sábado, 17 de dezembro de 2016

Mc 1.9 Jesus veio


 “Naqueles dias, veio Jesus de Nazaré da Galileia”
Esta é a notícia mais fantástica que podemos apreender no Natal. Jesus veio!
Esta frase é quase sempre a fórmula ideal para entendermos que algo de profundo, dramático e radical vai acontecer. Quando Jesus surge, algo de especial pode ser esperado. A presença de Jesus altera substancialmente o rumo de nossa história. Veja quantas vezes o evangelho demonstra como a vida das pessoas que com ele se encontraram foram transformadas.
Este texto nos fala que Jesus veio naqueles dias para se encontrar com João Batista. Seu batismo é o ponto de partida de seu ministério. Jesus veio!
Todos os evangelhos narram o batismo de Jesus. Isto demonstra o quanto este evento foi importante para os discípulos. A vida de João Batista aponta para um tempo de despertamento espiritual. Literalmente milhares de pessoas deixavam suas casas, atividades, empregos e famílias, vindo das cidades para o deserto a fim de este exótico pregador de hábitos estranhos e rústicos, que vivia esbravejando contra o pecado do povo de Israel. Eles vinham das cidades porque sentiam o tormento de suas culpas, o sentimento de inadequação diante de Deus, e João estava falando de um caminho, uma forma diferente de viver, e o batismo representava o sinal de purificação para aqueles que genuinamente reconheciam suas necessidades diante de Deus e confessavam seus pecados. Milhares de pessoas afluíam para aquele pequeno lugar onde João estava batizando no rio Jordão.
Quando Jesus chegou, João ainda não sabia que ele era o Messias, mas apesar disto disse: “Eu é que preciso ser batizado por ti, e tu vens a mim?” (Mt 3.14). A credencial de Jesus foi manifesta quando ele saiu da água, os céus se abriram, e o Espírito de Deus desceu sobre ele como pomba, e o Pai fez a bendita declaração: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo”(Mt 3.17). Jesus não precisava de arrependimento ou confissão de pecados, nem mesmo batismo. Jesus era perfeito, sem pecado. Por que então ele veio ao encontro de João Batista?
Algumas razões podem ser encontradas:
Primeiro, seu batismo é um ato de identificação conosco. Batismo é algo simbólico, que aponta para alguma coisa bem maior que deve acontecer no coração do homem. Por isto ele também recomendou aos seus discípulos, àqueles que nele viessem crer, que também fossem batizados “em nome do Pai, Filho e Espírito Santo” (Mt 28.18-19). Batismo aponta para algo maior, é um sacramento, “sinal visível de uma graça invisível”.
João era o precursor, e Jesus ao ser batizado nos ensina: “Este é o caminho”
Joao Batista quebra o paradigma religioso, incomoda aqueles que acham que suas tradições são suficientes (Mt 2.7-10). Os judeus acreditavam que o vínculo sanguíneo era bastante, e João estabelece outra dimensão. É preciso se arrepender, parar de viver de forma apenas institucional. Billy Graham afirma que “muitas pessoas se tornam religiosas o suficiente para nunca terem que assumir um compromisso pessoal com Jesus Cristo”. João Batista denuncia o comportamento ritualista e religioso. O batismo de Jesus foi um ato de identificação. Ele tomou nosso lugar na cruz, mas começou no batismo.
Nós temos tantos débitos que jamais poderíamos pagá-los, mas Jesus veio, pagou nossas dívidas e notas promissórias. “Deixa por enquanto, porque, assim, nos convém cumprir toda justiça” (Mt 3.15). ao fazer isto declara sua intenção de cumprir a justiça que Deus demandava para que a dívida de nossos pecados fosse paga.
Em segundo lugar, Jesus foi batizado para servir de exemplo.
João prega arrependimento (Mt 3.1-2), e Jesus inicia seu ministério falando exatamente a mesma coisa. Em sua mensagem inaugural, ele fala de quatro temas (Mc 1.14).
