Introdução
Neste texto Jesus faz uma afirmação e uma pergunta: “Eu sou ressurreição e a vida, aquele que crê em mim ainda que morto viverá. Crês isto?” (Jo 11.25)
A pergunta de Jesus é fundamental. O grande desafio que temos na verdade, é o desafio da fé. Há uma afirmação muito interessante na cantata “Eram 12” (Guilherme Kerr), em que ele faz uma pergunta intrigante ao falar de Tomé, o duvidoso: “O que fazer se o coração não consegue mais crer, o que salve ser verdade? O que fazer se a razão não consegue entender o porquê da tempestade?”
Philipe Yancey afirma que o livro de Jó não trata do problema do sofrimento, mas do problema da fé. Jó teve que interpretar a sua dor diante de um Deus santo e perfeito. Como entender esta grande questão quando somos atingidos frontalmente pela dor e tragédia? Como ajustar nossa dor no meio do sofrimento, muitas vezes, diante de severas provações e lutas, nós que professamos a fé em um Deus soberano, amoroso e bom. Lamentavelmente muitas vezes afirmamos crer, mas na verdade não cremos ou temos muita dúvida para crer quando atravessamos o vale da sombra da morte. Vivemos uma espécie de ateísmo prático. Aquilo que cremos conceitualmente, não traduzimos para o nosso dia a dia, na prática diária. Isto é bem desafiador para todos nós.
Em outro de seus livros, Philipe Yancey, “O Jesus, que eu nunca conheci”, ele transcreve um episódio de um filme 30 Something em que Hope, uma cristã, casada com Michael, que é judeu, tem uma discussão sobre fé. Hope, então, bem durona com Michael, argumentando com o marido, faz uma pergunta.
-“Michael? Você ainda se preocupa com Hanukkah? Você acredita mesmo que um punhado de judeus manteve afastado um exército, utilizando algumas lâmpadas que milagrosamente não ficaram sem combustível?”
Michael então explode.
-“Ah, e o Natal faz mais sentido? Você acredita mesmo que um anjo apareceu, a uma adolescente que depois de ficar grávida sem fazer sexo e viajou a cavalo para a Belém, onde passou a noite, num estábulo e teve um neném que se transformou no salvador do mundo? Francamente...”
A verdade é que muitas vezes há um enorme distanciamento entre o que Cristo diz e aquilo que cremos. Assim como há um grande distanciamento entre a declaração de fé de Marta e sua fé. Quando Jesus faz a afirmação, “Eu sou a ressurreição e a vida, aquele que creia em mim ainda que morto viverá”, ele pergunta a impetuosa, mas frágil Marta: “Crês nisto?” Na verdade, sua pergunta é provocativa. Jesus sabe que Marta não crê. Sua belíssima declaração de fé: “Sim senhor, eu creio que tu és o filho de Deus.” E que “meu irmão há de ressurgir no último dia” na verdade é uma afirmação de fé genérica e meramente conceitual, mas que não traduz de fato sua confiança, porque sua declaração de fé não impacta seu coração naquele momento em que ela está vivendo.
Embora Marta afirme que crê, ela revela que não crê, afinal, muito do que ela diz crer na verdade não alcançava seu coração. Quando Jesus se dirige para o túmulo, fica evidente que ela não crê, porque ela chama Jesus e diz incrédula: “Senhor, já faz quatro dias que ele foi sepultado, ele já cheira mal, o corpo dele já está em decomposição, por que o senhor insiste em fazer isso? Não abra esse túmulo, isso não é uma boa ideia.” Diante desta afirmação de incredulidade, Jesus afirma: “’Não te disse eu que, se creres, verás a glória de Deus?” (Jo 11.40) Marta não veria a glória de Deus se continuasse firmada na sua dubiedade e falta de fé. Sua afirmação dirigida a Marta se aplica diretamente ao nosso coração. Será que realmente cremos?”
Alguns anos atrás, quando eu ainda morava no Rio de Janeiro, atendia um jovem cineasta carioca, que era brilhante, um rapaz inteligente, e que estava vivendo grandes angústias da alma, e por alguma razão quis conversar comigo. Quando comecei a falar do amor e da graça de Deus, da salvação em Cristo, da morte de Jesus pelos pecadores, ele olhou espantado para mim e fez uma declaração bem interessante. “Pastor, eu daria tudo para crer nessas bobagens que o senhor crê.” Então, olhando nos seus olhos lhe disse: “Meu filho, eu não gastaria um segundo da minha vida para falar de mitos, fabulas e bobagens. Eu não gostaria de colocar o meu coração em mentiras, porque a mentira não procede de Deus e não vale a pena gastar nossa energia naquilo que é falso."
