A parábola da semente que cresce sozinha, encontrada em Marcos 4.26-29, oferece uma perspectiva única e profundamente encorajadora sobre o Reino de Deus. Nela, Jesus o descreve não como um projeto que nós construímos com nosso esforço, mas como uma realidade viva que tem um poder próprio.
O texto diz:
"O Reino de Deus é como um homem que lança a semente sobre a terra. De noite e de dia, ele dorme e se levanta, e a semente brota e cresce, não sabendo ele como. Porque a terra por si mesma frutifica: primeiro a erva, depois a espiga e, por fim, o grão cheio na espiga. E, quando o fruto já está maduro, logo lhe mete a foice, porque é chegada a colheita."
Essa breve parábola nos revela verdades essenciais sobre o Reino de Deus:
1. O Reino de Deus é. Apesar da dimensão escatológica do Reino ( Mt 24.14), algo ainda em processo, que se manifestará na história, Jesus afirma que o “O reino de Deus é”, não “será.” Trata-se de uma realidade presente e atualizada. Jesus descreve o reino numa dimensão existencial (Lc 17.21). O reino é para hoje, para minha e sua vida.
Quem lança a semente? Jesus aponta para a tarefa dos seus discípulos de espalharem a semente. É preciso ir. “Ide por todo mundo e pregai o Evangelho a toda criatura.” (Mc 16.15) e “Ide, fazei discípulos de todas as nações.” (Mt 28.18-20). “Eis que o semeador saiu a semear...” Pregar é falar da obra de Deus realizada através de Cristo. “Ide, pregai o evangelho!” As Boas novas devem ser anunciadas. A terra é o coração do homem (Mc 4.14) e a semente é a Palavra de Deus. (Mc 4.10-20)
2. O Reino de Deus é um mistério (A incompreensão do Semeador). “A semente brota e cresce, não sabendo ele como.”
A parte mais intrigante da parábola é que o semeador não sabe como a semente cresce. Ele faz sua parte (lança a semente), mas o processo de germinação e crescimento é um mistério. Na parábola do Joio, o diabo semeia enquanto os servos de Deus dormem. O ato de semear é conspirador. A semente tem poder em si mesmo. Muitas vezes nos desanimamos enquanto semeamos, mas a Palavra de Deus afirma que “Quem sai andando e chorando enquanto semeia, voltará com jubilo trazendo seus feixes.” (Sl 126.6)
Não entendemos como. A palavra frutifica em lugares inóspitos e ermos: Mistério. Nos surpreendemos com a forma como a semente nasce no coração do homem. Isso nos ensina que o Reino de Deus não funciona de acordo com a lógica humana ou com nossos métodos. Sua expansão é um fenômeno sobrenatural que está além do nosso controle e compreensão. Por mais que estudemos, planejem e nos esforcemos, o poder da transformação vem de Deus.
3. O Reino de Deus tem poder em si mesmo (A força da semente) “A terra por si só (automate) frutifica.”
A semente é apenas semeada, mas assim que cai, a terra frutifica. Este maravilhoso poder conspirador que tem a semente da vida e do reino de Deus. A semente, que representa a Palavra de Deus ou o próprio Evangelho, tem vida inerente. Uma vez plantada, tem a força para crescer, brotar e produzir fruto por si mesma ("a terra por si mesma frutifica").
Essa é uma mensagem de grande alívio. A responsabilidade do semeador não é forçar o crescimento ou garantir os resultados, mas confiar no poder intrínseco da semente. Da mesma forma, a responsabilidade do cristão e do líder não é fazer o Reino crescer, mas simplesmente proclamar a Palavra, pois o poder para a vida e a transformação está na semente, e não no semeador.
Mesmo os conflitos, depressões, angústias, dores, traumas, complexos, não impedem, antes servem de adubo para que a palavra frutifique. Às vezes cai no campo ermo do materialismo, ou quem sabe do misticismo, crendices, superstições, ou mesmo em solos marcado pela promiscuidade e injustiça. A vida de pecado cansa. A terra por si frutifica.
Li a autobiografia de Eric Clapton. Não sei se ele converteu a Cristo, mas na autobiografia que foi ele fala do seu encontro com Deus:
“Não obstante, atravessei meu mês de tratamento aos trancos e barrancos, a exemplo do que havia feito da primeira vez, apenas riscando os dias que passavam, esperando que algo em mim mudasse sem que eu tivesse que fazer muito por isso. Então, certo dia, quando minha internação estava chegando ao fim, o pânico me atingiu, e percebi que de fato nada havia mudado em mim, e eu estava voltando ao mundo mais uma vez completamente desprotegido. O ruído em minha mente era ensurdecedor, e a bebida estava em meus pensamentos o tempo todo. Fiquei chocado ao perceber que estava em um centro de tratamento, um ambiente supostamente seguro e estava em sério perigo. Fique absolutamente aterrorizado, em completo desespero.
Naquele momento, quase por si mesmas, minhas pernas cederam, e cai de joelhos, na privacidade de meu quarto, implorei por socorro. Eu não atinava com quem estava falando, sabia apenas que havia chegado ao meu limite, não me restava mais nada nada para lutar. Então lembrei de que tinha ouvido falar sobre rendição, algo que pensei que jamais conseguiria fazer, que meu orgulho simplesmente não permitiria, mas entendi que sozinho eu não teria sucesso, por isso pedi socorro e, caindo de joelhos, me rendi.