(a)- O Evangelho de Deus - “Foi Jesus para a Galileia, pregando o evangelho de Deus” – Evangelho são boas novas. Os anjos foram os primeiros a anunciarem esta boa notícia quando Jesus nasceu: “O anjo, porém, lhe disse: Não temais; eis que vos trago boa-nova de grande alegria, que o será para todo o povo; é que hoje vos nasceu na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor” (Lc 1.10,11). Jesus é o evangelho, a presença de Deus entre nós. Jesus não veio apenas pregar o evangelho, ele era o evangelho que deveria ser pregado.
Ele trouxe as boas novas de que o poder de Deus pode restaurar o homem caído, tirá-lo de sua condição de pecado e miséria, dar-lhe sentido. A Bíblia afirma que a condição natural do homem é sem esperança, e sem Deus, de fato, a vida do homem é absolutamente impossível.
 (b)- O cumprimento da história – “O tempo está cumprido” A vinda de Jesus inaugura um novo momento na história. “Vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher” (Gl 4.4). A história se plenifica no tempo preparado pelo próprio Deus e se cumpre na pessoa de Jesus e seu nascimento;
(c)- O reino – “o reino de Deus está próximo” As realidades de Deus começam a se manifestar de forma evidente no ministério de Cristo. Marcos fala de algo especial. O que é o “reino de Deus”? Tudo que se relaciona ao projeto de Deus para a humanidade. Estamos rodeados por grandes forças espirituais, do bem e do mal, e Jesus reina supremo sobre todas elas, governando todos os eventos da história, de nossa vida diária e das circunstâncias. Então, quando ouvimos falar do reino de Deus, precisamos pensar que ele governa tudo o que somos e temos. Jesus veio para anunciar que o rei chegou, que Aquele que pode organizar a vida, trazer paz e harmonia e poder, estava presente, e quando ele vem, grandes transformações surgem.
 (d)- Arrependimento – “Arrependei-vos e crede no Evangelho”. Arrependimento é uma mensagem central nas Escrituras, e seu significado literal é mudar de direção. Se nos encontramos com Deus não podemos mais andar nas mesmas estradas antes percorrida, um novo estilo de vida deve ser adotado. Quando Lutero afixou as 95 teses da reforma na Catedral de Wittemberg em 1517, esta foi sua primeira tese: “A vida do cristão precisa ser uma vida de penitência diária”.
(e)- Crede no Evangelho – Parem de confiar na sua justiça própria para salvação eterna e passem a confiar na obre plena e meritória de Cristo Jesus. Não depositem a confiança na sua capacidade moral e espiritual, confie nele!
Em terceiro lugar, o batismo de Jesus foi o momento da manifestação do poder do Espirito Santo sobre sua vida. O texto afirma: “Logo ao sair da água”, isto é “imediatamente”(palavra que surge muitas vezes em Marcos), o Espírito desce sobre ele em forma de pomba. Ele foi ungido para o ministério terreno no ato do batismo, recebendo assim o poder para atender as demandas do ministério que ele enfrentaria. Logo em seguida ele é levado ao deserto para enfrentar o diabo (Mc 1.12-13), não dá para confrontar o tentador sem o poder do Espírito. Depois, entra na sinagoga de Nazaré e declara acerca de si mesmo as palavras proféticas de Isaias (Lc 4.18-19).O que aconteceu com Jesus pode acontecer conosco, na verdade, deve acontecer conosco (At 1.8). O dom do Espírito precisa ser derramado sobre nós para enfrentarmos as lutas e provações diárias, e vivermos vida de santidade diante de Deus.
Qual o símbolo do Espírito Santo? Uma pomba.
Times de futebol sempre usam emblemas como porco, galo, raposa, tigre, mas já viram algum time usar a pomba como símbolo? Por que não? Porque pombas são frágeis, não ameaçam, não resistem aos outros animais. Este é o símbolo do Espirito, o poder do amor, da doçura,
Jesus veio!!!
Tenho encontrado muitas pessoas que receberam a visita de Jesus e foram profundamente transformadas por ele. As mudanças tornam-se perceptíveis na vida e na família de uma pessoa quando Jesus vem. Para nós, nada é mais importante que a manifestação de Jesus em nossa história.
O Autor, Henry Maxwell Wright, expressou muito bem a necessidade de Jesus na sua vida dizendo assim:

