terça-feira, 31 de dezembro de 2024

Gn 19.15-29 Não olhe para trás! Ano Novo


 A mulher de Ló olhou para trás e se transformou numa estátua de sal”.

 

Introdução

 

No final de ano recebemos muitas frases icônicas e engraçadas sobre a passagem do ano. Neste ano, tive acesso a algumas delas.

 

·      Ano novo vida nova, ou ano novo vida velha?

·      Se o relatório não saiu em 2024, fica tranquilo, porque em 2025 ele também pode esperar.

·      A vida é feita de escolhas. Engraçado que em 2023 eu escolhi ser rico e até agora nada.

·      O que engorda não é o que você come entre o Natal e o Ano Novo… é o que você come entre o Ano Novo e o Natal!

·      Nós não vamos colocar uma meta. Nós vamos deixar uma meta aberta. Quando a gente atingir a meta, nós dobramos a meta... Dilma Rousseff.

·      As pessoas estão dizendo que este ano será um ano de mudança. Vou comprar um caminhão bem grande para fazer frete e ficar rico!

·      Neste ano cansei de ser chato, em 2025 serei insuportável!

 

 

Uma das coisas mais complexas na natureza humana é o apego ao passado. Alguém sabiamente afirmou que três coisas nos desestabilizam:

 

O excesso de passado – gera depressão, amargura e dor

O excesso de presente – causa estresse e medo

O excesso de futuro – gera ansiedade e preocupação

 

Já observaram como boa parte, se não a maioria de nosso problemas, tem a ver com experiências negativas do passado? Por isto terapeutas e psicólogos querem entender a história da pessoa, vasculhar como um arqueólogo, as pistas e traçados psicológicos que foram construídos na história individual de cada um. Nossos traumas atuais tem a ver com o mal que sofremos, as pessoas que nos machucaram, a interpretação que fizemos dos eventos, as narrativas que construímos.

 

A lição central deste texto nos convida a não olhar para trás.

 

A narrativa sobre a destruição de Sodoma e Gomorra, e o que aconteceu à mulher de Ló, torna-se extremamente importante, principalmente quando estamos em momentos de transições, ou quando precisamos avançar, mas estamos de alguma forma presos a um dado pessoal e particular da nossa história.

 

A ordem que o Senhor dá a Ló e sua família era clara: “Havendo-os levado fora, disse um deles: Livra-te, salva a tua vida; não olhes para trás, nem pares em toda a campina; foge para o monte, para que não pereças.” (Gn 19.19)

 

Não olhes para trás!!!

Talvez possamos fazer algumas perguntas didáticas ao texto.

Por que não olhar para trás?

Quando não olhar para trás?

Quais os perigos de olhar para trás?

 

Deixe-me tentar responder pelo menos uma delas. Quando não olhar para trás?

 

Primeiro, não olhe para trás quando Deus claramente diz para você não olhar.

 

Não olhe para trás se isto o leva à desobediência e ao pecado.

A ordem de Deus foi clara à família de Ló: “Livra-te, salva a tua vida; não olhes para trás, nem pares em toda a campina”. Era uma questão de salvação. Não podiam se descuidar.

 

O que manteve o olhar da mulher de Ló presa ao passado?

Ló era um homem rico, possivelmente tinha um lugar de honra naquela cidade, com servos e servas à sua disposição. Certamente tinham posição e status social, portanto, tinham muito a perder.

 

Muitas vezes é isto que nos impede de crescer espiritualmente. Não queremos sacrificar nada, queremos nos manter na vaidade e na vida supérflua que adotamos antes de decidir seguir a Jesus. Jesus é muito claro ao chamar seus seguidores: “Jesus respondeu: "Ninguém que põe a mão no arado e olha para trás é apto para o Reino de Deus." (Lc 9.62) NVI.

 

A vida de passado pode ainda estar exercendo profunda atração sobre nossa vida. Por isto não podemos olhar para trás. A vida do passado deve ser deixada para trás.

 

“Que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano; E vos renoveis no espírito da vossa mente; E vos revistais do novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade.” (Ef 4.22-24).


Segundo, Quando o olhar no retrovisor nos leva a afastar de Deus.

 

Um dos exemplos mais conhecidos da Bíblia sobre isto tem a ver com o povo de Deus quando sai do Egito. Aquelas pessoas saíram do Egito, mas o Egito não saiu delas.

 

Seus corações ainda estavam presos e por isto começaram a lamentar e a se recusar a cortar o 'cordão umbilical' com o Egito: "E o populacho que estava no meio deles veio a ter grande desejo das comidas dos egípcios; pelo que os filhos de Israel tornaram a chorar e também disseram: Quem nos dará carne a comer? Lembramo-nos dos peixes que, no Egito, comíamos de graça; dos pepinos, dos melões, dos alhos silvestres, das cebolas e dos alhos. Agora, porém, seca-se a nossa alma, e nenhuma coisa vemos senão este maná." (Nm 11.4-6)

 

Quanto risco corremos quando o Egito exerce fascínio sobre nós.

