quinta-feira, 1 de junho de 2023

2 Co 9.1-15 Leis Espirituais do Dinheiro

 



 

No sermão anterior, consideramos a maravilhosa graça de doar. Uma graça que nem todos querem. Analisamos a forma de Deus enxergar o dinheiro e como somos desafiados a aplicar nossos recursos com generosidade e liberalidade.

 

Neste texto, Paulo descreve algumas leis espirituais relacionadas ao dinheiro. Mais uma vez somos lembrados que na Bíblia, dinheiro é uma força espiritual, uma entidade chamada de Mamon, que exige adoração de seus súditos. Por esta razão, dinheiro pode facilmente se transformar em ídolo. Não é sem razão que a Bíblia afirma que "a avareza é idolatria", e que "o amor ao dinheiro é raiz de todos os males."Dinheiro não é uma força neutra, mas tem o poder de vida e morte, de abençoar e destruir. Quando lidamos com dinheiro, precisamos nos lembrar como estas forças interagem e colocarmos estas leis espirituais a nosso favor, não contra nós.

 

Alguns destes princípios são estabelecidos neste texto:

 

1.     Lei da proporcionalidade na semeadura - "E isto afirmo: Aquele que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia com fartura, com abundância também ceifará.” (2 Co 9.6). Como temos semeado?

 

Deus promete abençoar aqueles que se dispuserem a ser generosos. Será que temos tão pouco por causa de nossa mesquinharia?

 

Muitas pessoas me perguntam: Pastor, devo dar o dízimo do bruto ou do líquido. Esta pergunta me parece não irrelevante. Não se trata de uma questão matemática, mas tem a ver com o coração. Mais relevante talvez seja a disposição de nosso coração em ser bondoso, usar com liberalidade nossos recursos e abençoar o reino de Deus. Semeie com fartura: a colheita virá. Quem planta um quilo não pode esperar colheita proporcional a um saco de feijão. Muitos estão fazendo grande semeadura, outros apenas para a sobrevivência.

 

Este princípio da proporcionalidade está presente nos escritos e na sabedoria judaica: Em Eclesiastes lemos: “Lança o teu pão sobre as águas que depois de muitos dias o acharás. Reparte com sete e ainda com oito, porque não sabes que mal sobrevirá à terra.” (Ec 11.1,2). Semeie. Plante. Espalhe os grãos. A colheita virá.

 

Este princípio também foi ensinado por Jesus:

Dai, e dar-se-vos-á; boa medida, recalcada, sacudida, transbordante, generosamente vos darão; porque com a medida com que tiverdes medido vos medirão também.” (Lc 6.38).


2.     Lei da espontaneidade e alegria – “Cada um contribua segundo tiver proposto no coração, não por tristeza ou por necessidade; porque Deus ama a quem dá com alegria.” (2 Co 9.7)

 

Dízimo é bíblico? Tem fundamentação no Novo Testamento? Não tenho dúvida alguma acerca deste assunto. Jesus ratificou este princípio em Mt 23.23.

 

Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e tendes negligenciado os preceitos mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia e a fé; devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas!” (Mt 23.23). Jesus não critica e nem questiona o dízimo, mas questiona a atitude daqueles que se esquecem dos demais preceitos importantes da Lei. No final ele afirma: “devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas.” Que coisas devemos fazer? Exercitar a justiça, misericórdia e fé. O que não devemos omitir? Dar o dízimo de todas as coisas. Jesus não revogou o preceito do dízimo, mas o ratificou e o chancelou.


Apesar de ser o único texto no qual Jesus fala sobre o assunto, ele é suficiente para não tenhamos dúvida sobre seus ensinamentos. O problema com o dízimo é transformá-lo em algo legalista, uma camisa de força, e perdermos a beleza e a graça da generosidade como expressão de adoração e gratidão.

 

Este texto nos ensina que existem dois motivos para doar que devem ser evitados:

 

A.    Dízimo e ofertas não devem ser dados com tristeza – “Não por tristeza ou por necessidade.” Se você se sente mal dando o dízimo, entregando sua oferta ao Senhor, deve conversar com o Senhor sobre este assunto. Avareza é idolatria. Não conseguir ser generoso é uma armadilha.

 

Devemos doar com alegria, expressão de culto e adoração. A oferta tem que ser um gesto de amor.

 

Existem dois textos na Bíblia que falam diretamente sobre isto. Em um deles, na narrativa de Caim e Abel. “Agradou-se o Senhor de Abel e de sua oferta, ao passo que de Caim e de sua oferta, não se agradou.”  (Gn 4.4-5).

 

Qual problema espiritual estava por detrás da atitude de Caim da qual Deus não se agradou? Muitas pessoas afirmam que foi por causa daquilo que Caim trouxe ao altar. Caim teria trazido uma oferta de cereal, do fruto da terra, enquanto Abel ofereceu das primícias de seu rebanho.

 

Este argumento não é correto, porque a Lei preceitua a oferta de manjares, que era trazida a Deus e ela consistia em “flor de farinha” e cereais (Lv 6.14-23). Eram ofertas pacíficas e Deus as aceitava. Então, qual foi o problema da oferta de Caim?

 

Deus conhecia o coração de Abel e de Caim, e sabia dos motivos por detrás da ação. Quando você dá, Deus não olha apenas sua oferta, mas também o seu coração. O texto é claro: “ao passo que de Caim e de sua oferta, não se agradou.” Por Deus não se agradar de Caim, sua oferta não o agradou. Antes de Deus se agradar do que você dá ele precisa agradar-se de você, de quem você é, o porque e o como você traz sua oferta.

 

O que fazer quando não há alegria na contribuição? Ore ao Senhor!  Isto tem a ver com o coração e ele precisa ser tratado. Normalmente isto acontece quando colocamos o dinheiro no altar de nossa vida, e não conseguimos imaginar a ideia de dá-lo, de abrir mão dele. Achamos que vai faltar, gostaríamos de usá-lo para benefícios pessoais e não temos alegria em doar. A falta de alegria em dar, tem a ver com a idolatria de nosso coração. A Bíblia diz que “a avareza é idolatria”.

 

B.     Dízimo e ofertas não devem ser dados por necessidade – “Não por tristeza ou por necessidade.” Não dê porque apenas porque existe uma necessidade. Alguns pensam que devem dar se surgir uma necessidade na comunidade.

 

O que deve determinar a oferta é a fidelidade, não a necessidade. Muitos dizem: "A igreja não precisa....". É exatamente isto que a Bíblia nos ensina que não devemos fazer. Não devemos dar porque a Igreja precisa ou não, antes porque amamos o Senhor, e queremos honrá-lo. Outros dizem: “A Igreja é infiel na administração dos bens”. Se você está numa igreja infiel, não sei porque você ainda se submete à sua liderança. Por outro lado, infeliz é a igreja que recebe dinheiro dos fiéis, que é dada em adoração a Deus, e o desvia para outras funções. Ela está roubando de Deus! Que tragédia!

 

Não devemos doar apenas quando há emergência e necessidade, mas de forma regular e proporcional. Se você dá apenas na emergência você tem um grave problema para resolver. Você entendeu que o dinheiro pode abençoar vidas e construir o reino de Deus, mas você ainda não entendeu que não devemos dar apenas por causa da necessidade dos outros. Precisamos dar por causa da minha necessidade pessoal. O bem maior que temos na doação é a ruptura com a avareza, desta forma, o grande beneficiado sou eu mesmo.

 

3.     Lei da graça e da abundância – “Deus pode fazer-vos abundar em toda graça, a fim de que, tendo sempre, em tudo, ampla suficiência, superabundeis em toda boa obra.” (2 Co 9.8)

 

Há uma lei da graça e da ampla suficiência. Há uma benção presente na generosidade que leva as pessoas a ampla suficiência e a abundância. Deus abençoa aqueles que generosamente dá para que nada lhes falte.

 

Encontra-se presente aqui a Lei de causa-efeito. Dar traz benefícios materiais, ampla suficiência” e benefícios espirituais. Toda pessoa fiel experimenta a riqueza da graça de Deus. Talvez possamos colocar de forma diferente. Toda pessoa é fiel, porque Deus já a encheu de sua graça para esta liberalidade. Não é que o dinheiro compre o favor de Deus, antes porque Deus sabe como é difícil a conversão de nosso bolso, e quando a pessoa resolve ser fiel nesta área Deus já está abençoando também nas outras. Dar traz vitalidade à nossa experiência devocional. Bolso é o último a se converter e o primeiro a esfriar.

 

Dar é um exercício de confiança na provisão de Deus - Quando não dou estou dizendo: “Eu confio no meu dinheiro, não em Deus”. Quando dou estou dizendo: “Confio em Deus, não no meu dinheiro”. Damos porque cremos num Deus que provê, que é fiel. Não damos porque sobra, damos mesmo que não sobre porque confiamos nas suas promessas e no caráter do que fez tais promessas.

 

4.     Lei da coerência e lógica – “Ora, aquele que dá semente ao que semeia e pão para alimento, também suprirá e aumentará a vossa sementeira e multiplicará os frutos da vossa justiça.” (2 Co 9.10)

 

Deus dá “semente ao que semeia e pão para alimento.” Deus não dá apenas pão, mas ele dá semente. Nem tudo o que recebemos é para comer. Deus dá para que plantemos. Já consideraram que dar é similar ao “insano” projeto da semeadura? Dar é jogar fora o grão que você tem na mão, é semear, abrir um buraco na terra e jogar a semente que poderia ser comida. Já consideraram o risco disto?

 

Quando você joga a semente no solo, insetos podem devorá-la, passarinhos comê-la, o solo não responder de forma correta, vir chuva demais, faltar chuva. Há muitos riscos envolvidos na semeadura. Felizmente nenhum agricultor olha os riscos, mas ele olha as possibilidades. Semear é projeto de fé. Sem plantação não há colheita. Quem fica com medo de semear, não terá a experiencia de colher.

 

Prestem atenção na expressão. Semente para semear e pão para alimento. Quantos de nós temos comido a semente? Por causa da nossa insegurança, não lançamos a semente ao solo? Semeadura traz abundância e benção. Deus “suprirá e aumentará a vossa sementeira e multiplicará os frutos da vossa justiça.” Podemos descansar que a benção virá sobre e a semente multiplicará. Foi isto que Deus disse ao seu povo ainda no Antigo Testamento: "Provai-me nisto, se eu não abrir as janelas dos céus e derramar sobre vós, bençãos sem medida" (Mal 3.10). Semear é fruto da fé, Deus abençoa aqueles que, com fé obedecem a sua palavra.

 

Não coma a semente! Não é lógico, nem inteligente, nem coerente.

 

5.     Lei da vida e da benção compartilhada – “Porque o serviço dessa assistência não só supre a necessidade dos santos, mas também redunda em muitas graças a Deus.” (2 Co 9.12)

 

Doar supre necessidades de outros. Precisamos doar porque esta é uma forma de minimizar a dor e o sofrimento daqueles que passam por privações.

 

Minha esposa traduziu um dos livros de Paul J Meyer com o título: “25 segredos para o sucesso.” Meyer foi um homem de negócios profundamente comprometido com Jesus. Ele criou uma fundação que doou 75 milhões de dólares para mais de 30 organizações no Texas, EUA, e ao redor do mundo, se tornando o maior doador para o Instituto Haggai. Ele conta que durante a segunda guerra seu pai começou a enviar regularmente uma caixa de alimentos para seus familiares que moravam na Alemanha e estavam passando por enorme privação. Todo mês ele fazia isto, sem sequer saber se de fato as pessoas estavam recebendo as doações. Anos depois, Meyer viajou para reencontrar seus parentes, e ali ouviu testemunhos sobre o que seu pai havia feito. Eles relataram que numa determinada época, o único alimento que tinham eram aqueles que seu pai enviava, e que ficavam aguardando ansiosamente aquela caixa com as provisões.

 

Você já considerou o impacto que sua generosidade na vida de pessoas? Estava conversando recentemente com um homem que me relatou a quantidade imensa de pessoas a quem seu pai, enquanto vivia, ajudava. Muitos deles eram estudantes, famílias pobres. Qual o poder de transformação de seus recursos na vida de pessoas necessitadas?

 

Esta é a lei da vida compartilhada. Com a generosidade é possível “suprir a necessidade dos outros.” As pessoas são supridas quando a generosidade está presente.

 

6.     Lei do propósito maior: Dar glória a Deus. O dinheiro, aplicado generosamente, traz louvor e engrandece o nome de nosso Deus.

 

Deus usa a generosidade como instrumento evangelístico e para promoção do seu reino.  “Visto como, na prova dessa ministração, glorificam a Deus pela obediência da vossa confissão quanto ao evangelho de Cristo e pela liberalidade com que contribuis para eles e para todos, enquanto oram eles a vosso favor, com grande afeto, em virtude da superabundante graça de Deus que há em vós.” (2 Co 9.12-13)

 

Por meio de atos de bondade e doação, outras pessoas se motivam a tributar graças a Deus. Dar leva pessoas a glorificarem o nome do Senhor.

 

Quando você é generoso com seus bens, o nome do Senhor é glorificado, e motiva outros a orarem por você. Em 1990, eu pastoreava a Igreja da Gávea, e recebemos o pedido de ajuda de uma pequena igreja na cidade de Colmeia, TO. Eles estavam construindo o templo e nossa igreja decidiu enviar recursos para ajudá-los. Um dia recebi uma carta de uma irmã da igreja relatando que havia um grupo se reunindo todas as semanas, para interceder por nós. Será que Colmeia oraria por nós sem este vínculo de amor? Provavelmente não.

 

O uso do dinheiro pode trazer glória ao nome de Deus e estimular muitos à terem fé em Cristo. Dar é um grande estímulo à fé das pessoas. As pessoas “glorificam a Deus ... pela liberalidade com que contribuis para eles e para todos.”

 

Foi isto que Jesus afirmou: “Assim brilhe também a vossa luz, para que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem a vosso pai que está nos céus.” (Mt 5.16)

 

Em 2016, muitos jornais no mundo noticiaram uma grande quantidade de muçulmanos se convertendo ao cristianismo na Alemanha. O que estava levando tantos islâmicos a conversão? Os jornais eram unânimes em afirmar que eles estavam sendo alcançados pela bondade e acolhimento dos cristãos. Um deles disse que leu uma Bíblia em casa, e “tinha se convertido em sua mente”, mas não exteriormente, até ir para a Alemanha. “Antes era apenas teoria para mim, mas agora eu posso ver e sentir através da bondade do meu pastor e da comunidade cristã.” Eles sempre ouviram que o cristianismo era uma religião desprezível, mas ao ver a bondade dos cristãos isto lhes atraiu, afinal, ser cuidado por pessoas de uma religião diferente não é algo que se vê nos países de onde vieram.


Conclusão


Estas são algumas das leis espirituais. você certamente encontrará muitas outras leis sobre este assunto. Procurarei extrair apenas de um pequeno texto da Bíblia estas verdades, para que, através dela, possamos refletir, e com a graça de Deus, sermos transformados para sua glória.

 

 

 

 

 

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