa de Deus, fazendo-os em pedaços. Ele literalmente mandou quebrar todos os símbolos do templo e “fechou as portas da Casa do Senhor” (2 Cr 28.24). Foram 17 anos de tentativas constantes de apagar a memória do Deus de Israel. O culto a Deus sequer podia acontecer, pois o templo estava fechado e os sacrifícios não podiam mais ser oferecidos.
Conclusão
Atitudes de apostasia não acontecem no vácuo. Quando lemos o texto, vemos que as coisas não se constroem no vácuo. Acaz sempre teve um coração distante de Deus. Acaz tinha apenas 20 anos de idade quando assumiu o trono, e ele nunca inclinou seu coração para as coisas de Deus. Ele era leviano e hostil ao Deus dos pactos, o Deus da história de Israel, o Deus de seus pais.
Já viram pessoas assim? Filhos de crentes que rejeitam todo conhecimento de Deus? Parecem que as coisas de Deus não os atraem. São mais propensos à idolatria, imoralidade e heresia e continuam levando a sua vida em descaso pelas coisas de Deus. Tornam-se cínicos, incrédulos, críticos e zombeteiros com as coisas de Deus.
Por outro lado, é possível perceber os filhos da igreja que amam a Deus e desejam as coisas de Deus. Estes, desde cedo demonstram grande temor pelas coisas de Deus, tem um coração quebrantado, desejo de santidade, tristeza pelo pecado.
Gosto muito de uma frase da Bíblia acerca de Josué, sucessor de Moisés: “o jovem Josué não se apartava da tenda” (Ex 33.11). Josué era atraído pela glória de Deus. No tempo da sua preparação, permaneceu sempre à frente do povo, ao lado de Moisés, apoiando-o, participando das revelações, sendo testemunha ocular das ações de Deus. Após a morte de Moisés, Deus o estabeleceu com líder em Israel.
É assim que ainda hoje vemos jovens na igreja, comprometidos com a santidade, com o reino de Deus, e com a igreja local. Normalmente Deus levanta do meio destes jovens, aqueles que hão de liderar seu povo. Deste grupo surgem as vocações ministeriais e missionárias, os líderes no meio do povo.
O abandono da fé cristã, desemboca em direções que não podemos antecipar. Quando vejo jovens abandonando a casa do Senhor, não faço ideia para onde se dirigirão espiritualmente.
O que aconteceu a Acaz?
Ele se embrenhou numa devastadora e bizarra idolatria. Ele importou um altar de Damasco (Siria), fez um altar para o Deus Moloque (bruxaria), ele se opôs aos símbolos judaicos, ele doou os objetos do templo e o que restou ele mandou despedaçar. Quando a fé cristã é abandonada, não sabemos onde a espiritualidade desembocará. O ser humano é tendente à religiosidade, e construirá ídolos para si. Muitos jovens atualmente afastados da igreja embrenham no misticismo, no esoterismo ou nas religiões orientais. São atraídos à cabala, ocultismo e assim se distanciam de Deus.
Se você é jovem, e percebe que seu coração tem se afastado de Deus. Ore sinceramente pedindo para que Deus leve o seu coração a ser atraído a Deus. Ore pedindo desejo pelas coisas de Deus. Não deixe seu coração se afastar lentamente de forma que lá na frente você perceba o quanto se afastou e se torna difícil de um retorno.
Se você é pai, gostaria de dizer que precisamos pedir a graça de Deus pela salvação da alma de nossos filhos. Estamos muito preocupados com seu conforto, bem estar, sucesso (que também tem se tornado numa manifestação idolátrica de nossa cultura), mas pouco temos nos esforçado para imprimir em suas almas, a dimensão do evangelho. Precisamos proteger espiritualmente nossos filhos.
Há muitas promessas de Deus para nossos filhos, quando lemos o Evangelho. Uma das mais significativas encontra-se no derramamento do Espírito Santo em Atos 2, quando Deus afirma: "Nossos jovens sonharão e nossos velhos terão visões". Precisamos orar para que o Espírito Santo envia ao coração das novas gerações estes sonhos divinos. Para que o Espírito de Deus converta seus corações e eles entendam a obra de Cristo realizada na cruz.
Se você tem filhos afastados, gostaria de encorajá-lo a não desistir espiritualmente de seus filhos, independentemente da idade. Sei de pais que estão orando por seus filhos e chorando por eles, por vinte anos. Nós não podemos ignorar os riscos que nossos filhos correm quando abandonam a fé.
O reinado de Acaz foi curto. De apenas 17 anos. Mas suficiente para levar Israel e uma das situações mais destruidoras da história do povo de Deus. Tudo isto aconteceu, porque ele desprezou a fé de seus pais.
O texto Bíblico começa com a seguinte afirmação: “Tinha Acaz vinte anos de idade quando começou a reinar e reinou dezesseis anos em Jerusalém; e não fez o que era reto perante o Senhor, como Davi, seu pai.”(2 Cr 28.1). O desprezo pela fé que havia herdado de seus pais e avós, foi a causa de todo transtorno e devastação.