Tu, que, sobre a amarga cruz,
Revelaste teu amor;
Tu que vives, ó Jesus!
Vivifica-nos , Senhor!
Vem! Oh! Vem, Jesus, Senhor,
Nossas almas despertar!
Com teu santo e puro amor,
Vem, Senhor! Vem inflamar
Oh! Vem! Oh! Vem
Nossas almas inflamar.

Vem agora consumir
Tudo quanto, ó Salvador,
Quer, altivo, resistir
Ao teu brando e doce amor!
O Deus das Escrituras é um Deus que se manifesta na história e na vida das pessoas.  Este texto nos mostra que Jesus veio.
Conclusão:
Certa vez exortei um homem que fora muito desonesto com os recursos da igreja que lhe foram colocados em sua mão, eu sabia que sua atitude era grave, não apenas pela desonestidade em si, mas porque aquele homem estava roubando das ofertas sagradas que o povo de Deus trazia para a casa do Senhor. Particularmente creio que não há nada mais sagrado do que o dinheiro que é colocado em adoração no gazofilácio da igreja. Eu esperava que houvesse arrependimento, porque confissão e abandono do pecado sempre são lugares especiais da manifestação de Deus, mas apesar de todas as evidências e testemunhas, ele continuou negando e endurecido. Infelizmente não houve lugar para arrependimento em seu coração. Ele insistiu na mentira. Isto é muito sério... arrependimento pode ser muito duro, mas é o lugar onde a presença de Deus pode ser mais visivelmente contemplada. Arrependimento é sempre um lugar para recomeço com Deus, ambiente para mudança de mente, de uma diferente forma de olhar e perceber a forma como estamos agindo e realinhar as necessidades essenciais que precisam ser assumidas ou retomadas. Arrependimento é um lugar sempre propício para o encontro de Deus com o homem.
Jesus veio.
Precisamos agradecer a Deus pelas boas novas que Jesus veio trazer, e que podem tratar da desordem do coração humano e do dilema de sua alma, sem esperança e sem socorro.
Precisamos orar ao pai celestial, para que ele nos ajude a crer  no evangelho, aceitá-lo em nossa vida, e coloca-la sobre estes pressupostos, e não sobre nós mesmos, agir e viver de acordo com a mensagem de Cristo.
A mensagem do Natal nos fala exatamente disto.
Deus resolveu habitar entre nós, ele se humilhou e assumiu forma humana, tornando-se acessível a nós. Por meio do seu Filho, ele se identificou conosco, assumiu nossos pecados, e nos purificou. Esta é a grande notícia do Natal: “O verbo se fez carne e habitou entre nós”.

Ele veio. Aleluia!

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Lucas 2.21-24 A família do Pacto


Jesus e a Famìia


 Introdução:

Vivemos em época de muita dificuldade para criar filhos. O desafio é grande e nos sentimos eventualmente muito frágeis para uma tarefa de tamanha envergadura. Certa pessoa afirmou: “Antes eu não tinha filho, mas tinha seis teorias sobre como cria-los; hoje tenho seis filhos e não tenho mais teoria alguma”.

A Cultura do tempo presente tem seus valores em constante mutação: pluralismo, relativismo, desconstrucionismo, tolerância, subjetivismo, por isto:

q  Educar filhos no caminho do Senhor não é tarefa fácil, muitas vezes temos que fazer a oração de Josafá: “não sabemos o que fazer, porém nossos olhos estão postos em ti” (2 Cr 20.12).

q  Educação baseada num sistema behaviorista, comportamental, baseado em formulas: Dez regras para criar filhos...7 armadilhas da educação...8 passos para... treinamento pavloviano, Skinner (reforço negativo e positivo).

q  O problema: Perdemos a dimensão do que é família à luz da Palavra. Este texto lido nos fala do lar de Jesus, da criação que José e Maria lhe deram. O que há nos princípios, não regras comportamentais como culturas e valores sócias, mas valores eternos nesta família. A coisa mais importante é resgatar o conceito bíblico do pacto, isto é, Deus nos chama para conduzir nossos filhos à herança que ele quer nos dar. Deus pensou nos filhos de seu povo, ao chamá-los (Gn 17.7).

Este texto fala deste principio subjacente à família da Bíblia, que gostaria de considerar: A dimensão da família do Pacto!

1.  A família do pacto vive sob a realidade deste Pacto -
O texto nos mostra que os Pais de Jesus, José e Maria, seguiram rigorosamente um princípio estabelecido a muitos anos atrás, dados por Deus a Abraão: Que todos os filhos deveriam ser trazidos ao Senhor! José, como líder de sua casa, e ao lado de Maria, traz Jesus ao templo. Este texto nos revela duas atitudes dos pais: O circuncidaram ao oitavo dia, como prescrevia a Lei de Moisés e o mandamento do Senhor dado a Abraão.

