Introdução
Não é raro encontrarmos pessoas que afirmam ter perdido o vigor e o entusiasmo de sua fé, e se encontram frias e desanimados com as lutas que enfrentam. No processo do enfraquecimento da fé, a primeira coisa perceptível é a perda da relação vital com Jesus. A vida devocional vai enfraquecendo, a leitura da Palavra de Deus se torna mecânica ou inexistente, a oração pela sua vida e pelas outras pessoas desaparece.
Não é raro também, encontrar pessoas desiludidas com a igreja. As razões vão desde a desilusão com a liderança, críticas e maledicências da comunidade, pastores infiéis e frieza espiritual. As pessoas vão deixando de participar de sua comunidade, não assumem liderança, não se envolvem, não contribuem com a igreja, afinal, “bolso é o último a se converter e o primeiro a esfriar.” O primeiro diagnóstico diante disto é olhar, não para a comunidade, mas para seu próprio coração. É perguntar a si mesmo, “o que está acontecendo com a minha alma.” E pedir sinceramente para que Deus renove seu coração.
Contexto
Ao olharmos para este texto, vemos homens que precisam enfrentar a dura rotina da vida e que vieram de uma grande desilusão. Eles haviam pescado a noite inteira, colocando rede e tirando rede. É um esforço braçal pesado e exaustivo. De manhã cedo, estavam lá cansados, limpando as redes. Jesus chega e com ele uma multidão de pessoas, alguns magnetizados pelo seu ensino, outros impressionados com seus milagres.
Os pescadores na margem do Lago de Genesaré não pescavam por diversão, mas por ofício; não era lazer, era trabalho. E nesta noite, depois de um exaustivo trabalho, estão reorganizando as coisas para a próxima pescaria.
Isto me faz pensar em quantos estão assim: exaustos, cansados de trabalhar, que investiram grande esforço no seu trabalho, mas as redes estão vazias. Quantos administrando sua casa, criando filhos, pagando as contas, e as redes vazias, cansados.
Este texto nos ensina algumas coisas importantes sobre fé:
1. Pessoas de fé, estão disponíveis para fazer aquilo que o Mestre deseja. “E, entrando num dos barcos, que era o de Simão, pediu-lhe que o afastasse um pouco da terra; e, assentando-se, ensinava do barco a multidão.” (Mc 5.3)
É impressionante ver a disposição de Pedro. Seu barco encontra-se ancorado, ele está no meio de seu trabalho, Jesus pede para utilizar o seu barco, e o afastasse da terra, ele se dispôs na hora e fez o que Jesus pedia.
São pessoas que estão disponíveis na hora que Deus quiser. Eles podiam achar Jesus folgado, ou quem sabe, questionarem a capacidade de Jesus entender o momento, afinal, estavam envolvidos nas lides diárias, mas ele não questiona, simples disponibiliza. Na hora que Deus quiser!
E se Deus não quiser, está tudo certo também! Afinal, pessoas assim veem o serviço ao mestre como privilégio. Não se veem como importantes e necessárias. Sabem que Deus não precisa delas, e que quando Deus nos dá uma tarefa não é porque precisa de nós, mas é um privilégio que ele nos está dando, de servi-lo. Se Deus chamar, que benção, se Deus chamar outro, está tudo certo também.
2. Pessoas de fé, vencem as desilusões da vida, não com desânimo, pelo contrário, estão sempre com suas redes sempre preparadas. Portanto, mantenha suas redes preparadas!
Precisamos nos preparar para o fato de que na vida, enfrentaremos desilusões. Memorize a Palavra, leia a Bíblia com mais zelo. Quem sabe fazer um retiro espiritual para gastar um tempo maior para ler a Bíblia. Ler um dos evangelhos completamente num só dia. Ler o livro de Jó, num só dia!
John Maxwell no seu livro, “Talento não é tudo!” afirma que em geral as pessoas ficam dizendo: “Quando a oportunidade de uma promoção surgir na minha empresa, vou me preparar para assumir.” Mas ele afirma que a oportunidade só surgirá se você estiver preparado. Que este é um dos mitos da liderança. Esteja pronto para quando a oportunidade surgir. Sirva a partir da estrutura hierárquica no local onde você está.
Se você aspira à liderança da igreja, não fique esperando um convite para ser líder. Comece a assumir liderança. Lidere um pequeno grupo com zelo. Participe das reuniões de oração, assuma o compromisso de servir. Se torne um dizimista fiel, como você deseja liderar a igreja, decidir sobre os recursos financeiros da igreja se você não é sequer um contribuinte. Lidar desta forma irresponsável diante de Deus é um perigo. É trazer “fogo estranho para o altar.” Presbiterato e diaconato não é um troféu, mas reconhecimento daquilo que você já está fazendo na comunidade.
Prepare suas redes, porque Deus pode mandar você lança as redes em águas mais profundas. Gosto desta versão de NAA que diz: “Quando acabou de falar, Jesus disse a Simão: — Leve o barco para o lugar mais fundo do lago e então lancem as redes de vocês para pescar.” (Lc 5.4)
Todos nós precisamos estar prontos. Não podemos ser vencidos pela desilusão. A noite pode ter sido um fracasso, a rede pode ter vindo sempre vazia, mas de repente a rede pode apanhar grandes peixes.
