12 Disse Esaú: Partamos e caminhemos; eu seguirei junto de ti.13 Porém Jacó lhe disse: Meu senhor sabe que estes meninos são tenros, e tenho comigo ovelhas e vacas de leite; se forçadas a caminhar demais um só dia, morrerão todos os rebanhos.14 Passe meu senhor adiante de seu servo; eu seguirei guiando-as pouco a pouco, no passo do gado que me vai à frente e no passo dos meninos, até chegar a meu senhor, em Seir.
15 Respondeu Esaú: Então, permite que eu deixe contigo da gente que está comigo. Disse Jacó: Para quê? Basta que eu alcance mercê aos olhos de meu senhor.16 Assim, voltou Esaú aquele dia a Seir, pelo caminho por onde viera.17 E Jacó partiu para Sucote, e edificou para si uma casa, e fez palhoças para o seu gado; por isso, o lugar se chamou Sucote.
Introdução
Wayne Cordeiro, pastor no Hawaí, numa das igrejas que mais crescem no mundo, na sua palestra “Líderes mortos, porém correndo”, conta que certo dia estava fazendo jogging, quando sentiu falta de ar e uma sensação de medo e pânico começou a dominar sua mente de uma forma tão profunda que ele assentou no chão e começou a chorar, até ser atendido por pessoas e levado às pressas para um hospital. Ali o médico diagnosticou um stress profundo, foi medicado e teve que ficar algum tempo de licença antes de retornar ao seu trabalho, agora num compasso diferente. A partir desta dramática experiência escreveu um livro popular “Andando com o tanque vazio.” (Editora Vida)
Wayne relata que ele vinha de uma jornada de três anos de agenda cheia e compromissos excessivos, e por causa de um esgotamento extremo, teve “burnout” um estado de estresse crônico que leva a exaustão física e emocional, cinismo e desapego, sentimentos de ineficácia e falta de realização. Sentindo-se esmagado pelas excessivas tarefas, viu todas suas energias se esgotarem. Ele relata suas experiências de modo franco e como conseguiu recuperar a vida voltar a um equilíbrio adequado.
O texto de Genesis que lemos inicialmente, fala da percepção de Jacó, quando estava voltando para sua terra depois de muitos anos em Padã Harã, terra de seus ancestrais. Ele tinha saído de Canaã, muitos anos atrás com medo de ser assassinado pelo seu irmão, e agora vai se reencontrar com ele. A última vez que ele e Esaú estiveram juntos, o ambiente familiar estava carregado de ameaça, Jacó o tinha trapaceado e Esaú ameaçou de matá-lo, os anos passaram e as sombras antigas ainda precisavam ser tratadas, mas Jacó ainda estava assustado com a possível reação de seu irmão. embora Esaú já tivesse resolvido tal problema no seu coração.
Jacó estava com muito medo, mas agora precisava voltar porque também teve conflito com seu sogro. Ele vem com sua família, suas esposas, seus filhos e seus animais, e tem que enfrentar seu irmão. Jacó não sabe o que vai encontrar agora.
Entretanto, para sua surpresa, ele encontra Esaú que emotivo o abraça e o beija, sendo solicito, amável e atencioso, apesar de ter vindo ao encontro do irmão com 400 homens. Quando os informantes de Jacó falaram do número de pessoas vindo com Esaú, Jacó dividiu os dois bandos para que, caso ele atacasse um, o outro sobreviveria. Mas não foi isso que aconteceu. Eles se reconciliaram, e Esaú foi além, se mostrando disposto a andar ao lado dele no deserto para protegê-lo de eventuais ameaças, mas Jacó recusou. Por quê? Porque Jacó não podia acompanhar o ritmo de Esaú guerreiro, pois estava com toda a sua família e o seu rebanho.
Esaú queria acompanhar Jacó, colocou todos seus homens à disposição de Jacó, mas este se recusou. Ele percebeu que seus ritmos eram diferentes. Esaú estava acompanhado de um bando de homens, e não poderiam andar juntos. Apesar da insistência de Esaú, Jacó conseguiu convencê-lo de que não seria possível e agradeceu a gentileza, por entender que estavam em ritmos diferentes.