Pressupostos da circuncisão:
ü  Deus nos escolheu para abençoar nossas famílias, nossa vida e nossas gerações:
§  O chamado de Abraão – “farei uma aliança entre ti e a tua descendência”.
§  a confirmação do pacto a Jacó – Gn 18.13-14
§  O chamado no Novo Testamento: “crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e a tua casa” (At 16.31). Este chamado não é resultante de nossa auto-confiança, mas da graça de Deus, confiança plena na obra de Cristo.
ü  Deus nos deu um sinal deste pacto: a circuncisão!
  • No At, Deus deu um sinal deste pacto. A circuncisão! Este texto de Lucas nos revela que Jesus foi, rigorosamente, circuncidado ao 8o. Dia, de acordo com a Lei Mosaica. A circuncisão havia sido dada a Moisés (Gn 17.9-14). A ausência do cumprimento deste pacto era para Deus a quebra da aliança (Gn 17.14).
  • A família do pacto era responsável por ensinar à nova geração as obras de Deus (Sl 78.4-7)
  • O pacto lembrava as pessoas que, mais importante do que o que faziam era o que Deus havia feito por eles, e que Deus tinha um compromisso de cuidar do seu povo, e faria a história  no povo de Deus, através do povo e a despeito do povo. Família era uma questão teológica, porque as pessoas viviam de acordo com aquilo que pensavam.
  • Por esta causa, os filhos jamais deveriam ser oferecidos a outros deuses. Lev 20.2-5

Aplicações:
  • O que vai na mente de José e Maria? Traziam seu filho porque ele era participante da graça de Deus. Para aqueles que afirmam que criança não sabe nada eu pergunto: será que as crianças de AT sabiam alguma coisa ao 8o. dia?
A base do batismo de crianças tem sido perdida: devemos batizar nossos filhos, porque fazem parte de uma família pactual: nossos filhos são herdeiros no pacto da graça!
O ponto de partida para entendermos esta doutrina é a circuncisão. Devemos entender o que ia na mente de um casal piedoso como José e Maria, quando traziam seu filho para sacrificarem no templo e o circuncidaram.
  • Por que batizamos nossos filhos: cultural, social? Se perguntarmos aos pais que batizam seus filhos, sejam eles metodistas, presbiterianos, anglicanos, católicos, reformados, quantos seriam capazes de abrir a Bíblia, ou de darem razão teológica porque devem trazer seus filhos a Deus?
Por esta razão, aqueles que não batizam se justificam: Isto é apenas um ritual, ou, isto é pratica católica.
  • A compreensão do Velho e Novo Testamento - Talvez você pergunte: o que esta história antiga tem a ver comigo? Na verdade, muitas pessoas não entendem a Bíblia porque não entendem o AT. Todo ensinamento do NT tem sus raízes no At.
ü  Para se entender a doutrina do pecado, devemos começar em Gênesis.
ü  Se quiser entender a doutrina da cruz, temos que nos reportar ao conceito levítico do derramamento de sangue.
ü  De acordo com este testamento, como Abraão foi salvo? Compare os textos de Gn 15.6 com Rm 4.9. Pela graça, mediante a fé, assim como salvos hoje: pela graça, mediante a fé!
ü  Caso você queira entender a importância de trazer seu filho para o batismo, comece no AT.
Em Gen 17.7, Deus fala de uma “aliança perpétua”. Um pacto de geração a geração, dando-lhes um sinal muito claro: no órgão reprodutor masculino (Gn 17.11). Por que alguma coisa tão específica assim? Deus queria deixar o símbolo claro. Assim como o anel representa o casamento, mas não é o casamento em si, a circuncisão não transforma automaticamente uma pessoa em um judeu, mas significa que ele estava debaixo de um compromisso pactual com Deus (Rm 4.11), assim como o batismo não salva.
A quem deveria ser aplicado a circuncisão? A todos os que criam estar debaixo do pacto de um povo eleito, escolhido por Deus. Não era um rito para os pagãos, mas para os filhos cujos pais estavam debaixo do pacto. Deus é claro nesta ordem” Todo macho entre vós será circuncidado ao 8o dia”. Isto é agressivo à nossa mentalidade evangélica atual. Os argumentos são tão simplistas como esse: Para que circuncidar ou batizar a crianças tão novas se elas não creem?
Ficamos com uma pergunta na mente. Por que Deus mandou Abraão circuncidar seu filho, ao oitavo dia. Será que eles tinham mais consciência naqueles tempos que tem em nossos dias? Apesar de serem crianças, e não poderem responder por si mesmas, todas as crianças deveriam ser circuncidadas. Todos os filhos de pais que criam que estavam, ele e sua família, debaixo do pacto e da benção como povo pertencente a Deus. Este rito não era para pagãos, mas para os filhos e herdeiros de uma grande promessa de que Deus abençoaria toda a sua geração.