3. Pessoas de fé expressam generosidade. “Entrando num dos barcos, que era o de Simão, Jesus pediu-lhe que o afastasse um pouco da praia.” (Lc 5.3)
Pedro estava cansado, no meio das suas atividades, frustrado com a noite sem sucesso da pescaria, mas quando Jesus entrou no seu barco para falar com a multidão e pediu Pedro para afastar o barco da praia, Pedro se dispôs imediatamente.
Ele larga a rede e cede o barco a Jesus. Ele poderia ter atitude reativa, afinal, Jesus não estava entendendo o trabalho dele? Será que ele não percebeu a dinâmica ali da beira do lago, o esforço de cada um dos trabalhadores?
Pedro entende um princípio essencial do reino de Deus. O que Deus te deu não é só para você, mas ele espera que você sirva a Deus com seus bens. Sua empresa, seu trabalho, sua inteligência, seus bens. Generosidade é uma marca dos discípulos de Cristo. Quando Deus chama Abraão, ele afirma que o abençoaria, que faria dele uma grande nação, e que nele, seriam benditas todas as famílias da terra. O que Deus te dá é para servir o seu reino. Em cada chamado há de forma clara uma vocação. Seu chamado é para servir. Não considere os bens que você recebe como algo que Deus apenas deseja dar para você usufruir, use o que ele te dá para abençoar.
4. Pessoas de fé obedecem. “Respondeu-lhe Simão: Mestre, havendo trabalhado toda a noite, nada apanhamos, mas sob a tua palavra lançarei as redes.” (Mt 5.4)
Obediência é a marca de um discípulo de Cristo. você não é orientado por novas revelações, nem sonhos, nem visões, nem profecias, mas pela obediência à palavra de Deus. Não é questão de encontrar uma coisa nova, é uma questão de aprender a crer e obedecer.
Um colega que fez seminário comigo, foi procurado por uma pessoa que estava afastada da igreja, querendo uma profecia, e perguntando: “O senhor tem revelação?” O Senhor poderia revelar o que Deus tem preparado para mim?”
E este colega olhando para este homem lhe disse:
A. Você está fora da igreja.
B. Você não está lendo a Palavra de Deus e obedecendo o que ela ensina.
C. Você está cheio de dúvidas sobre quem Jesus é.
D. Você está vivendo uma vida de pecado e sem compromisso com as verdades eternas.
E. Você não tem nenhum compromisso com seus recursos, seu tempo, sua agenda, para servir a Deus.
O homem, baixou a cabeça, começou a chorar e disse: “É, de fato você é um profeta!” E o pastor respondeu: - “Não é necessário ser um profeta para dizer estas verdades, basta observar a Palavra de Deus.”
Onde começamos a obedecer? Naquilo que ele já revelou. Não há nada novo. Apenas precisamos ouvir e obedecer.
5. Pessoas de fé, experimentam milagres. “Isto fazendo, apanharam grande quantidade de peixes; e rompiam-se-lhes as redes.” (Lc 5.6)
Este é um princípio bíblico. Só experimentamos milagres quando em obediência nos submetemos a Deus. Maria Amélia Rizzo: ´A fé estabelece a diferença entre os que triunfam e os que são derrotados”.
§ Deus diz a Moisés diante do Mar Vermelho: “Diga ao povo que marche!” e Moisés vai em direção ao mar, toca no mar com seu cajado, como Deus ordenou, e o mar se abriu.
§ Elizeu diz a mulher viúva com seus dois filhos: “Vai entra no teu quarto, com muitas vasilhas.” E lá está a mulher vendo o azeite sendo derramado, e só acabou o azeite quando acabaram as vasilhas.
§ Deus ordena a Elias: Vai para a caverna e eu te sustentarei. Elias segue para lá e Deus usa aves de rapina para trazer-lhe o alimento.
§ Pedro diz: “Se és tu, Senhor, manda-me ir ter contigo, por sobre as águas. E ele disse: Vem! E Pedro, descendo do barco, andou por sobre as águas e foi ter com Jesus.” (Mt 14.28-29)
§ Deus diz: “Faze-te ao largo, e lançai as vossas redes para pescar.” Vai para águas profundas para pescar. (Lc 5.4) A fé nos capacita a experimentar milagres quando tudo o que vemos são redes vazias. Aqueles homens têm diante de si uma noite perdida. As redes estão vazias, estão desanimados e cansados, mas a Palavra de Jesus gera neles a capacidade de crer, de confiar que alguma coisa sobrenatural pode acontecer.
Conclusão
Milagres abrigam dilemas.
Facilmente podemos transformar Deus em um aliado nosso apenas para recebermos os benefícios materiais que ele pode nos dar. Milagres, nas Escrituras, são parábolas, ilustrações, formas que Deus usa para confirmar sua palavra em nós, gerar fé, e nos conduzir a salvação. Deus não quer ser apenas aquele que dá vista aos cegos, mas quer ser aquele que se torna a luz para a nossa salvação. Depois de curar o cego, Jesus volta para anunciar-lhe coisa muito maior que a vista física, que é a compreensão de quem Ele é, e qual era sua missão (Jo 9). Depois de curar o paralítico, Jesus o procura para falar de sua alma. "vai e não peques mais para que não te suceda coisa pior", é uma forma que Jesus usa para falar de sua alma, de seu coração, de suas lutas e conflitos interiores.
Melhor que o efeito das redes se rompendo com tantos peixes, é o reconhecimento que Pedro faz de sua própria limitação. "Retira-te de mim que sou pecador" (5.8). A Bíblia não nos diz que os céus festejam quando um milagre acontece, mas celebram quando um pecador se arrepende, quando aquele que se encontrava perdido é novamente encontrado. O grande milagre na vida de Pedro, não é que as redes se rompam, mas ver um homem aprendendo a se quebrantar diante de Deus. Um homem reconhecendo sua natureza arrogante e se curvando. Curvar-se diante de Deus é o grande desafio de nossa existência.
Melhor que experimentarmos uma intervenção sobrenatural de Deus em milagres portentosos como o da pesca maravilhosa, é entender quem Jesus é, e que ele deve ser adorado. Pedro vem, reconhece sua natureza pecaminosa, e prostra-se diante de Jesus (Lc 5.8). Para um judeu, prostrar-se diante de um homem era sacrilégio, mas Pedro o faz consciente, porque reconhece a divindade de Jesus, e o adora.
Mais importante que nos admirarmos de um milagre, é nos admirarmos com quem fez o milagre. Muitas vezes reconhecemos milagres, mas não adoramos quem fez o milagre. Todos os anos, os Estados Unidos fazem uma grande festa no dia Nacional de Ações de graças. Mas o mais impressionante é ver que eles agradecem, mas não sabe a quem. Gratidão torna-se algo sem valor, porque Deus não é mencionado. Jesus quer nossa admiração voltada para ele, mais que para o evento em si. Bênçãos de Deus podem facilmente serem substitutos do Deus da benção.
Mais importante que o milagre em si, é o que este milagre pode trazer na nossa vida pós-milagre. “Disse Jesus a Simão: Não temas; doravante serás pescador de homens.11 E, arrastando eles os barcos sobre a praia, deixando tudo, o seguiram.” (Lc 5.10,11)
Muitos experimentaram milagres, mas isto não mudou suas vidas. Continuam sendo as mesmas pessoas. O povo de Israel no deserto, foi o povo que mais presenciou milagre, mas foi o povo mais maledicente, incrédulo e rebelde a Deus. Milagres precisam nos levar a novas perspectivas, novos sonhos. Pedro, Tiago e João, agora recebem nova vocação: "Doravante serás pescador de homens" (Lc 5.10). Pessoas que presenciam milagres e não respondem em forma de discipulado a este milagre, tornam-se duplamente culpados aos olhos de Deus.
Deus deseja que nossas experiências com realidades sobrenaturais sejam transformadoras em nossa existência. O papel do milagre é gerar em nós temor e admiração, e como consequência, mudar nossa história. O objetivo dos milagres é nos convencer que precisamos seguir a Cristo. "E, arrastando eles os barcos sobre a praia, deixando tudo, o seguiram." (Lc 5.11).
Que decisão difícil: deixaram barcos, seus empreendimentos, negócios, empresas, como reação a uma experiência sobrenatural com Jesus. Têm os milagres mudado sua perspectiva, gerado novas prioridades, maior envolvimento e compromisso com o Reino? Muitas pessoas veem o mover de Deus, e não se voltam para Deus. Contentam-se com a benção, quando na verdade, a maior benção da vida é contentar-se com Deus. Se você para na benção, você perdeu tudo, e pode ir para o inferno.
O povo de Israel viu milagres portentosos de Deus, e não pode entrar na terra prometida, por causa da incredulidade. Viu tanto, experimentou tanto, mas perdeu de vista o foco central do milagre. Qual facilmente isto pode se dar conosco, e quando isto tem se dado.
Milagres têm impacto temporários em nossa vida, e serem esquecidos. Pessoas curadas adoecem novamente ainda que de outras enfermidades. Mesmo as pessoas ressuscitadas da Bíblia não viveram para sempre. Lázaro ressuscitou, mas morreu novamente, a filha de Jairo ressuscitou, mas a morte posteriormente a alcançou, o filho da viúva de Naim, da mesma forma. Milagres têm efeitos passageiros. O grande milagre de nossa vida é a aceitação da obra de Cristo na cruz, porque tal obra nos garante vida eterna.
Quais as consequências de tais milagres na sua vida? O mover de Deus tem gerado discipulado radical em nossa comunidade? Estamos dispostos a dar nossa vida para a obra de Cristo, abdicar de bens e propriedades por causa desta perola de valor maior? Se os milagres não apontam e desembocam num envolvimento maior com Jesus, certamente alguma coisa se perdeu no propósito original de Deus para nossa vida. Deus quer dar nova vocação, Deus quer que nossa história seja mudada por encontrarmos com o Deus que faz milagres!
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