Este texto possui uma profunda aplicação para a realidade de homens e mulheres do Século XXI. Somos uma geração apressada. Temos urgência! Estamos sempre agitados, estressados e correndo... Jesus viu esta mesma atitude na vida de Marta: “Marta, Marta, andas agitada e inquieta com muitas coisas; um só é necessária, Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada” (Lc 10.39). Não é fácil ser Maria num mundo dominado pelo pensamento de Marta.
Este relato bíblico é uma boa ilustração de como precisamos andar no nosso ritmo. Todos somos desafiados a andar mais depressa do que somos capazes, e a fazermos mais do que temos condições, e isso nos deixa extremamente cansados, estressados, ansiosos e adoecidos. O filósofo sul-coreano Byung-Chul Han tem advertido sobre a “sociedade do cansaço.” O burnout tem atingido as pessoas cada vez mais cedo por causa do ritmo intenso que a sociedade contemporânea impõe.
Precisamos aprender a respeitar o ritmo de nossa mente, saúde, família, filhos e mesmo dos bens que possuímos.
Este texto nos ensina algumas lições muito importantes:
- Precisamos andar no nosso ritmo, e não no que os outros sugerem. Isto só é possível quando consideramos que muito da agitação que temos, nos é imposta por pessoas influentes de nosso círculo de relacionamento.
É o caso de Esaú. Ele desejava o melhor para Jacó, não queria prejudicar, mas ajudar e apoiar, mas se Jacó atendesse sua sugestão, seria complicado. Os ritmos eram diferentes. Por que que precisamos andar no nosso ritmo? Esse texto nos ensina várias lições.
A primeira porque temos ritmos diferentes. Se entrarmos no ritmo de outros, muito provavelmente teremos dificuldade para cumprir a nossa responsabilidade e o resultado será frustração, cansaço e ansiedade. Precisamos andar no nosso ritmo e não no ritmo que outros sugerem.
Muito stress acontece porque queremos andar num ritmo que nosso organismo não consegue. Quando tentamos andar no ritmo dos outros e num estilo de vida que não conseguimos. Muitas pessoas de influência impõem condições que se tornam um peso. Precisamos dizer: Preciso ir mais devagar, assim não dá!
Certo pastor foi procurado por uma mulher pedindo atendimento urgente naquela noite, porque seu casamento estava implodindo. Era seu dia de folga e ele olhou na agenda e disse que não poderia porque estaria ocupado. Ele não disse qual era seu compromisso, mas havia combinado com sua esposa de irem ao cinema. Andando pelo shopping, para irem ao cinema, encontrou-se com aquela mulher que surpresa disse: “Uai pastor, o senhor não me disse que tinha compromisso hoje?” E ele respondeu: “Sim. Eu havia marcado com minha esposa de trazê-la ao cinema, e estou aqui cuidando dela para que no futuro não tenhamos que buscar aconselhamento matrimonial.”
- Precisamos andar mais lentamente por causa de nossos filhos: Jacó diz a Esaú: “Estes meninos são tenros.” (Gn 33.14) Se ao menos percebêssemos quão frágeis são nossos filhos, iríamos mais devagar.
Pais muitas vezes, querem imprimir muita velocidade aos filhos e atropelam processos, expondo-os a situações nas quais eles ainda não têm maturidade nem capacidade de caminhar. Não percebem quão frágeis eles são. Nossos filhos muitas vezes possuem uma agenda parecida a de uma pessoa adulta, com aula de judô, natação, balé, música, inglês, kumon, etc. É preciso criar uma rotina de atividades, de vida, rituais, ter tempo para andar juntos, fazer leituras, jogos, brincar de futebol, pescar, ir para a fazenda juntos.
Não dá para amadurecer à força. Muitas empresas colhem tomates e bananas ainda verdes, para não estraguarem na viagem, e quando chegam aos depósitos aplicam CO2 para que amadureçam à força. O resultado é que nunca ficam tão saudáveis e gostosas como quando amadurecem naturalmente.
