Todas as férias, escolho cuidadosamente um livro para ler, e num destes períodos de descanso, li “O Jesus que eu nunca conheci”, de Philip Yancey. Cuja habilidade em escrever é surpreendente. Sua alma é inquieta e seus textos provocativos, por isto consegue traduzir suas crises, e por conseguinte, as nossas, de forma muito profunda.
Ele começa o capítulo que fala do Natal relatando um episódio que ele assistiu no filme “Thirty something”, espetáculo da TV em que Hope, uma cristã, argumenta com Michael, o marido Judeu, a respeito do Natal.
“Por que você ainda se preocupa com o Hannukak? Você acredita mesmo que um punhado de judeus manteve afastado um exército utilizando algumas lâmpadas que milagrosamente não ficavam sem combustível?”
Michael explode:
“Ah, e o Natal faz mais sentido? Você acredita mesmo que um anjo apareceu a uma adolescente que depois ficou grávida sem fazer sexo, e depois viajou a cavalo para Belém, onde passou a noite num estábulo e teve o nenê que se transformou no salvador do mundo?”[1]
Francamente, diz ele, a incredulidade de Michael parece com a dos Evangelhos. Maria e José tiveram que enfrentar a vergonha e o desprezo da família e dos vizinhos que reagiram…bem…de acordo com Michael (“Você acredita mesmo que um anjo apareceu?”)
Na verdade, a forma como o Natal é descrito no Evangelho é bem diferente do que vemos nos cartões de Natal. No Natal, o nascimento é apresentado de uma forma natural, mas nos Evangelhos, nos é descrito em forma subversiva e até mesmo de um conflito cósmico.
1. Maria não recebeu a notícia de forma natural, diz a Bíblia que ele ficou “grandemente perturbada” e “teve medo.” (Lc 1.29-30).
Maria teve que enfrentar questionamentos e vergonha de uma mãe solteira, concebendo seu filho num contexto profundamente conservador e fundamentalista. Engravidar atualmente sendo mãe solteira, é muito menos conflitivo do que há alguns anos atrás; Nos Estados Unidos, todos os anos, 1 milhão de adolescentes ficam grávidas fora do casamento, mas no Séc. I, tal notícia era altamente escandalosa. Uma mulher, na situação de Maria, comprometida para um casamento, era adúltera e sujeita à morte por apedrejamento.
2. Pensem na situação de José – O Evangelista Mateus afirma que José decidiu deixá-la “secretamente” (Mt 1.19) porque era um homem justo. Outros homens provavelmente pediriam sua execução exemplar por ter quebrado a lei. José muda sua opinião por causa de um anjo lhe explica o que aconteceu. Será que mesmo com um anjo teríamos fé para suportar os comentários maliciosos que amigos e parentes fariam a nós. “Anjo hein?” …Além do mais este anjo lhe aparece num sonho – apenas um sonho seria suficiente para nos convencer?
e
3. O texto nos fala de Maria trêmula, buscando imediatamente sua prima Izabel, talvez uma amiga íntima, a única que poderia entendê-la. A Bíblia afirma que está visita durou três meses (Lc 1.56). Obviamente a razão de uma visita tão longa é justificada por causa dos comentários das pessoas. Será que na sua pequena cidade as pessoas conseguiram entender bem a história de uma moça “engravidada pelo Espírito Santo?” Yancey pergunta: Será que José não a levou para dar a luz em Belém, para livrá-la da vergonha que Maria era exposta na sua cidade natal?
4. Foram nove meses de desajeitas explicações – Deus usa as situações mais humilhantes para a sua entrada na terra. É impressionante como a sua entrada no mundo se dá num contexto altamente desfavorável. Yancey afirma que isto se deu, provavelmente porque Deus queria deixar claro que ele não tem favoritos.
5. Maria, porém, age com total submissão: “Aqui está a serva do Senhor, que se cumpra em mim conforme a tua palavra.” (Lc 1.38) Foi a primeira pessoa a aceitar Jesus sem reservas, apesar do custo pessoal e dos grandes questionamentos sobre seu caráter.