Em poucos dias percebi que havia acontecido alguma coisa comigo. Um ateísta provavelmente diria que foi apenas uma mudança de atitude, e em certa medida, é verdade, mas foi muito mais que isso, encontrei um lugar a que recorrer, um lugar que sempre soube que estava ali, mas em que nunca realmente quis ou precisei acreditar. Daquele dia até hoje, jamais deixei de rezar de manhã, de joelhos, pedindo ajuda, e à noite para expressar gratidão por minha vida e, acima de tudo, por minha sobriedade. Prefiro me ajoelhar porque sinto que preciso ser humilde quando rezo e, com meu ego, isso é om máximo eu posso fazer.
Se você está perguntando por que faço tudo isso, vou dizer... porque funciona, simples assim. Em todo esse tempo em que estou sóbrio, nenhuma única vez pensei seriamente em tomar um drinque ou usar alguma droga. Não tenho problema com religião e cresci com uma forte curiosidade sobre modelos espirituais, mas minha busca afastou-me da igreja e da veneração em grupo rumo a uma jornada interior. Antes de minha recuperação ter início, encontrei meu Deus na música e nas artes, com escritores como Herman Hesse, e músicos com Muddy Waters, Howlin ´Wolf e Little Walter. De algum jeito, de alguma forma, meu Deus sempre esteve presente ali, mas agora eu havia aprendido a falar com ele.”
Eric Clapton, A Autobiografia, São Paulo, Ed. Planeta, 2007, p. 280-281
4. Desenvolvimento e o processo da sementeira
q Primeiro: A erva! Perturbação, inquietação, pergunta sobre valores e estilo de vida. A semente gera questionamentos, inquieta a terra onde cai. Traz súbito interesse. De repente, quem não se importava com as coisas de Deus passa a ler a Bíblia, a orar, a trazer dízimo para a igreja. É a erva brotando na terra preparada pelo Espírito Santo. A Palavra de Deus não voltará vazia, mas fará tudo quanto lhe apraz. As dúvidas, as questões, as verdades de Deus, começam a fazer profundo sentido. É a terra se remexendo com o movimento silencioso e sensível da semente que desabrocha e fecunda.
q Segundo: a espiga! São as manifestações da semente que cresce. É a semente encontrando sua maturidade no coração do homem que a recebe. Mudanças de visão, paradigmas, conceitos, comportamentos, crise de humanidade, forte desejo de coerência pessoal. A espiga nascendo para frutificar, as flores preparam o surgimento da sementeira. A semente que nasceu tímida no solo da terra agora já se tornou uma haste, pendoou e começa a trazer a vitalidade inerente nela mesma.
q Terceiro: o grão cheio da espiga! A vida de Jesus desabrochando – É a Palavra no coração que começa a abençoar outros. A semente, virou espiga, granou e agora produz. A boca fala do que o coração está cheio. A vida interior começa a se tornar uma realidade para fora. A espiga aponta para a abundância, celeiros cheios. Lares vazios agora repletos da semente do reino. Assim é o reino de Deus, que vai florescendo misteriosamente e se materializando na história dos homens, nos lares onde floresce, na vida daqueles que receberam a Palavra e que a viram fecundar.
q Maturidade: pronto para a colheita! Foice (faca de podar). Fala de colheita. Abundância. Vida plena. A vida de Deus trazendo graça.
Ø Colheita na Bíblia é muitas vezes, sinal alegria. Na cultura judaica existe a Festa das Colheitas, onde as pessoas saem para celebrar. Como cresci em fazenda eu sei que dia feliz é o dia da colheita. Coloca-se o feijão no pátio e agora, as crianças vão pisar para que os grãos soltem da vagem. Existe alegria. A colheita foi abundante. A graça de Deus se manifestou.
Ø Esta colheita revela o amadurecimento para o Reino de Deus: Fruto maduro. Gente que recebeu esta palavra e agora abençoa outros. Semente que gera outras sementes. Vida que desabrocha e anuncia outras colheitas em outros momentos. Aquela semente já esteve misteriosamente em outra semente que lhe deu vida e agora, misteriosamente também, será lançada na terra para que o ciclo interminavelmente de vida e colheita se manifeste. Assim é o Reino de Deus.
4. A Nossa responsabilidade é plantar e colher, não fazer crescer
A parábola define claramente os papéis:
· O Semeador lança a semente. Essa é a nossa parte. Somos chamados a ser fiéis na proclamação do Evangelho, a semear a Palavra de Deus em todos os lugares e para todas as pessoas.
· Deus é quem faz a semente crescer. Ele trabalha nos corações e na história, de forma silenciosa e poderosa, garantindo que o crescimento aconteça.
· O Semeador colhe o fruto. Quando o Reino de Deus se manifesta em vidas transformadas e em comunidades frutíferas. Nossa responsabilidade é celebrar e participar da colheita que Deus preparou.
Conclusão:
A parábola de Marcos 4.26-29 é um lembrete tranquilizador para todos que se sentem sobrecarregados pela pressão de "fazer o Reino de Deus acontecer". Ela nos ensina que, enquanto somos chamados para a fidelidade em plantar e a prontidão em colher, o crescimento do Reino é obra de Deus. É um processo misterioso, mas efetivo.
A semente do Reino está nascendo em seu coração?
Gostaria de pedir para que Deus colocasse esta semente em sua vida?
Quando a Palavra de Deus é semeada e nasce em nós, torna-se uma fonte de vida e energia que que vai dar direção, faz nascer a espiga e traz colheita abundante. Por meio da semente do reino, Deus começa um ciclo de sementeira e abundância. Você gostaria de deixar que esta semente frutifique em você?
O Reino de é. Não será!!! Tempo presente. Nesta hora. Neste dia.
Convite a Jesus para começar esta plantação em você. Peça ao Senhor para que ele coloque hoje, agora, esta semente em sua vida. Ofereça o solo do seu coração para que ele seja canteiro no qual a semente de Deus vai brotar.