quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

Aprendendo a viver em família com José e Maria - Mt 1.18-21

 




Leitura de referência:

Mt 1.18-21

 

Introdução:

 

Casamento não é nada fácil. Certa vez fiz uma palestra provocativa afirmando que “casamento não foi feito para dar certo.” Algumas pessoas não gostaram da forma como expus este assunto.

 

Citei cinco razões:

 

1.     Gêneros diferentes: Homem e mulher pensam de forma diferente, sentem de forma diferente, agem de forma diferente, tem virtudes diferentes. Estes mundos precisam se mesclar, se identificar. Não é uma tarefa fácil.

 

2.     Gênios diferentes: Somos emocionalmente diferentes. Imagine um fleumático casando-se com um colérico. Um melancólico com uma pessoa sanguínea. São temperamentos diferentes. Interpretam a vida de forma distinta. Um insiste em “zero a zero, e o outro um a um.”

 

3.     Diferenças familiares: Backgrounds diferentes. Forma de lidar com dinheiro, visão de mundo, uso do tempo, criação de filhos, valores morais e espirituais. Basta assistir o filme “Meu casamento grego” para entender o que estou falando.

 

4.     O infinito particular. Marisa montes afirma na sua música com este nome:

 

Em alguns instantes

Sou pequenina e também gigante

Vem, cara, se declara

O mundo é portátil

Pra quem não tem nada a esconder

Olha a minha cara

É só mistério, não tem segredo...

 

Só não se perca ao entrar

No meu infinito particular

 

Todos temos segredos, temores, fantasmas, sombras, dificuldades. Não é fácil sequer para nós entrarmos nestes mistérios de nosso coração, quanto mais o outro. É desta forma, por exemplo, que reagimos de forma inconsciente a determinadas situações não tão graves, simplesmente porque temos uma história, e eventualmente um gatilho inconsciente dispara, nos ameaçando, acuando. Nós nem sempre temos clareza do porque da nossa ansiedade e insegurança. Este é o nosso infinito pessoal.

 

5.     Natureza pecaminosa. Por causa de nossa situação espiritual somos seres inclinados ao culto narcísico. Gostamos de ser apreciados, estar no centro, sermos servidos.

 

Por que então, duas pessoas de natureza fortemente egocêntricas estariam dispostas a abrir mão de seus direitos para servir o outro? Em última instância não queremos fazer o outro feliz, queremos ser feliz; não queremos servir, queremos ser servidos, não servir.

 

Quando olhamos a família de Jesus, a Sagrada Família na tradição católica, vemos algumas atitudes que podem orientar a nossa forma de viver. Deus designou seu Filho amado para viver em família, ser criado num ambiente doméstico, ter que lidar com as diferenças e tensões que todo lar possui. Mas há algumas coisas que são maravilhosas na vida de José e Maria, que poderiam nos ajudar a saber como lidar com a vida.

 

1.     José e Maria aprenderam a enfrentar as críticas e se manterem naquilo que criam ser importante.

 

Poucas vezes paramos para considerar quão complexo foi para Maria e José lidar com a situação inusitada do nascimento de Jesus. Eles eram casados (uma espécie de noivado), mas diferente porque perante a sociedade eles já eram marido e mulher, comprometidos perante a lei, um com o outro.

 

Um dia Maria se aproxima de José e lhe segreda. Ela estava grávida!!! Mas ela tinha uma explicação bem razoável. Ela fora engravidada do Espírito Santo. Ah, bom!!! Agora está explicado... A Bíblia diz que José, sendo justo, resolveu não difamá-la e deixá-la secretamente. Ele iria desaparecer. Aquela noite foi tensa para José. Ele finalmente consegue dormir, e num sonho um anjo confirma a palavra de Maria, e José decide assumi-la.

 

Numa vila de 300 pessoas onde todos se conheciam o comentário logo se espalhou. Maria deixa a cidade e vai para as montanhas da Judeia para se encontrar com Isabel, mãe de João Batista, que estava grávida, e sua gravidez tinha sido sobrenatural. Ela certamente entenderia a situação... Sua visita durou nada menos que três meses. Era o lugar onde Maria se sentia segura.

 

José e Maria  se tornaram objeto de suspeita. Mas juntos enfrentaram lutas e problemas. Desta forma, aprendemos que casais precisam aprender a lutar com criticas, injúrias, comentários. Mesmo que sejam verdadeiros. Precisamos aprender a resolver os problemas e juntos apoiarmos um ao outro, assim como Maria e José fizeram. Isto exige certa cumplicidade e grande respeito. Precisamos nos proteger não pecaminosamente, mas proteger os segredos, as dores, cuidar, abençoar.

 

Famílias abençoadas não são famílias perfeitas, mas redimidas, que aprenderam a perdoar as mágoas, que erram e conseguem retomar o caminho da cura e da reconciliação.

 

2.     José e Maria aprenderam a se sacrificar para proteger seu filho Jesus.

 

Depois de terem lidado com criticas e suspeitas, surge um novo desafio. Eles foram divinamente advertidos que Herodes mataria todas crianças de dois anos para baixo que vivessem nos arredores de Belém. E José, da noite para o dia, deixa sua história pessoal, seu trabalho, seus clientes, seus familiares e foge para o Egito.