O grande desafio é que justamente na época que nossos filhos mais precisam de nós, isto é, na infância e na adolescência, é quando somos mais produtivos no mercado de trabalho, somos mais requisitados e temos oportunidade de ganhar mais dinheiro, e na nossa tresloucada atividade os deixamos para trás ou os atropelamos com agendas sobrecarregadas. Uma das melhores fases para ganhar dinheiro coincide com o momento em que os nossos filhos precisam muito de nós. Se você está na faixa de 35-45 anos, já não é uma pessoa inexperiente tentando entrar no mercado do trabalho. Você já tem certa experiência e certa liderança. As oportunidades aumentam. Coincidentemente nessa idade, nessa época, é a época em que os seus filhos estão com 7, 10, 15 anos de idade, e precisam de você. E às vezes damos uma velocidade muito grande no momento em que eles precisam da nossa companhia. É preciso reconsiderar o ritmo de vida que estamos adotando.
Nossos filhos precisam de nosso tempo. Não dá para substituir presença com presentes. Eles precisam de nossa atenção quando estamos numa fase da vida em que estamos sobrecarregados de tantas tarefas e oportunidades. Entretanto, nada é mais importante para a autoestima e autoimagem de crianças que o tempo que os pais investem juntos em atividades lúdicas. James Dobson afirma que: “tempo é moeda emocional”.
Quando vocês têm tempo para seus filhos eles entendem que vocês os amam e os apreciam. Se o tempo não é suficiente e adequado, eles correm o risco de desenvolverem um sentimento de orfandade e de abandono, que podem se tornar a causa de ansiedades futuras, depressão e síndrome do pânico. Quando pais caminham nos seus ritmos, ensinando-os, brincando, interagindo, isto potencializa a capacidade de crescerem de forma harmoniosa, equilibrada e amorosa. Filhos estão em processo de formação espiritual e emocional, precisamos ir ao compasso deles, andando devagar, mas de forma segura. É isto que Jacó disse para Esaú.
Precisamos considerar o ritmo dos nossos filhos. Esta é a argumentação de Jacó: “Nossos filhos são pequenos e tenros, nós não podemos ir de pressa demais.” Todos temos que lidar com decisões que envolvem a família, e é muito importante pensar nisso. Às vezes corremos demais e esquecemos dos filhos, e eles não podem ficar para trás. Se os deixarmos para trás, corremos risco adiante. Portanto, precisamos considerar o ritmo de uma criança pequena, de um filho adolescente. Precisamos demonstrar aos filhos que os amamos, dando o nosso tempo.
- Precisamos andar no nosso ritmo, porque corremos o risco de perder o que temos. Jacó afirma o seguinte: “Estes meninos são tenros, e tenho comigo ovelhas e vacas de leites; se forçadas a caminhar demais um só dia, morrerão todos os rebanhos.” (Gn 33.14) Jacó percebe que pressa significaria perda de coisas valiosas, como a sua economia.
Existe um ditado popular que afirma: “Quem tem pressa come cru!”. Se você plantar eucalipto, a colheita será rápida, mas carvalhos e jequitibás levam décadas para se formar. Assim é o caráter. O senso de urgência pode destruir o que temos adquirido. Muitas vezes, ir devagar e sempre é a melhor forma de se conquistar e preservar bens. Ambição exagerada pode nos destruir. Sua família corre risco... seu rebanho corre risco... seus bens correm risco... Se andarmos depressa, nossos filhos não conseguirão, nosso gado vai morrer. Se nós insistirmos em andar mais rápido do que somos capazes, teremos prejuízo. Não é sem motivo que os lares estão tão fragmentados e os adolescentes enfrentando tanta crise. A presença dos pais é fundamental num determinado da época da vida.
Alguém afirmou que “fanático é aquele que, ao ver-se perdido, imprime maior velocidade à sua caminhada”. A vida não é uma corrida de 100 mts raso, mas uma maratona. Por ser longa temos que ir devagar e sempre, como nos ensina a Palavra de Deus: “Não te impacientes, certamente isto acabará mal.” (Sl 37.5)
- Precisamos ir devagar, porque precisamos educar nossa família – O texto nos ensina algumas coisas importantes que Jacó viu em relação á sua família.
- Educação efetiva só se dá quando nossos filhos são guiados didaticamente – “Eu seguirei, guiando-os” (Gn 33.14).