Em Atos 26, no encontro de Paulo, intermediado por Festo, com o Rei Agripa, acontece uma discussão muito interessante, porque Paulo começa a argumentar sobre a questão da ressurreição dos mortos, e ele diz: “É no tocante a essa esperança, ó rei, que eu sou acusado pelos judeus.” E então lhe dirige uma pergunta: “Por que se julga incrível entre vós que Deus ressuscite os mortos?” Paulo está afirmando uma coisa que o rei Agripa conhecia, até chegar a um determinado momento em que Festo se interpõe e o interrompe em alta voz, dizendo: “Estais louco, Paulo? As muitas letras te fazem delirar.” Paulo, porém, respondeu: "Não estou louco, excelentíssimo Festo. Pelo contrário, digo palavras de verdade e de bom senso. Porque tudo isto é do conhecimento do rei a quem me dirige com franqueza, pois estou persuadido de que nenhuma dessas coisas lhe é oculta, porquanto nada se passou em algum lugar escondido.” Depois, voltando-se para o rei Agripa diz: Acreditas ó rei Agripa nos profetas? Bem sei que acreditas. Então Agripa se dirigiu a Paulo, dizendo: Por pouco me persuades a fazer um cristão? E Paulo respondeu, assim Deus permitisse que por pouco ou por muito, não apenas tu, o rei, porém todos os que hoje me ouvem, se tornassem tais qual eu sou, exceto essas cadeias.” (Atos 25.24-29)
O rei Agripa, assim como nós, encontra-se distendido entre a realidade da fé e a incapacidade de verdadeiramente crer. Ele é um ateu prático como nós costumamos ser. Ele acreditava nos profetas, mas titubeia em crer que as palavras dos profetas fossem fidedignas. Parece irônico, mas é isso que acontece na sua experiência. O grande dilema humano é que somos mais ateus de descrentes na hora da realidade bruta. Como traduzir o que dizemos crer em uma esperança real? Por isso Jesus pergunta a Marta: “Crês isto?” (Jo 11.26)
Porque é importante crer, de fato? Qual o impacto de uma fé sólida no nosso coração? É evidente que Marta possui uma fé frágil e superficial, assim como nós. Qual é a dinâmica de uma fé sólida? Gostaria de falar de três coisas que a fé sólida produz em nós.
1. Uma fé sólida está fundamentada naquilo que Jesus ensinou, na sua palavra.
O pecado número um dos discípulos no Novo Testamento é a incredulidade. Enquanto no Antigo Testamento, o pecado mais evidente é o pecado da idolatria, de um povo que insiste em buscar deuses que não são deuses para substituir o Deus verdadeiro. No Novo Testamento, a grande crise dos discípulos é a crise dos discípulos. Homens com grande dificuldade de crer. Por várias vezes Jesus os repreendeu pela falta de fé. “Ó homens de pequena fé.” Quantas vezes Jesus teve que se referir a eles dizendo isso?
Depois da sua ressurreição, Jesus se encontra com dois discípulos no caminho de Emaús, que ouviram falar de sua ressurreição, que souberam do testemunho das mulheres e de alguns discípulos sobre a suposta ressurreição , mas que não conseguem crer nem nos profetas, nem nas promessas. Jesus então se aproxima deles, caminhando entristecidos, e começa a ministrar aos seus corações: “Ó néscios e tardos de coração para crer tudo que os profetas disseram. Porventura não convinha que o Cristo padecesse e entrasse na sua glória? E começando por Moisés, discorrendo por todos os profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava de todas as Escrituras.” Jesus os repreende porque eles não conseguem crer naquilo que ele já havia dito. Eles precisavam fundamentar sua fé naquilo que Jesus ensinou. As palavras dele são verdade e vida.
Por essa razão, a pergunta de Jesus a Marta é a mesma que precisa ser ouvida hoje: “Eu sou a ressurreição e a vida, aquele que crê em mim, ainda que morto viverá, crê nisto?” Será que de fato cremos naquilo que dizemos crer?
