Introdução
Esta pergunta do salmista encontra-se no cerne de toda pessoa que teme a Deus e deseja agradá-lo. O que Deus exige de mim? Qual deve ser minha atitude? Como devo viver?
Esta é a pergunta do salmista: “Que darei ao Senhor por todos os seus benefícios para comigo?”
O que podemos dar ao Senhor?
A resposta desta pergunta vai depender do conceito que você tem de Deus. Qual é o seu Deus?
- A deusa astarote exigia que seus adoradores praticassem prostituição cultual. Um grupo de prostitutas do templo tinha relações com os homens durante o período da adoração.
§ O deus Moloque exigia sacrifícios de crianças: Os primogênitos eram consagrados pelos pais no altar e eram queimados vivos.
§ Os deuses da macumba, e do candomblé e de todas as religiões animistas do mundo, exigem sacrifícios de animais, como oferenda para aplacar sua ira e serem pacificados.
§ Os terroristas que explodiram o WTC em N York (11.Set.2001), criam que, ao terminar a sua chacina, Alá os estaria esperando do outro lado com um grupo de virgens porque eles praticaram o Jihad.
Fica fácil perceber que cada tipo de divindade exige oferendas diferentes. Mas o que podemos dar ao Deus verdadeiro, o criador dos céus e da terra, por todos os seus benefícios? O que o Deus da Bíblia exige de você?
Muitos têm medo de seguir a Jesus porque medo da exigência. Seguir a Cristo tem um custo. Qual é o preço do discipulado. Será que estou disposto a pagar o preço?
É exatamente esta pergunta que o salmista está fazendo. Ele dá pelo menos três respostas à esta pergunta, e elas são surpreendentes.
1. Tomarei o cálice da salvação: Esta é a resposta de acolhimento. “Tomarei o cálice da salvação e invocarei o nome do Senhor.” (Sl 116.13)
Ele pergunta o que deveria dar e responde dizendo que deve receber. “Tomar o cálice da salvação”, não é fazer algo, mas é receber o que Deus está dando. Portanto, a ênfase não é no que podemos fazer, mas que resposta daremos ao que Deus já fez. A ênfase não está no que damos, mas na aceitação ao que Deus nos dá.
O Deus da Bíblia se apresenta como o Deus que dá. (Jo 3.16). toda resposta que podemos dar é uma resposta de amor, de gratidão, e a única resposta eficaz que você pode dar é receber o que ele lhe deu. A única resposta que podemos dar é da entrega de nós mesmos ao seu amor dadivoso. A única coisa relevante que você pode dar para Deus é você mesmo. Deus não quer seus bens, não quer sacrifícios, mas Deus quer o seu acolhimento e sua gratidão ao amor que ele tem dado através de Cristo Jesus.
Este é o princípio ativo da Fé.
Certa vez um grupo de pessoas se aproximou de Jesus com uma pergunta semelhante: "Dirigiram-se, pois, a ele, perguntando: Que faremos para realizar as obras de Deus? " (Jo 6.28). Esta pergunta parece sincera, não é mesmo? Qual resposta Jesus deu? “Respondeu-lhes Jesus: A obra de Deus é esta: que creiais naquele que por ele foi enviado.” (Jo 6.29)
A mensagem fundamental das Escrituras é que tudo o que graciosamente nos acontece, provém de Deus, e nos chega pela sua obra de misericórdia e amor. Graça é uma iniciativa livre, soberana e unilateral de Deus que se move em direção ao pecador rebelde e desobediente. Toda esta graça é recebida nas Escrituras pela mediação da fé. "Pela graça sois salvos mediante a fé, e isto não vem de vós, mas de Deus" (Ef 2.8-9).
