Introdução
Normalmente nos furtarmos de ler as genealogias na Bíblia. Elas são cansativas, maçantes, pouco estimulantes e às vezes nos parece desnecessária.
Os judeus, entretanto, eram excessivamente preocupados com genealogias. Mateus chama seu livro de “Livro da genealogia de Jesus Cristo.” (Mt 1.1) No Antigo Testamento, geralmente encontramos um recorde da linhagem dos homens mais famosos. (Gn 5.1;10.1;11.27), quando Josefo, o grande historiador Judeu começou a escrever seu famoso livro de histórias, ele partiu de sua própria genealogia. Quando uma pessoa se candidatava a ser sacerdote, tinha que provar, que ele vinha da linhagem de Arão (Ed 2.62). Os recordes destas genealogias eram guardados pelo Sinédrio.
Tanto Mateus quanto Lucas se preocuparam em falar da genealogia de Jesus, nos dois, contudo, os relatos seguem linhas completamente diferentes:
Em Mateus, a genealogia aparece logo, como ponto de partida, porque este Evangelho foi destinado, prioritariamente aos judeus e Mateus está tentando provar a linhagem davídica de Jesus. Mateus começa em Abraão e termina em José, revelando sua ascendência judaica.
Em Lucas a genealogia é colocada no capítulo três. Ele começa em José e termina em Adão, pois está preocupado com a humanidade de Jesus. Ele queria demonstrar que Jesus estava ligado a Adão, revelando assim sua natureza humana, Outro detalhe é que Lucas começa em José, enquanto Mateus começa em Abraão, as perspectivas aqui tem objetivos diferentes.
Na genealogia encontramos alguns maravilhosos princípios da soberania e da graça de Deus.
1. A genealogia nos mostra como Deus pensou em todas as coisas - O texto descreve um esquema ideal de três séries de quatorze gerações, baseando-se no número sete, que tem caráter simbólico, dando ideia de um número absoluto e pleno (Mt 1.17). Estas três seções apresentadas por Mateus são baseadas em três grandes estágios da história do povo Judeu:
ü A primeira seção inicia-se em Abraão e vai até o surgimento de Davi. Abraão é o grande patriarca de onde o povo judeu busca suas origens. Davi foi o homem que transformou Israel numa grande nação, e fez dos judeus um poder no mundo.
ü A segunda seção vai de Salomão, filho de Davi, que consolida a monarquia judaica e dá uma dimensão quase universal do seu reinado. Este bloco vai até o exílio babilônico, mostrando a vergonha da nação judaica, sua tragédia e seu desastre.
ü A terceira seção vai do exílio até a vinda de Jesus, começando com Jeconias e falando de personagens esquecidos na história, vindo até. Jesus é aquele que liberta o homem de sua tragédia e escravidão, transformando fracassos em triunfo.
Cada seção é representada pelo número quatorze. Isto mostra o domínio de Deus na história. A história não é caótica, mas segue um rumo definido e demarcado por Deus, segue um cronograma divino, um tempo divino, um propósito divino. Deus é Senhor da história. Ela não segue para o caos, mas para um propósito divino já estabelecido.
Isto surpreendeu o profeta Habacuque, no meio de sua perplexidade com a invasão dos caldeus, ouve Deus falando: “ Eu suscito os caldeus”. (Hc 1.16). A história não segue um rumo sem sentido, tem propósito, tem coerência.
As mãos de Deus dirigem o destino da humanidade. O universo não é um trem sem piloto que perdeu seu rumo, indo em direção ao caos e ao precipício. Deus está no controle dos eventos humanos.
Quando reflito mais profundamente sobre estas coisas, deixo de ficar alarmado e fragilizado com os eventos atuais. Muitas vezes nos assustamos com a pandemia, tantas pessoas mortas. Ficamos angustiados com a situação moral da nossa sociedade, a perda dos valores familiares, teológicos, questões relacionadas à bioética, às ideologias do gênero, ao descalabro político, aos rumos da nação. Ficamos assustados com tudo. Nestas horas, contudo, precisamos considerar que Deus nunca perdeu o controle da história. Talvez o mais importante seria perguntar a Deus.
O que o Senhor quer que eu veja neste momento que não estou percebendo?
Andrés Garza, Diretor da City to City America Latina, afirma que nestes tempos de pandemia precisamos fazer quatro perguntas que podem orientar e mudar nossa perspectiva.
● O que estamos fazendo e o que precisamos parar de fazer?
● O que fazemos e devemos continuar a fazer?