2. Uma fé sólida nos sustenta em tempos frágeis.
O grande desafio quando passamos por provações e lutas é manter os olhos fixos em Deus. Jesus estava andando sobre as águas, quando convidou Pedro para que fosse ao seu encontro. Mas a Bíblia diz que ele tirou os olhos de Cristo e começou a reparar na força do vento e começou a afundar. Se você tira os olhos de Cristo e coloca na terra, ficará assustado com as ondas e a tempestade, e vai afundar. Por isso, coloque os olhos dos seus olhos acima das circunstâncias.
O Salmo 46, afirma que “Deus é nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações.” Esse lugar de refúgio e fortaleza é para onde corremos em tempos de fragilidade e vulnerabilidade. A fé sólida, nos sustenta nesses tempos difíceis. Marta, ao defrontar-se com o dilema da morte do irmão e a presença do mestre, que é a ressurreição e a vida, evidencia que não crê de fato naquilo que professa crer. Por essa razão, se interpõe e diz, “já cheira mal.” Não mexe com esse negócio, não. Isso vai dar problema. E Jesus, então, afirma “Se creres, verás a glória de Deus. Crês isto?” (Jo 11.40 Se creres, verás...
3. Uma fé sólida, está firmada em fundamentos sólidos.
Muitas pessoas afirmam que o importante é crer. Será que é verdade? As Escrituras Sagradas mostram que o que importa não é o tamanho da fé, mas é o tamanho do Deus em quem você coloca a sua fé. O importante não é apenas crer. Uma fé depositada num objeto ou num ser errado é inoperante e ineficaz e sempre gera frustração e fracasso.
Qual é a importância que Jesus afirma aqui para Marta?
Marta responde positivamente. Ela diz crer, diz sim. “Eu tenho crido que tu és o Cristo, o filho do Deus que devia vir ao mundo.” (Jo 11.27). Aparentemente sua fé está fundamentada em Jesus, mas ao mesmo tempo não está conseguindo de fato, confiar realmente em Jesus.
Eu nasci e cresci numa região muito pobre, no leste de Minas, e ali havia muitas pessoas simples e tradições sobre saúde eram trazidas de pais para filhos, mas muitas dessas orientações empregadas, na verdade, se evidenciaram um desastre e grande risco e ameaça às famílias. Por exemplo, era comum quando as crianças nasciam, pegar esterco de vaca e colocar no seu umbigo para cicatrizar mais rapidamente. Muitas crianças morreram com infecção intestinal, e é fácil entender porque. Elas eram muito vulneráveis e colocar esterco de boi com as bactérias trazia graves infecções intestinais. Mas você acredita que aquelas mães, ao fazerem isso, não tinham fé? Não, elas estavam absolutamente convencidas de que esse procedimento era o procedimento correto e saudável.
Você pode até ter uma fé forte, mas num fundamento frágil e isso não vai valer absolutamente nada. Milton Nascimento na sua música “Faca amolada”, diz: “O brilho cego da paixão e fé, faca amolada, vai ter que ter, vai ter que ter fé na fé, faca amolada. Este tipo de fé, fé na fé, faca amolada, não resolve o seu problema. O profeta Jeremias traz a Palavra de Deus, dizendo, “Meu povo me deixou e cavou para si cisternas rotas, que não retém água.” Muitos deixaram de ter fé em Deus e começaram a seguir outros deuses e esses outros deuses eram cisternas rotas. Não retinham a água, não dessedentavam o povo e não traziam nenhum benefício.
Jesus foi bem claro ao afirmar: “Eu sou a ressurreição e a vida, aquele que crê em mim, viverá.” E é curioso quando Marta afirma que crê. Ele diz, “eu sou a ressurreição, você crê nisto?"
Onde está a sua confiança e a sua fé? Em quem você deposita a sua confiança? Nos seus ídolos? No seu conhecimento? Nas construções lógicas e filosóficas que você faz? Onde está a sua confiança? Nossa confiança tem que estar firmada em Cristo, na sua obra. A palavra de Deus diz: “Quem nele crê, tem a vida eterna e nunca será de forma alguma, alguma perturbado.”
Portanto, para estarmos firmes nosso fundamento precisa ser sólido, precisamos, de fato, colocar nossa confiança naquilo que Deus é. Precisamos nos arrepender dos nossos falsos deuses, dos nossos pecados e da nossa justiça própria. Apenas no sangue de Cristo temos firmeza e toda estrutura sólida que precisamos.
Você crê isto?
Essa é a pergunta de Jesus ao nosso coração hoje. Crês isto?
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