Eles precisam de orientação, por isto não podemos ir na frente sem considerá-los, deixando-os esquecidos para traz. Não podemos atropelar seus pequenos passos. Eles precisam ser orientados e isto só é possível caminhando lado a lado com eles. Não existe caminho fácil, cada dia é uma batalha a ser conquistada, até que Jesus vai sendo moldado nas suas vidas. Precisamos guiá-los, orientá-los, mostrar-lhes as trilhas.
Precisamos ir devagar, porque precisamos educar a nossa família. Preste atenção no que ele diz no versículo 14, “Eu seguirei guiando-os.” Uma educação efetiva se dá quando guiamos didaticamente os nossos filhos. “Quando a galinha quer imitar o pato, afoga.” Temos que nos perguntar quem é que está guiando os nossos filhos? Nós precisamos aprender de que andar no ritmo deles os ajuda no aprendizado, nós podemos guiá-los. Guiar não é apontar o caminho, guiar é ser a referência e modelo do caminho.
- Educação não é um ato isolado, mas um processo de vida - “Eu seguirei, guiando-os pouco a pouco.” (Gn 33.14)
Outra coisa importante que Jacó fala é que os “guiará pouco a pouco.” Educação não é um ato isolado, não é algo que você faz num dia e acabou, é pouco a pouco, dia a dia. E por isso educar filhos é algo tão cansativo, porque exige perseverança, persistência. Nenhuma criança se forma de um dia para o outro, um caráter não se forja de uma hora para outra, é pouco a pouco.
Educação é um processo. Um ditado popular que afirma: “comida de um dia não engorda cachorro”. Formação de caráter, atitudes e comportamentos são moldados dia a dia, através da imitação e companheirismo. Nossos filhos vão seguindo nossas pegadas. Afinal, “caráter é a soma total de seus hábitos”. (Rick Warren)
- Educação precisa seguir um compasso natural das coisas. “Eu seguirei, guiando-os pouco a pouco, no passo do gado.” (Gn 33.14)
Jacó percebia que a natureza possuía ciclos. O animal tem um ritmo e a vida segue o ritmo natural. É neste compasso que ele ensinaria seus filhos, respeitando os ciclos da natureza, caminhando devagar. A busca por atalhos, o jeitinho, a solução imediata, pode ser desastrosa. Deus se interessa mais pela estabilidade que pela velocidade.
“O ritmo do gado” aponta para a verdade de que formação de caráter e educação segue o ciclo natural das coisas, o passo do gado. Animais têm ciclos e ritmos e seguem esse ritmo cuidadosamente. Eu nasci numa região de Minas Gerais onde há muitas montanhas e se você observar você vai perceber que o gado nunca sobe uma montanha pegando do pé e indo até o pico, eles vão rodeando a montanha pouco a pouco, fazendo trilha. Devagarzinho, comendo pasto ao redor, até chegar lá em cima. Esse é uma coisa que a natureza nos ensina, este é o ritmo da natureza.
- Precisamos ir no ritmo natural, mas sabendo onde queremos chegar – Jacó afirma que seguiriam “Até chegar em Seir” (Gn 33.14). Era neste lugar que eles gostariam de chegar.
Aonde você quer chegar com seus filhos?
“Não apresse o rio, ele corre sozinho”. A vida não tem senso de urgência, mas tem propósito. Você sabe onde quer chegar? Em qual lugar você deseja construir sua casa e criar seus filhos? O cronograma de Deus raramente coincide com o nosso, por isto quase sempre estamos apressados, mas Deus não. É importante saber onde queremos chegar. Rick Warren afirma: “Enquanto nos preocupamos em crescer rapidamente, Deus se preocupa em que cresçamos fortes. Deus vê a nossa vida desde a eternidade e para a eternidade; então, nunca está com pressa” (Vida com propósitos, p. 188).
Princípios fundamentais para a Liderança
Na trajetória da vida temos sempre a aprender com as Escrituras Sagradas, e gostaria de ainda falar aos líderes presentes de outros aspectos que julgo necessário:
Primeiro, precisamos entender o equilíbrio da vida, onde você deve diminuir ou concentrar sua atenção, e como devemos fazer isto, escolhendo nossas prioridades e organizando nosso tempo.
Quando se fala de prioridade, a linha de ação que geralmente empregamos é a seguinte:
Deus
Família
Trabalho
Igreja
Eventualmente o terceiro e o quarto ponto costumam ser invertidos e são objeto de discussão.