● O que estamos fazendo e precisamos continuar a fazer de novas maneiras?
● O que não estamos fazendo e precisamos começar a fazer?
Provavelmente nunca entenderemos perfeitamente a razão de muitas coisas que nos acontecem, mas Deus tem um propósito santo e amoroso. Sua história pessoal não é uma peça solta nos planos de Deus. Deus conhece você, sua vida e sonhos,e Deus quer usar você para sua glória.
2. Deus transforma a história daqueles que independente de seu passado, resolvem colocar sua confiança nele.
Este texto nos fala de Raabe. Ela era prostituta em uma cidade pagã, mas quando ouve falar do Deus de Israel, sente-se profundamente atraída a este Deus. Ela teme a Yahweh, e por isto, além de ser incluída na genealogia de Jesus, é incluída também na galeria dos heróis da fé:
“Pela fé, Raabe, a prostituta, não foi destruída com os desobedientes,
porque acolheu com paz os espias”.
(Hb 11.31).
Onde está a virtude de Raabe? Em confiar no Deus de Israel, e temê-lo. Em colocar sua confiança plena naquele Deus do qual ela ouvira falar.
Pense em Rute. O que a torna diferente? Sua confiança no Deus de Israel. Ela diz a Noemi:
“O seu Deus é o meu Deus, e seu povo será o meu povo”.
Depois de ouvir falar da grandeza do Deus de Israel, rejeita os ídolos pagãos de sua cultura materna, e se entrega com fé, ao Deus que ela agora conhece.
Se Deus fez uma obra tão maravilhosa na vida de Raabe e Rute, será que não podemos confiantemente aguardar seu milagre em nossa vida?
Se sua vida é altamente esvaziada, sem significado lembre-se do que Deus fez por estas mulheres. Ele pode fazer por você. Por mais torta que seja sua vida, por mais rejeitada e sem sentido, Deus pode fazer de você uma benção, deixe que ele faça isto. Deus é especialista em gente que não tem mais jeito, em pessoas sem sonhos, em vidas fracassadas, em famílias quebradas, desajeitadas, pecadoras. Deus transformou a história destas pessoas, e pode transformar a sua. É fundamental lembrarmos da grande misericórdia de Deus.
Às vezes fico pensando na história de muitos, cuja realidade é marcada pela confusão e desatinos, mas que estão sinceramente buscando em Deus a cura para sua alma. Muitos se aproximam feridos, inseguros e receosos. Se você se sente assim, considere o que Deus poder fazer com sua vida, simplesmente porque você passa a confiar nele e na provisão que ele tem para sua história. Quantas bençãos ele pode dar mesmo em meio às trevas e aos desatinos. Deus transforma a história dos homens.
3. Este texto mostra a infinita graça de Deus
- Deus dá status às mulheres
É significativo que apareçam aqui nome de mulheres. Isto jamais aconteceria na genealogia de um judeu. mulheres nunca foram incluídas na genealogia do hebreu. Não é isto algo surpreendente? Leia as genealogias do Antigo Testamento. As mulheres são citadas na genealogia de Cristo. Da mesma forma no Pentecoste, as mulheres receberam as mesmas condições que os homens.
Quatro mulheres são inseridas na genealogia de Jesus: Tamar, Raabe, Rute e Batheseba. É a primeira vez na história das religiões que uma mulher tem participação e é recebida como membro em uma comunidade. Diariamente o piedoso fariseu dava graças a Deus “por não ter nascido mulher, cachorro, nem gentio”. Quando Buda consentiu que uma mulher entrasse no Shagha, seu santuário sagrado, fê-lo com grande tristeza dizendo que agora o Shangha não duraria mais de mil anos. No hinduísmo, a mulher não pode salvar-se, ela precisa reencarnar como homem para obter esta graça.
Stanley Jones afirma:
“O que é admirável é que o fato foi aceito sem contestação; ninguém levantou a questão, não houve discussão do assunto, nada; as mulheres tomaram seu lugar no Pentecostes com a maior naturalidade e sem constrangimento. Por que? É que neste ponto também a norma estava estabelecida: eles tinham visto Jesus aceitar as mulheres na qualidade de discípulos, sem condição alguma”[1]
- Deus inclui os não incluídos
Num texto que foi direcionado aos judeus, como foi o Evangelho de Mateus, é surpreendente que ele inclua na genealogia de Cristo pessoas de outras nações, incluindo moabitas, que eram detestados pelos judeus. Temos aqui a presença de Rute, que era Moabita. Eles eram descendentes de Ló. (Gn 19.36-38) Os moabitas não podiam entrar no Templo, tinham que ficar no pátio dos gentios. Herodes, o Grande, governador nos dias de Jesus, era judeu, mas foi desprezado pelos seus compatriotas, porque na sua linhagem havia um edomita (descendente de Esaú), por isto ele mandou destruir os registros oficiais, para que nada pudesse ser dito contra ele.