Jesus nasce numa cirscunstância de zombaria e questionamento.
Mas o pior ainda está para vir:
Jesus nasce debaixo de um mundo de disputa e terror. Uma raposa política, Herodes, que havia matado dois cunhados, a esposa Mariamne e dois de seus filhos, era um homem inescrupuloso, e ouvindo falar de uma palavra profética do Antigo Testamente, mandou matar todas as crianças do sexo masculino, de dois anos para baixo na região de Belém. O regime de Herodes parecia o de Stalin na década de trinta na Rússia. Havia espiões em toda parte, os cidadãos não podiam se reunir publicamente, havia uma grande suspeita e ameaça no ar. Que forma estranha de Deus visitar o mundo? Deus não tinha outro lugar e outro tempo para fazer sua visita à terra?
José é orientado a sair de sua terra natal e viajar para o Egito. Jesus passa a sua infância como imigrante ilegal, refugiado no Egito. Quando voltam para a Judéia, precisam subir um pouco mais, porque ainda havia outra ameaça. O filho de Herodes, o Grande, cujo nome era Herodes Arquelau, governava a Judeia. Tiveram então que ir para a Galileia, que apesar de pertencer ao povo judeu, não era um lugar tão charmoso quanto a Judeia. Havia até mesmo um entre os judeus um ditado que foi usado em relação a Jesus: “De Nazaré podia sair alguma coisa boa? Nazaré ficava na Judeia, que era conhecido como terra dos oprimidos, miseráveis, explorados. Ali Jesus cresce na pequena vila de Nazaré.
Diante disto Yancey define o Natal com quatro palavras:
Humildade
Isto é paradoxal: Um Deus humilde! Deus não vem de forma arrebatadora, montado numa chama de fogo, mas transformou-se num óvulo, num feto. Os muçulmanos dizem: “Deus é grande!” Isto não é nenhuma novidade! A novidade do Natal é que Deus decide se esvaziar de sua glória e se tornar “pequeno”. Ele visita nosso planeta como um bebê que não pode controlar sua urina, que depende de uma adolescente para lhe colocar comida na boca.
Yancey afirma que uma pequena visita da rainha da Inglaterra aos Estados Unidos custou 20 milhões de dólares pelos aparatos que ela precisava ter: 1800 Kg de bagagem, dois trajes para cada ocasião, assentos de pelica para vasos sanitários, sua cabelereira, dois camareiros e muitos atendentes. A visita de uma realeza custa muito.
No caso de Deus foi o contrário: Nao havia lugar para eles na hospedaria, foram para um curral, um abrigo para animais, sem assessores, serviçais analfabetos apenas viram sua chegada ou nem a perceberam. Os pastores eram “joões-ninguém”, tinham reputação tão ruim que eram restritos aos pátios externos do templo, junto com os gentios.
Acessível
Na maior parte das religiões o medo é o primeiro sentimento em relação a Deus. Os judeus associavam o temor com adoração. Isaías ficou amedrontado quando o Senhor lhe falou, afinal estava diante do Deus dos Exércitos! Manusear a arca de forma errada trazia morte. Se alguém entrasse no lugar santíssimo, jamais sairia de lá. Os muçulmanos quando oferecem suas preces tocam a testa no chão em sinal de reverência. Até o nome sagrado de Deus para os judeus era impronunciável.
No Natal, a grande verdade é: O Verbo se tornou carne e habitou entre nós. Deus deixou o esplendor de sua glória e se tornou humano. Os teólogos chamam este ato de Deus de Kenosis, um termo grego que, traduzido literalmente, significa "esvaziamento". Refere-se ao ato de Jesus em "esvaziar-se" de sua natureza divina para se tornar humano. Jesus, sendo Deus, escolheu se tornar homem, "esvaziou-se" de algumas de suas prerrogativas divinas, para experimentar plenamente a condição humana.
