terça-feira, 17 de maio de 2022

1 Pe 1.10-12 O Evangelho na perspectiva dos profetas e dos anjos

 


 

Introdução

 

No estudo anterior, consideramos duas etapas:

A.   O Plano da Salvação

B.    Os efeitos da Salvação

 

O Plano da Salvação

Sobre o plano da salvação analisamos os seguintes aspectos:

 

a.     Deus nos elegeu. (1 Pe 1.1-2) Esta mensagem era extremamente importante para aqueles irmãos primitivos que estavam lidando com toda sorte de oposição. Saber que Deus os amava, os havia considerado especiais, certamente era transformador. Pedro usa a palavra eleição duas vezes nestes primeiros versículos.

 

b.     Ele nos regenerou (1 Pe 1.3) A obra de Deus em nos dar uma nova identidade, um novo nascimento, em nos tornar novas criaturas.

 

c.     Ele nos deu viva esperança (1 Pe 1.3). Não caminhamos para a eternidade indo para o nada. Sabemos em quem temos crido. Não é uma esperança vaga, nem um “talvez”, mas uma esperança viva.

 

d.     Ele nos deu herança eterna. (1 Pe 1.4). Com Cristo recebemos todas as bençãos espirituais. Há uma maravilhosa nos céus àqueles que pertencem a Cristo.

 

e.     Ele nos guarda (1 Pe 1.5). Pedro usa aqui um termo militar. Somos protegidos militarmente por Deus. Esta é a única maneira que nos possibilita de não tropeçarmos e falharmos. Nossa vitória espiritual está garantida, porque é Deus quem nos guarda.

 

Este é o plano da salvação, sintetizado.

 

Os efeitos da Salvação

 

Logo a seguir, o texto vai falar dos resultados da obra da salvação no coração dos eleitos de Deus.

 

a.     Alegria no meio da tribulação - (1 Pe 1.6) Aqueles pessoas não teriam condições de experimentar qualquer forma de regozijo, se olhassem para a condição humana a que estavam sujeitos, entretanto, Pedro afirma: “Nisso exultais.” Ele está se referindo a toda a compreensão espiritual que eles tinham acerca de Deus e acerca de si mesmo. Era uma alegria transcendental.

 

b.     Fé valorosa – “O valor da vossa fé” (1 Pe 1.6). Pedro se refere à fé como algo valoroso, não algo barato e descartável. Esta afirmação nos leva a indagar se realmente consideramos a fé que assumimos como algo de valor. Bonhoeffer falava da graça barata, e do discipulado sem custo. A verdade é que “fé que não custa nada, não vale nada!”

 

c.     Esperança gloriosa – Aqueles irmãos estavam historicamente dispersos, mas viviam na dimensão da eternidade, eles compreendiam a beleza da salvação espiritual que eles haviam gratuitamente recebidos em Cristo.

 

A importância da salvação

 

Nos vs 10-12, Pedro vai introduzir um aspecto diferente. Ele tenta mostrar como esta fé é valiosa. Ele falará de como os profetas e os anjos, ansiavam por estas verdades.

 

Na medida em que lemos o texto, vamos percebendo que, no mundo espiritual, e nas esferas celestiais, havia desde antigamente, um certo sussurro e indagação sobre um evento, do qual eles não tinham compreensão muito clara, mas possuíam algum vislumbre. Pedro menciona os profetas e anjos.

 

Os profetas indagavam... (1 Pe 1.10)

O que isto quer dizer?

Na verdade, havia certa inquietação destes homens que recebiam as mensagens de Deus, porque a revelação que eles recebiam eram ainda parciais. Os profetas tinham “vislumbres”, mas não entendiam todas as coisas relacionadas a Cristo e ao evangelho.

 

Por exemplo:

 

O Salmo 22 fala do Messias sendo crucificado.