  1. A família do pacto revela interesse em cumprir os preceitos deste pacto, entre tais, o de ser apegado a Palavra de Deus –
Este texto de Lucas 2.21-23 nos mostra os pais de Jesus, Maria e José, trazendo seu filho ao templo. Qual era o objetivo de o trazerem ao templo? O texto revela pelo menos alguns princípios:
  1. Ao oitavo dia circuncidaram Jesus (Lc 2.21). Por reconhecerem que ele estava debaixo de um pacto geracional, segundo a Lei de Moisés. Pertencia ao povo de Deus.
  2. Após a purificação, levaram-no a Jerusalém, porque era ordem de Deus – “Segundo a lei de Moisés” (Lc 2.22).
  3. Trazem ofertas ao Senhor, “segundo o que está escrito” (2.24). Trazer ofertas é uma forma de expressar gratidão, prática esta comum do povo de Deus. Trouxeram uma oferta de gratidão ao Senhor pelo nascimento de seu filho, e por serem pobres, trouxeram “um par de rolas ou dois pombinhos”, se fossem ricos deveriam trazer coisas mais valiosas como cordeiros ou novilhos. Eu não consigo entender uma fé na qual as pessoas não se sentem desafiadas a trazer ofertas a Deus.

A família do pacto tem os olhos fitos na Palavra de Deus, entende que precisa ensinar à nova geração (Sl 78.4-7), e que mais importante do que o que podemos fazer por Deus, é o que Deus já tem feito por nós, através de nós, e a despeito de nós. Família é uma questão teológica, antes de ser cultural, antropológica, psicológica ou sociológica.
A família do pacto sabe que é Deus quem a sustenta. Uma família abençoada não depende apenas de um esforço comportamental e religioso. Deus está sobre ele, sua marca se estabelece sobre ela, Deus fez um pacto com ela. Baseados nisto é que batizamos nossos filhos.

O pacto possuía algumas características: [1]
v  Era relacional – O nosso Deus é pessoal, se ligando a nós e adotando-nos como seus filhos, aceitando-nos em sua família, não por causa de nosso desempenho moral ou espiritual, mas por sua graça. Os olhos de Deus estão mantidos em Cristo, para que este pacto seja sustentado. A palavra chave na Bíblia é relacionamento.
v  O pacto é iniciado soberanamente – quanto mais entendemos esta iniciativa divina, mais entendemos que não merecemos nada. Deus inicia e conduz o processo. “Ele efetua em nós tanto o querer quanto o realizar, segundo a sua boa vontade” (Fp 2.13)
v  O pacto é sustentado por Deus – O espírito Santo é o seu penhor (Ef 1.14). Ficamos muitas vezes preocupados com desacertos e equívocos que cometemos. A verdade é que erraremos mesmo, por isto devemos sempre estar olhando para a cruz. Isto, obviamente, não deve servir para nos justificarmos de erros e levar-nos a uma vida desatenta.
v  O pacto é corporativo – A salvação é pessoal, mas Deus não nos trata apenas como indivíduos. Ele nos adota em sua família. Somos uma família da fé, uma comunidade pactual, e por isto, ligado a gerações. Uma geração é responsável por outra. É familiar. Desde o principio Deus operou através da família. “Não trabalharão debalde, nem terão filhos para a calamidade, porque são a posteridade bendita do Senhor, e os seus filhos estarão com eles” (Is 65.23).