 

Para um judeu, retornar ao Egito era uma tarefa muito dura. O Egito era símbolo da opressão e da oposição a Deus. Mas eles precisavam sair para proteger o menino Jesus. José se sacrifica profissionalmente para que seu filho seja salvo.

 

Isto me leva a pensar quantas vezes precisamos nos sacrificar para proteger nossos filhos. Talvez a ameaça de hoje não seja física, mas emocional, abusos sexuais, sofrimentos interiores. Muitas vezes precisamos nos sacrificar para proteger nosso marido (esposa). A Sagrada Família, assume um papel complicado e deixa o conforto familiar para proteger Jesus

 

Quando retornam, continuam os problemas. O velho Herodes havia morrido, e seu filho tinha assumido seu lugar. Será que já estavam livres da ameaça? Decidiram morar, não na Judeia, seu ambiente, mas na Galileia, outra região que ficava na direção do Mediterrâneo, onde os costumes religiosos não eram tão estritos como na Judeia. Mais uma vez José deixa sua terra e se muda. Novamente ele precisa fazer mais sacrifícios. Maria segue com ele. Era necessário proteger os filhos.

 

Nossos filhos estão debaixo de enorme pressão emocional e espiritual. Pais precisam estar atentos sem estarem neurotizados. Excesso de proteção adoece, assim como a ausência de proteção. Filhos precisam crescer, enfrentar conflitos, exagerar excessivamente com o cuidado pode ser tão traumático quanto não dar atenção. Prudência e caldo de galinha nunca fizeram mal a ninguém.

 

3.     José e Maria decidiram obedecer a Deus.

 

A vida da “Família Sagrada” é marcada por um profundo senso de que, custasse o que fosse, eles deveriam obedecer e seguir a Deus.

 

José enfrentou muitos tabus para receber Maria.

 

-Tabus sociais. Imagine explicar a gravidez de Maria para seus amigos e sociedade. Fico imaginando como deve ter sido o seu diálogo com a família na hora do café da manhã. Ele nervoso, raspando a garganta, tentando explicar para seus pais que sua noiva estava grávida do... Espírito Santo...

 

- Tabus religiosos. A Lei do Antigo testamento autorizava que o marido denunciasse a mulher adúltera, ela seria levada para uma praça pública e apedrejada, como aconteceu no relato de João 8. O que fez José: “Mas José, seu esposo, sendo justo e não a querendo infamar, resolveu deixá-la secretamente.” (Mt 1.19) Ele decidiu “sair de fininho”. Mas em sonho, vem um anjo do Senhor que lhe diz para não hesitar em receber Maria. Quando ele acorda, ele não tem crise em obedecer. Ele agora sai disposto a enfrentar o que fosse necessário para simplesmente obedecer a Deus.

 

- Questionamentos pessoais – Não se tratava apenas de explicar aos outros, mas ele precisava estar convencido. Quando ele tem o sonho, sua disposição foi clara: “Despertado José do sono, fez como lhe ordenara o anjo do Senhor, e recebeu sua mulher” (Mt 1.24)

 

Maria também teve muitos enfrentamentos para obedecer a Deus:

 

            -Como explicar isto ao seu marido José? Será que ele entenderia? Como vimos, José não ficou convencido inicialmente daquela conversa.

 

            -Como explicar à sua família. Seus pais entenderiam?

 

            -Como explicar à sociedade. Alguém acreditaria nela?

 

A situação foi tão complexa que ela resolveu fazer uma visita a Isabel (Mãe de João Batista), que morava nas montanhas da Judeia. Foi uma visita fora de qualquer parâmetro: Ela passou três meses por lá. Já fizeram uma visita a alguém que durasse três meses? Ou já receberam alguém para passar um tempo tão longo assim na sua casa? Por que Maria foi para tão longe e ficou um tempo tão longo? Porque as coisas não estavam fáceis na sua aldeia.

 

Mas quando Gabriel lhe dá o recado, apesar da complexidade inerente à situação, ela declara firmemente: “Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra. E o anjo se ausentou dela.” (Lc 1.38).

 

Conclusão

 

Precisamos aprender a viver em família, e o modelo da família de Jesus nos inspira. Todas as vezes que falamos sobre a família, sempre temos a tendência de acreditar em modelos perfeitos. Não se iludam. Não há famílias perfeitas. Podemos nos sentir muito abençoados, se já tivermos famílias redimidas por Jesus, tratadas pela graça e misericórdia de Deus. Esta é a grande benção da vida. Famílias onde a graça e o perdão de Deus estão presentes.

 

1.      José e Maria aprenderam a enfrentar as críticas e se manterem naquilo que criam ser importante.

2.      José e Maria aprenderam a se sacrificar para proteger seu filho Jesus.

3.      José e Maria decidiram obedecer a Deus.

 

 

A família de José e Maria é assim. Podemos imaginar quantas lutas tiveram, mas juntos, com temor a Deus, com obediência, viram a graça permeando e dirigindo seus caminhos e sua história.

 

Precisamos aprender a viver em família, observando como José e Maria viveram.

 


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