Introdução
Todas as três primeiras recomendações deste texto, começando de 1 Ts 5.16, nos desafiam hermeneuticamente e de forma ainda mais densa, de forma prática. Como aplicar tais afirmações ao nosso viver diário?
A primeira diz: regozijai-vos sempre.
Na hora da aplicação deste princípio bíblico, encontramos quatro desafiadores problemas:
(a) É imperativo, não é opcional;
(b)- Gratidão deve ser constante, não ocasional;
(c) esbarramos nos nossos limites emocionais: somos tendentes à depressão, à introspecção, ao vitimismo. (d)- Lidamos com um mundo caído. Muita injustiça, traição, opressão. Como é possível nos regozijarmos sempre?
Aprendemos que esta alegria, inicialmente, é ultra circunstancial. Não pode estar relacionada a fatos e eventos negativos. Em segundo lugar, apenas em Deus podemos encontrar tal regozijo. Por isto a Bíblia nos exorta: “alegrai-vos sempre no Senhor.” Fora de Deus tal alegria não pode ser encontrada.
A segunda diz: orai sem cessar
Para vivermos uma vida de constante oração precisamos fugir do mundo? Assumir uma atitude monástica? Como é possível orar sem cessar se temos tantas exigências diárias? Como é possível orar sem cessar?
Aprendemos que este texto não nos convida a deixar nossos compromissos e trabalhos. O ponto central é que precisamos, a todo tempo, estar pensando em Deus, orando ao Senhor, intercedendo pelas pessoas que sofrem, agradecendo a Deus. Como afirma o clássico de Brother Lawrence: “Praticando a presença de Deus.” Transformar cada pequeno evento num motivo de oração. Todo tempo, ou, como afirma Tish Warren, desenvolvermos uma liturgia do ordinário, transformando nosso vier diário intencionalmente em oração.
Agora adentramos na terceira recomendação: “Em tudo dai graças”. (1 Ts 5.18) E assim como as demais, temos que entender seu sentido.
O que significa dar graças em tudo?
- Dar graças em tudo não deve ser um comportamento estoico que ensina a necessidade de negar a dor. Nem mesmo fazer o jogo do contente, o comportamento adotado por Pollyanna, de Eleanor H. Porter, publicado em 1913 e considerado um clássico da literatura infantojuvenil. que pode ajudar bastante em determinadas situações, mas é incapaz de manter firme nossa atitude quando enfrentamos situações muito complexas.
- Não é manter uma atitude utópica e ilusória de dizer que “não há dor.” Ouvi certa vez a história de um professor de filosofia que gostava de dizer que tudo que vemos nada mais é que uma projeção mental, nada existe. Tudo é ilusório. E um dia ele estava andando com seus alunos em um pasto, mostrando a natureza, as árvores e os rios e dizendo: “tudo isto é irreal! É apenas uma ilusão ótica.” E de repente, surge um boi bravo no pasto vindo na direção deles, e todos sobem em árvores para se proteger. Quando o aluno viu o professor em cima da árvore, o interpelou: “O Senhor não disse que tudo é ilusão? Por que então fugiu do boi?” E ele respondeu serenamente: “O problema é que eu não sei se o boi sabe disto.”
- Um antigo cântico de nossa igreja dizia: “quem tem Jesus gosta de cantar, está sempre sorrindo mesmo quando não dá!” Não sei se a teologia deste corinho é correta, pois o próprio Jesus, nosso Senhor, diante da morte de seu amigo Lázaro, chorou. Ele não ignorou a dor. Nos bons tempos do Caio Fábio, ele escreveu um sugestivo livro que dizia: “O Privilégio de Poder Simplesmente Dizer: Tá DOENDO! “ E na capa do livro havia um esparadrapo.
“Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus nosso Senhor.” (1 Ts 5.18)
A frase "Em tudo dai graças" é um convite à gratidão constante, mesmo diante de situações desafiadoras. É um reconhecimento de que Deus está presente em todas as circunstâncias, inclusive nas mais difíceis, e que Ele opera para o nosso bem, mesmo quando não conseguimos compreender seus planos.
Norman V. Peale afirmou que “ser agradecido faz todas as coisas melhores”. De fato, gratidão é a chave do sucesso. Pessoas negativistas tendem a ser fracassadas. Ande na rua da murmuração e veja o que pode acontecer. Precisamos escolher: Andar na rua da gratidão ou no beco da murmuração.
Na Bíblia há 140 referências sobre dar graças a Deus. O quer agradecer? Chesterton certa vez declarou: “Eu reclamava porque não tinha sapatos, até que encontrei alguém que não tinha pés”.
Não é fácil dar sempre graças por tudo. Agradecer pelas coisas boas, por uma aprovação, sucesso, aumento de salário, é algo bom, mas agradecer sempre é algo desafiador. Basta olhar a realidade do nosso coração. Temos uma forte tendência à reclamação e murmuração, não à gratidão, mesmo sabendo que a Bíblia nos exorta: “Fazei tudo sem murmuração nem contendas.”
Praticar a gratidão em tudo, é um grande desafio, especialmente diante das dificuldades e sofrimentos da vida. É natural sentir desânimo, tristeza, raiva e frustração em momentos difíceis, o que pode tornar a gratidão algo distante e aparentemente impossível.
Praticar a gratidão em tudo não significa negar as dificuldades ou fingir que tudo está sempre bem. Significa reconhecer que Deus está presente em todas as circunstâncias e que Ele opera para o nosso bem. É uma atitude de fé, esperança que nos ajuda a viver uma vida mais plena e significativa.
Agradecer “por tudo”, ou “em tudo”?
Os comentaristas têm feito uma observação interessante neste texto. Dar graças a Deus em tudo, ou por tudo? A diferença é sutil, mas importante. Vamos tentar entender esta pequena nuance textual.
Dar graças a Deus por tudo implica em agradecer a Deus por todas as coisas que acontecem em nossas vidas, tanto as boas quanto as ruins. Dar graças a Deus em tudo sugere uma atitude de gratidão em todas as circunstâncias, independentemente da natureza dos eventos, ainda que não estejamos felizes por aquilo que está nos acontecendo. É a capacidade de encontrar motivos para agradecer, mesmo em meio às dificuldades e sofrimentos.
Dar graças “por tudo" coloca o foco nas coisas em si, enquanto "dar graças em tudo" coloca o foco na nossa atitude diante das coisas. Dar graças em tudo" aponta para o fato de que Deus pode transformar qualquer situação para o bem.
Não preciso dizer: “Que coisa maravilhosa, sofri um acidente de carro.” ou “obrigado Senhor pela tragédia!”, ou,“Aleluia, estou com câncer”. Não se trata de masoquismo cristão. Não há nenhum prazer na gratidão em si, nem no sofrimento enquanto sofrimento. Mas ainda assim podemos dizer: “Senhor, apesar da minha dor, eu sei que o senhor me ama, este momento de minha vida está muito difícil, e estes fatos tem causado muita tristeza ao meu coração, mas eu te agradeço porque sei que, na sua sabedoria, o Senhor vai usar isto para tua glória e para o meu bem”. Neste caso, não estamos felizes com a dor, mas nos sentimos seguros no meio da dor porque sabemos que há um pai amoroso e bondoso que cuida de minha história, e ele tem pensamentos de paz, e não de mal, para minha vida. Não significa agradecer a dor em si, o cristão não é sadomasoquista, mas reconhecer que Deus está acima de todas as coisas.
Ilustração:
Certo homem era muito amigo do rei e sempre tinha lugar cativo ao seu lado quando este saia para caçar. Um dia na floresta, o rei estava cortando um galho com o facão e subitamente sofreu um acidente e cortou o seu dedo polegar. No meio da sua dor, seu amigo tentando consolá-lo disse: “Não se preocupe rei, Deus faz todas as coisas certas!” Indignado com a declaração aparentemente imbecil de seu amigo e no meio da sua dor, o rei ficou irritado e mandou prendê-lo.
No ano seguinte, o rei foi caçar, mas não convidou mais o seu “ex-amigo” para ir com ele. Eles adentraram inadvertidamente uma área habitada por canibais e foram presos numa emboscada e levados como troféus. No dia seguinte os canibais mataram um de seus companheiros, e o rei agora sabia que ele seria a próxima vítima. Mas surpreendentemente os canibais vieram e quando viram que ele tinha um dedo cortado, o soltaram imediatamente.
O rei conseguiu atravessar a floresta e retornar à sua casa. E no caminho se lembrava sempre do seu amigo e daquilo que ele havia ouvido dele: “Deus faz todas as coisas certas!” Sua primeira atitude ao chegar ao palácio foi encontrá-lo, contar sua história e pedir perdão por ter agido daquela forma, mas o amigo, o tranquilizou dizendo: “Rei, de fato Deus faz todas as coisas certas! Imagine se o senhor não tivesse me colocado na cadeia. Eu teria ido contigo e teria sido levado cativo, e a estas alturas, estaria morto. De fato, Deus faz todas as coisas certas!”
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“Agrada-te do Senhor
A expressão “Em tudo dai graças,” me faz refletir sobre a declaração do salmista: “Agrada-te do Senhor” (Sl 37.4) Agradar-se do Senhor é o contrário de “aborrecer-se” de Deus. Há muitas pessoas aborrecidas e chateadas com Deus. Agradar-se do Senhor significa ficar feliz com quem Deus é e com o que ele faz. O texto nos diz que quando nos agradamos de Deus, ele “satisfaz os desejos de nossos corações”. Sabemos que Deus não tem compromissos com nossos desejos, e sim com nossas necessidades, mas ainda assim ele pode satisfazer desejos do nosso coração. Será que temos experimentado esta maravilhosa benção de Deus? Para que ele satisfaça nossos desejos do coração, precisamos nos agradar dele.
O hino “Sou feliz com Jesus”, foi escrito por um homem que perdeu tragicamente sua familia num naufrágio. Originalmente a letra deste hino diz: “It is well with my soul”.: (Está tudo bem com minha alma). Apesar do momento e da aflição, meu coração está em paz.
Só é possível dar graças a Deus em todas as coisas, quando estamos certos de que Ele está no controle de todas as situações e que tudo tem um propósito divino e sabendo disto podemos nos alegrar nele. Desta forma entregamos todas as coisas, tanto as boas quanto as ruins, porque reconhecemos que tudo pertence a Ele e que Ele é a fonte de toda a nossa força e esperança.
Por que ser grato?
Porque quando enfrentamos lutas e tentações temos oportunidade de glorificar a Deus. Se as pessoas não nos veem como discípulos de Cristo enfrentando com serenidade as perdas, como perceberão Deus em nossas vidas? Lutas são oportunidades dadas por Deus. Portanto, enfrente-as com atitude de gratidão.
O livro de Atos afirma:
“Os apóstolos deixaram o Sinédrio sentindo alegria porque Deus os tinha achado dignos de serem humilhados por amor ao nome do Senhor Jesus Cristo.” (At 5.41)
Isto é surpreendente! Os discípulos sentiram alegres e honrados por terem sido levados para a prisão, felizes por serem achados dignos de sofrer afronta por causa de Cristo.
Como é possível agradecer “em tudo”?
- Precisamos ser gratos “porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus.” A expressão: “Esta é a vontade de Deus” aparece duas vezes na carta aos Tessalonicenses. Muitas pessoas perguntam: Como saber a vontade de Deus?” E a resposta pode ser encontrada nestes dois textos:
- “Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação. Que vos abstenhais da imoralidade.” (1 Ts 4.3) Neste texto aprendemos que esta é a vontade de Deus para sua vida. Você deseja fazer a vontade de Deus? Não pratique, nem viva um estilo de vida sexualmente imoral.
- “Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus.” (1 Ts 5.18). Qual é a vontade de Deus revelada neste texto? Que lhe rendamos graças em todas as coisas, em todas as circunstâncias. Porque mesmo nos dias escuros há razoes para a dar graças a Deus.
William Barclay comentando este texto afirma:
“Se olharmos diretamente para o sol, as sombras surgirão detrás de nós; mas se virarmos as costas para o sol, as sombras se projetarão diante de nós.”
Tudo é uma questão de perspectiva.
- Precisamos transformar as dificuldades em oportunidades: Encontrar motivos para agradecer mesmo em meio às dificuldades. Buscar aprender com os desafios e ver como eles podem nos fortalecer e nos tornar mais resilientes.
Em meio à dificuldade, é fácil se concentrar nos aspectos negativos e desanimar. É importante buscar uma perspectiva positiva e encontrar motivos para ter esperança. Tente enxergar as oportunidades de aprendizado e crescimento que o sofrimento pode trazer. Reflita sobre o que você pode aprender com a dificuldade. Quais habilidades você desenvolveu? Que conhecimentos adquiriu? Como você pode usar essas lições para enfrentar desafios futuros?
Mesmo em meio às dificuldades, é importante praticar a gratidão pelas coisas boas da sua vida. Isso te ajudará a manter uma atitude positiva e a focar nos aspectos positivos da situação.
O sofrimento pode nos ajudar a ajudar outros. Devemos transformar a experiência da dor e sofrimento em Inspiração. Compartilhe sua história com outras pessoas que estão enfrentando dificuldades semelhantes. Sua experiência pode ser uma fonte de inspiração e esperança para elas.
- Só é possível dar graças em todas as coisas quando não temos uma relação de suspeita com Deus. Quando realmente confiamos no seu amor.
Enfrentamos o sofrimento com amargura, porque na nossa essência temos um senso de orfandade. Achamos que Deus nos deve algo e que ele não tem direito de fazer isto conosco. Não confiamos, e até mesmo, desconfiamos dos motivos de Deus.
Só é possível dar graças quando não nos sentimos órfãos, nem vitimizados, nem desconfiamos de seus motivos. Deus não tem motivações impuras para conosco. Tudo o que ele fizer será por motivos puros, porque ele é santo. Nós fazemos coisas com intenções equivocadas e motivações confusas, mas Deus é santo!
- É possível também dar graças quando entendemos seu propósito amoroso para nossa vida.
No filme “O advogado do diabo”, o diabo afirma que seu lema é “matar com bondade”. O aparente “bem” que Satanás nos faz, e suas ofertas generosas e atraentes, que aparentam tanta bondade, são na sua essência malignas porque o diabo é mal. Por outro lado, “O mal de Deus é bom.” Em Isaias há uma declaração na qual Deus afirma: “Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas.” (Is 45.7) A afirmação de que Deus cria o mal ou permite o mal, pode assustar muitas pessoas, mas Deus jamais comete um “mal moral”, porque ele teria que negar aquilo que ele é, sua natureza santa, graciosa e bondosa. Por outro lado, quando o mal nos sobrevém, em última instância, ele só acontece por uma permissão de Deus como vemos no livro de Jó. Mas Deus não pode deixar de ser quem ele é. Mesmo quando somos infiéis ele continuará sendo fiel, porque não pode negar-se a si mesmo. (2 Tm 2.13)
- Por último, e não menos importante, é possível dar graças a Deus “em tudo” quando vemos as coisas numa perspectiva sobrenatural.
Diante da ceia lemos: “tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de mim”. (Lc 22.19)
Como Jesus pode dar graças partindo o pão, que era símbolo do seu sofrimento? Como dar graças diante da dor? Ele fez isto porque não via a dor como mera dor. Não era vítima de seu sofrimento, não transformou sua dor em patrimônio. O profeta Isaias, 600 anos antes da morte de Cristo afirmou profeticamente: “Ele verá o fruto de seu penoso trabalho e ficará satisfeito, o meu servo, o justo, com o seu conhecimento justificará a muitos”. (Is 53.11)
Paulo na cadeia cantava e dava louvores. Ele não estava feliz com os açoites, nem achando bom todo o sofrimento, mas ele não era vítima! Não era preso dos romanos ou dos judeus. Sua perspectiva sobrenatural o ajudava a perceber as coisas com maior amplitude. Ele não estava nas mãos dos homens, nem das circunstâncias, mas de Deus. Apenas uma concepção sobrenatural da vida pode dar sentido maior à perda, ao luto, e à morte. Apenas o eterno poderá dar sentido ao caos.
Conclusão
A gratidão é um caminho poderoso para a felicidade e a paz interior. Ao cultivarmos uma atitude de gratidão em tudo, podemos transformar nossas vidas e fortalecer nossa relação com Deus.
Lembre-se: a gratidão é uma jornada, não um destino. Haverá momentos em que será mais fácil praticá-la e outros em que será mais desafiador. O importante é persistir na busca por uma atitude positiva e reconhecer a presença de Deus em todas as circunstâncias da vida.
“Porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus” (5.18). Só consigo agradecer quando percebo que não sou um acidente histórico, mas existo pela vontade de Deus”. A vontade de Deus é que, em todos os momentos, em todas as circunstâncias, todo tempo, em tudo, sejamos agradecidos. Esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus.
Samuel Vieira
Anápolis 1, Jan 2007
Maio 2024
TUDO NA VIDA TEM UM PQ!
No mês de agosto de 2001, um bem-sucedido empresário judeu, viajou para Israel
a negócios. Na quinta-feira, dia nove, entre uma reunião e outra, o empresário aproveitou
para ir fazer um lanche rápido em uma pizzaria na esquina das ruas Yafo e
Mjlech George no centro de Jerusalém.
