Quatro palavras que Faraó detesta
Ex 5.1-5
Introdução
Este texto é extremamente importante na narrativa do livro de Êxodo. Moisés finalmente chega à presença de Faraó, e consegue uma audiência com o poderoso líder do império egípcio. As relações estavam tensas, o povo estava sendo afligido e oprimido. Agora Moisés chega à presença desta autoridade para dizer: “Assim diz o Senhor, Deus de Israel. Deixa ir o meu povo para que me celebre uma festa no deserto.” (Ex 5.1)
Que pedido inusitado.
Eles não fizeram manifestação para depor Faraó, nem estão pedindo melhores condições de trabalho, nem aumento salarial, não fazem greve, mas pedem para celebrar uma festa ao Senhor. Um pedido, no mínimo estranho.
Faraó despreza o pedido. “Quem é o Senhor para que lhe ouça eu a voz e deixe ir a Israel? Não conheço o Senhor e nem tampouco deixarei ir a Israel.” (Ex 5.2). Pedido feito, pedido negado! Quais sentimentos devem ter surgido no coração de Faraó diante de tal pedido?
O pedido possui quatro ênfases, todas ligadas ao culto que o povo deveria prestar a Deus. Mas Faraó deixa claro seu horror e sua intransigência com tais pedidos. Moises usa quatro palavras que Faraó rejeita veementemente.
Primeira palavra, celebração
Moisés vai se encontrar com ele dizendo que o povo deveria sair, caminhar três dias para celebrar uma festa, isto soa como algo escandaloso para Faraó. Ele não gosta de celebração, mas de punição, tirania, chicote, angústia. Celebração não passa pelo seu coração. É interessante que o diabo não goste de festa, no sentido melhor da palavra. Ele gosta de arruaça, desordem.
Mas há outro grupo que também é avesso à celebração: os religiosos rançosos e mau humorados. Eles não gostam de festa nem de celebração. São taciturnos e “santos “demais para celebrar. Santa Teresa d'Ávila chegou a declarar: “Deus me livre dos santos de cara amarrada."
Esta é a atitude do irmão do filho pródigo, que era trabalhador íntegro, e que ao chegar em casa fica perturbado e irritado com a festa que o pai faz pelo retorno do irmão mais jovem.A dança, a restauração, a alegria, o churrasco, não se encaixam na sua dinâmica de vida e ele reclama exatamente por isto. O pai, que é uma imagem de Deus, lhe diz que tudo isso era disponível para ele, e que o problema não estava no pai ranzinza, mas no filho mau humorado. Ele nunca fez churrasco, nem dança, nem celebrou, porque não quis. Tudo era dele e ele podia celebrar quando quisesse. Este rapaz pode bem ser descrito como “o justo amargurado.” Alguém sem brilho, sem festa, sem churrasco, sem contentamento e com dificuldades de entender o perdão e a restauração, porque nunca havia entendido quem era seu Pai.
Segunda palavra: Festa
Esta é a segunda coisa que Satanás detesta. Quando Moisés expõe os motivos a Faraó, ele rejeita duramente: “Assim diz o Senhor, o Deus de Israel, deixa meu povo ir para que me celebre uma festa no deserto. “ (Ex 5.1). Uma festa???
A Bíblia diz que naquele mesmo dia Faraó deu ordem aos capatazes dizendo: “Daqui em diante não forneça mais palha ao povo para fazer tijolos como antes, que eles mesmos ajuntam para si a palha, mas exijam deles a mesma quantidade de tijolos que antes faziam, não diminua a cota. Eles estão desocupados e por isso grito, vamos e sacrifiquemos o nosso Deus, e ponham mais serviço a esses homens para que se mantenham ocupados e não deem ouvido as palavras mentirosas.” (Ex 5.6-7)
É muito curioso perceber o que Moisés diz a Faraó: “Deixa meu povo ir para que me celebre uma festa.” Eu tenho a impressão de que nós muitas vezes não conseguimos entender nossa relação com Deus como algo festivo. Nem mesmo consideramos a possibilidade de um culto celebrativo. Será de fato possível fazer um “culto celebrativo”, para um Deus Santo?