Se perguntarmos à maioria dos cristãos "o que é necessário para que crescer como cristão?" A resposta invariavelmente será que precisamos ser mais dedicados, dar melhor testemunho, ler mais a Bíblia, orar mais – em geral, fazer mais coisas. Neste texto Jesus é indagado sobre as mesmas coisas: "Que faremos para realizar as obras de Deus?". Eram pessoas sinceras, querendo agradar a Deus, e não sabiam o que fazer. E Jesus afirma que "A obra de Deus é esta: que creiais” (Jo 6.28-29). Em outras palavras, a grande obra nossa é crer em Jesus, e aceitar aquilo que ele fez por nós naquela cruz.
É isto que vemos neste salmo: ““Que darei ao Senhor por todos os seus benefícios para comigo?” O salmista responde: “Tomarei o cálice da salvação.”
Isto não parece estranho? Não seria melhor se nos fosse dado uma lista de coisas para fazer e voltássemos para casa tentando obedecê-las? Quem sabe algumas fórmulas de "como fazer"?
-Como ser cheio do Espírito Santo.
-Como ser crente mais produtivo.
-Como ser mais fiel, etc...
Foi exatamente esta questão que as pessoas trouxeram a Jesus. Seria possível ter uma "lista de atividades espirituais" que pudesse agradar a Deus? E Jesus certamente os surpreende ao dizer: "A obra de Deus é esta: que creiais naquele que por ele foi enviado.” (Jo 6.28-29). A obra é crer naquilo que Cristo fez. Quando Jesus explicava o projeto de Deus a Nicodemos, no final de sua conversa, ele lhe diz: “Quem nele crê (no seu Filho Unigênito), não é julgado; o que não crê já está julgado; porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.” (Jo 3.18)
Ora, o que Jesus diz é absolutamente contrário ao princípio essencial de todo homem e mulher religiosos. Instintivamente não damos uma resposta baseada na fé, pelo contrário, procuramos fazer uma lista de coisas que são boas do ponto de vista da religião, para agradar a Deus. Esquecemo-nos que não somos salvos pelo amor que exercitamos, mas pelo amor que nos acolheu.
- Cumprirei os meus votos ao Senhor – Esta é a resposta de obediência. “Cumprirei os meus votos ao Senhor, na presença de todo o seu povo.” (Sl 116.14)
Toda obediência bíblica precisa ser colocada na perspectiva certa. Nós não fazemos para sermos salvos, mas fazemos porque já somos salvos. Não somos salvos pelas boas obras, mas para boas obras.
Ao cumprirmos nossos votos ao Senhor, simplesmente estamos dando uma resposta de obediência em amor. Não sou salvo porque obedeço, mas obedeço por que sou salvo. Não sou salvo pelas obras mas para boas obras (Ef 2.10). A obediência apenas revela em mim a graça de Jesus e minha alegria em servi-lo.
A tensão de realizar
Muitos cristãos ainda hoje vivem sob constante peso de condenação. Quando a base de nossa atividade cristã depende de algo que vem de nós mesmos, nossa força de vontade, nossa determinação, nossa capacidade espiritual, então não há como escapar do senso de culpa, pois nunca poderemos ter certeza de que fizemos o suficiente. Esta atividade frenética leva a exaustão e ao cansaço. Se ao menos crêssemos que a "A obra de Deus é esta: que creiais naquele que por ele foi enviado" (Jo 6.28-29). Que Deus já nos ama, e nada que fizermos ou deixarmos de fazer vai modificar o fato do amor de Deus por nós. A base de nossas obras deve ser nossa gratidão, porque Deus já se agradou, em Jesus de nós, e não para tentar convencer a Deus de se agradar de nós.
O Evangelho denuncia todo esforço humano, relativizando-o, e mostrando que para agradar a Deus é necessário colocar a confiança em Jesus, não nos nossos esforços.