Todos os que me veem zombam de mim; afrouxam os lábios e meneiam a cabeça: Confiou no Senhor ! Livre-o ele; salve-o, pois nele tem prazer.” (Sl 22.7-8). Isto aconteceu na cruzenquanto Jesus era crucificado. O Salmistaprofeticamente está falando de quem?

 

Cães me cercam; uma súcia de malfeitores me rodeia; traspassaram-me as mãos e os pés.” (Sl 22.16). Sobre quem o salmista estava falando? Por acaso Davi teve suas mãos e pés traspassados?

 

Repartem entre si as minhas vestes e sobre a minha túnica deitam sortes.” (Sl 22.18) Os leitores do Novo Testamento sabem perfeitamente que o salmista está falando de Cristo. mas quando ele escreveu estas coisas, ele tinha compreensão do que seria?

 

O profeta Isaias fala do servo sofredor, do Messias sendo sacrificado. Algum leitor do Antigo Testamento, ou mesmo o profeta seria capaz de entender esta mensagem?

 

Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados.” (Is 53.5). Por acaso o profeta era capaz de vislumbrar todo o cenário e todas as implicações do resgate efetuado por Cristo lá na cruz? Certamente que não. Entretanto, ele fala destas coisas.

 

Quando Miqueias fala do local de nascimento do Messias, ele o faz com detalhes:

E tu, Belém-Efrata, pequena demais para figurar como grupo de milhares de Judá, de ti me sairá o que há de reinar em Israel, e cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade.” (Mq 5.2). De onde veio isto em sua mente? Ele compreendia o que estaria acontecendo em Belém? O nascimento do Filho de Deus, da encarnação do verbo. Naturalmente que não. Entretanto, ele fala disto, porque Deus lhe havia revelado. Não era uma inquiracao pessoal. “Nenhuma profecia provem de particular elucidação.”

 

Ora, todos os profetas e discípulos de profetas, entrando em contato com as verdades reveladas a eles ou aos outros profetas, ficavam tentando decodificar todas estas verdades anunciadas. Mas todos falavam sem compreensão clara do que viria. Veja os verbos que Pedro usa neste texto:

 

·       Indagaram

·       Inquiriram

·       Profetizaram

·       Investigaram

 

Eles investigavam a ocasião e as circunstâncias, relacionadas a duas coisas:

 

A.   Ao sofrimento do Messias

 

Isaias descreverá com detalhes o sofrimento do Messias no capitulo 53. Davi também o fez com clareza no Salmo 22. Apesar destas claras descrições, os judeus sempre tiveram a ideia de um Messias triunfante, guerreiro e vitorioso, não de um Messias morto numa cruz.

 

B.    A glória do Messias.

Assim como os profetas descreveram o sofrimento eles também falaram da glória. Veja como Daniel fala da glória do Filho do Homem:

 

Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha com as nuvens do céu um como o Filho do Homem, e dirigiu-se ao Ancião de Dias, e o fizeram chegar até ele. Foi-lhe dado domínio, e glória, e o reino, para que os povos, nações e homens de todas as línguas o servissem; o seu domínio é domínio eterno, que não passará, e o seu reino jamais será destruído. Quanto a mim, Daniel, o meu espírito foi alarmado dentro de mim, e as visões da minha cabeça me perturbaram.” (Dn 7.13-15).

 

Daniel fala do Filho do Homem, uma clara referência a Jesus que atribuiu este titulo a ele mesmo, como de alguém que teria domínio e glória, e cujo reino jamais teria fim. Depois destas revelações, não é de se impressionar que Daniel ficasse abalado, com seu espírito alarmado, e as visões da sua cabeça me perturbador. Ele não tinha compreensão daquilo que ele escrevia. Ele foi movido pelo Espírito Santo para registrar suas visões, porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens [santos] falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo.” (2 Pe 1.21).

 

Os profetas falavam para nós. As revelações não eram para eles mesmos.

Pedro tenta mostrar como isto é importante. Até os profetas quiseram entender tudo isto, mas Deus guardou esta mensagem para nosso tempo.

 

Isto dá peso e consistência à mensagem na qual eles criam e estavam sendo sustentados.

 

Os anjos desejavam contemplar...

 

Em seguida, Pedro vai demonstrar de outra forma como a mensagem que eles estavam recebendo era maravilhosa: Não apenas os profetas indagaram sobre ela, mas até mesmo no mundo espiritual, os anjos percebiam que algo muito especial estava para acontecer, mas não sabiam o que era.

 

A eles foi revelado que, não para si mesmos, mas para vocês, ministravam as coisas que, agora, foram anunciadas a vocês por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu, lhes pregaram o evangelho, coisas essas que anjos desejam contemplar.” (1 Pe 1.12).

 

Paulo se refere à obra de Cristo como o “mistério de Deus”

“...pois, segundo uma revelação, me foi dado a conhecer o mistério” (Ef 3.3) e afirma que o Evangelho das insondáveis riquezas de Deus encontrava-se no mistério da encarnação de Cristo. “A mim, o menor de todos os santos, foi dada esta graça de pregar aos gentios o evangelho das insondáveis riquezas de Cristo e manifestar a todos qual é a dispensação do mistério que, durante tempos passados, esteve oculto em Deus, que criou todas as coisas.” (Ef 3.8,9).

 

Este mistério não era esotérico como pressupõem os espiritualistas e os gnósticos. Tratava-se de um plano de Deus em não revelar o que ele estava por fazer. Tratava-se da encarnação do própria Deus. Ele assumindo a natureza humana, e este mistério foi revelado quando “o verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1.14).

 

Os anjos tinham uma visão limitada sobre este assunto. Anjos não são seres oniscientes. Este é um atributo apenas das pessoas da Trindade, trata-se de um atributo divino. Entretanto, assim como os profetas eles tinham vislumbres de que algo grandioso estava para acontecer. O que de fato viria, contudo, foi um choque. Deus se encarnou. Esta foi a maior surpresa. Os anjos anelavam “perscrutar” estas verdades (RA). O sinônimo desta palavra é “examinar, investigar rigorosamente; indagar, perquirir”. E ainda: “tentar conhecer, procurar penetrar no segredo das coisas.”

 

O inferno jamais poderia imaginar que o próprio Deus habitaria entre os homens. Eles sabiam que sua condenação já estava determinada, mas ficaram surpresos com o que aconteceu no “meio da história”, e não no fim da história. Um dia Jesus estava expulsando demônios do endemoninhado gadareno, e a afirmação que os demônios fizeram é surpreendente.

 

Que temos nós contigo, Filho do Homem? Viestes perder-nos antes do tempo?” (Mt 8.29). Preste atenção na expressão: “Antes do tempo”. A que tempo eles se referem? Naturalmente eles falavam do juízo final quando Satanás será definitivamente condenado e jogado no lago de fogo e enxofre (Ap 20.1,2). Mas a surpresa deles foi se deparar com um julgamento “antecipado”.

 

Por esta razão os anjos desejavam saber antecipadamente do que se tratava todos aqueles sussurros diante do mistério de Deus oculto em Cristo. nem os profetas, nem os anjos, puderam.

 

Pedro então se volta para seus leitores, dispersos e forasteiros, sofrendo grandes tribulações e lhes diz:

A eles foi revelado que, não para si mesmos, mas para vocês, ministravam as coisas que, agora, foram anunciadas a vocês por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu, lhes pregaram o evangelho.”(1 Pe 1.12). Era uma forma de demonstrar qual importante esta mensagem era para eles.

 

Diante disto, Pedro exorta então os irmãos a responderem ao evangelho de forma santa e positiva. A partir de 1 Pe 1.13, ele vai encorajá-los, a darem uma resposta de amor a tudo isto que receberam de Deus.

 

Mas sobre este assunto falaremos em outra oportunidade.



 

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