José e Maria entendem isto.
Será que a forma de Deus enxergar os pactos no AT é diferente de hoje? (1 Co 7.14). Será que existe algum rito de iniciação no NT que deva ser aplicado a igreja nos dias de hoje?

Charles Hodge, famoso teólogo, professor em Princeton no Séc XIX, afirmou:
“À vista de Deus pais e filhos são um só. Os primeiros São os representantes autorizados destes últimos, agem por eles, contraem obrigações em nome deles. Em todos os casos, portanto, onde os pais entram num pacto com Deus, eles levam consigo seus filhos... Se um homem se unisse à comunidade de Israel, ele assegurava para seus filhos os benefícios da teocracia, a não ser que estes filhos voluntariamente os renunciassem. E assim, quando um crente adota o pacto da graça, ele traz seus filhos para dentro dessa aliança, no sentido que Deus lhes promete dar, no tempo determinado por ele, todos os benefícios da redenção, se eles não renunciarem, voluntariamente ao seu comprometimento batismal”[2]
José e Maria levam Jesus ao templo por causa do legado da graça que está sobre eles.somos salvos pela graça, vivemos pela graça, e estamos na família de Deus por causa da graça.

  1. A família do pacto cria ambiente para que a fé dos filhos se desenvolva de forma natural e plena – Lc 2.39,40,52.

Em Lucas 2.52 lemos que Jesus crescia de forma equilibrada.
3.1 Crescimento em sabedoria – (sofia) Área da emoção e da mente - Qual o tipo de ensino intelectual que nossos filhos recebem? Temos o grande desafio de respondermos seus dilemas emocionais, dando-lhes respostas amadurecidas e claras.

2. Crescimento em estatura - (elikia) Área física. Como menino, Jesus cresceu num lar que protegia sua integridade física, dando-lhe aquilo que era necessário a sua saúde e alimentação.

3. Crescimento em graça diante de Deus - (karis) Área espiritual. Jesus viu em casa um modelo onde o temor do Senhor era percebido, na vida dos seus pais, na experiência do lar. Ali ele desenvolveu sua fé e aprendeu a gostar das coisas de Deus. Muitos de nossos filhos não descrêem do Evangelho, nem de Jesus, mas do tipo de Evangelho e de cristianismo que se tem vivido.

4. Crescimento em graça diante dos homens – (kariti/antropois) Área Social.  Jesus cresceu como uma criança integrada à sua sociedade, tinha graça diante dos homens. O equilíbrio interno gera equilíbrio nas relações. Devemos lutar pela criança socializada, não animalizada. Crianças que nascem em lares desequilibrados crescem frágeis, Lares marcados pela mentira, ódio, violência ou ressentimento crescem desconfiadas e inseguras. Crianças de lares repletos de críticas, encontram dificuldade na auto-aceitação e auto-imagem. Crianças de lares onde a graça é demonstrada, aprendem o respeito.

Jesus cresce num ambiente onde pode crescer por inteiro. Não era resultado de uma geração “cogumelo”, onde a cabeça crescia e o peito (afetos), diminuíam. Encontrou acolhimento num lar onde não se amava as coisas e se usava as pessoas, onde sucesso não era mais importante que honestidade, nem bens materiais mais importante que Deus.

Conclusão:
Falamos da família do pacto, mas antes de concluir, deixe-me ser o mais direto possível: Não há possibilidade de ser uma família que vive debaixo do pacto de Deus, sem que os pais venham para esta abençoada condição, de estarem fazendo alianças com Deus.
O texto de At 16 31 diz: “crê no senhor Jesus, e serás salvo, tu e tua casa”. A salvação em sua casa começa com você, tem que começar em nós, como pais. Nossa aliança com Deus, vai refletir-se na vida de nossos filhos. Pais comprometidos e que se entendem debaixo desta graça, verão a o amor de Deus se revelando em seus lares. Muitos pais querem assumir compromissos pelos filhos, sem que eles mesmos queiram vir a Deus.
Mas a palavra de Deus nos diz que tudo começa em nós, numa entrega pessoal de nossa vida a Jesus. Numa rendição plena de nosso caráter a Deus. Para que a benção se revela em nossa casa, nós, como pais, precisamos nos entender como representantes de Deus para as futuras gerações. Não abra mão deste valor bíblico tão claro!
Por isto eu insisto que você se arrependa hoje de seus pecados, e abra seu coração a Jesus. Não deixe de faze-lo hoje. Diga a Deus que você deseja fazer um pacto, entregando sua vida a ele, e que você quer fazer este pacto para que sua família toda seja acolhida debaixo desta unção e benção que Deus tem para sua vida.

