Introdução
Mateus é o evangelista mais preocupado em comunicar o fato de que Jesus era o Messias. Por esta razão ele está sempre usando a frase: “Como está escrito!” Era uma forma de lembrar aos judeus que a promessa de Deus tinha se cumprido em Jesus. Bastava olhar os textos do Antigo Testamento e relacioná-los com a vida de Jesus.
Quando ele inicia o seu evangelho, ele escreve a genealogia de Cristo para provar que Jesus vinha da linhagem de Davi, e era da tribo do Judá como Deus havia prometido. Mateus fez um trabalho minucioso de pesquisa para demonstrar que tudo tinha acontecido como Deus havia planejado. (Mt 1.1-17)
Em seguida ele narra como tudo se deu. Em Mateus 1.18 ele declara: “Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim...” E ele fala de pelo menos cinco coisas maravilhosas:
1. Sobrenatural na sua origem.
Maria teve uma gravidez sobrenatural. Tão fora das possibilidades que ela se surpreende com a notícia dada pelo anjo Gabriel. “Como será isto, pois não tenho relação com homem algum?” (Lc 1.34)
Sua gravidez sobrenatural torna-se ainda mais significativa quando estudamos o Antigo Testamento e refletimos sobre a profecia dada Isaías: “Portanto, o Senhor mesmo vos dará um sinal: eis que a virgem conceberá e dará luz a um filho, e lhe chamará Emanuel.” (Is 7.14)
Todos os eventos se tornam sobrenaturais. José recebe o anúncio da parte do anjo do Senhor para aceitar sua mulher como esposa, e não temer em recebê-la. Os eventos vão se tornando cada vez mais divinos e cercados de mistério. Não é sem razão que os liberais e incrédulos digam que seu nascimento é mitológico. Se não crermos nas evidências narradas nos livros sagrados, só nos resta pensar na possibilidade de que estas narrativas são lendas e mitos. Afinal, a eternidade invade a temporalidade. Deus se torna um conosco. Isto tudo possui uma dimensão sobrenatural.
Os teólogos liberais da crítica das formas, afirmaram que teríamos que tirar todo componente sobrenatural da Bíblia para chegarmos ao cerne da narrativa e à essência da mesma. Para eles não importa o Cristo histórico (se Jesus existiu mesmo, se ele é histórico ou não, não seria importante), e sim o Cristo da fé. Um dos pontos que eles acreditavam que deveria ser retirado da Bíblia é exatamente o nascimento de Cristo com todos seus aspectos sobrenaturais.
Ora, retirar a mensagem sobrenatural do texto para “desmitificá-lo” significa a negação da fé no seu aspecto fundamental. O nascimento de Cristo é sobrenatural na sua origem.
2. Misterioso no enredo.
O nascimento de Cristo também é misterioso. Aqueles que escreveram o evangelho, não tem nenhuma dificuldade em narrar os questionamentos de José, de como ele resolveu deixar Maria secretamente, de como ele teve que lidar com seu próprio coração, suas perguntas e crises, com sua família, com sua religião e com a sociedade, enfrentando tudo isto por causa de sua obediência a Deus.
Da mesma forma vemos Maria sendo surpreendida por um anjo, que lhe anuncia o estranho evento. Ela ficaria grávida sem ter relação com homem algum. Entre a surpresa e a obediência, Maria se submete a Deus e dispõe seu corpo para manifestação de Deus na história.
É ainda misterioso o evento dos pastores. Isto sem falar nos magos que, saem atrás de um fenômeno celestial, uma estrela de um brilho diferenciado que se torna um sinal. Eles deixam seus estudos, seus afazeres, tendo um único GPS: uma estrela que aponta para Belém.
A história de Zacarias, a gravidez de Isabel já sendo velha, o nascimento de João Batista, visita de anjos, o coro angelical, os magos do oriente admirados com uma estrela no céu, tudo isto possui um componente maravilhoso de uma narrativa extraordinária e cheia de mistério, realidades tão distante da nossa cosmovisão racionalista e científica. Talvez porque nossa vida seja tão racional, pouco imaginativa, e sem mistérios, estas coisas de sonhos, anjos, coisas sobrenaturais nos pareçam tão fora da lógica. Como ser envolvido com tantos mistérios sem ter o coração permeado de temor e expectativa?
Todos respondem com temor: Zacarias, Isabel, Maria, José, Simeão, Ana. O Natal nos leva a refletir sobre uma realidade distinta que aguça a espiritualidade e instiga à fé,ou à descrença. O não explicável pode gerar encantamento, mas pode gerar também incredulidade: Isto não pode ser real...Maria, diante do mistério, opta por se colocar diante de Deus com humildade e reverência: “Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra”. Ela encarna o mistério e o acolhe em seu coração para vivenciar a nova realidade divina.
