segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Cap. 7 - Série: Educando Filhos no Séc.XXI - Igreja e Familia Balanceando influências Dt 6.4-8

 


 

Se pensarmos em termos da quantidade de tempo disponível para cuidar espiritualmente da alma dos filhos, certamente ficaremos assustados ao perceber quão pouco tempo temos para equilibrar este grande descompasso entre a educação secular e a cristã. Enquanto uma criança gasta cerca de 3000 horas por ano em escolas, terá apenas 50 horas na igreja.

 

Nenhuma instituição tem mais tempo e possibilidades de exercer influência sobre os filhos que a família. Igreja e família, portanto, precisam se aliar para balancear esta influência, diante da esmagadora força do secularismo. Certa mulher disse ao seu pastor que não sabia porque o seu filho havia se afastado da igreja, afinal, ele fora criado na igreja. E o pastor respondeu: “Este foi o seu problema. Filhos devem ser criados em casa, não na igreja”.

 

A igreja consegue:

a.     Criar vínculos históricos, formando uma identidade, dando senso de pertencimento. Esta é, a base de sustentação do judaísmo. Por onde iam, levavam consigo símbolos, afirmações de fé, e principalmente, a Torah, que era lida nas sinagogas, além do fato de que tradições religiosas eram rigorosamente preservadas como o sábado e o Bar Mitzvah, por exemplo;

 

b.     A igreja pode encorajar os pais, fornecendo conteúdos apropriados, encorajando-lhes a fé, ajudando-os a preservar convicções através de liturgias e símbolos;

 

c.     O grande desafio da igreja encontra-se em atualizar os métodos, criando linguagem propícia para transferir informações e conteúdos que possam apoiar a espiritualidade e caminhada de fé da família.

 

Em contrapartida, a família deve:

a.     Encorajar seus filhos a criar relacionamentos, a desenvolver práticas religiosas.

 

b.     Criar modelos de vida cristã, que possam sustentar os filhos em relação às próximas gerações.

 

c.     Quando Deus resolveu se encarnar, não foi sem motivo que ele escolheu uma família. As primeiras experiências de afeto e acolhimento foram por meio de uma família. 

 

Por isto precisamos, buscar o equilíbrio de forças. Igreja e família somando para encorajar a fé, afinal:

A.    Quem vai controlar o coração e a mente dos filhos?

B.    Basta pensar de forma estatística:

i.               Quanto tempo a criança gasta na escola?

ii.              Quanto tempo a criança fica na igreja?

iii.            Quanto tempo significativo ele desfruta com os pais?

iv.            Quanto tempo na internet e nas redes sociais?

 

O texto de Deuteronômio 6.4-12 nos fornece estratégias importantes para a caminhada com os filhos.

 

Moisés havia sido líder do povo de Deus por quase 40 anos e agora percebia que sua partida estava chegando, então, solenemente, transmitiu estas palavras, como que para assegurar que a nova geração estaria protegida das influências pagãs e idolátricas do povo de Canaã. Ele sabia que não seria fácil, e dá algumas direções para o povo de Deus. Estas palavras foram proferidas cerca de 3500 anos atrás.

 

Eis alguns princípios:

 

1.     Mantenha o eixo central bem firmado – Moisés profere em Dt 6.4, aquilo que ficou conhecido como o Shemah hebraico: “Ouve, ó Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor” . Esta afirmação ficou tão clara na comunidade hebraica, que ainda hoje os judeus mais religiosos ainda a proferem pelo menos duas vezes com seus filhos: “O Senhor nosso Deus, é o único Senhor”.

 

Este é o eixo central, em torno do qual deve girar todas as demais coisas.

 

O Salmo 78 afirma: “O que ouvimos e aprendemos, o que nos contaram nossos pais, não encobriremos aos nossos filhos; contaremos às vindouras gerações, os louvores do Senhor, e o seu poder, e as maravilhas que fez”  (Sl 78.1-2). Este legado não poderia ficar encoberto pelos pais. Os filhos deveriam ouvir de onde vinham, ter identidade e conhecer o Deus de seu povo.

 

A preocupação de Moisés era mais que justificada, porque logo depois da morte de Josué, a geração seguinte se perdeu completamente. “Depois da morte de Josué, levantou-se uma geração que não conhecera o Senhor, nem ouvira falar dos feitos de Deus”(Jz 2.10), e por não terem atentado para este principio, os filhos se apostataram seguindo Baal e Astarote, deuses cananitas.

 

Aos pais descuidados e desatentos espiritualmente é bom lembrar que se eles se afastarem da igreja, a próxima geração ainda se lembrará um pouco de sua origem religiosa, mas a outra geração, sem conexão alguma com Cristo, vai descambar para o misticismo e teremos netos de crentes seguindo seitas exóticas, praticando macumba e rituais animistas. Eu particularmente já tenho visto estas trágicas situações em nosso meio.

 

Para Reggie Joiner (Pense laranja), manter este eixo central é forma de “imaginar o final”. Em épocas de crise, em dias sem esperança, quando não ha soluções simples, nem revelação específica de Deus, o povo de Israel deveria confiar no princípio, mantendo o fim em mente:

 

“Minha família faz parte de algo maior,

e Deus deseja mostrar seu poder redentor em nossa vida”.

 

2.     Use uma abordagem pessoal – Estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração” (Dt 6.6).

 

Antes de ser transmitida, precisa ser recebida e adotada em nós. Antes de ensinarmos, precisamos aprender. As verdades espirituais devem passar primeiramente pelos nossos corações.

 

Antes de falar o que fazer com os filhos, Moisés orienta sobre o que a atitude dos pais. Certas coisas não podem ser ensinadas se não forem previamente adotadas por nós, princípios espirituais cabem nesta lista. Antes de pensarmos no que os filhos estão se tornando, precisamos pensar em que estamos nos tornando.

 

Isto implica não apenas em ensinar, mas demonstrar.

 

Certo pai doou 5 reais na hora do ofertório na igreja, e ao sair do culto, passou a reclamar das músicas, do sermão do pastor, do banco duro, do calor, e o filho de 6 anos que observava tudo comentou: “Também... com a oferta que o senhor dá...”

 

Não tenho nenhuma dificuldade em batizar crianças, encontro bases suficientes na Bíblia para realizar este ato sacramental, mas tenho grandes crises quando pais, que não tem nenhum compromisso com o reino de Deus, nem com a igreja local, decidem fazer votos que não são podem cumprir. Por isto, diante de pais que não tem claros compromissos espirituais, costumo perguntar: “Vocês  tem condições, em boa consciência, diante da igreja e principalmente de Deus, de responder estas questões?” E leio as perguntas que deverão responder.

 

Alguns afirmam que sim, assumem compromisso, mas o fazem de forma leviana.

Outros, ao serem indagados, admitem que não podem, mas querem mudar.

 

Outros, não tem nenhum problema com tais afirmações, porque isto faz parte de sua vivencia espiritual.

 

Os filhos precisam ver os pais:

i.               Assimilando o Evangelho nas suas vidas

ii.              Confessando pecados e demonstrando arrependimento

iii.            Se alegrando em fazer parte da família de Deus

iv.            Lutando pelo casamento com temor e tremor

v.              Orando, agradecendo a Deus pelas bençãos, e buscando a graça de Deus para serem espiritualmente vitoriosos

 

Pais precisam ser modelos. Filhos precisam de modelos. Na segunda série destas palestras afirmei que “não existem filhos problemas, existem pais problemas.” Isto pode assustar-nos, mas o que eu tenho percebido é que filhos que crescem em lares que amam o Senhor, podem até se desviar, mas eventualmente retornarão ao Senhor.

 

A vida com Deus, precisa ser uma realidade em nossas vidas, para que os filhos assimilem as verdades das Escrituras Sagradas.

 

3.     Lute pelo coração – Moisés tinha clareza de que o grande alvo dos pais seria lutar pelo ponto central da existência humana: o coração.

 

Ele fala de que a relação com Deus deveria ser sustentada à base dos afetos: “Amarás, pois, o Senhor teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento”. O coração dos filhos deveria ser o objetivo da pedagogia do povo de Deus. Eles deveriam aprender amar a Deus.

 

O que distingue uma fé ritualista e institucional de uma fé viva, é a força impulsionadora do amor. A fé precisa passar pelo coração.

 

Já citei e até mesmo proferi uma palestra baseada no livro de Ted sobre educação cristã, “Pastoreando o coração das crianças.” Ele conseguiu fugir dos conceitos comportamentais e dos jargões psicológicos, e abordar a disciplina dos filhos na perspectiva do Evangelho. Na educação cristã, o alvo não é apenas corrigir comportamentos na base do reforço positivo e negativo, nem para que os filhos nos deem sossego e não causem problemas por falta de educação, o grande alvo deve estar ainda acima destas coisas: As verdades da Palavra de Deus precisam penetrar a alma dos filhos.

 

Reggie Joiner faz a seguinte afirmação:

“Há pais que são mais eficientes em lutar para vencer uma discussão do que em brigar para ganhar o coração de seus filhos” (Pense laranja, pg 58).

 

Moisés instrui os pais.

Quando teu filho, no futuro, te perguntar, dizendo: Que significam os testemunhos, e estatutos, e juízos que o Senhor Deus vos ordenou? Então dirás a teu filho: Éramos servos de faraó, no Egito; porém, o senhor de lá nos tirou com poderosa mão”(Dt 6.20-21).

 

Como ganhar o coração dos filhos?

 

Isto só é possível mediante um relacionamento de confiança. Moisés não apresenta muitas razões práticas, mas ele ensina que Deus é digno de confiança e tem um envolvimento afetivo com o seu povo. Ele é um Deus de aliança, Deus de pactos.

 

O principal alvo não é levar os filhos a seguir regras (behaviorismo), mas demonstrar que podem confiar em nós e saber que os amamos. A quebra de confiança afeta a segurança que eles poderiam ter nós.

 

Alguns exemplos práticos:

 

i.               Conheci uma mulher que saiu de casa dizendo para a filha de 4 anos, que iria na mercearia comprar balinhas, e voltaria logo. Entretanto, mudou-se para os EUA, e só a reencontrou, 12 anos depois. Como você acha que pode ser o coração de uma criança assim em relação à confiança e amor materno?

 

ii.              Não é muito raro encontrar pais que tem facilidade em aplicar disciplina quando estão irados. Ao fazer isto, demonstram que não estão realmente preocupados em educar, e sim, resolver a ira e a raiva momentânea que os controla. Por isto a Bíblia afirma que a vara da indignação falhará.

 

iii.            Pais facilmente esquecem a necessidade dos filhos. A Bíblia ensina a não irritar os filhos (Col 3.21) Será que já paramos para considerar o que significa causar ira em nossos filhos? Quais são as atitudes que temos e que causam raiva em nossos filhos?

 

iv.            Pais descuidadamente podem quebrar promessas, agirem de forma incoerente, fazendo com que os filhos não estabeleçam relacionamentos de confiança.

 

As feridas mais profundas no coração dos jovens estão relacionadas à questão da confiança. Filhos são capazes de lidar relativamente bem com a pobreza, e até mesmo com a escassez, mas não sabem lidar com a falta de coerência dos pais, isto traz muita insegurança, dúvida, dor e ira.

 

4.     Estabeleça uma dinâmica – (Dt 6.7-8)

 

Neste texto inspirado por Deus em Deuteronômio, Moisés fala da importância de estabelecer ritos e criar dinâmicas para tornar o aprendizado mais efetivo, Isto implica numa atitude cotidiana e intencional e demonstra a necessidade de não compartimentalizar a fé , tornando-a apenas uma pequena parte de nossa história.

Inculcar demonstra persistência. O conceito hebraico de ensinar consistia em “provocar o aprendizado”.

 

Moisés fala de uma pedagogia sistemática e estratégica.

Crianças aprendem melhor quando rotinas são estabelecidas.

 

i.               No horário das refeições – Estatísticas demonstram que quanto mais os membros de uma família comem juntos, menos chances terão os filhos se envolverem em drogas, caírem em depressão, ou irem para a cadeia.

 

Jeremy Adams, reconhecido como “o professor do Ano”, em 2018, nos Estados Unidos, escreveu um livro sobre a Geração Z, a quem ele chama de “Uma geração de zumbis”[1]. O primeiro grupo que nasceu digital, conectado, móvel e que nunca viu o mundo sem internet. (Os nascidos entre 1995-2015).

 

Para Adams, esta geração é menos educada, mais deprimida, hiper-conectada tecnologicamente, mas distanciada de seus familiares, igrejas e comunidades. A depressão aumentou 63% nos adolescentes e o suicídio 56% entre 2007 e 2017. Para ele, a dissolução familiar e o grande aumento do divórcio foram os grandes responsáveis. Famílias que tem pelo menos uma refeição com todos os presentes, diminui o número de jovens fumantes, uso de álcool e droga, desordens alimentares e atividade sexual. Para ele, os adolescentes que jantam sozinhos, colocam seu foco não na família, mas no celular. “A negligência da vida familiar é a maior responsável, não apenas por trazer uma sensação de vazio aos estudantes, mas a vida do povo americano, em geral.”

 

ii.              Fazendo caminhadas – Andar com os filhos, pelo caminho, levando-os à escola, andando de bicicleta, estimula o diálogo informal. Muitas vezes a agenda apertada torna-se um problema para termos a bencao de simplesmente andar com nossos filhos.

 

iii.            Hora de dormir – gastar um tempo com os filhos, especialmente quando ainda sao menores, antes de dormir, certamente criam momentos estratégicos para se conversar sobre o dia que passou. Falar sobre tristezas e alegrias, conversar acerca dos ups and downs.

 

iv.            Hora de acordar – tomar café de manhã juntos é também uma boa oportunidade  para orar pelo dia, falar um pouco do que vai acontecer no dia, criar expectativas.

 

A cultura hebraica reconhecia a dinâmica dos dias, bem como da semana, e mesmo do ano, já que preservava festas fixas como páscoa, tabernáculo, purim, etc.

 

Quando se fala de tempo com os filhos, sempre surge a tensão: quantidade ou qualidade? A resposta melhor, certamente é: ambos.Famílias que passam mais tempo, juntos tem mais eficácia em causar impacto nos filhos.

 

Para desmascarar a ideia de que quantidade de tempo pode substituir a qualidade, existe uma boa ilustração: morar perto de uma academia (ou ter aparelho em casa), não lhe transforma em um atleta.

 

Para desmascarar o mito de que qualidade pode substituir quantidade, o exemplo é: Se você vai para a academia e exagera a dose nos exercícios, depois de muito tempo sem praticar, pode ter entorses e traumatismos.

 

Por isto, certo autor fez as seguintes observações:

 

Momento                                Comunicação                         Alvo

Refeição                                                      Conversa informal                                 Estabelecer valores

Tempo no carro                                      Diálogo informal                                    Interpretar a vida

Hora de dormir                                       Conversa intima, oração                     Cultivar intimidades

Café da manhã                                         Palavras de incentivo                           Instilar propósito

 

Aplicações:

 

a.     A comunicação se torna mais eficiente quando as duas forças trabalham em parceria;

 

b.     Duas forças unidas causam impacto maior que separadas;

 

c.     “Não é a informação nova que cativa a imaginação. É sua apresentação. O mundo cultural reinventa, a todo momento, a forma de falar “. (Reggie Joiner, pg 150).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



[1] https://portalcontexto.com/tag/jeremy-adams/

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