O Dr. Gerstner, descreve a situação do homem, por natureza orgulhoso, assim:
"Cristo fez tudo quanto é necessário para a nossa salvação. Coisa alguma se posta agora no caminho, entre o pecador e o Senhor Deus, exceto as 'boas obras' do pecador. Coisa alguma pode impedi-lo de vir a Cristo, exceto a sua ilusão de que não precisa dEle(...) Se ao menos os homens pudessem ser convencidos de que não tem justiça própria (...) e que todos estão sujeitos ao pecado – então, nada poderia obstaculizar-lhes a salvação eterna. Tudo o de que necessitam é do senso de sua necessidade. Tudo quanto devem ter é o nada. Tudo quanto se requer deles é que reconheçam a sua culpa. Infelizmente, porém, os pecados não sabem separar-se de suas virtudes. Tais virtudes são todas imaginárias, mas lhe parecem extremamente reais. Por outra parte, a graça divina lhes parece irreal. Desprezam a autêntica graça de Deus a fim de se apegarem às suas próprias ilusórias virtudes. Com os olhos fixos em uma miragem, negam-se a beber a verdadeira água. E sucumbem de sede em meio ao oceano da graça divina".
Paulo pergunta: "recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação da fé?" (Gl 3.2). Como é que o Espírito Santo vem para nossa vida, senão quando reconhecemos nosso pecado, nossa incapacidade e olhamos confiantemente para Jesus.
- Oferecer-te-ei sacrifícios de ações de graças – “Oferecer-te-ei sacrifícios de ações de graças e invocarei o nome do Senhor.” (Sl 116.17)
Quando ouvimos falar de sacrifício, pensamos imediatamente nos enormes imposições, normas e leis que as religiões impõem sobre seus fieis. Mas leiam com atenção. Qual é o sacrifício que Deus exige? “Sacrifícios de ações de graças.” Portanto, não são sacrifícios redentivos, mas de louvores.
No Antigo Testamento existiam diferentes sacrifícios, entre eles:
- Sacrifícios de holocaustos, para expiação de pecado
- Ofertas pacíficas, de aroma suave ao Senhor.
No Novo Testamento, o autor aos Hebreus fala da necessidade de fazermos sacrifícios a Deus. “Por meio de Jesus, pois, ofereçamos a Deus, sempre, sacrifício de louvor, que é fruto de lábios que confessam o seu nome. Não negligencieis, igualmente, a prática do bem e a mútua cooperação, pois, com tais sacrifícios, Deus se compraz” (Hb 13.15). Ele também fala de dois tipos de sacrifícios.
- Sacrifícios de ações de graças. Este é o “sacrifício de louvor”. De adoração, de um coração que se sente amado e, em resposta, glorifica a Deus. Precisamos ter sempre em mente que tudo o que fazemos para Deus é adoração. Corações gratos oferecem louvores a Deus, prestam cultos a Deus, ofertam suas vidas a Deus, seus talentos, dons, tempo e dinheiro. Este é o sacrifício que Dr. Russel Shedd chama de “muito obrigado!”
- Prática do bem. Da mesma forma, Deus aceita o sacrifício que fazemos de boas obras e generosidade. “Porque o serviço desta assistência, não só supre a necessidade dos santos, mas também redunda em muitas graças a Deus.” (2 Co 9.12). Quando dispomos o que temos e somos para cuidar dos outros, isto gera benção para quem recebe, mas se transforme em enorme resposta de amor e redunda em muitas graças a Deus.
Conclusão
“Que darei ao Senhor por todos os seus benefícios para comigo?” A resposta mais correta: Não é que você dá, mas como você recebe o que Deus lhe oferece. Receber traz glória ao seu nome. É isto que Deus espera de você, que aceite o presente que ele lhe deu: a salvação em Cristo Jesus.
Isto não parece tão pouco a nós que agimos no sistema operacional da lei? Que sempre achamos que devemos fazer para sermos agradáveis a Deus? Como isto funciona?
É bom entender que ninguém gosta de relacionamentos manipulativos. Deus não quer se relacionar conosco numa base de troca. Muitos se aproximam de Deus, por causa do benefício que ele dá, ou por medo de serem punidos. Muitas vezes lesamos a Deus até mesmo no nosso suposto e falso arrependimento, que nada mais é que uma tentativa de ganhar o seu favor. Arrependimento para fugir da pena, para sermos isentos da condenação. Qual de nós gostaria de ter um relacionamento com alguém que supostamente se arrepende, mas que na verdade nos quer manipular com atitude piegas, de falsa piedade malandra e cheia de máscara?