Lembro-me uma vez que estava participando do casamento de uma pessoa amiga, e o pastor era tão sisudo, tão carrancudo, tão mau humorado que um colega que estava do meu lado, disse ironicamente: “Acabaram de sepultar a irmã!” E é isso que muitas vezes acontece. Os nossos cultos estão mais para réquiem, música de mortos, do que para um alegro, uma música marcada pela celebração. Então é muito interessante refletir sobre isto. Satanás fica indignado com a festa. E é curioso que Moisés peça a Faraó para deixar o povo ir para celebrar uma festa ao Senhor. Surpreendente!
Em Deuteronômio, várias vezes Deus afirma que queria que seu povo estivesse na sua presenca com alegria e festa.
-Dt 14.26: " Consumam ali na presença do SENHOR, seu Deus, e alegrem-se, você e os membros de sua casa."
-Dt 16.11: "Alegrem-se diante do SENHOR, seu Deus, vocês e seus filhos."
-Dt 16.14: "Alegrem-se nessa festa, vocês, os seus filhos."
-Dt 16.15: "Durante sete dias vocês celebrarão a festa ao SENHOR, seu Deus."
Portanto, temos sempre o desafio de equilibrar solenidade e reverência, com alegria e festa. O mesmo Deus que exige que nos apresentemos diante dele com temor e tremor, exige que o louvemos com alegria e louvor.
Terceira, descanso
Faraó entende o objetivo da palavra que Moisés lhe traz: “O povo da terra já é muito e vocês ainda querem esse, que descansem das suas tarefas?” (Ex 5.5) Interessante que Deus está convidando seu povo, que estava debaixo de grande escravidão e angústia, exatamente para descansar. Quando Deus fez sua criação em seis dias, ele decidiu fazer o sábado, para descanso. Deus não precisa de descanso, mas ele queria ensinar seu povo a importância do shabath.
A ideia do sábado tem sido muito pervertida e corrompida entre os religiosos. As pessoas estão sempre entendendo erroneamente o que significa a guarda do sábado.
Quando Deus fala do sétimo dia, ele estava preocupado com vários aspectos, entre eles humanitários e sociais. Ele estava preocupado, em primeiro lugar, com os seres humanos. Deus quer que descansemos porque não somos máquinas. O descanso faz parte do plano de Deus para nossas vidas. Somos convidados ao descanso. Líderes, membros de igreja, precisam aprender a descansar, a relaxar. Deus está preocupado conosco. Somos uma sociedade que valoriza muito a ação, a produtividade, o trabalho, mas se não considerarmos a perspectiva do descanso não estamos entendendo claramente o propósto de Deus.
Outra aspecto interessante é que Deus não estava preocupado só com seu povo, mas também com os escravos e estrangeiros. Portanto, o sábado possuía um fim humanitário, uma dimensão social, trata-se de um cuidado de Deus com as pessoas, independente de seu status ou nacionalidade. Os escravos também não poderiam trabalhar neste dia. Nem mesmo os animais, esta é um cuidado com a natureza, tinha um fim ecológico. Os animais também não podiam trabalhar, nem o jumento, nem o boi. E por último, Deus também queria que eles usassem esse tempo para a adoração. No Sábado deveriam adorar a Deus. Faz parte do Shabath a dimensão cúltica, voltada para a espiritualidade. É assim que o sábado deve ser entendido ainda hoje.
Há muito pouco descanso na religiosidade. Uma espiritualidade mal orientada não pode celebrar. Por esta razão religiões pagãs exigem tanta penitência e sacrifício. "Um monge não pode rir” é uma frase marcante do livro “O nome da Rosa”, de Umberto Eco. A religiosidade mal orientada torna-se contrária ao propósito de alegria e vida que Deus deseja para o ser humano. Este tipo de religiosidade, torna-se anti Deus, e anti vida. O psiquiatra Scott Peck chama a atenção de uma forma muito interessante de que a palavra evil, (mal em inglês) é o reverso da vida. O verbo “to live” em inglês é “viver”. Então viver é o oposto de evil. Onde Satanás estiver, haverá pouco descanso, muito cansaço, muito burnout, muita ansiedade. A presença de Deus traz descanso e é essa é o convite de Cristo.