Assim aconteceu com a mulher de Ló. Ela estava presa. Ela desobedeceu, ela não conseguia deixar de considerar o que havia perdido. Seu olhar deveria ter sido colocado no livramento e nas promessas de Deus para sua história. Ela deveria ter pensado que uma vida de obediência leva a uma vida de vitória, e que o Deus que tão amorosamente os estava livrando da morte e da condenação junto com aquela cidade, seria capaz de “fazer infinitamente mais do que ela pedia ou pensava”.

 

Mas ao olhar para trás, ela se distancia do projeto de Deus para sua vida. Deixou de considerar as novas possibilidades de Deus para sua vida e sua família. Seu olhar no passado a destruiu.

 

Terceiro, quando o passado nos impede de colocar o olhar no alvo.

 

Olhar para o passado não permite que você considere as novas oportunidades que Deus pode estar dando. Pare de chorar, pare de se lamuriar, considere o amor de Deus para sua vida. Se neste momento você está olhando para sua história sem esperança, ore para que Deus faça brotar novos sonhos e alegria em sua vida, para viver com santa expectativa para as possibilidades.

 

Não é isto que nos afirma a Palavra de Deus? “E o meu Deus, segundo a sua riqueza e graça, há de suprir em Cristo Jesus, cada uma de minhas necessidades”. (Fp 4.19)

 

O profeta Isaias afirma: “Não vos lembreis das coisas passadas, nem considereis as antigas. Eis que faço coisa nova, que está saindo à luz. Porventura não o percebeis? Eis que porei um caminho no deserto e rios no ermo.” (Is 43.18-19)

 

Paulo afirma: “Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante de mim. Prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.”(Fp 3.13-14)

 

É maravilhoso ver como homens de fé se tornaram referenciais para nossa espiritualidade. A vida de Moisés foi assim, suas ações foram pautadas por uma perspectiva sobre daquilo que estava adiante dele.

 

Pela fé, Moisés, quando já homem feito, recusou ser chamado filho da filha de Faraó, preferindo ser maltratado junto com o povo de Deus a usufruir prazeres transitórios do pecado; porquanto considerou o opróbrio de Cristo por maiores riquezas do que os tesouros do Egito, porque contemplava o galardão. Pela fé, ele abandonou o Egito, não ficando amedrontado com a cólera do rei; antes, permaneceu firme como quem vê aquele que é invisível” (Hb 11.25-27).

 

O que a vida de Moisés nos ensina é que pode-se pagar um preço hoje quando nossos olhos estão antecipando os resultados da fidelidade e obediência a Deus. Quando não estamos presos às ofertas imediatas, aos fast-food oferecido por Satanás. Moisés contemplava o GALARDÃO. Permaneceu firme como aquele que vê o invisível.

 

Conheci o Sr Jorge Sahium, quando cheguei aqui na igreja. Ele era um homem espirituoso, inteligente, engraçado, brincalhão. Certa vez numa visita que um grupo de irmãos fizeram à sua casa, ele, aos 95 anos de idade, fez o seguinte comentário: “eu morro de medo de ficar velho”. Não se esqueça de que ele já estava com 95 anos. Foi nesta mesma ocasião que ele recebeu a visita de uma querida irmã de mocidade, que tinha também o mesmo fundamento na fé, e ela era uma mulher de uma fé inabalável em Cristo. Antes de ir embora, ela deu um abraço no Sr. Jorge e disse com alegria: “Fica com Deus Jorge, não se esqueça que nossa redenção está chegando, o tempo de nossa glorificação”.

 

Quarto, quando olhar para o passado paralisa nossa história. Foi exatamente isto que aconteceu à mulher de Ló. “E a mulher de Ló olhou para trás e converteu-se numa estátua de sal.” (Gn 19.26)

 

Sua vida parou ali. Quem vira estátua de sal não pode prosseguir. Você precisa avançar... Sua vida precisa seguir adiante. Há uma expressão popular que diz: “A vida segue...!”

 

É isto mesmo.

Muitas pessoas se perderam na vida e nunca mais se reencontraram. Muitos se perderam, e infelizmente, não conseguiram refazer sua rota: São abusos não superados; ressentimentos antigos, ira mau resolvida, experiências traumáticas. Todos estes eventos podem nos paralisar.

 

Muitos porém, pararam de olhar na sua vida de fracasso e prejuízo e começaram a considerar o que Deus poderia fazer nas suas vidas, e foram transformados.

 

A mulher de Ló ficou presa nas coisas que perdera: Lembranças pessoais, sua casa, seus móveis, seus souvenirs, o status social. Este texto nos mostra que é perigoso ficar olhando para trás. A vida pode nos paralisar.

 

Creio que existem algumas situações em que devemos olhar para trás:

 

1.     Quando olhamos para a vida como aprendizado.

 

Errei, cometi falhas, e aprendi que não posso mais caminhar pela mesma estrada que até então percorria. Isto é chamado na Bíblia de arrependimento, que literalmente significa “voltar atrás, caminhar noutra direção”. Precisamos aprender com as lições de outrora. O profeta Daniel afirma ao rei Belsazar, que o problema dele é que, mesmo observando a derrocada de seu pai, Nabucodonor, ele não havia aprendido a temer a Deus. (Dn 5)

 

Hegel afirmou de forma cínica que “se a história nos ensina alguma coisa, nos ensina que não nos ensina nada”. Esta é uma abordagem cética. Precisamos aprender com tudo que vivenciamos, e com a história que construímos. Precisamos olhar didática e pedagogicamente para o passado e aprender, para não cometermos o mesmo erro duas vezes.

 

Um povo que não conhece seu passado, que não compreende suas referências e suas origens, perde a chance de reparar seus erros históricos. “Um povo sem memória, é um povo sem passado, e sem história”

 

2.     Quando olhar para o passado nos ajuda a avançar.

 

Um dos grandes perigos de uma sociedade é esquecer de sua história: De onde viemos, quem somos, como chegamos até aqui, quais lutas tivemos que enfrentar. É muito importante lembrar que um povo sem memória é um povo sem futuro. Existe uma máxima cínica de que “no Brasil até o passado é incerto.”

 

A história de Davi ilustra isto. Ele se encontrava diante de um gigante, com muito mais força e habilidade de guerra, então ele se lembrou que Deus lhe havia dado vitórias em duas outras situações: quando se deparou com um urso e lutou com um leão. Sua experiência passada lhe dava condições de acreditar que, se Deus lhe havia dado vitória, poderia lhe dar outra vitória no presente. E isto o ajudou a crer que uma vitória lhe ajudaria a obter outra vitória.

 

3.     Quando olhar para o passado enche o nosso coração de gratidão, não de amargura.

 

Moacir Bastos, poeta presbiteriano afirma: “gratidão é o amor contemplando o passado”. Gratidão é uma memória positiva, de algo que lhe aconteceu ou de algo que lhe fizeram. Um antigo hino diz:

 

“Oh Mestre nunca, cessarão meus lábios,

de bendizer-te, de entoar-te glória

Pois eu conservo, de teu bem imenso.

Grata memória!”

 

Como é positiva uma memória de gratidão, de contentamento. Como é devastadora uma memória de ressentimento.

 

Conclusão:

A obra de Cristo: A redenção traz uma dimensão escatológica

 

Jesus sabia da dor que ele haveria de passar. Ele estava experimentando a injustiça e a brutalidade da raça humana e daqueles que ele tanto amou. Jesus experimentou na cruz, toda a maldição do pecado, provocado por pessoas desumanas e cruéis. Se ele ficasse preso no seu passado e nas injustiças sofridas, a redenção nunca se completaria.

 

O que fez Jesus?

Seus olhos estavam colocados na esperança daquilo que lhe acontecia naquele momento: Jesus antecipava a formação de seu povo, quando se entregou na cruz.

 

O texto de Isaías 53.11 diz:

Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito; o meu Servo, o Justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos, porque as iniquidades deles levará sobre si. Por isso, eu lhe darei muitos como a sua parte, e com os poderosos repartirá ele o despojo, porquanto derramou a sua alma na morte; foi contado com os transgressores; contudo, levou sobre si o pecado de muitos e pelos transgressores intercedeu”.

 

Os olhos de Jesus, ao se entregar na cruz, estavam colocados sobre a formação de seu povo. Ele estava resgatando um povo para seu louvor, formando uma nação em torno da sua redenção. O Livro de Apocalipse nos afirma que diante do trono de Deus encontra-se este povo redimido, resgatado, em adoração diante de Deus. Era isto que estava na mente de Cristo quando ele voluntariamente se entregou na cruz.

 

Jesus estava olhando adiante, vendo a obra de Deus que escatologicamente se realizaria na história.

Será que somos capazes de perceber o amor de Deus no meio das contradições e incoerências da vida? Será que somos capazes de olhar o passado com gratidão, e não com amargura; e olhar o futuro com esperança, daquela esperança profunda e maravilhosa que surge pela compreensão do amor de Deus por nós?

 

A vida de Jesus nos mostra que é preciso olhar adiante, com fé e esperança.

O que acontece no momento, por mais problemático que pareça,

Uma das músicas mais lindas do cancioneiro brasileiro evangélico foi composto por um poeta do Sul, e ela diz o seguinte:

 

Asaph Borba

Eu sei que foi pago um alto preço
Para que contigo eu fosse um meu irmão
Quando Jesus derramou sua vida
Ele pensava em ti, Ele pensava em mim,
Pensava em nós

E nos via redimidos por seu sangue
Lutando o bom combate do Senhor
Lado a lado trabalhando, sua Igreja edificando
E rompendo as barreiras pelo amor.

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