A inclusão do nome de um gentio, aponta aqui para a universalidade do Evangelho. Não existe raça superior. Um judeu certamente evitaria na sua genealogia a inclusão de um gentio, porém, na genealogia de Jesus, escrita para ser lida pelos judeus, ele faz questão de incluir pessoas pagãs e ainda por cima, mulheres.
Uma das coisas mais interessantes no livro de Atos é perceber como esta questão das raças estava presente. O Evangelho certamente superou tudo isto, mas temos que lembrar, que a primeira controvérsia e a primeira vez que a igreja se reuniu para discutir uma questão teológica foi por causa da ida de Pedro para pregar a mensagem de Cristo aos gentios (At 110. Isto demonstra como difícil para os discípulos que vinham do judaísmo, aceitar a presença de não gentios em suas comunidades. O Evangelho, contudo, inclui os não incluídos.
- Deus aceita os não aceitáveis – Outro aspecto impressionante nesta genealogia, é o caráter questionável destas mulheres. Excetuando Rute, todas as demais tem vida extremamente torta. O que vemos aqui é só “gente boa”:
ü Tamar – A história desta mulher é registrada em Gn 38. Ela se comporta como prostituta e assume a função de prostituta para seduzir seu próprio sogro, tomando-lhe como penhor, o selo, o cordão e o cajado. Esta mulher, tão suspeita, de conduta tão inapropriada, aparece aqui na genealogia de Jesus.
ü Raabe – A Bíblia registra sem nenhuma reticência que ela era prostituta, vendia seu corpo para os homens. (Js 6.22-25) Fico impressionado ao ver seu nome inserido na genealogia de Jesus. Ela foi salva quando o povo de Deus estava destruindo Jericó, porque protegeu os espias, e por isto o povo de Deus a libertou com sua família. Na genealogia de Jesus, vemos uma mulher cuja vida era altamente questionável.
ü Batheseba – Nenhuma mulher foi mais escandalosa na história do povo de Deus como esta. Ela provocou uma crise de governo, abalando a monarquia. Seu caso pode ser comparado ao de Bill Clinton com Monika Lewinsky, em 1999. Um escândalo político, no qual esteve envolvido traição, suborno, assassinato, mentira, tragédias. Não é impressionante ver estes nomes nos registros sagrados?
Tudo isto revela a graça de Deus.
Deus não está interessado no currículo nem na nossa performance, porque ele é especialista em transformar gente sem valor em gente valorosa. Dar reconhecimento a pessoas sem dignidade. Em resgatar vidas desprezadas socialmente. Deus é especialista em reparar gente torta. O carpinteiro de Nazaré é especialista em pegar madeira bruta e dar formas.
O grande poder da graça é o de restaurar pessoas. Certamente não escolheríamos ou não gostaríamos de ter nenhuma destas pessoas no nosso curriculum¸mas Deus escolheu as pessoas que nada são para confundir as que são. Para mostrar que a graça dele é restauradora, renovadora, e Deus pode e quer fazer coisas novas.
Muitas vezes olhamos para o nosso histórico pessoal e familiar. Nenhuma virtude, nenhum mérito, história familiares e pessoais escabrosas. Olhe para sua família. Sei de fatos em minha família que fariam estremecer os murais de minha história pessoal. Deus, contudo, tem uma profunda capacidade de transformar vidas, de refazer contextos históricos, de pegar as pessoas mais estabanadas da vida e inseri-las na sua genealogia.
A genealogia de Jesus é marcada por pessoas destroçadas, sem valor, sem nome e sem dignidade, mas a sua graça refez todas estas coisas.
Foi isto o que Jesus se propôs a fazer por nós na cruz. Nós estávamos afastados de Deus. Paulo afirma que afastados de Deus, estávamos sem Cristo, separados da comunidade de Deus, estanhos às alianças da promessa e sem esperança, “mas, agora, em Cristo Jesus, vós que estáveis longe, fostes aproximados pelo sangue de Cristo.” (Ef 2.13). “Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus.” (Ef 2.19)
Samuel Vieira
Medford, Agosto 2001
Anápolis, Dez 2009
Anápolis, Dez 2021
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