Logo após a execução de João Batista por ordem de Herodes, Jesus sentiu o peso da morte e viu que tudo aquilo abalou profundamente os discípulos, então, de forma inusitada, ele diz: “Vinde repousar um pouco, à parte, num lugar deserto.” (Mc 6.21) Jesus tem sensibilidade suficiente para entender que era necessário dar uma pausa, afastar-se, ter um tempo para repor as energias e descansar. Será que temos a mesma sensibilidade?
Quarta palavra: Adoração
É visível o desconforto de Faraó todas as vezes que eles estão discutindo. Moisés deixa claro o motivo da festa. “Para que ofereçamos sacrifícios ao Senhor” (Ex 5.2). “Deixe o meu povo ir para que me adore.” (Ex 8.1,20; 10.3). Faraó reage violentamente a esta ideia. “Eles estão desocupados e, por isso, gritam: vamos e sacrifiquemos a nosso Deus.” (Ex 5.8) “Vocês são uns desocupados, por isso dizem: Vamos e sacrifiquemos ao Senhor.” (Ex. 5.17)
Adoração foi e será sempre a atitude que mais agride as trevas. Satanás não se importa com nossa religiosidade, nem se opõe aos nossos ritos, missas, cultos e liturgias, mas ele sempre será opositor da verdadeira adoração. Quando Jesus afirma: “Vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores o adorarão em espírito e em verdade”, ele complementa: “porque são estes que o Pai procura para si.” Jesus deixa claro que Deus está interessado em adoração genuína. Este é o verdadeiro culto, e esta é a verdadeira espiritualidade bíblica. Deus não procura religiosos, nem está interessado em expressões litúrgicas, mas “não despreza um coração compungido e contrito.”
Faraó fica enfurecido com a ideia do povo querer adorar a Deus no deserto. Havia milhares de outros deuses no Egito, porque eles querem adorar a Iaweh? Para Faraó isto nada mais é que a mente de pessoas desocupadas. Ainda hoje é assim. Freud afirma que a “religião é a neurose obsessiva-compulsiva da humanidade”. Será que, do seu ponto de vista, ele não estava certo? Um homem ateu, distante de Deus, vê qualquer movimento de um verdadeiro adorador como algo patológico, insano e compulsivo, fruto de mentes desocupadas ou fanatizadas. O comportamento de Faraó reflete a clara oposição das trevas ao propósito de Deus.
Faraó detesta adoração. Se você quiser ofender as trevas, adore. Em contrição sincera, em espírito e em verdade. Se você quiser glorificar verdadeiramente a Deus, adore, em contrição sincera e em espírito e verdade. Ler a Palavra de Deus devocionalmente, orar com instância, participar de um culto com o coração quebrantado diante de Deus sempre será uma forte oposição ao diabo.
Por que Faraó detesta a celebração, a festa, descanso e adoração?
Podemos dar quatro motivos para isso.
A. Porque ele não conhece a Deus.
Ele afirma: “Quem é o Senhor para que ouça a sua voz e deixe Israel ir? Não conheça o Senhor e não deixarei ir.” (Ex 5.2)
Faraó não conhece a Deus. Portanto, alguém que não ouve a voz de Deus e não o conhece não pode entender a linguagem do descanso, nem da adoração. A Bíblia diz que todos os dias do ímpio são canseira e enfado. Não há descanso. Faraó fica irritado com a ideia de festa, de celebração. Faraó detesta descanso porque ele não conhece o Senhor. Se você não conhece a Deus, você não consegue celebrar.
A religiosidade e o legalismo são opostos à celebração porque, associam festa à devassidão moral, orgias, glutonaria e bebedice. Mas na perspectiva bíblica, “separado de Deus quem pode comer e se alegrar?” (Ec 2.25) O Evangelho não é sobre o que nós podemos fazer, mas sobre o que Deus pode fazer. Por isso o apóstolo Paulo faz uma indagação interessante aos irmãos da Galácia que tinham perdido a compreensão do evangelho, apesar de fazerem parte de uma igreja nova. Ele faz uma pergunta provocativa “O que é feito da vossa exultação?” (Gl 4.15) Quando perdemos nossa alma, perdemos a alegria interior. É necessário resgatar a essência do Evangelho e aprender a celebrar.
B. Porque, para Faraó, produtividade é mais importante que pessoas.
Faraó não está preocupado com as pessoas, com sua saúde e bem-estar. Ele está preocupado com a produtividade. Isso é bem característico do espírito capitalista, que muitas vezes impõe uma carga tremenda sobre as pessoas, obrigando-as a tarefas extenuantes e submetendo-as a serviços exaustivos e desumanos explorando o tempo e a saúde.
Na palestra “O Foco da Liderança”, de Andy Stanley, ele afirma que “igrejas enfermas atraem pessoas enfermas, e que igrejas saudáveis atraem pessoas saudáveis.” A igreja deve lutar para que as pessoas entendam que elas não podem estar escravizadas a um programa religioso que as leve à exaustão. Muitas igrejas são conhecidas por sugarem toda a energia de líderes e pastores e depois simplesmente descartá-los. As pessoas que trabalham com alegria farão isto sempre com celebração.
O apóstolo Paulo fala que “O reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça e paz e alegria.” (Rm 14.17) Quando se refere a comida e bebida, ele está tentando destruir o conceito legalista das pessoas que achavam que iriam para o céu porque se abstinham de determinados alimentos ou bebidas. O reino de Deus é de “justiça, paz e alegria.” Onde houver o verdadeiro evangelho, haverá verdadeira paz e alegria.
O mal é a antivida.
Onde ele floresce, mata a alegria, a espontaneidade, a criatividade, o prazer. Tenho refletido muito nessa questão. Já perceberam como pessoas religiosas demais perdem a compreensão da graça e da alegria de Deus e se tornam pessoas rabugentas e mal-humoradas? Alguma das pessoas mais mal-humorados que conheço são os conservadores ortodoxos, ou legalistas apaixonados, que em nome da fé e do zelo se tornam pessoas absurdamente chatas e inconvenientes. Será que não dá para viver uma vida de piedade, seriedade, santidade e compromisso com o reino e ainda assim experimentar liberdade, alegria, gozo e celebração? O reino de Deus é um reino de alegria, de paz, de justiça. Então, Satanás não entende isso. Ele detesta festa, celebração, porque isso é contrário à sua natureza.
C. Faraó detesta a festa, celebração, descanso e adoração porque ele perdeu a capacidade de humanização.
Qual leitura Faraó faz? como ele interpreta o pedido de Moisés? O que ele percebe? Eles estão desocupados! Precisam trabalhar mais... Como que os escravos hebreus ainda pensam em descanso, festa, celebração? Não pode haver espaço para tocar um instrumento, cantar música, dançar, criar obras de arte. Estes escravos precisam “trabalhar”. Vamos impor mais serviço a esses homens para que se mantenham ocupados e não deem ouvido a palavras mentirosas. Ou seja, não pensem nesse negócio de festa. Eles precisam de mais trabalho.
Então, o que Faraó fez? Ele colocou mais peso e escravidão ainda mais dura e severa. Todas as pessoas deveriam produzir uma quantidade específica de tijolos, e utilizavam a palha que era trazida para que preparassem o adobe, e agora, Faraó decidiu que ao invés de dar a palha para fazerem os tijolos, eles teriam que juntar a palha onde pudessem achar e deveriam ter as mesmas metas. Uma tarefa quase impossível. Essa tarefa é uma ênfase muito interessante do espírito de exploração e domínio. Uma sociedade desumanizada, será cada vez mais opressora e será marcada pela exploração humana. Pessoas serão instrumentalizadas tornando-se apenas agentes de produção, exploradas ao máximo, e assim perderão a alegria. A atitude de Faraó é um clássico modelo do processo de desumanização.
D. Faraó detesta a festa, celebração, descanso e adoração porque ele quer a glória para si mesmo. Ele não está preocupado com a glória de Deus. Ele é oposto a Deus e a tudo que possa trazer glória ao seu nome.
Já perceberam como temos dificuldade para adorar? Facilmente conspiramos contra nossa vida devocional, com a leitura bíblica, oração, comunhão com os irmãos. Satanás fará de tudo para que você não venha à igreja, vai criar obstáculos para o seu envolvimento com o reino de Deus e com aquilo que traz honra ao seu nome. Por sua natureza, Satanás é adversário da obra. Ele se opõe à obra missionária, a plantação de novas igrejas, a conversão de pessoas.
Meu pai se converteu depois de uma grande tragédia familiar. Ele era dono do único posto de gasolina na pequena cidade de Conceição do Ipanema-MG. Era um posto muito bonito, vintage, tudo no seu devido lugar, mas meu pai resolveu mexer na bomba de gasolina e uma pequena faísca, provocou uma enorme labareda, uma chama alta de fogo e ele teve queimaduras de segundo grau. No meio do seu sofrimento, as coisas vieram a tona. O posto estava enfrentando sérios problemas financeiros, que a aparente ordem impedia de revelar.
Este processo de dor, desestrutura financeira e familiar, entretanto, foi o caminho que Deus usou para trazer vida e salvação ao seu coração. Foram tempos de lutas e batalhas espirituais tremendas. Minha mãe, que já era uma serva do Senhor, teve que lidar com experiências pesadas das trevas, vultos e manifestações espirituais que precisaram ser confrontadas em nome de Jesus. Se você quer viver uma vida de adoração entenda isto: “Resisti ao diabo e ele fugirá de vós!” Satanás fará de tudo para conspirar, caso você queira servir de coração ao Senhor e adorá-lo. Ele quer a adoração para si mesmo, e se oporá à sua disposição em servir a Deus.
Conclusão
Celebração, festa, descanso e adoração. Estas são as palavras que Satanás detesta.
Então, deixe-me dar algumas sugestões práticas quanto a isto.
A. Aprenda a celebrar a vida. Não de forma hedonista e epicurista. Não na celebração vazia dos pagãos, mas na presença de Deus.
Faça de sua vida uma vida de celebração, não de mau humor, de temperamento azedo. Não lide com a vida zangado, marcada por amargura e ressentimento. Esta não é a vida que Deus quer para você. O filho pródigo nem o irmão do filho pródigo entenderam isto. O filho pródigo se tornou um hedonista inconsequente, um relativista moral. Ele se perdeu na vida de orgia, de pecado, de distanciamento do pai. O irmão do filho pródigo se tornou um “justo amargurado.” Típico retrato de religiosos legalistas e moralistas que não conseguem celebrar a vida. Ele se perdeu porque não entendeu o caráter do pai amoroso e generoso.
B. Aprenda a descansar. Jesus afirmou: “Vinde a mim todos vós que estais cansados e sobrecarregados, e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e achareis descanso para as vossas almas.” (Mt 11.28-29)
O Deus das Escrituras Sagradas não é Faraó. Faraó acha o descanso algo tolo, um desperdício. O Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, criou o sábado para o descanso. Uma forma de nos ensinar que descansar tem a ver com espiritualidade sadia. Quando eu era pastor de uma pequena igreja em New Jersey (USA), três casais vieram a minha casa e me repreenderam porque perceberam que eu não estava levando a sério meu dia de descanso. Eles me disseram: “O Senhor está pecando contra Deus!”
C. Aprenda a fazer festa. Não a festa de homens sem Deus, para encher a cara de bebida alcoólica. Faça festa e inclua Deus na sua vida, cante louvores a Deus. Dê risadas. Deus tem prazer em seus filhos.
Você consegue ver um Jesus carrancudo ou um Jesus manso, acessível e brando? As crianças gostavam de Jesus, queriam se aproximar dele. Crianças não gostam de pessoas mau humoradas. Ele foi até acusado de ser beberrão e comer com pecadores. Os fariseus quase morreram de escândalo. Torne a sua casa um lugar de boas risadas.
D. Adore a Deus. “Quer comais ou bebais, ou façais qualquer coisa, fazei-o para a glória de Deus.” (1 Co 11.35)
Tudo o que você fizer precisa trazer glória ao nome de Deus. Isto inclui sua agenda diária, seus negócios, suas finanças, sua sexualidade, seus estudos. Inclua Deus em todas as coisas, glorifique seu nome.
Veja o estilo de vida de Cristo. Sua vida foi para glorificar a Deus. Isto ocupava sua mente. Mesmo sua morte, era uma forma de glorificar a Deus. Ir para a cruz fazia parte do desígnio de Deus, e por esta razão Jesus se entrega voluntariamente. Ele disse que “sua comida e sua bebida era fazer a vontade de Deus.”
Por causa de sua obediência e adoração, a condenação que estava sobre nós foi retirada. Fomos absolvidos pela sua graça. A vida de adoração glorifica a Deus e traz redenção aos homens.