O estabelecimento estava superlotado. Logo ao entrar na pizzaria, ele percebeu
que teria que esperar muito tempo numa enorme fila, se realmente desejasse
comer alguma coisa, mas ele não dispunha de tanto tempo.
Indeciso e impaciente, pôs-se a ziguezaguear por perto do balcão de
pedidos, esperando alguma solução.
Percebendo a angústia do estrangeiro, um israelense perguntou-lhe se ele
aceitaria entrar na fila na sua frente. Mais do que agradecido, ele aceitou.
Fez seu pedido, comeu rapidamente e saiu em direção á sua próxima reunião.
Menos de dois minutos após ter saído, ele ouviu um estrondo aterrorizador.
Assustado, perguntou a um rapaz que vinha pelo mesmo caminho que ele acabara de
percorrer o que acontecera. O jovem disse que um homem-bomba acabara de detonar
uma bomba na pizzaria Sbarro`s.
Ele ficou branco. Por apenas dois minutos ele escapara do atentado.
Imediatamente lembrou do homem israelense que lhe oferecera o lugar na fila.
Certamente ele ainda estava na pizzaria. Aquele sujeito salvara a sua vida e
agora poderia estar morto. Atemorizado, correu para o local do atentado para
verificar se aquele homem necessitava de ajuda. Mas encontrou uma situação caótica
no local. A Jihad Islâmica enchera a bomba do suicida com milhares de pregos
para aumentar seu poder destrutivo.
Além do terrorista, de vinte e três anos, outras dezoito pessoas morreram,
sendo seis crianças. Cerca de outras noventa pessoas ficaram feridas, algumas
em condições críticas. As cadeiras do restaurante estavam espalhadas pela
calçada. Pessoas gritavam e acotovelavam-se na rua, algumas em pânico, outras
tentando ajudar de alguma forma. Entre feridos e mortos estendidos pelo chão,
vítimas ensanguentadas eram socorridas por policiais e voluntários. Uma mulher
com um bebê coberto de sangue implorava por ajuda. Um dispositivo adicional já
estava sendo desmontado pelo exército.
Ele procurou seu "salvador" entre as sirenes sem fim, mas não
conseguiu encontrá-lo. Ele decidiu que tentaria de todas as formas saber o que acontecera
com israelense que lhe salvara a vida.
Ele estava vivo por causa dele. Precisava saber o que acontecera, se ele precisava
de alguma ajuda e, acima de tudo, agradecer-lhe por sua vida. O senso de
gratidão fez com que esquecesse da importante reunião que o aguardava. Ele
começou a percorrer os hospitais da região, para onde tinham sido levados os
feridos no atentado. Finalmente encontrou o israelense num leito de um dos
hospitais. Ele estava ferido, mas não corria risco de vida.
Ele conversou com o filho daquele homem, que já estava acompanhando seu pai, e
contou tudo o que acontecera. Disse que faria tudo que fosse preciso por ele.
Que estava extremamente grato aquele homem e que lhe devia sua vida. Depois de
alguns momentos, Ele se despediu do rapaz e deixou seu cartão com ele.
Caso seu pai necessitasse de qualquer tipo de ajuda, o jovem não deveria
hesitar em comunicá-lo.
Quase um mês depois, aquele empresário recebeu um telefonema em seu escritório
em NY daquele rapaz, contando que seu pai precisava de uma operação de
emergência. Segundo especialistas, o melhor hospital para fazer aquela delicada
cirurgia fica em Boston, Massachussets.
O empresário não hesitou. Arrumou tudo para que a cirurgia fosse realizada
dentro de poucos dias. Além disso, fez questão de ir pessoalmente receber e
acompanhar seu amigo em Boston, que fica à uma hora de avião de NY. Talvez
outra pessoa não tivesse feito tantos esforços apenas pelo senso de gratidão.
Outra pessoa poderia ter dito "Afinal, ele não teve intenção de salvar a
minha vida: apenas me ofereceu um lugar na fila?
Mas não aquele homem. Ele se sentia profundamente grato, mesmo um mês após o
atentado. E sabia como retribuir um favor. Naquela manhã de terça-feira, Ele foi
pessoalmente acompanhar seu amigo, viajando para Boston com ele e deixando de
trabalhar.
Sendo assim, pouco antes das nove horas da manhã,
naquele dia 11 de setembro de 2001. Ele não estava no seu escritório no 101:
andar do World Trade Center Twin Towers.
(Relatado em palestra do Rabino Issocher Frand)
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