Que Deus nos ajude.




[1] Hunt, Susan – A graça que vem do lar, São Paulo, Cultura Cristã, 2002, pg 28
[2] Idem, pg 30

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Qual é a mensagem do Natal?

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Mais uma vez está chegando o Natal. Naturalmente surge um clima de agitação e burburinho, reflexo do cansaço e stress alternados com expectativa e planejamento. Hora de balancetes, orçamentos, relatórios, entrega de trabalhos, TCCs, notas, viagens, presentes de natal, agitação das compras, lojas lotadas e supermercados concorridos.

Quando Machado de Assis estava mais velho fez a seguinte indagação: “O natal que mudou, ou fui eu?”. Obviamente o Natal continua o mesmo, mas se não tomarmos cuidado, poderemos esvaziá-lo e torná-lo sem sentido. Qual é a sua mensagem?

Natal é, antes de tudo, a lembrança de um evento histórico e geográfico. Quando os anjos anunciam aos assustados pastores a notícia do nascimento de Jesus, lhes declarou: “Hoje vos nasceu na cidade de Davi, o Salvador”. Os anjos situam o evento no tempo e no espaço. Não se trata de um mito ou lenda como a de papai noel, duendes e fadas. Naqueles dias, César Augusto era o Imperador de Roma; Quirino era governador da Síria; Herodes, o grande, rei em Israel. Jesus não é um evento a-histórico, metafísico, mas um acontecimento que tem data. Sua geografia também é conhecida, Na cidade de Davi (Lc 2.11,15). Os céus invadem a terra, o não temporal se torna temporal, o espiritual se encarna.

Os anjos ainda anunciam que o natal seria marcado por um sinal quando dizem: E isto vos servirá de sinal”. Qual é o grande sinal do Natal? Os anjos o descrevem: Uma criança deitada numa manjedoura, num coxo onde os animais se alimentavam. Este é o sinal. Se não o observarmos, perderemos a mensagem. Este sinal aponta para algumas direções:

O primeiro é o de vulnerabilidade. Uma criança, de colo, completamente frágil, nascendo num ambiente insalubre, não esterilizado, dependendo dos cuidados de uma adolescente que afirmava ter sido engravidada pelo Espírito Santo. Não é estranho este mistério da encarnação? Este é o paradoxo do Deus da Bíblia. Um Deus humano, vulnerável, que deixa sua glória para se humanizar. O infinito se torna finito numa pessoa, num local e num tempo específico da história.

O segundo sinal é o da simplicidade. Ele estava deitado num coxo num curral na periferia de Belém, lugar onde abrigavam animais, tudo demasiadamente simples. O Deus que se torna humano, poderia ter nascido em qualquer lugar, mas decide ser acolhido por gente simples como os pastores. A maior revelação de Deus na história se faz sem nenhuma pompa, esta é a característica marcante do natal. A figura da criança revela a fraqueza dos homens e a instrumentalidade divina. Manjedoura é sinal de humildade. Há uma denúncia clara neste nascimento no meio de tanta simplicidade.

Qual deve ser nossa resposta ao Natal? Um dos aspectos mais negativos do Natal, tem sido a reação de descaso com o nascimento deste menino. No meio da agitação do final de ano, tendemos a desviar nossa atenção e a perder o foco. O Papai Noel, figura simbólica do Natal facilmente rouba a cena do evento do Natal.


Muitas famílias estarão se reunindo neste natal. Se não tomarmos cuidado podemos perder de vista o nascimento do Messias. A espiritualidade do Evangelho nos conduz até Belém. Ali está todo mistério de Deus revelado. Este menino revela-nos a imagem de Deus. Percebê-lo como ele é nos faz nos faz aproximar da divindade, e nos torna mais humano, assim como ele é.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Lc 1.34 Como será isto?


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Como será isto?

Esta foi a pergunta de Maria ao anjo Gabriel, quando soube que daria a luz a um filho, sem que tivesse qualquer relação sexual com um homem. Biologicamente isto era impossível para aqueles dias, sem os avanços da medicina que propicia bebê de proveta, inseminação artificial e tem estudos avançados em clonagem. Maria, legitimamente expressa o desejo de conhecer a fórmula e o método que Deus usaria, daí a pergunta apropriada: “Como será isto?”