Esta doutrina destaca a humildade e o amor de Deus, que se fez homem para salvar a humanidade. Ela também enfatiza a natureza sacrificial de Jesus, que deixou a glória celestial para viver e morrer por nós. O versículo mais conhecido sobre a kenosis está em Filipenses 2.7: "Mas se esvaziou a si mesmo, tomando a forma de servo, sendo feito semelhante aos homens; e, achando-se na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz." A kenosis nos mostra o caminho da humildade e do serviço. Somos chamados a servir aos outros e a colocar as necessidades deles acima das nossas.
Oprimido
Jesus nasceu e viveu num contexto de opressão. Seus pais tiveram que fugir de seu próprio país. Lazlos Tokles pastor batista na Romênia, vivia debaixo da opressão temível do sistema de segurança e policiamento ostensivo do governo. Ele conta que na véspera do Natal de 1989, estavam tentando celebrar o Natal na sua pequena igrejinha em Timisoara, Romênia, quando foram cercados pela temida e violenta Securitá, polícia do ditador Ceauscescu. Naquele momento, a igreja estava reunida, mas cercada pela ameaça, o pastor com sua pequena comunidade. Debaixo de forte pressão ele decidiu ler um dos textos do natal, que mais se aplicava ao momento que eles estavam vivendo: A matança de Herodes. Eles conheciam bem a opressão, o medo e a violência.
Algo inusitado aconteceu naquela noite. Quando a cidade soube o que a polícia queria fazer com os membros da igreja e com o seu pastor, as pessoas começaram a se reunir em frente a igreja e a cercaram. Para afugentar a multidão, a polícia ainda atirou em direção a população, mas eles não se intimidaram e permaneceram firmes. A polícia, ressabiada, foi ao pouco saindo dali e no dia seguinte, dia de Natal, chegaram as notícias que aquele ditador fora aprisionado e as igrejas puderam novamente tocar os sinos depois de 40 anos, e novamente o natal passou a ser celebrado como um feriado nacional.
Yancey narra o comentário daquelas pessoas que relataram esta experiência: “Todos os acontecimentos da história do Natal tinham agora dimensão nova e cintilante para nós, dimensão da história enraizada na realidade de nossas vidas.”
Jesus nasceu num contexto de opressão, Deus faz uma “opção preferecial pelos pobres”, nascendo num contexto sem riqueza, sem direitos, nem justiça.
Corajoso
Era preciso coragem para Deus deixar de lado o seu poder e glória e assumir um lugar entre os seres humanos que o receberam com uma mistura de insolência e ceticismo.
Mais um relato do Natal
Apocalipse 12, porém, descreve o Natal de forma absolutamente não romântica. Descreve o Natal na perspectiva da esfera celestial.
A narrativa não descreve anjos, nem pastores, nem eventos históricos, antes falam de um dragão feroz lutando nos céus. Uma mulher vestida de sol e usando uma coroa de 12 estrelas grita com dores enquanto dá a luz. O dragão entra em cena, varrendo um terço das estrelas do céu e jogand-oas à terra. Seu alvo é a criança, ele quer devorá-la tão logo ela nasça. A criança é arrebatada para um lugar seguro e foge para o deserto. Existe aqui descrito todo um drama cósmico acontecendo.
O livro de Apocalipse é carregado de simbologia, e é difícil abordá-lo, qualquer que seja o ângulo pelo qual queiramos fazer sua análise. Mas o capitulo doze nos revela que o Natal precisa ser visto sob dois primas: Uma narrativa histórica relatada no evangelho, que nos fala de anjos cantando, magos vindo do Oriente, a criança deitada numa manjedoura, de José e Maria, e outra, nas regiões celestiais, com lutas de forças espirituais, dragões, demônios e forças espirituais. O Apocalipse dá uma visão a partir dos bastidores do natal, os aponta para uma perspectiva cósmica do Natal.
A luta do dragão caminha na direção do extermínio da criança que vai nascer. O grande dragão vermelho está pronto para devorá-la, logo após o parto. Satanás vai fazer de tudo para destruir a criança que um dia há de destrui-lo. A antiga serpente precisa impedir completamente a encarnação, o nascimento desta criança. Existe uma questão muito importante aqui: Por que existe tanta oposição ao nascimento desta criança?
A encarnação de Cristo, sua historicidade e humanidade, ocupa um lugar central no plano da redenção estabelecido por Deus. Todas as Escrituras apontam para este grande evento. O nascimento deste menino tem espaço central na expectativa judaica. Seu nascimento é um turning point na história da humanidade e nos propósitos eternos de Deus. Por esta razão, o projeto de Deus é mantido em secreto. Paulo fala de Jesus como o mistério de Deus “desde os séculos, oculto em Deus, que criou todas as coisas.” (Ef 3.8-9)
Assim como existe uma santa expectativa entre o povo de Deus e entre os seus anjos (1Pe 1.10-11) Existe também grande apreensão e temor no inferno. Tão logo este projeto se torna público e é anunciado, Satanás se opõe veemente ao advento. Ele sabe que se esta criança vier a existir tudo estará perdido. A grande oposição do diabo é ao nascimento da criança. A encarnação é um fato dramático para o inferno, este é o grande mistério não revelado inteiramente aos profetas, que Deus haveria de vir ao mundo, não apenas através de seus mensageiros (os anjos), nem daqueles que falavam suas verdades (os profetas), mas através dele mesmo. Por esta razão João diz: “Para isto se manifestou o Filho de Deus: para destruir as obras do diabo” (1 Jo 3.8 É o fato da encarnação da criança que provoca o aparecimento do dragão com toda sua fúria: O dragão se coloca em frente à mulher que estava para dar à luz, a fim de lhe devorar o filho quando nascesse. Ele sabe que aquela criança haveria de esmagar sua cabeça, e que havia vindo ao mundo, para destruir as obras do diabo.
Curiosamente, esta ação orquestrada do diabo contra o “recém-nascido rei dos Judeus”, veio de forma palpável através dos poderes políticos, não através de uma intervenção sobrenatural ou em forma de batalhas cósmicas, mas num Ato Institucional, que não deixa de ser profundamente espiritual. Este decreto bárbaro de Herodes, mandando matar indiscriminada e cruelmente as crianças que viviam no perímetro urbano de Belém, (Mt 2.16-18 revela o esforço do dragão em “devorar o filho quando nascesse.” (Ap 12.4)
O simbolismo do dragão, pronto a destruir a criança recém-nascida traz a tona o início do conflito no mundo entre Deus e Satanás.
“A tentativa de Satã de destruir o Messias logo de início frisa a natureza mortal e crítica do conflito. Satã conhece plenamente o que significa o nascimento iminente da criança. Sabe que com a vinda de Deus em carne, grandes forças se desencadearão, as quais lhe hão de reduzir o poder. Surge agora um conflito incessante no qual Satanás luta para preservar seu poder…Sua tentativa infrutífera se repetiu na crucificação de Cristo, quando o governo romano se coligou com os oficiais judaicos para levarem Jesus à morte. Sem dúvida, os fatos históricos são parte da inspiração que produz esta representação simbólica”. [2]
O ato de nascer o Messias é o grande ato de Deus contra toda tentativa de Satanás em exercer domínio sobre a terra. McDowell chama a atenção para o fato de ser este um conflito cósmico, que abrange todo o universo pois João o descreve com imagens apocalípticas falando dos poderes celestiais e sobrenaturais do tremendo conflito que inclui tanto o céu quanto a terra. Satã sofre derrota no céu, de onde é expulso. (Ap 12.7-8); É derrotado na terra, por causa do sangue do Cordeiro e pela palavra do testemunho (Ap 12.11). Por isto, João descreve o céu em festa. (Ap 12.12).
Visto pelo ângulo dos bastidores das esferas espirituais, esta passagem é dramática, dando-nos uma boa idéia do que aconteceu com a chegada de Deus em forma humana, quando nosso pequeno planeta foi visitado pelo criador de todo universo.
A grande batalha de Satanás, descrita neste texto, é com a encarnação de Cristo. Existe um conflito cósmico. A Bíblia não nos fala apenas de um mundo cheio de ações políticas, violência, magos e estrelas, mas relata também um mundo espiritual, sinistro, repleto de entidades, anjos e ações sinistras, e naquela noite fria de Belém, estes dois mundos se tocaram de forma impressionante. “Deus que não conhece o antes ou o depois, entrou no tempo e no espaço. Deus que não conhece fronteiras, assumiu as limitações chocantes da pele de um nenê, as restrições sinistras da mortalidade”.[3]
Por que Satanás se opõe de forma tão veemente ao projeto de Deus de visitar o planeta terra em forma humana?
- Porque, com a encarnação de Cristo, instaura-se um novo tempo na história da humanidade.
Existe aqui um momento decisivo dentro da história humana. Naquela pequena vila de Belém, Deus se tornava humano, absolutamente igual às suas criaturas. O seu grande projeto e grande mistério se revela de forma surpreendente através de uma gravidez pouco conservadora gerada no útero de uma piedosa adolescente, e desembocaria no nascimento de uma criança frágil numa pequena e inexpressiva vila na Judéia. Ali, contudo, inicia o grande drama da redenção da raça humana, ali Deus desenvolve o seu projeto de restaurar todos aqueles que crêem, pela loucura de um insano gesto: A morte de seu filho Jesus.
Jesus entendia isto plenamente. Sua encarnação era o grande alvo de Deus para a raça humana. Um dia, numa aldeia chamada Cafarnaum, ele lê um texto messiânico em Isaías, fecha-o solenemente, e diante de uma pequena platéia atônita, afirma categoricamente que ele era o cumprimento daquelas profecias: “Hoje, se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir.” (Lc 4.21) Explicando seu ministério de confrontação dos poderes malignos afirma: “Se eu expulso demônios, o Reino de Deus é chegado”. (Mt 12.28)
O Nascimento de Deus entre nós inaugura um novo tempo. O tempo da restauração, o tempo de salvação. Os apóstolos também entenderam isto: “Vindo, porém, a pelnitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei.” (Gl 4.4)
- Porque com a vinda desta criança, inicia-se o tempo da confrontação e desmascaramento dos poderes das trevas –
O dragão se coloca em frente a mulher, para devorar o Filho quando nascesse. Todo o esforço de Satanás, neste momento é para sufocar o nascimento de Deus entre os homens. Porque com sua vinda, o poder das trevas é relativizado, seu domínio diminuido e Deus realiza obra portentosa no meio de seu povo.
Em Mt 8.29 os demônios gritam em desespero: “Que temos nós contigo, ó Filho de Deus, vieste aqui atormentar-nos antes de tempo?” Os demônios, diante da encarnação e ministério de Jesus, percebem que o julgamento já chegou com a vinda do Messias. Eles têm consciência do limite do seu destrutivo poder diante da autoridade de Jesus, e sabem que o julgamento deles já está determinado. A surpresa deles, contudo, focaliza-se na questão do tempo do julgamento. Eles questionam porque acreditavam que suas agendas foram reduzidas no tempo, isto é, Jesus os atormenta “antes do tempo”.
A encarnação de Jesus, confronta os poderes das trevas. O ministério de Jesus é profundamente marcado pela expulsão de demônios. Jesus veio para amarrar o valente, para desfazer as obras de satanás, pelas quais ele mantém opresso e possesso milhares de vidas. À igreja de Cristo foi dada a mesma autoridade. A Igreja é uma agência divina com a autoridade para derrubar os portões do inferno. João, o apóstolo, inspirado pelo Espírito Santo, sintetizou isto de forma profunda: “Para isto se manifestou o Filho de Deus: Para destruir as obras do diabo”. (1 Jo 3.8) Não é surpresa, portanto, que o dragão esteja tão desejo de destruir esta criança que nasce.
3. O grande dragão deseja impedir o nascimento desta criança, porque ele veio para realizar a grande obra da redenção na cruz – A encarnação desemboca na cruz, e a cruz é o lugar onde Satanás terá sua cabeça esmagada.
Satanás, ao contrário do que pode parecer, tenta impedir a cruz. Isto se inicia logo na tentação de Jesus. No deserto, Satanás sugere a Jesus que pule do pináculo do templo, assim, os homens ficariam impressionados com o seu poder, e este gesto atrairia mais a atenção que três anos árduos de ministério numa região de miseráveis como a Galiléia, no meio dos pobres e desvalidos.
O diabo sugere que Jesus tome o caminho mais curto. Não o caminho da cruz, mas o caminho da autoglorificação. Tenta assim, fazer com que Jesus caia na armadilha de manipular o sagrado da vida humana, de transformar, fazer milagres, não ter que passar por toda vergonha que o seu ministério público teria, com o enfrentamento da cruz. Satanás usa aqui o ideal de serviço a Deus de forma distorcida porque ele é especialista em perverter o sagrado, assim, sempre tenta mudar o milagre em charlatanismo. Tenta assim desviar Jesus de sua missão.
Talvez um dos momentos em que isto se torna mais claro seja quando Pedro, seu amigo íntimo, exatamente quando Jesus vivia seus momentos de maiores lutas existenciais se aproxima dele e lhe diz, de forma aparentemente tão solidária: “Tem compaixão de ti mesmo Senhor, isto de modo algum te acontecerá.” (Mt 16.21-23) e Jesus lhe responde de uma forma abrupta e que beira a grosseria: “Arreda de mim Satanás, tu não cogitas das coisas de Deus, mas sim das dos homens”.
Por que será que Jesus responde desta forma a Pedro? É que Jesus via na palavra de Pedro, uma profunda manipulação demoníaca, Satanás se utiliza de um dos seus melhores amigos para lhe dar um dos conselhos mais sedutores, que era o de não ir para a cruz, mas ao mesmo tempo que distorcia sua vocação e propósito redentivos. Afinal, não fora exatamente este mesmo conselho que ele lhe dera no deserto? Fuja da cruz! Tome o atalho exercendo seus poderes excepcionais, e você será muito mais apreciado e bem-sucedido que utilizando a cruz. Jesus rejeita estas sedutoras propostas do diabo.
A cruz é o lugar onde Deus, por meio de Jesus, de forma definitiva e cabal, realiza seu grande propósito de salvar aqueles que vierem a crer nele.“Tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz; e, despojando os principados e as potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz” (Co.2.14-15) afirma:. Além de realizar sua obra de resgate da humanidade, ele também triunfou dos principados e potestades, triunfando deles na cruz. Satanás tentava evitar que o filho nascesse, porque seu nascimento decretava de forma cabal, a destruição do diabo. Esta cruz é o lugar da graça de Deus para nós, humanos. Portanto, olhem para a cruz de Cristo. Ela é o ápice do projeto de Deus, e o zênite da existência humana.
4. Satanás quer impedir que esta criança venha a nascer, porque a encarnação é o grande projeto de Deus
O nascimento desta criança é precedido de vários sinais majestosos: Todas as profecias vétero-testamentárias estavam engravidadas de um grande evento que Deus haveria de realizar no meio dos homens. (cerca de 600 profecias no Velho Testamento apontam para a vinda de Jesus); O cumprimento destas profecias incia-se com a experiência de Zacarias, o velho sacerdote, cujo revelação de Deus se dá num vácuo profético de 400 anos (desde Zacarias, até Mateus, não existe registro de que Deus falado a qualquer profeta), neste período chamado de intertestamentário. Na manifestação que Deus faz a Zacarias, este longo silêncio de Deus é quebrado.
O nascimento desta criança é marcado por lutas cósmicas, e grandes sinais celestiais: A visão dos magos, a profecia de Ana e Simeão, a grande manifestação do coro celestial junto aos pastores de Belém. Todo cenário está pronto para esta grande e maravilhosa revelação que se dá na terra.
Este é o tempo do pleroma de Deus. “Vindo, porém, a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei.” (Gl 4.4). Este é o momento esperado e que gerava ansiosa expectativa nos judeus piedosos, e em todos quantos aguardavam a vinda do Messias. Instaura-se uma nova ordem espiritual, uma Nova dispensação se estabelece. “Quando ele diz Nova, torna antiquada a primeira.” (Hb 9.13). Este é o tempo de uma Nova dispensação, a dispensação do Espírito de Deus, tempo de construir sua igreja, de ampliar os horizontes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário