Salmo 37.1-5
Princípios de uma fé saudável
Vamos abrir a Palavra de Deus no Salmo 37, a partir do versículo primeiro.
"Não te indignes por causa dos malfeitores, nem tenhas inveja dos que praticam a iniquidade. Pois eles em breve definharão como a relva e murcharão como a erva verde. Confia no Senhor e faze o bem. Habita na terra e alimenta-te da verdade. Agrada-te do Senhor, e Ele satisfará os desejos do teu coração. Entrega o teu caminho ao Senhor. Confia Nele, e o mais Ele fará." Esta é a Palavra do Senhor.
Introdução
Esse texto do Salmo 37 é repleto de princípios. Aliás, a Bíblia inteira é um livro de princípios. É muito importante pensar que princípios não são contratos; princípios não são regras nem ritos. Princípios são aculturais, atemporais. Eles transcendem a nós mesmos, são eternos. Princípios, quando aplicados — e se aplicados —, sempre produzirão efeitos imediatos, sejam esses princípios errados ou corretos. Existem muitos princípios que são contrários à Palavra de Deus e se tornam parâmetros da vida das pessoas, trazendo graves e terríveis consequências.
O Salmo 37 tem, pelo menos, 12 princípios, e nós não temos, obviamente, tempo para analisar todos eles, mas vamos trabalhar três destes princípios. Esses princípios podem revolucionar a sua vida; podem modificar completamente sua cosmovisão, a sua forma de agir e se comportar. Podem mudar você. A Palavra de Deus é viva e eficaz. Ela é mais cortante que espada de dois gumes. Ela é capaz de discernir os pensamentos e propósitos do coração. Ela é capaz de dividir juntas e medulas, como o autor aos Hebreus nos fala.
Então, quando estudamos os princípios de Deus, nós, na verdade, estamos considerando o manual básico da vida, como devemos viver. Esses princípios são aplicáveis em qualquer situação. A fé cristã se sustenta em princípios. Isso é muito importante para nós, sabe por quê? Porque, em geral, nós olhamos para a Bíblia e muitos a leem como uma espécie de horóscopo cristão. Estamos passando por uma crise, uma dificuldade e abrimos a Bíblia para tentar descobrir a vontade de Deus. Todos fazemos isso, e não há problema nenhum, desde que você se oriente por princípios. Porque muitas vezes abrimos a Bíblia só para encontrar um versículo que justifique a nossa atitude eventualmente pecaminosa e nosso comportamento errático, mesmo quando esse versículo, ou sua interpretação contrarie todas as verdades do Evangelho.
Há pouco tempo atrás, aconteceu um caso extremo de um pastor uma igreja neopentecostal no Estado do Espírito Santo, que estava tendo um caso de adultério com um membro de sua igreja. Quando o repórter o questionou, ele justificando-se, pegou o texto de Oséias e disse: "Olha o que a Bíblia está dizendo: 'Vá, pega uma mulher de prostituição e adultera com ela'." Entenderam? Ele estava tendo um caso de adultério, justificando-se num texto de Oséias. Aí o repórter pegou o texto e disse: "Não, o texto não está dizendo isso. O texto está dizendo: 'Vá e pega uma mulher de prostituição, adúltera'." Então, um acento faz uma grande diferença. Mas quando você quer justificar o seu pecado, você pode encontrar até texto bíblico para poder justificá-lo. Satanás encontrou textos bíblicos para poder testar Jesus e dizer: "Faça isso aí porque a Bíblia está dizendo." Então, tome muito cuidado. Nós precisamos agir por princípios. Essa é a forma de Deus falar conosco, afinal, como bem declarou o Pr. Júlio Andrade Ferreira, “A Bíblia é a mãe das heresias.” Pessoas que querem viver em pecado encontrarão até mesmo na Bíblia justificativas espúrias.
Ao invés de lermos as Escrituras Sagradas como um horóscopo cristão, precisamos solidificar nossos princípios. Muitas pessoas tentam entender a vontade de Deus. Quando as pessoas dizem: "Eu não consigo entender a vontade de Deus" eu cito 1 Ts 4.3: "Pois esta é a vontade de Deus: que vos abstenhais da impureza. Fugi, pois, da impureza moral." Ou seja, a vontade de Deus é a nossa santificação. Essa é a vontade de Deus. Você quer saber a vontade de Deus para sua vida? A vontade de Deus é a santificação. Quando vivemos debaixo de princípios, fica fácil caminhar na fé, e isso revoluciona a forma de viver e agir.
Charles Stanley, conhecido pregador, costumava afirmar o seguinte: "Nunca viole os princípios de Deus se você deseja ganhar ou manter as bênçãos de Deus."
Há muitas pessoas violando os princípios de Deus e ainda querendo ganhar ou manter as bênçãos de Deus. Deus não tem compromisso com a infidelidade. Ele não pode te abençoar quando você é infiel, porque ao abençoar a infidelidade, Ele estaria chancelando o comportamento inadequado. Então, não viole os princípios de Deus se você deseja ganhar ou manter as bênçãos de Deus.
Outro detalhe importante é que os princípios de Deus não são para salvação. Então, por que estamos estudando os princípios de Deus? Princípios de Deus não trazem salvação. A única obra que pode trazer salvação é a obra que o Filho de Deus fez naquela cruz. “Quem crê no Filho tem a vida. Quem não crê não tem a vida, porque não crê no Unigênito Filho de Deus.” A morte de Jesus Cristo, o Seu sangue, é aplicada pelo Espírito Santo no coração quando nos entregamos e nos rendemos a Ele, é isso que traz salvação. Não há salvação fora de Jesus. A sua justiça própria não traz salvação. Guardar princípios não traz salvação. Sua moral não traz salvação. Sua religiosidade não traz salvação, guardar os ritos não traz salvação. A única coisa que traz salvação é a obra de Cristo. Então, eu quero hoje te desafiar a desistir da sua justiça própria, a abandonar de uma vez a sua justiça própria e crer naquilo que Cristo fez. Esta é a obra de Deus. Jesus respondeu: "A obra de Deus é esta, que creiais naquele que por Ele foi enviando." (Jo 6.28). A obra de Deus é esta: que creiais. Essa é a obra de Deus. Nós precisamos confiar no sacrifício de Cristo para nossa salvação.
Agora, princípios são dados para a vida. Quando nós lemos o Antigo Testamento e o Novo Testamento – e o Antigo Testamento repetem muito essa ideia – sempre observamos que os mandamentos são para a vida. Ou seja, os mandamentos não te levam ao céu, mas trazem o céu para você. Os mandamentos não evitam que você vá para o inferno, porque isso só Cristo pode fazer, mas os mandamentos podem evitar que você transforme sua vida num inferno. Então, o que Deus na verdade quer é que nós guardemos os princípios para que haja vida em nós. Essa vida que jorra por meio da obra Dele, por meio da obra da cruz. Precisamos colocar os princípios de Deus dessa forma. O caráter de Deus não muda, nem muda a sua natureza, se obedecemos ou não seus princípios, mas certamente obediência trará muitas bençãos para sua vida.
E assim, considerando vamos então observar os princípios de Deus. Pelo menos três princípios eu queria ressaltar aqui nesse texto que aparecem nos versículos 3, 4 e 5.
O primeiro princípio é: "Confia no Senhor e faze o bem, habita na terra e alimenta-te da verdade." Confia no Senhor.
Meus queridos irmãos, nós precisamos colocar esse princípio no coração. É o princípio da confiança em Deus. E isso parece tão simples, mas não é, sabe por quê? Porque nós temos uma desconfiança inata em relação a Deus. Como é que você confia em alguém quando não confia no caráter dessa pessoa? A confiança brota da integridade e do fato de que você sabe quem essa pessoa é e que ela é confiável. Você pode dar a sua carteira de identidade, o seu CPF para Deus sem nenhum problema, porque Deus é digno de confiança.
O que o texto está falando é que precisamos aprender a confiar no Senhor, e quando confiamos no Senhor, não nos sentimos ameaçados em colocar a nossa vida nas mãos desse Deus. Por quê? Porque estamos nas mãos de um Deus que é santo, providente e amoroso. Você confia no caráter de Deus? O grande problema da nossa espiritualidade, muitas vezes, é que não confiamos no caráter de Deus, não estamos certos de que podemos confiar Nele, integralmente. Então, nós confiamos em Deus mantendo certas áreas de reserva, de proteção, como se disséssemos: "OK, até aqui nós vamos; daqui pra frente, não."
Se você é mais antigo na igreja de Anápolis, deve se lembrar de um episódio icônico nessa igreja. Um grupo de pessoas estava preparando o acampamento da igreja no El Rancho e fazendo uma programação interessante, com muitos eventos, toda aquela organização, pensando nas ideias, criatividade. A programação seria no mês de novembro, e uma pessoa disse: "Pessoal, vamos fazer uma programação ao ar livre, colocar a fogueira no meio, no sábado faremos a programação lá, e cantaremos ao ar livre, muito louvor." E todo o grupo ficou empolgado com a ideia, exceto uma. E alguém percebeu que ele não estava confortável com a ideia e perguntou: "Por que você parece que não concordou com a ideia, você não gostou da proposta?" E aí ele virou e disse: "Rapaz, é que novembro chove muito nesta região... É perigoso fazer uma programação ao ar livre, pensando que teremos um dia sem chuva, pode ser que tenhamos um temporal e nossa programação não vai acontecer." Aí, outra pessoa, mais cheia de fé disse: "Nós vamos orar. Deus não vai permitir que a chuva caia." Ele virou, refletiu um pouco, colocou a mão no queixo e disse: "Não sei não, rapaz, Deus não é de muita confiança em época de chuva..."
É mais ou menos isso que acontece conosco. Deus não é de muita confiança em época de chuva. Quando vem as tempestades, será que podemos confiar mesmo no caráter de Deus?
O texto diz: “Confia no Senhor e faze o bem”. Coloque a sua confiança em Deus.
Todos os homens da Bíblia que passam por grandes provações e crises, profetas, fazem exatamente isso. Eles se lembram dos atributos e do caráter de Deus. Pense, por exemplo, em Jó, massacrado por tragédias em cima de tragédias. A esposa em crise teológica dizendo para ele: "Amaldiçoa esse Deus e morra." O corpo arrebentado, dores, feridas. Mas ele diz no capítulo 19: "Eu sei que o meu Redentor vive e que por fim se levantará do pó." Na crise Jó pode olhar para Deus e dizer: "Eu posso colocar a confiança nEle!” É exatamente este princípio que vemos aqui. Isso é confiar em Deus.
O mesmo acontece com Habacuque, quando vem o exército da Assíria para dominar Israel, ele começa a orar para Deus não permitir que a invasão aconteça. E Deus diz: "Olha, vai acontecer por causa da infidelidade do meu povo, vai acontecer." E aí ele diz: "Deus, o Senhor é tão puro de olhos que não podes ver o mal. Por que o Senhor contempla a iniquidade?" O profeta entra em crise. Então o que ele faz? Para se organizar espiritualmente ele considera o caráter de Deus "O Senhor é um Deus eterno, Deus justo, que habita a eternidade." (Hc 1.12) Ele começa a olhar para o caráter de Deus para sua sobrevivência psicológica. Nós precisamos, começar a olhar para quem Deus é, seus atributos, para que possamos confiar nele. Você só vai confiar em alguém quando confia no seu caráter. E é isso que nós vemos aqui. A confiança é fruto de um relacionamento em que você sabe em quem está colocando a sua confiança.
São dois os problemas na nossa alma relacionados à confiança: As suspeitas luciféricas e adâmicas. Deixa-me tentar explicar isto.
Lúcifer, no Éden, é capaz de trazer para Eva sugestões que fazem todo o sentido ao seu coração. Quando ela diz: "Olha, Deus nos proibiu apenas de comer do fruto do conhecimento do bem e do mal," Satanás começa a suscitar questões. Ele disse: "Olha, Deus não está bem-intencionado com vocês. Deus sabe que no dia em que vocês comerem do fruto do bem e do mal, vocês serão iguais a Ele. Então, Deus não quer competidor. Deus governa o universo em cima de mentira. Ele mentiu para vocês. É certo que vocês não vão morrer?" O que Satanás sugere? Ele coloca uma série de dúvidas na mente de Eva para que ela não confie naquilo que Deus havia dito. Não é exatamente isso que acontece conosco? As sugestões que vêm à nossa mente em relação a quem Deus é, e ao seu caráter. Bem, essa é a suspeita luciférica, porque é de Lúcifer, mas há uma suspeita que eu chamo de adâmica também.
A suspeita adâmica vem da natureza humana, o homem muitas vezes não confia naquilo que Deus de fato é. Parece que havia ali, na alma de Eva, por alguma razão, mesmo estando no Éden, a possibilidade de suspeitar de Deus, porque o que a serpente falou fez sentido para Eva.
Alguém definiu tentação, como “o encontro do pior de todos os seres com o pior que há em mim.” A natureza adâmica, esse filho de Adão que eu sou, tem propensão para caminhar numa relação de suspeita em relação a Deus. "Será que posso confiar? Será que é possível confiar em Deus? Será que eu posso deixar nas mãos de Deus os meus problemas?" Talvez você esteja vivendo dias assim e precise confiar em Deus, mas não esteja conseguindo. Isso é adâmico, isso é pecaminoso, mas não agimos assim tantas vezes?
O segundo princípio – e se você achou o primeiro complexo, o segundo ainda é mais desafiador, na minha concepção – diz: "Agrada-te do Senhor e Ele satisfará os desejos do teu coração." (Sl 37.4)
O segundo princípio aqui é o princípio do prazer em Deus. “Agrada-te do Senhor.” Tenha prazer naquilo que Deus é e naquilo que Ele faz. Isso é complicado. E vou te dizer por quê? Porque isso mexe com a nossa afetividade.
Eu penso que não teria tanta dificuldade de ser um islâmico. Porque eu sou ritualista nos meus comportamentos. Eu gosto de cumprir a minha agenda e os meus papéis dentro de um programa antecipadamente organizado. Eu faço a agenda da semana e a Sara briga muitas vezes comigo por causa disto. Ela diz: "Você não gosta de mudar sua agenda, né?" Então, meus queridos, ajoelhar cinco vezes por dia como o islâmico faz, por uma força do ritual, acho que não seria complexo para mim. Acho que não. Ajoelhar ali, fazer minha prece, cumprir o meu papel, está tudo OK.
Entretanto, não é isso que Deus pede de nós. O que Deus pede vai muito além disso pois está conectado a afetividade. “Agrada-te do Senhor.” Tenha alegria em Deus. Você tem prazer em Deus? Não! Muitas vezes não temos prazer em Deus, mas temos desprazer. E Deus está nos convidando para desfrutar do relacionamento de amor com ele. "Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua força, de todo o entendimento”. Isso é o que sintetiza todo mandamento. O mandamento de Deus está voltado para quê? Para o coração. A afetividade se torna um problema porque o que ele me convida a fazer é encontrar prazer nele e muitas vezes nosso grande desafio é encontrar este prazer.
Quer ver como isso se reflete de forma costumeira em nossa história? Existem duas formas de você ver a vida: você a vê com gratidão e louvor, ou com descontentamento e murmuração. Em qual desses caminhos você anda rotineiramente?
O povo francês define gratidão como a memória do coração. Gratidão surge quando você está feliz com o que a outra pessoa fez e você reflete isso na forma como fala sobre tal pessoa ou como sente em relação a ela. Se você é grato a Deus, tudo muda. Se você tem prazer em Deus, louvor será natural em seu coração. Você tem gratidão pelo que Deus faz, ou você anda na rua da murmuração e do descontentamento? No descontentamento estou dizendo para Deus que o que ele me dá não é bastante. Deus está me devendo, e precisa pagar sua dívida comigo imediatamente. Pessoas com este sentimento acham que o Senhor lhes deu pouco, ou aquém daquilo que merecem. “O Senhor não sabe com quem está falando!.... Olhe para mim, eu não sou merecedor de alguma coisa melhor do que aquilo que você me dá." E aí o descontentamento e a murmuração se tornam o estilo de vida. Porque se eu não me agrado de Deus, não existirá gratidão em meu coração.
Ora, isso não é muito raro no coração do pecador insatisfeito e descontente. Jonas, o profeta, também teve uma crise que demonstra o desprazer em Deus que lhe pergunta: "Por que você está irado?" Isto acontece duas vezes. (Jn 4.4,11) O profeta briguento e desobediente, é inquirido por Deus sobre os motivos do seu mau humor: "Por que você está assim? Por que você está irado? É razoável a sua ira?" Na primeira vez Jonas desconversa, mas na segunda vez que Deus pergunta, ele expõe seus motivos: sua crise se voltava contra Deus.
Jonas responde: "É razoável a minha ira até a morte!" Em outras palavras: "Eu não tenho direito de pensar e sentir assim?” Sua ira, descontentamento, mau humor estavam direcionados a Deus. O profeta chega a repreender Deus. "Não foi isso que te falei estando ainda lá em Israel, quando o Senhor me chamou para essa missão? Sabendo que és Deus clemente, bom, misericordioso, compassivo e que se afasta do mal. Por isso me adiantei e fugi.” O problema básico de Jonas está relacionado ao caráter de Deus e como ele trata as pessoas. Ele demonstra isto ao afirmar: Sabendo que és bom, compassivo, misericordioso. Eu resolvi fugir. Dá para entender? Jonas não tem prazer em Deus.
Jonas é um missionário em crise com o Deus das missões. Seu descontentamento é fruto de um coração que não se agrada de Deus. Então, se você acha que é fácil se agradar de Deus, vale a pena considerar este assunto com mais profundidade.
O grande chamado de Deus para nossa vida está relacionado ao prazer nele, como afirma a primeira pergunta do Catecismo Maior de Westminster: “Qual o fim principal do homem?” E a resposta é: “Glorificar a Deus e gozá-lo para sempre.” Se você não desfruta da intimidade e não tem prazer em Deus, e no que ele faz você não consegue trazer glória para seu nome. Deus espera que tenhamos prazer nele. Deus nos criou para relacionamentos de amor. Ele não nos conduziu, nem nos convidou para uma caminhada de rituais. Deus nos convida para uma caminhada de relacionamentos de afetos.
E é assim que Jesus se encontra com Pedro, depois da negação tão explícita. O encontro se dá à beira do mar da Galileia, onde acontece um diálogo pesado. A conversa de Jesus e a direção como ele é conduzida é tão profunda que eu nunca gostaria de ter. E se eu fosse Jesus, eu saberia muito bem o que iria fazer. Eu ia dizer duras verdades para Pedro e o repreenderia severamente. Eu ia acabar com sua moral. Eu ia lhe dizer: "Pedro, você é um cara de pau, você é um sem-vergonha. Nós andamos três anos juntos, todos os dias, criamos um relacionamento de amizade profunda e você me nega? Você está ficando doido, você é maluco?" Se eu estivesse na situação de Pedro, eu honestamente preferiria que Jesus tivesse feito isso comigo do que ter que responder a pergunta que Ele fez.
Você se lembra qual foi a pergunta de Jesus? "Pedro, você me ama? Pedro, você me ama, Pedro, você me ama?" Jesus faz esta pergunta incômoda por três vezes: Essa é a pergunta que Deus faz a você e a mim. Esse é o princípio de vida cristã que pode revolucionar nossa história: "Você ama a Deus? Tem prazer no Senhor."
Agora, preste atenção nos efeitos disso: "Agrada-te do Senhor e Ele satisfará os desejos do coração."
Eu acho interessante pensar nisso porque você pode dizer: "Bem, se eu me agradar de Deus, aquelas paixões, aqueles meus desejos pecaminosos, baseados em cobiça ou luxúria, serão satisfeitos." Absolutamente não! Porque os desejos que brotam do nosso coração pecaminoso apenas refletem desejos mais profundos que muitas vezes ignoramos. São apenas cortina de fumaça. Quando você deseja ter alguma coisa, você deseja por quê? Muitas vezes porque você tem necessidade de afirmação, de aceitação, de reconhecimento e desejos até mesmo idolátricos. Ou seja, o problema seu é um pouco mais profundo, mais complexo. E Deus quer te dar os desejos legítimos que você tem, que você muitas vezes ignora. Ele vai satisfazer os desejos mais profundos do seu coração se você se agradar dele. Desejos esses que muitas vezes você nem tem acesso a eles, conscientemente falando. E Deus vai, então, nos conduzindo para uma camada um pouco mais profunda da afetividade. E ali, naquele lugar onde nossos desejos mais profundos estão presentes, Deus deseja ministrar a nós.
Qual é o desejo do seu coração? O que Deus realmente quer fazer contigo? Eu gosto muito de uma música do Projeto Sola, Salmo 23. Ela tem uma letra maravilhosa e há um determinado momento que diz o seguinte: "Se o Senhor é o meu pastor, aquilo que eu não tenho eu não preciso." E logo depois repete: "Se o Senhor é meu pastor, aquilo que eu não tenho não preciso desejar." Deus já me deu tudo que eu preciso porque Ele é meu pastor e nada vai me faltar. Louvado seja o nome do Senhor!
Pense na sua adoração e da relação com Deus na dimensão dos afetos. Agrada-te do Senhor. Isso pode revolucionar sua história. Saia da rua do descontentamento, da murmuração. Vá para a rua da gratidão e do louvor. Considere as misericórdias de Deus.
Entrega o teu caminho ao Senhor
O terceiro princípio que aparece nesse texto, não é menos desafiador e também é revolucionário e transformador: "Entrega o teu caminho ao Senhor, confia Nele e o mais Ele fará." (Sl 37.5)
Que caminho preciso entregar a Deus? Qual é o meu caminho?
Caminho é tudo aquilo que se constrói na história, é tudo aquilo que está acontecendo no seu dia a dia. Deus está dizendo: Eu quero que você traga o seu caminho e deixe que eu o direcione. Entrega o teu caminho a mim. Deixe que eu marque as trilhas que você tem que andar. Deixe-me fazer o percurso no qual eu quero que você ande. Deixe-me fazer uma picada no meio da floresta confusa, cheia de espinhos que você está atravessando. Eu quero cuidar do seu caminho. Eu quero cuidar da sua vocação. Eu quero cuidar da sua profissão. Eu quero cuidar daquilo que você é. Entrega para mim. Deixa comigo. Eu vou cuidar disso. O que pode ser mais complexo e libertador do que viver uma vida de entrega? É complexo, mas é libertador. Deus é que vai fazer o que precisa ser feito.
Brandon Manning afirmou: "Sem entrega, não há possibilidade de cura." Qual é o problema para viver debaixo deste princípio divino? A nossa onipotência e desejo de controle. Ah, nós não queremos abrir mão disso. Queremos ter a sensação de que as coisas acontecem porque eu faço acontecer. Há um deus dentro de nós, o meu EGO, e não é uma entidade, é você mesmo. Você quer governar a sua história. Nossa sociedade diz que você tem que ter o controle de sua vida. E Deus está dizendo: "Eu quero que você transfira para mim o seu controle e entregue seu caminho."
Olha que loucura, como isso é contracultural! Jesus afirmou: Se alguém quiser vir após mim, faça o quê? A si mesmo se negue. Traga o seu eu para mim, crucifique a si mesmo, negue o seu eu. Como negar o meu eu quando o que mais desejo é afirmar o meu eu. Sutilmente dizemos para Deus que somos competentes e hábeis, capazes de controlar nossa história, ser dono do meu destino. Queremos afirmar o eu, não negá-lo. Eu não quero negar nada pois quero ter o controle da situação, das pessoas, de mim mesmo, da minha história. Eu quero controlar. O convite de Jesus para segui-lo, entretanto, passa pelo processo da negação do eu. "Negue-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me."