Eu gosto muito mais de uma linha de pensamento que o Wayne Cordeiro sugeriu na palestra “Líderes correndo, porém mortos”, na qual afirma que quando se trata de tempo e prioridade o mais importante é usar o princípio do fulcro. Ele pega uma grande régua e mostra como a régua fazemos para equilibrá-la quando usamos nossos dedos. Muitas vezes ela tende para um lado e você vai ter que mudar a régua de posição para uma outra direção porque ela está em desequilíbrio.
Muitas vezes na vida, você vai precisar colocar um pouco mais de energia no seu trabalho. Às vezes você vai ter que parar porque percebeu certo desequilíbrio em uma ou outra área. Às vezes é necessário observar que por causa do trabalho estamos nos esquecendo do reino de Deus, na obra do Senhor. Outras vezes você verá que seu filho, sua filha, ou a esposa, precisa de mais de tempo, então precisa concentrar mais e estar mais com eles. Ou você também vai entender que você precisa, de fato, equilibrar sua vida, vida de oração ou atividades físicas. Então, é importante fazer isso. Precisamos entender o equilíbrio da vida, sendo flexível e adaptável em situações diversas e adversas.
Segundo, precisamos respeitar o sábado.
É fundamental aprender a guardar o dia do descanso. Eu era ainda um pastor novo, plantando igrejas nos Estados Unidos, numa pequena comunidade quando três casais foram nos visitar. Eles levaram um bolo de café que eu gostava muito para tomarmos juntos, mas eles tinham uma agenda, e queriam conversar sobre um assunto determinado. Durante a conversa me perguntaram qual era meu dia de folga? Eu não estava tirando folga e gaguejei tentando explicar que as coisas estavam meio bagunçadas e eles disseram: Nós sabemos disso e viemos aqui para que você escolha um dia para ficar de folga e adverti-lo porque o senhor está pecando, está quebrando um mandamento do Senhor, e isso não é bom pra sua vida. Essa foi uma lição que eu jamais esquecerei.
Muito acima da discussão tola que os adventistas do sétimo dia fazem sobre a guarda do sábado, precisamos entender que o sábado tinha alguns princípios inerentes a ele que são essenciais para a vida.
- Um dos princípios era social. Nem o servo poderia trabalhar no sábado. Muitos escravos naquela época eram submetidos a horas extensas de trabalho, mas na casa do judeu o servo descansava no sábado.
- Havia uma finalidade ecológica, porque Deus também está protegendo os animais. Nem o jumento que trabalhava em casa, nem o gado, ou qualquer animal podia trabalhar no sábado. Essa é uma finalidade ecológica.
- Existe também uma finalidade de restauração dos seres humanos. Sábado é uma proteção para nossas vidas, é para o equilíbrio da nossa mente e do corpo. Quando Deus descansou no sábado, ele queria ensinar a importância do descanso. Deus não precisava descansar, nós precisamos. É uma questão didática e pedagógica.
- E por último, precisamos entender o sábado com uma finalidade devocional. Isso porque o sábado é um momento no qual nós também reservamos um tempo maior para servir a Deus.
Como pastor tenho desencorajado toda e qualquer atividade para a liderança no dia de sábado. Eventualmente isto não é possível, mas eu tento mostrar que elas precisam estar com a família. Se você é um líder de igreja ou pastor, e trabalha a semana inteira, o resultado é de que e que você se você tiver atividade na igreja, no sábado, você não terá tempo para sua família. Por quê? Porque no domingo você vai estar na igreja e se você for um pouco mais zeloso, estará no culto da manhã e da noite e não terá tempo nem para você cuidar daquilo que você precisa da sua vida. Então respeite o sábado.
O Conselho de Pastores da minha cidade se reunia sempre às quartas-feiras, e eu sempre participava da reunião, mas por alguma razão decidiram colocar o encontro no sábado, uma vez por mês, e eu deixei de ir da reunião. Eles me procuraram e disseram que minha presença era muito importante, mas eu lhes disse que o sábado era o único dia da semana em que eu podia acordar sem nenhuma preocupação e sem uma agenda para cumprir e por isto fazia a minha caminhada sem pressa, podia ter um tempo maior de devocional, alinhar meus sermões, cuidar da piscina e almoçar com a minha família. Eu sempre procuro não ter programação no sábado. Por causa das tarefas pastorais, faço um ou outro casamento, um acampamento, mas sempre que possível eu não agendo nada para o sábado.
