sábado, 7 de maio de 2022

Fp 4.4 Ponha a mente no lugar




“Alegrai-vos sempre no Senhor,

outra vez digo, alegrai-vos”

(Fp 4.4)

 

 

 

Introdução

 

Este versículo “Alegrai-vos sempre no Senhor” é conhecido e citado de cor por muitas pessoas, entretanto, é um dos versículos mais difíceis da Bíblia para ser colocado em prática.

 

Esta alegria possui alguns aspectos desafiadores que devem ser levados em conta.

 

  1. Não está condicionada a nenhum fato externo. Quando a Bíblia diz “Alegrai-vos”,  não o faz apenas porque as coisas estão indo bem ou porque as condições exteriores ao favoráveis. Paulo esta preso ao escrever. Esta alegria é ultracircunstancial.

  1. Não é opcional, é mandamento! É imperativo, uma ordem dada por Deus. O texto não diz: Se você quiser ficar feliz, fique! Ele diz: Alegrai-vos!

  1. Deus determina que ela seja uma atitude constante em nossa vida. “Alegrai-vos sempre.” Não apenas comendo churrasco, ou numa viagem, mas no dia a dia.

  1. Este mandamento é plural: Não é apenas para algumas pessoas que possuem certa predisposição mental para a alegria, ou possuem um senso de humor melhor. A ordem é dada a toda a igreja.

 

Por todas as razões expostas acima, podemos ter a impressão de que a Palavra de Deus está falando de algo utópico, impossível de ser alcançado, ou temos vivido uma realidade tão distante das promessas de Deus que não conseguimos experimentar a riqueza de suas promessas. Será que é possível, de fato, alegrar-se sempre no Senhor? Esta promessa de Deus é exequível e aplicável ao povo de Deus?

 

Pense em você mesmo. Como é sua atitude cristã? Como você encara a vida? Como você tem vivido? Você tem experimentado a alegria dos céus em sua vida?

 

Este texto, porém, indica de forma clara onde esta alegria pode ser encontrada: “Alegrai-vos no Senhor!” Esta é uma felicidade que brota de Deus. Jamais teremos condições de experimentar de tal alegria se a buscarmos em qualquer fonte que não seja o próprio Deus. Esta alegria só pode ser encontrada no Senhor. Apenas a obra de Deus é capaz de realizar em nós algo tão substancial e poderoso. Apenas Deus é capaz de gerar em nós este estilo de vida.

 

Você anseia por uma vida de alegria e contentamento? Você gostaria de buscar isto no Senhor?

 

A forma como Paulo lê e interpretar sua vida, o capacita a encontrar gozo e alegria apesar das oposições e ameaças. Quanto a nós, mesmo quando as situações estão favoráveis, continuamos escravizados a viver medíocre e a uma vida de depressão e dor, porque interpretamos a vida não a partir de Deus, mas a partir de nós mesmos.

 

O que pode trazer alegria?

 

Na carta aos Filipenses, Paulo vai demontrar como a mente determina o humor. Por isto esta carta fala tanto da mente. Precisamos de uma mente que faça a leitura correta das coisas. Só uma mente centrada em Deus será capaz de experimentar a alegria que este texto sugere.

 

Ele fala de 4 tipos de atitudes, ou mentalidades, que podem nos levar a um patamar superior de existência, afinal, melhores atitudes, maiores altitudes. O homem é o que ele pensa. A forma como interpretamos as experiências e o cotidiano, determinarão as emoções e humor. Fazem diferença entre uma vida de alegria ou de desânimo.

  

Um dos métodos mais conhecidos pelos conselheiros cristãos foi desenvolvido por Jay Adams, pastor presbiteriano, professor do Westminster Theological Seminary em Pensialvânia. Ao Estudar a Bíblia ele percebeu como a mente é fundamental no discipulado cristão, e a partir desta compreensão, criou uma abordagem de aconselhamento conhecida como “Método Noutético.” Esta palavra tem sua raiz no grego nous, (mente). Adams afirma que o segredo para um aconselhamento eficiente é a capacidade do conselheiro cristão colocar a mente dos servos de Deus em consonância com a Palavra de Deus. O que nos faz sofrer geralmente tem a ver com nossa incapacidade de pensarmos a partir das Escrituras e a desenvolvermos uma cosmovisão identificada com o pensamento de Deus. Como nossa mente é terrena, só nos preocupamos com as coisas terrenas, e por perder a dimensão das verdades eternas, pensamos da forma em relação às verdades de Deus.