Muitos dizem: "Pastor, a minha cruz é a minha enfermidade... A minha cruz é o meu marido... A minha cruz é o meu filho... Minha cruz é o meu trabalho." Não, meu querido, a sua cruz é muito mais séria do que tudo isso. A sua cruz é você mesmo. Negue a si mesmo, tome a sua cruz. A autonegação é o caminho do discipulado. É isso que Jesus afirma: "Negue-se a si mesmo." Essa é a grande cruz. Autonegação. Ela implica numa profunda rendição, de abrir mão dos direitos, em não ter mais controle. Infelizmente ainda queremos ter o controle das coisas. Transferir para Deus? "Não, não, não, eu sei o que eu quero. Eu sei para onde eu quero ir. Eu sou capaz de fazer. Eu não vou negociar isso aqui de jeito nenhum."
Parece-se com a história num incidente de nossa família em que um garoto com 8 anos de idade estava na praia com familiares. De repente, ele, muito atrevido, que acha que sabia fazer tudo sozinho, independente, entra no mar meio e vem uma onda e o arrasta. Aí começa a gritaria: "Pega o menino! Está afogando!" As pessoas se juntam e resgata. Ele sai meio zonzo, meio tonto, meio morto, meio vivo, e trazem o menino para a areia. Assim que ele se recupera, fica em pé, cheio de si e com ar arrogante e vira para todo mundo orgulhosamente e diz: "Eu estou afogando, mas estou nadando." É a mesma coisa que nós fazemos. Você está afogando, mas continua dizendo: "ainda estou nadando." Não! você está afogando. Você não tem mais controle. Entrega!
Como isso é complexo, difícil e desafiador. É difícil romper com o nosso senso de onipotência, de acharmos que temos todas as coisas nas mãos! E Deus está dizendo: "Entrega o teu caminho ao Senhor, confia em mim." Rendição é a palavra-chave: rendição do meu eu. Eu preciso render o meu eu, esse deusinho internalizado em mim que precisa ser desmascarado. Eu preciso render minhas finanças a Deus. Eu preciso render minha família a Deus. Eu preciso render a Deus minha saúde, e as injustiças que eu sofro. Eu preciso entregar o meu caminho ao Senhor. Eu preciso confiar nele. O mais Ele fará.
Não é assim o Evangelho?
Quando olhamos para a obra de Cristo, vemos uma vida de entrega, de rendição, de entrega, de prazer e total confiança em Deus. Lá está o Filho de Deus, o Salvador, indo para a cruz. No seu caminho para a cruz, vemos a confiança que o Filho tem no Pai, não é oração de confissão positiva. O que ele diz: "Não faça a minha vontade, mas a sua. Não como eu quero, mas o Senhor. Eu confio no seu caráter." E aí, como ovelha muda, é levado perante os seus tosquiadores. Ele não abre a Sua boca e derrama o Seu sangue. Ele se agrada de Deus e Deus se agrada Dele. Relação de afeto.
Deus diz: "Esse é o meu Filho amado." Não há competição na Trindade. As três pessoas caminham juntas. Pai, Filho e Espírito Santo, criando a melhor comunidade de entrega, e de confiança. É isto que aprendemos da Trindade. Lá está o Cordeiro de Deus morrendo na cruz em absoluta entrega, rendição até a morte, dizendo: "Deus, nas tuas mãos entrego o meu espírito." Ali está sendo oferecida a oferta que o Senhor queria pelo pecado dos homens. Jesus paga a dívida: tudo está pago! O que aprendemos na cruz, é o que Deus está falando para nós nesta manhã.
"Confia no Senhor.
Agrada-te do Senhor.
Entrega o teu caminho ao Senhor."
Essa é a Palavra do Senhor para nós nesta manhã.
Oração
Senhor Deus, aplica a Tua Palavra ao nosso coração. Tu sabes como desesperadamente precisamos de Ti, ó Pai. E como é tão complexo nossa luta para tentarmos controlar o incontrolável, manter o controle daquilo que o Senhor nos convida a entregar. Tua Palavra é clara para nós, O Senhor está nos desafiando. Ajuda-nos a nos rendermos a descansar no Senhor, a experimentar a graça e a bondade do Senhor. Em nome de Jesus. Amém.