Para vivenciarmos o natal, precisamos ser encharcados de uma compreensão de sacralidade. Não sem razão na cultura ocidental, o natal encontra-se tão esvaziado do seu sentido maior. Sem espanto e reverência teremos dificuldade em entender os mistérios de Deus e teremos a tendência de transformar a realidade divina, a dimensão sagrada, em algo apenas humano, ordinário. Assim temos agido em relação ao natal.
3. Maravilhoso no propósito
Outro aspecto que devemos considerar é a razão de Jesus ter nascido. A mensagem foi claramente anunciada a José: “Ela dará a luz um filho e lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos seus pecados” (Mt 1.21).
O nascimento de Jesus é maravilhoso pela razão dele ter sido enviado por Deus com um projeto definido, uma ação de resgate espiritual. Ele veio para trazer salvação e libertação. O significado do nome Jesus já é, em si mesmo, uma pregação. Ele vem do grego Iesous, uma variante do hebraico Yeshu’a. (Jesus salva, ou Yavé é a salvação). Esta é a razão pela qual Deus escolheu este nome entre tantos. É um nome realmente poderoso. Este nome traz salvação.
Este nome é repleto de significado, “Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai.” (Fp 2.9-11). O nome Jesus é notavelmente significativo, porque ele foi enviado por Deus para um propósito específico, e o seu nome pessoal aponta para sua missão, identidade e propósito. Seu nome revela sua missão (salvar e libertar) e sua identidade como o salvador do mundo.
Seu nome é ainda importante por causa do significado e autoridade. A salvação é somente no seu nome: " E não há salvação em nenhum outro, porque debaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos" (At 4.12). A obra de Cristo salva o povo de seus pecados. (Mt 1.21) Ele veio para realizar uma obra de resgate espiritual.
O Natal é maravilhoso por causa de seu propósito.
4. Surpreendente pelo seu aspecto profético.
O nascimento de Jesus traz outro elemento. Mateus faz questão de demonstrar que “Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que foi dito” (Mt 1.22). O evento cristológico é permeado pelas profecias.
Existem cerca de 600 profecias do Antigo Testamento sobre a vinda de Cristo, que se cumpriram de forma maravilhosa.
O evangelista Mateus faz questão de citar várias destas profecias. Este evangelho foi escrito ao público judeu que valorizava as Escrituras Sagradas. O Nascimento de Cristo está permeado de referências aos textos sagrados. Desde o nascimento virginal de Maria (Mt 1.23), ao local do seu nascimento (Mq 5.2); ao seu retorno do Egito (Mt 2.15); a tragédia do assassinato das crianças em Belém (Mt 2.18); e o anúncio de que ele seria chamado de Nazareno. (Mt 2.23)
O Natal não acontece num vácuo histórico, nem é fruto da coincidência ou acaso, mas faz parte de um plano cuidadosamente preparado por Deus, que seu deu no tempo e espaço previamente estabelecido pela soberania e providência divina. O nascimento de Cristo é surpreendente pelo seu aspecto profético.
O natal nos ajuda a perceber como é o coração de Deus, que nasce entre pastores (socialmente marginalizados) e magos (espiritualmente pagãos). Deus se manifesta na simplicidade da manjedoura, onde transitam e comem os animais.
5. Grandioso pelo efeito no coração dos homens
José superou todas as barreiras em relação a história contada por Maria. Ele havia desenvolvido uma suspeita inicial, mas quando entendeu o que aconteceu, se torna submisso e obediente a Deus. Sua forma de interpretar os eventos que estavam acontecendo naquele momento mudou completamente. Assim acontece no coração daquele que crê. Algo especial e surpreendente muda a forma de ver e interpretar a vida. A existência do Jesus histórico é um fato. Mas a grande questão é: Já conhecemos o Cristo da fé? Este Jesus que salva, cura e que transforma vidas, ressuscitou e está vivo!
Sempre que o Divino nasce no coração humano, é Natal! “O Natal comemora o dia e a maneira que Deus nos salvou de nós mesmos. O anjo falando com Maria em Mateus 1:21 diz “você deverá dar-lhe o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos seus pecados”. (Max Lucado). Precisamos nos empenhar na celebração de um Natal autêntico. Resgatar a visão devocional enchendo o coração com o significado de um Deus que decide morar e caminhar com os homens. Na celebração do Natal temos o desafio de superar a noção simplesmente ritual da festa, e meditar do mistério da encarnação. É preciso se silenciar diante do mistério de um Deus que decide nascer de uma mulher, para salvar-nos dos nossos pecados.
O Natal nos ajuda a refletir sobre o fato de que o nosso coração deve ser a hospedaria disponível e livre onde Deus possa habitar e o Verbo de Deus possa fazer sua morada.
“Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim...”
Nenhum comentário:
Postar um comentário