E fácil relacionar com um ser que lhe ama? Sim e não! Sabe o que muda? O amor. Ouvimos muito falar de que quem não vem pelo amor, vem pela dor, mas Bíblia nos diz que é ´a bondade do Senhor quem nos conduz ao arrependimento.” (Rm 2.4). A verdadeira transformação acontece para aqueles que experimentam a bondade de Deus, o amor de Deus, e respondem a este amor desta forma.
Uma história apócrifa sobre os discípulos de Jesus, nos ajuda a ilustrar a questão:
Um dia, disse Jesus aos discípulos: “Gostaria que carregassem uma pedra para mim.” E não deu qualquer explicação. Então, os discípulos procuraram pedras para carregar consigo.
Pedro, prático como era, procurou pela menor pedra que pudesse encontrar. Afinal, Jesus não havia dito nada sobre o tamanho e peso! Assim, colocou uma pedra no bolso. Jesus então disse: “Sigam-me.” E eles deram início a uma caminhada.
Por volta do meio dia, Jesus pediu que todos se sentassem. Fez um meneio com as mãos e todas as pedras se transformaram em pão. Então, disse: “É hora de comer.” A pedra de Pedro era muito pequena e com apenas uma mordida ela acabou. E depois de terminada a refeição, Jesus pediu que todos se levantassem. Tornou a dizer: “Gostaria que carregassem uma pedra para mim.”
Desta vez, Pedro pensou: “Aha! Agora entendo!” olhou em volta e viu uma pedra maior, suspendeu-a sobre os ombros, e começou a carregar aquele enorme peso. Na sua mente ele só tinha um pensamento: “Vai valer a pena pelo jantar.” Então Jesus disse: “Sigam-me.” E eles deram início a outra caminhada, e Pedro mal conseguia acompanhar o grupo.
Por volta do horário do jantar, Jesus os conduziu para a margem de um rio. Disse: “Agora, quero que todos joguem as pedras na água.” E assim foi feito. Depois acrescentou: “Sigam-me”, e começou a andar. Pedro e os outros olharam para ele, embasbacados. Pedro questionou. De fato ele não havia entendido nada do que havia acontecido. Jesus entendendo a perplexidade não apenas de Pedro, mas de todos os demais, disse: “Não se lembram do que eu pedi que fizessem? Que carregassem a pedra por mim. Por quem vocês carregaram as pedras?[1]
Pedro agiu como o irmão mais velho da parábola do “filho pródigo”. Assim como todos costumamos agir. O irmão mais velho acaba revelando o lado maligno de sua obediência. Ele não obedecia porque amava o Pai e desejava honrá-lo. De fato, ele não desfrutava e nem valorizava a presença do Pai em sua vida; tudo que lhe interessava eram os benefícios e as garantias desta presença.
A atitude do irmão mais velho na parábola do “filho pródigo”, nos ajuda a pensar em uma séria questão. Qual a motivação de nossa obediência a Deus? Quando buscamos a santidade, fazemos por culpa ou medo da punição? Ou quem sabe, nossa retidão é motivada pela esperança de um galardão ou até de benefícios divinos liberados ao longo de nossas vidas? Esta não é a resposta de amor e gratidão que Deus deseja. Este não é o sacrifício que Cristo deseja.
Então considere a seriedade da afirmação deste texto que estudamos hoje: “Que darei ao Senhor por todos os seus benefícios para comigo? Tomarei o cálice da salvação e invocarei o nome do Senhor.” (Sl 116.13)
[1] Elisabeth Elliot. These strange ashes”, citada no livro ” O Deus pródigo” de Timothy Keller, publicado pela Thomas Nelson Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário