terça-feira, 31 de janeiro de 2023

Série: Educando Filhos no Séc XXI. Capítulo 8. Princípios de Disciplina

 


 

 

 

Introdução

 

Somos uma sociedade sem disciplina, e quando se fala do assunto, até mesma a ideia em si causa certa aversão. No entanto, a disciplina do caráter é algo extremamente bíblico.  Ao invés de ser vista como negativa, é descrita na Bíblia como algo que traz vida. Como muitos outros pontos doutrinários que rejeitamos, o problema é o fundamento da análise. Antes de pensarmos na disciplina em si mesma, precisamos pensar alguns elementos que a precedem. Um destes aspectos é a autoridade.

 

A fonte de autoridade

 

Nossa cultura tem dificuldade com autoridade, tanto para submeter-se a ela quanto para exercê-la, e isto se reflete em nossos lares.

 

ü  Precisamos entender nossa autoridade. Não precisamos mendigá-la, mas exercê-la (Gn 18.19).

 

ü  Deus criou a família num sistema hierárquico, e ela só funciona bem quando o plano de Deus é exercido. Deus trabalha numa filosofia hierárquica, e Deus quer nos abençoar nesta subordinação. Por exemplo, em Col 3.18 nos é dito que a submissão da esposa ao marido convém ao Senhor. Não é conveniente aos homens, mas a Deus.

 

ü  Deus tem um objetivo em nossa liderança. Entender este princípio simples, capacita-nos ao exercício do mesmo (Ef 6.4).

 

ü  Não existe autoridade autóctone, mas delegada (Rm 13.1-2). Nossa autoridade não está em nós mesmos (Mal 2.2), mas na investidura que por ele nos foi dada.

 

Por que disciplinar?

 

1.     As crianças não nascem moralmente neutras, antes nasce em pecado (Pv 22.15). Então, por causa do coração de seu filho você precisa discipliná-lo. A alma de seu filho corre perigo (Pv 23.14). Por isto a Bíblia afirma que "a criança, entregue a si mesma vem a envergonhar a sua mãe" (Pv 29.15,17).

 

2.     Porque você está sob autoridade para exercer autoridade – Você é agente de Deus. Foi colocado por Deus para liderar a vida de seu filho

 

3.     Porque não disciplinar é desobediência a Deus (1 Sm 3.13). Você foi colocado para disciplinar, mas você recusa a obedecer. Você não tem de pensar se pode, tal autoridade já lhe foi dada pelo Senhor. Quando você usa a vara, não o faz porque entende tudo a este respeito, mas o faz em obediência a Deus. Deus determinou isto.

 

4.     O que a disciplina faz pela criança? "A vara e a disciplina dão sabedoria" (Pv 29.15).

 

Usos equivocados da disciplina

 

1.     Disciplina exercida sob forte pressão emocional – Muitos pais disciplinam seus filhos com raiva. É bom lembrar que a disciplina não é para demonstrar sua ira, mas para trazê-los novamente ao caminho de Deus. A causa da disciplina deve ser clara. A criança precisa entender porque vai receber a disciplina. A criança que aceita estas verdades aceitará a disciplina. Ao disciplinar o filho que amamos, estamos recusando a nos tornarmos cúmplices de sua atitude pecaminosa (Pv 19.18).

 

A.    A disciplina deve ser corretiva, não punitiva. A correção leva o filho a realinhar suas atitudes pecaminosas e ajudá-lo a compreender o perigo de suas erradas decisões.

 

B.     A disciplina deve ser terapêutica, não penal. Não é retribuição pelo erro do filho. O objetivo é a restauração. Cuidado com a mentalidade punitiva.

 

C.    A disciplina deve produzir crescimento, não dor. A única dor que deve ser admitida é a dor com o próprio pecado. É a tristeza segundo Deus que promove o arrependimento.

 

D.    A disciplina é gesto de amor, não de raiva (Pv 3.12; 13.24; Ap 3.19). Toda disciplina parece dura, mas a Bíblia afirma que ela traz fruto pacífico aos quem tem sido por ela exercitados (Hb 12.11).

 

E.     Disciplina não é um meio de extravasar a ira e frustração dos pais. Filhos não podem se tornar bodes expiatórios. A Bíblia afirma que “a vara da indignação falhará!” Bater com raiva serve apenas para, pecaminosamente, extravasarmos nossa ira pecaminosa. Não ajudamos os filhos a entenderem o evangelho e o caráter de Deus, que disciplina seus filhos porque ama, e não porque perdeu seu controle emocional.

 

F.     Permita que o filho avalie sua própria desobediência. Analise com ele o problema. Seu objetivo é ajudar seu crescimento, e quanto mais ele entender a si próprio na dimensão do evangelho, melhor será seu crescimento em direção a Jesus.

 

2.     O uso do emocionalismo para manipular comportamento – Muitos pais usam suas emoções para envergonhar e privar a criança. O apelo nestes casos, não é a glória de Deus. Trata-se de uma punição emocional e por esta razão a criança não entende biblicamente a razão e o objetivo da disciplina.

 

A.    Não seja excêntrico nem caprichoso, preste atenção às regras estabelecidas. Isto tem a ver com coerência e constância. Algumas exigências paternas estão fora da realidade emocional da criança e de sua idade. Alguns querem transformar seus filhos em meninos e meninas que são seres perfeitos.

B.     Estabeleça o menor número de regras. Regras demasiadas tornam complexo a compreensão daquilo que é básico e inegociável.

C.    Esteja disposto a admitir que errou. Talvez esta seja a forma mais efetivo para levar nossos filhos a entender conceitos de humanidade e pecaminosidade, e de graça e perdão. Nossos filhos aprendem mais do evangelho em tais situações do que podemos imaginar e conceber.

D.    Assegure-se que você e seu cônjuge tenham o mesmo ponto de vista. Filhos podem jogar o pai contra a mãe, mas quanto mais bem sucedido ele for nessa tarefa, mais inseguro se tornará, porque sua alma torna-se ambivalente.

E.     Jamais ridicularize ou deprecie seu filho. Para a maioria, o senso de valor próprio é muito frágil. Quando depreciamos alguém, comunicamos rejeição e não correção. O ridículo frustra o propósito disciplinar.

 

3. O propósito da Disciplina –Quando eu digo à criança que ela deixou de me obedecer, estou esquecendo do foco central da disciplina: ela foi rebelde e pecou contra Deus. Nossa atitude religiosa pode tirar o foco do objetivo principal que é trazer o coração de nossos filhos para perto de Deus. Alguém disse que "legalismo é fazer as coisas certas pelos motivos errados". A maioria dos filhos afasta-se do Evangelho não por causa do cristianismo em si, mas pela caricatura que criamos.

 

Objeções comuns à disciplina

 

1.     As crianças precisam aprender a decidir para se tornarem maduras – é verdade, mas mesmo nesta decisão é importante que saibam que estão sob autoridade.

 

2.     Amo demais meus filhos para discipliná-los – É importante observar que esta visão é contrária à visão das Escrituras Sagradas. Que diz: “O que retém a vara aborrece a seu filho, mas o que o ama, cedo, o disciplina.” (Pv 13.24).

 

3.     Tenho medo deles se tornarem revoltados – Mais uma vez precisamos retornar à Bíblia: “A vara e a disciplina dão sabedoria, mas a criança entregue a si mesma vem a envergonhar a sua mãe.” (Pv 29.15) Geralmente as crianças têm um forte senso de justiça e quando a disciplina é aplicada assim, eles se submetem a ela.

 

A disciplina deve conter: Constância, Consistência e Consequência[1]

 

1.     Constância – Não se deve punir o filho uma vez e menosprezar outras. Ele precisa saber o valor da disciplina; muitos pais falham em persistir. Os filhos não mudam de uma hora para outra, e muitos pais desistem, desencorajados.

 

2.     Consistência – A criança precisa saber em que situação será punida. Educação contraditória torna-se complexa para o coração dos filhos. Muitas vezes a disciplina não funciona por causa de nossa inconsistência, ou por alguma falta básica de integridade dos pais com Deus ou com seu filho, ou com ambos.

 

3.     Consequência – Eles precisam saber que desobediência e rebeldia trazem sérias implicações e que existe preço quando as normas são quebradas. Isto ajuda a formação do superego, que é a imagem social da criança, e cria limites para elas. Pais superprotetores não delimitam os espaços para os filhos que acabam pagando um preço caro adiante.

 

Disciplina e o Evangelho

 

Toda disciplina deve ser uma dramatização do Plano Redentor e da forma como Deus trata a humanidade. Deve trazer uma compreensão do nosso pecado e do perdão e restauração presentes em Cristo. Na cruz, as pessoas pecadoras são restauradas e revestidos de poder para viverem novas vidas. A dependência de seus próprios recursos leva-os a se afastar do Evangelho. Manter-se muito em regras e normas pode gerar farisaísmo, ou orgulho. Muito de nossa educação se baseia em dois princípios profundamente contrários ao Evangelho: Orgulho ou Medo.

 

No medo, tenta-se fugir das consequências, da punição. Neste caso, as máscaras, o cinismo e a hipocrisia podem se tornar instrumentos malignos e manipulativos da criança.

 

No orgulho, cria-se o sentimento de superioridade e vaidade. "Você não quer ser como tal tipo de gente..." Isto nos afasta também do Evangelho, levando-nos a depender de nossos esforços e de nossa carne.

 

Motivando os filhos

 

Todos nós queremos encorajar nossos filhos à fé cristã. Eventualmente nos sentimos fracassados com esta tentativa de educá-los. Além das normas e regras que criamos, precisamos de um poder capacitador para realizar nossa tarefa:

 

1.     O Espírito Santo – Precisamos recordar que o Espírito é que nos capacita a vivermos uma vida santa. Ele atinge o âmago da pessoa e a motiva a agir. Pode modificar o senso de valores e perspectivas, O Espírito modela. Ore para que o Espírito de Jesus encha seu lar.

 

2.     A Palavra – Precisamos crer no poder da Palavra (Pv 22.6). Ela é viva e eficaz (Hb 4.12), não apenas letra, mas espírito e vida (Jo 6.63).

 

3.     Oração – "Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo" (Tg 5.16).

 

4.     O poder do Evangelho – Temos perdido a capacidade de crer que o Evangelho pode mudar qualquer pessoa, em qualquer circunstância, porque ele é "O poder de Deus para salvação" (Rm 1.16). O Evangelho demonstra nossa incapacidade, mas revela o poder de Cristo agindo no meio de sua igreja e de nossa família. Precisamos deste poder, para vivermos uma vida que agrade a Deus.


[1] Içami Tiba.

 

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