 

Outro escritor que trabalha muito nesta perspectiva é Lawrence Crab Jr, no livro “Aconselhamento Bíblico Efetivo”. Ele afirma que em todo conflito que enfrentamos, precisamos identificar algo que não está em consonância com as verdades de Deus, e desvendar a origem do pecado e voltarmos para os princípios bíblicos, nos arrependermos, confessarmos e colocar novamente nossa mente na forma apropriada de pensar, isto é, de acordo com as verdades de Deus reveladas nas escrituras.

 

Isto pode ser percebido na vida de Paulo. Ele se encontrava preso ao escrever a carta aos Filipenses, que é chamada de “a carta da alegria”, mas apesar das condições desfavoráveis, seu coração estava firme. Ele não se abate porque não depende das coisas, pessoas ou situações para encontrar sua felicidade. Sua mente está sintonizada com a mente de Deus, e esta forma de pensar, o leva a um patamar no qual ele pode afirmar: “Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo: Alegrai-vos” (Fp 4.4).


O problema da alegria é que a buscamos como alvo, e não como resultado. Há muitas pessoas buscando a alegria e saindo desenfreadamente atrás da felicidade, mas a alegria nunca será encontrada desta forma. Ela depende de alguns fatores para "acontecer". Ela não é alvo, conquista, mas consequência. Existem determinados pressupostos que dão a base para que ela aconteça. 


Podemos perceber isto na vida de Paulo. Sua mente era o seu segredo. A forma como ele interpreta a vida é o segredo da felicidade. Na Carta aos Filipenses podemos observar quatro atitudes mentais que geram o fundamento para sua alegria. 


Sua mente era o segredo. A forma como ele pensava.

Como era a mente de Paulo? Podemos falar de quatro características:

        A mente integral

            A mente submissa

                A mente espiritual

                    A mente segura

 

  1. A mente integral - Paulo descreve aqui um tipo de mente que podemos chamar de integral. Como funciona esta forma de pensar?

 

Paulo demonstra que para ele, existe um Deus que governa, e que dirige todas as coisas. Sua vida não é resultado de um big-bang evolutivo, nem fruto de um jogo de dados impessoais. Deus está no controle da situação. “As coisas que me aconteceram tem antes contribuído para o evangelho” (Fp 1.12). O que lhe acontecia pode parecer a qualquer um de nós algo caótico, mas para ele tais fatos possuiam objetividade e propósito. Ele não era prisioneiro de Roma, antes o que lhe acontecia fazia parte de uma estratégia maior, fazia parte de um plano de Deus no qual ele estava envolvido e fora convidado a participar. Deus haveria de suprir, em Cristo Jesus, cada uma de suas necessidades (Fp 4.19). Ele estava nas mãos de Deus.

 

Isto é mente integral. Ele estava em Cristo, suas cadeias estavam ligadas ao plano de Cristo para sua vida. (Fp 1.13)

 

Você interpreta sua história como uma mera sucessão de acasos e coincidências, ou crê em um Deus sábio e providente que é Senhor da história? Pessoas que interpretam a vida como se ela fosse um mero acidente, não entenderam o Deus revelado nas Escrituras. Aqueles que estão em Cristo, crêem que tudo possui um propósito, Deus está por detrás da história, age na história, segue um tempo divino e um cronograma divino. Isto é mente integral.

 

O contrário de integral é fragmentada.

 

Neste caso, achamos que os eventos da história são desconexos, um movimento caótico no qual os fatos acontecem sem que se saiba ao certo porque, ou sem que se encontre objetivo.

 

Por não termos uma mente integral, facilmente perdemos a alegria. Vivemos de acordo com a antiga música que diz: “Deus dará, Deus dará, como é que vai ficar, oh nega?”. A vida perde o objetivo e nos vemos como meras poeiras cósmicas na imensidão deste universo infinito, esperando a hora da morte. Paulo não olhava para Cristo através das circunstâncias, mas as circunstâncias através de Cristo. Não podemos mudar as circunstâncias, mas podemos mudar a forma de enxergá-las.

 

Qual era a preocupação de Paulo?

Todas seu coração estava relacionado ao Evangelho de Cristo.

            -A comunhão do Evangelho

            -O avanço do Evangelho

            -A fé do Evangelho

 

  1. Uma mente submissa – Para manter a mente integral, podemos de algo que fez toda a diferença: A mente submissa a Deus. Paulo desenvolveu isto na sua vida.

 

No capítulo um, Paulo põe Cristo em primeiro lugar

 

Ele demonstra que não se importava muito com sua própria vida.  Cristo de fato era o que interessava, o importante era o evangelho. As pessoas estavam pregando o evangelho com as motivações mais torpes e Paulo diz. “Todavia, o que me importa? Uma vez que Cristo, de qualquer modo, está sendo pregado” (Fp 1.18). Em seguida ele demonstra sua visão de forma ainda mais radical ao afirmara:

 

Segundo a minha ardente expectativa e esperança de que em nada serei envergonhado; antes, com toda a ousadia, como sempre, também agora, será Cristo engrandecido no meu corpo, quer pela vida, quer pela morte. Porquanto, para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro”. (Fp 1.20,21).

 

Paulo demonstra aparentemente um certo desprezo pela sua vida. Não importa se eu viva ou se eu morra, em nada serei envergonhado. Cristo será engrandecido em meu corpo, quer pela vida quer pela morte. Não importa o que lhe aconteça, Cristo é que interessa na sua vida.

 

Sofremos demais por que geralmente somos muito auto centrados. Perdemos nossa alegria porque achamos que Deus nos deve algo, que a vida nos deve algo. Mark Twain ironicamente afirmou: “o mundo não lhe deve nada, ele estava aqui antes de você chegar”.

 

Paulo não estava construindo a vida em torno de seus interesses pessoais, mas da obra de Cristo. Tirarmos a nossa vida do centro, não é uma tarefa fácil, somos auto centrados, auto glorificados, e auto enamorados, mas quando Cristo assume a liderança de nossa vida, descobrimos que nosso prazer está em Deus.

 

Jesus disse que sua comida e sua bebida era fazer a vontade do Pai. Paulo está na prisão, mas ele está feliz, porque vê que muitas pessoas estavam sendo salvas pelo evangelho que chegara a Filipos, e porque ele percebeu que Deus queria usá-lo onde se encontrava, isto é ali na prisão. “As minhas cadeias, em Cristo, se tornaram conhecidas de toda guarda pretoriana, e de todos os demais” (Fp 4.13).

 

No capítulo dois, ele põe os outros em segundo lugar e ele em terceiro.

 

O problema é que sempre queremos estar em evidência, e isto gera estresse, competição e cansaço. Sempre haverá alguém melhor e mais competente que você. Quando você vê Cristo na pessoa do lado, a competitividade desaparece. Todos temos espaço e podemos crescer.

 

A mente submissa descobre o sentido de missão. Passa a não viver mais em torno de si mesmo, e isto é um fator propulsor de uma grande alegria.

 

Só temos duas opções reais na vida: Abandonar a Deus ou abandonar-se a Deus. Humilhar-se é deixar de dizer o que Deus deveria estar fazendo em nossa vida.

 

  1. Uma mente Espiritual - No capítulo 3 ele usa cinco vezes a palavra "coisa".  A mente carnal está ligada a coisas materiais, a "mente espiritual" está interessada em "realidades celestiais".

 

Esta forma de pensar revoluciona o nosso viver. Paulo denuncia um grupo de líderes da igreja que eram inimigos da cruz de Cristo (Fp 3.18) e cuja vida era centrada absolutamente na carne, num estilo de vida apegado às coisas mundanas: “O destino deles é a perdição, o deus deles é o ventre, e a glória deles está na sua infâmia, visto que só se preocupam com as coisas terrenas.” (Fp 3.19). Uma mente centrada em coisas da terra, perde a capacidade de se alegrar no Senhor. Existe uma outra forma de pensar. Paulo fala na Carta aos Coríntios sobre a mente de Cristo. “Nós, porém, temos a mente de Cristo.” (1 Co 2.16). A mente de Cristo gera em nós uma forma diferente de enxergar as coisas. \

 

Alguns anos atrás li um texto em Colossenses que diz: “Pensai nas cousas lá do alto, não nas que são aqui da terra” (Col 3.2), e fiquei pensando em quanto da minha vida realmente gasto pensando nas coisas lá do alto. Minha mente é muito mundana, repleta de aspirações humanas, conquistas terrenas. Por isto, quando as coisas do mundo, perdem o controle, eu me desespero. Minha mente não está conectada com o eterno, mas com o temporal.

 

A mente espiritual reorganiza o universo. A ânsia por "coisas" rouba a alegria da alma. Buscamos sucesso, realização, satisfação pessoal, e nos esquecemos de Deus, onde se encontra todas as fontes da verdadeira alegria, nos entretemos demais com coisas passageiras, nos perdemos nas circunstâncias. “Tal é a sorte de todo ganancioso, e este espírito de ganância, tira a vida de quem o possui” (PV 1.19).