Por isto Satanás detesta Celebração, festa, descanso e adoração.
A obra de Cristo, aponta para o descanso que Deus nos quer dar em Cristo. Descanso para pecadores como nós, que vivemos preso ao nosso pecado, a nossa culpa e vergonha. O que Cristo fez? Ele levou sobre si todos os nossos pecados, e agora nos convida:
"Vinde a mim, todos vós, cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e achareis descanso para as vossas almas." Ele nos convida para seu descanso, para viver debaixo de sua graça, para experimentar a alegria que o seu perdão é capaz de nos dar.
A dança do evangelho
Precisamos lembrar da dinâmica do evangelho. Ele age como uma dança, com duas dimensões, dois movimentos. Um movimento é chamado de desespero. Um olhar para dentro, a percepção de um coração pecador, corrupto, legalista, mal-humorado, sem descanso, sem alegria, que perde a compreensão de quem Deus é, e da sua graça. O desespero está relacionado à realidade de minha completa corrupção, do pecado que habita em mim, da natureza pecaminosa.
Mas se você ficar apenas nesse lado do evangelho, você está tendo apenas um aspecto mais escuro da vida. Então, você tem que ir para o outro movimento. O que o evangelho faz? O evangelho entra na dimensão do descanso e da graça. Por isso Jesus nos convida a virmos até ele e encontremos descanso para a alma. “Vinde a mim todos cansados e sobrecarregados, e eu vos livrarei. Tomai sobre vós o meu julgo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e achareis descanso para a vossa alma.” (Mt 11.28)
Se nós não entendermos o Evangelho na sua plenitude, podemos ficar apenas com um lado, mas o Evangelho precisa ter esse movimento, esta dança. Os riscos de ficar apenas na dimensão do zelo, longe da graça de Deus, o transforma em uma pessoa tensa, presa na armadilha da performance e do perfeccionismo e nos transforma num forte candidato ao burnout. Muitos lutam tanto, com tanto ardor e empenho, mas não se agradam de Deus e da sua obra. Ficam apenas com a filosofia de Faraó.
O profeta Jonas parece ser um bom protótipo. Ele entrou em crise quando Deus o chamou para pregar as ninivitas, e porque ele tinha crise com a bondade de Deus ele fugiu para Társis. Quando discutia com Deus ele se justifica e se explica: “Não foi que eu te disse estando ainda em Israel, por isso me adiantei fugindo para Társis, porque sabia que tu és um Deus bondoso, zeloso, compassivo, que se arrepende do mal, por isso fugi.”
O problema de Jonas está intimamente relacionado a uma compreensão equivocada de Deus. O problema de Faraó está profundamente relacionado a um homem que não conhece a Deus. Perder a dimensão da graça na história é algo extremamente complexo e perigoso. Não conhecer a Deus e nem saber ouvir sua voz, é uma tragédia, como podemos perceber na vida de Faraó.
Portanto, temos aqui, de um lado, pessoas que ouviram a voz de Deus, como Jonas. Pessoas que conhecem a Deus e sua palavra: os justos amargurados, que não encontram espaço para celebração e festa. É uma espiritualidade som alegria, sem sorriso, sem churrasco. De outro lado, temos aqueles que não conseguem identificar a voz de Deus, que não conhecem o Senhor, como fez Faraó. Sua obstinação e dureza, trouxe juízo e morte.
Esta é a atitude do irmão do filho pródigo, que era trabalhador, integro, e que ao chegar em casa fica perturbado e irritado com a festa que o pai faz pelo retorno do irmão mais jovem.A dança, a restauração, a alegria, o churrasco, não se encaixam na sua dinâmica de vida e ele reclama exatamente por isto. O pai, que é uma imagem de Deus, lhe diz que tudo isso era disponível para ele, e que o problema não estava no pai ranzinza, mas no filho mau humorado. Ele nunca fez churrasco, nem dança, nem celebrou, porque ele não quis. Tudo era dele e ele podia celebrar quando quisesse. Este rapaz pode bem ser descrito como “o justo amargurado.” Alguém sem brilho, sem festa, sem churrasco, sem contentamento e com dificuldades de entender o perdão e a restauração, porque nunca havia entendido quem era seu Pai.
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