Terceiro, seja disciplinado na sua devocional.
Em geral, quando as pessoas estão enfrentando grandes lutas pessoais, gosto de perguntar como é que está sua vida devocional, e quase sempre elas respondem que a vida devocional não está nada bem. Crises familiares, lutas no trabalho, desequilíbrio emocional, muitas vezes está conectado a uma vida devocional desregrada. Então, seja disciplinado na sua devocional. É fundamental que você aprenda a ter tempo pessoal na presença de Deus. Sua devocional deve ter quatro elementos: Leitura das Escrituras Sagradas, reflexão, aplicação e oração. Ore não apenas por você, mas por aqueles que que estão no campo missionário, conflitos das nações, autoridades. Ore pela sua família, pela vida espiritual de seus filhos, seus parentes, pela conversão de seus sobrinhos, primos, irmãos. Desenvolva o abençoado hábito de vida devocional.
Quarto lugar, encha seu tanque emocional.
Já citei a palestra de Wayne Cordeiro. Num determinado momento ele sugere que nossa vida é como um tanque, que precisa estar ser carregado constantemente com aquilo que emocionalmente nos torna mais leve e que gera uma reação positiva em nosso corpo e emoções. Se esvaziamos demais nosso tanque com conflitos, tensões e adrenalina, nosso corpo vai fragilizando. Por isto precisamos fazer coisas que nos recarreguem, é preciso colocar oxitocina, serotonina, endorfina no seu corpo, que são os hormônios do prazer. Adrenalina demais, rouba a alegria, e nosso tanque se esvazia. Precisamos checar constantemente como é que está o nosso nível emocional.
Quando não cuidamos, três processos destrutivos costumam nos dominar:
Stress
No primeiro momento, quando o seu tanque emocional começa a esvaziar, o que acontece é o estresse.
O estresse é uma reação natural do nosso organismo a situações que percebemos como desafiadoras, ameaçadoras ou exigentes. É como se o corpo acionasse um alarme interna preparando-nos para enfrentar a situação. As causas do estresse são diversas e podem variar de pessoa para pessoa, mas as pressões no trabalho, períodos prazos apertados, responsabilidades excessivas, conflitos com colegas, problemas financeiros como dívidas, incertezas sobre o futuro financeiro, relacionamentos, conflitos com família, amigos ou parceiros, mudanças de vida, perda de um ente querido, um divórcio, uma morte, ou doenças, problemas de saúde própria ou dos familiares, ou sobrecarga de atividade. Tudo isso pode nos levar o corpo ao estresse e quando nós estamos estressados, o nosso corpo libera hormônios como cortisol e adrenalina. Esses hormônios preparam o corpo para o resposto de luta ou fuga, aumentando a frequência cardíaca, pressão arterial e a tensão muscular.
Os sintomas do estresse são bem conhecidos: dores de cabeça, insônia, fadiga, problemas digestivos, tensão muscular, ansiedade, irritabilidade, tristeza, dificuldade de concentração, sensação de estar sobrecarregado, ou sintomas comportamentais, como dificuldade em dormir, mudança no apetite, isolamento social, uso excessivo de álcool ou drogas. Então quando você não tem prática de atividades relaxantes, exercícios físicos regulares, boa alimentação, sono adequado, o seu gerenciamento de tempo está ruim, você pode entrar num quadro de estresse. Esse é o primeiro nível quando o seu organismo começa a dar sinais de que alguma coisa não está indo bem.
Quebra emocional
O segundo estágio é o pior ainda do que o estresse, que é chamado quebra emocional, ou “Emotional breakdown”, quando o corpo e a mente clamam por ajuda. Esta “quebra emocional” é um momento em que as emoções se intensificam de forma avassaladora, superando a capacidade da pessoa de lidar com elas. É como se uma barragem emocional se rompesse, inundando a mente e o corpo com sentimentos intensos e dolorosos.
O que causa essa quebra emocional? O acúmulo de estresse é um deles, quando o estresse torna crônico e intenso, e nos leva a exaustão emocional, traumas, experiências traumáticas, como perda de um ente querido, abuso ou violência, doenças mentais, transtornos como depressão, ansiedade, transtorno bipolar, que podem aumentar a vulnerabilidade e a crise emocionais, mudanças significativas, como mudança de vida, de voz, perda do emprego, mudança de casa, que pode ser desafiador e levar também a essa quebra emocional e o isolamento social, que é a falta de apoio social que pode intensificar. Intensificar o sofrimento emocional e aumentar o risco de uma crise.
Quais são os sintomas de uma quebra emocional? Um deles é tristeza profunda, ansiedade intensa, raiva, desespero, sensação de vazio, ou sintomas físicos como insônia, fadiga, dores de cabeça, problemas digestivos, perda ou ganho de peso, e sintomas comportamentais como isolamento social, dificuldade de se concentrar, mudança nos hábitos alimentares ou de sono, abuso de substâncias.
Para resolver essa questão da quebra emocional é fundamental entender que temos de cuidar da gente mesmo: Dormir o suficiente, praticar atividades físicas, alimentar-se bem evitar o consumo de álcool e outras drogas, praticar de relaxamento como meditação a oração. É necessário aquietar o coração, como disse o salmista: “Como a criança se aquieta no colo da sua mãe assim é a minha alma para contigo.” Buscar apoio em grupos, desenvolver senso de comunidade, encontrar amigos. É importante buscar ajuda, não ter vergonha de reconhecer e pedir ajuda, e, com tratamento adequado é possível superar essa fase recuperar o seu bem-estar emocional.
Burnout
Na terceira fase, ocorre o burnout, que é o esgotamento completo. Burnout é um termo inglês que em português traduzimos como esgotamento profissional. Geralmente é causado por estresse crônico no trabalho ou em outras áreas da vida, sobrecarga de trabalho, demanda excessiva, falta de reconhecimento, falta de controle.
Os sintomas do burnout são exaustão física, cansaço constante, dores musculares e exaustão emocional que chega ao cinismo, desinteresse, apatia, dificuldade de se concentrar, eficiência reduzida, dificuldade de realizar tarefas, procrastinação, erros frequentes, problemas de saúde como doenças físicas e dores de cabeça. Tais mudanças comportamentais podem levar uso excessivo de álcool e drogas. Então, para prevenir precisamos estabelecer limites, definir horário de trabalho, respeitar horário de descanso, cuidar bem da saúde, praticar atividades físicas, buscar apoio, aprender a dizer não, desenvolver habilidades de gerenciamento de tempo. Às vezes o problema é que estamos administrando mal o tempo. É importante organizar as tarefas e priorizar o que é mais importante. Eventualmente, uma mudança de emprego de ambiente pode ajudar. Se o meio do trabalho estiver sendo prejudicial para sua saúde mental, considere uma mudança. Finalmente, se você suspeita que está sofrendo burnout, procure ajuda de profissional de saúde.
Um exercício importante
Precisamos equilibrar nosso corpo para que não haja um colapso interno. Se constantemente estamos esvaziando o tanque emocional, vai chegar um ponto do burnout.
Uma tarefa simples pode ajudar. Numa folha de papel escreva de um lado aquilo que enche e do outro lado aquilo que o esvazia o seu tanque emocional. Eu já fiz esse exercício algumas vezes e continuo fazendo. Eu descobri que algumas coisas que enchem o meu tanque emocional, por exemplo,
- Ter tempo para mim é fundamental. A agenda sobrecarregada, me exaure, e me torno cansado, improdutivo e estressado.
- Orar, conversar com Deus, fazer minha devocional, e quero deixar claro que isso não é discurso de pastor. Eu de fato preciso parar, ler a bíblia sem agenda e ouvir o Senhor, ler um bom livro, isso me ajuda. Eventualmente até ler um romance, é bom para mim.
- Assistir um filme.
- viajar, principalmente quando viajo com minha esposa. Isso tudo me ajuda muito.
- Pescar é uma das coisas que mais me recarrega emocional.
O que esvazia meu tanque emocional?
- Discutir relacionamento (DR). Quando eu e Sara estamos em crise, temos que tratar de assuntos que eu não gostaria. O negócio é chato, eu tento fugir, mas obviamente é algo que precisa ser discutido, e isto sempre muito pesado para mim.
- Uma outra coisa que me esvazia é cobrança excessiva. Se eu estiver trabalhando sob pressão, eu não produzo bem. Eu sou uma pessoa zelosa e aplicada no trabalho, tento fazer as coisas da melhor forma possível, trabalho muito, mas não gosto de ninguém atrás me fazendo o que em inglês a gente chama de micromanagement. Eu gosto de ter minha agenda e viver dentro dela.
- Outra coisa que esvazia é desorganização nas finanças. Quando eu estou passando por dificuldades, pressão financeira sinto-me esgotado. Esses são alguns aspectos que roubam muito a minha alegria e esvaziam muito o meu tanque emocional.
Conclusão: Um olhar para o evangelho
ü O estilo de vida de Jesus – Durante 30 anos de vida terrena, Jesus soube respeitar tempos e épocas. Eventualmente foi provocado a agir no ímpeto, e chegou mesmo a repreender quando pessoas esperavam que ele fizesse as coisas no tempo não planejado e adequado: “Ainda não é chegada a minha hora” foi uma afirmação usada por ele, para levar as pessoas a entenderem que havia um ciclo natural para o exercício do ministério.
Durante estes 30 anos, deve ter visto muito sofrimento e dor, situações nas quais poderia intervir, mas pacientemente soube esperar a hora de manifestar a sua glória entre os homens.
ü Jesus e os seus discípulos – Passados 30 anos, ao iniciar seu ministério, durante três anos pacientemente treinou e liderou um grupo de seguidores. Ele não demonstrou pressa, embora às vezes se mostrasse impaciente com a incredulidade e incapacidade de ver as coisas do ponto de vista de Deus.
Ele sabia que a visão do Reino de Deus estava sendo solidificada em seus corações, e por isto pacientemente os orientava nesta missão.
ü Jesus e o discipulado – Ainda hoje ele espera que seus seguidores aprendam da sua vida. Discipulado leva tempo. Alguém já disse que todo cristão deveria escrever na sua testa, de forma bem visível: “Seja paciente comigo, Deus ainda não me completou”.
Dia a dia precisamos nos arrepender dos pecados, buscar orientação de Deus, aprender de sua Palavra. Ele convida seus discípulos a andarem com ele. “Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim”. Jugo não é uma palavra muito conhecida no nosso vernáculo, mas se a traduzirmos por “canga”, entenderemos o que Jesus queria. Ele desejava compartilhar as cargas conosco, andar atrelado a nós, para que assim aprendêssemos dele como a vida deve ser.
ü Jesus e o processo do discipulado – Ele sabe que por levar tempo, precisamos continuar firmados nos mesmos princípios recebidos para que deles não nos desviemos.
Na grande comissão ele disse que deveríamos fazer discípulos de todas as nações, isto exige tempo e perseverança, eles deveriam ser batizados e inseridos numa comunidade, mas deveriam continuar o processo. “Ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado!”. Continuemos no aprendizado, pouco a pouco, no “ritmo do gado”, como afirmou Jacó!
Gordon MacDonald narra uma interessante história de um grupo de pessoas que queria visitar uma base missionária no coração de uma floresta, e era bem complicado chegar àquele lugar. Eles tinham que andar dois dias de barco e contratar carregadores para mais quatro dias de caminhada na floresta. No primeiro dia, eles caminharam bastante e a viagem progrediu rapidamente, dando-lhes a esperança que conseguiriam fazer a viagem em apenas três dias, mas no dia seguinte, os carregadores amanheceram lentos, e se recusavam a partir. Indagaram a razão da demora, e o chefe deles explicou: “Eles disseram que andaram rápido demais ontem, e precisam ir mais devagar hoje, para que a alma deles alcance seus corpos”.
O ritmo que temos imposto às nossas vidas, muitas vezes tem sido excessivo. Precisamos considerar o que estamos fazendo com a nossa história, e a que velocidade temos andado. Muito cuidado, são muitos os que estão esgotados no caminho, simplesmente porque não estão respeitando sua saúde, suas emoções, suas famílias, e não estão andando no ritmo que Deus preparou para que andassem neles.
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