 

Jim Elliot diz:

            "Não é tolo nenhum aquele que dá o que não pode reter

            para ganhar aquilo que ele não pode perder".

 

A ambição nos leva a querer ter as coisas, e quando menos percebemos, as coisas tomam posse de nós. O segredo é olhar as coisas do ponto de vista de Deus. Coisas são instrumentos de Deus a serviço do reino, para a glória de Deus, e desta forma se tornam motivos da nossa alegria.

 

  1. Uma mente segura – A mente segura é aquela que está ancorada corretamente. Ela está firmada na Palavra de Deus, e constrói sua casa sobre a rocha. Ele é segura, não porque está centrada em si mesmo, mas porque está firmada em Deus.

 

Pense um pouquinho sobre o que é preocupação? Nada mais que um sentimento errado. Nosso coração percebendo as coisas de forma equivocada, as emoções fora de sintonia com o Eterno. Preocupação tem a ver com o pensamento errado. Não estamos seguros porque o fundamento no qual colocamos nosso coração é falso. É casa sobre areia. A mente está fazendo leituras erradas. Quando pensamos corretamente, sentimos corretamente e ficamos seguros.

 

Lendo o estilo de vida monástico, dos chamados “Pais do deserto” num texto de Eugene Peterson, estudei um pouco dos votos que um monge fazia ao ingressar numa destas ordens. Três deles conhecemos bem: Castidade, pobreza e obediência. Mas o quarto me surpreendeu: trata-se do voto da Estabilidade.

 

Estabilidade tem a ver com serenidade, com solidez, segurança. Já viram pessoas sem estabilidade? Seja ela emocional, financeira, variação de humor? Líderes hipersensíveis, se ofendem ou se escandalizam com facilidade? Um líder cristão precisa ser estável, porque isto tem a ver com a mente de Cristo. Um homem de Deus não pode ser destemperado, mas precisa de moderação.

 

Isto tem a ver com a mente segura. Que não se abala com qualquer coisa, sabe atravessar tempos de dificuldade com sabedoria, bom senso e equilíbrio.

 

Por isto as doutrinas bíblicas são tão importantes. Se creio que sou salvo pela graça de Cristo, isto faz imensa diferença no meu coração e no meu estilo de vida.

 

Se sei que sou amado de Deus, isto determina a minha vida, se confio que a Palavra de Deus é verdade e que posso me firmar nestas verdades sem medo de sofrer qualquer vergonha, isto me dá segurança.

Se estou certo de que Cristo levou sobre si toda minha culpa no calvário, e que ele me comprou com o preço de sangue, então posso estar seguro sobre minha vida eterna;

Se sei que todas as coisas estão nas mãos de um Deus amoroso e sábio, e não nas mãos de um universo vazio e cego, isto muda a minha vida.

 

Por isto Paulo afirma: "O Senhor guardará nosso coração e nossa mente em Cristo Jesus." (Fp 4.7) Guardar é um termo militar. "Estar de guarda, colocar forças militares". Quando me firmo em Deus, Ele coloca proteções sobre minha mente e meu coração. Por isto descubro minha verdadeira alegria, que se encontra em Deus.

 

Conclusão

 

Para concluir, gostaria de comentar ainda alguns pontos práticos:

 

  1. Esta alegria prometida é ultracircunstancialSempre! O que distingue um cristão de um não cristão não são as circunstâncias. A casa na areia sofre as mesmas tempestades da casa da rocha. Ser cristão não é um apólice de seguro contra problemas. O que distingue o cristão é a base de seu pensamento: Integral, submisso, espiritual e por isto segura, porque está alicerçada em Deus.

 

  1. Esta alegria é Cristocêntrica – “No Senhor”. Mente e coração devem ser guardados em Cristo Jesus Ele é a nossa alegria. Nossa alegria é uma pessoa, não coisas ou circunstâncias favoráveis, nem mesmo bênçãos recebidas, mas o próprio Deus.

 

  1. Precisamos pensar corretamente. Isto só é possível quando submetemos nossa mente a Cristo. O que precisamos pedir é que Deus coloque em nós a mente de Cristo. Pensar como Jesus, sentir como Jesus, julgar como Jesus, viver como Jesus, andar como Jesus. Nossa mente precisa estar encharcada da pessoa de Cristo, só desta forma poderemos experimentar a alegria que ele promete ao seu povo.

 

 

Samuel Vieira

Anápolis

Abril 2010

Refeito Maio 2022

 

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