Esta é uma pergunta comum dos seres humanos quando se veem diante de algo sobrenatural ou inexplicável. Como é possível? 

Esta foi a pergunta feita pelos assustados homens que presenciaram o derramamento do Espirito Santo no dia do Pentecoste. “Como os ouvimos falar em nossas próprias línguas as grandezas de Deus” (At 2.11). São pessoas que querem saber sobre a mecânica, o funcionamento, querem saber o “como”, a fórmula que Deus usa para realizar o milagre. Embora não haja nada errado em perguntas como estas, corremos o risco de ficarmos tentando entender o processo, sem nos apropriarmos da benção.

Talvez a necessidade humana de saber o “como”, revele o desejo do homem de não perder o controle dos fatos, ter o controle dos eventos, ou antecipar o próximo lance de Deus, mas Deus nunca andou pelo convencional e nunca gastou tempo para explicar como realizaria o milagre. Ele é Deus, e por sua natureza usa a prerrogativa do inusitado para fazer o que intende fazer. Os homens talvez acreditem que, se puderem explicar os eventos, talvez seria mais fácil equacioná-lo (palavra bem matemática...”, e assim seriamos menos surpreendidos com as intervenções sobrenaturais de Deus. 


O ponto, porém, é que uma das prerrogativas da divindade é surpreender. Um evento só pode ser considerado miraculoso se não pode ser explicado, ele “transgride” o convencional, sai da esfera da normalidade e do senso comum. Por isto é chamado “milagre”. A grande questão, porém, não é encontrar respostas àquilo que não pode ser explicado, mas deixar-se surpreender pela maravilha do evento. Maria certamente continuou sem entender o que estava acontecendo, mas de forma obediente e submissa diz: “Aqui está a serva do Senhor, que se cumpra em mim a tua palavra” (Lc 1.38). Maria não entende o processo, mas desfruta do milagre; não entende a lógica, mas regozija-se em Deus. 

Na obra "Proslógio", capítulo 1, Santo Anselmo, um dos pais da igreja, apresenta uma exortação para se conhecer a Deus. No final do capítulo, ele faz a afirmação "...efetivamente creio, pois, se não cresse, não poderia compreender". Para Anselmo de Cantuária, a compreensão só pode surgir após a fé. Conceito parecido exprimiu Santo Agostinho ao dizer: "creio para entender, entendo para crer". “Creio tudo o que entendo, mas nem tudo que creio também entendo. Tudo o que compreendo conheço, mas nem tudo que creio conheço.” este é um princípio que conecta fé e razão: “Crê para compreender, compreende para crer.
(Agostinho. De Magistro. São Paulo: Abril Cultural, 19733 p. 319. Coleção “Os Pensadores”).

O racionalismo nos faz pensar que sem entender não posso crer. Só é possível crer naquilo que for possível explicar cientificamente. Em outras palavras: “Eu creio porque a ciência provou que isto é verdade!”. O problema é que para acreditar apenas no que a razão conseguir comprovar cientificamente, não há necessidade de fé. Fé tem a ver com a capacidade de ver o que não se pode equacionar ou aquilo que não se vê. Esta é a definição clássica: “Certeza de coisas que se esperam, convicção de fatos que não se veem” (Hb 11.1). Os milagres, a vida, a ressurreição de Cristo e a própria realidade de Deus, podem ser apreendidos pela ciência. A razão sozinha pode até ter certo conhecimento limitado de Deus (Rm 1.20), mas a revelação é quem ilumina o homem ao conhecimento das realidades divinas.
Existem muitas coisas que a humanidade não consegue explicar, apesar da pesquisa e da ciência. Billy Graham afirmou numa palestra a uma seleta plateia em Harvard que há três coisas que o homem não consegue explicar:

i. O mistério da Morte – Como equacionar a transitoriedade humana, que pessoas ainda tão jovens sejam levadas, que a vida seja tão rápida e misteriosa?

ii. O mistério do sofrimento – Por que sofremos? Porque pessoas inocentes sofrem tantos abusos e dores? Qual é a razão da enfermidade?

iii. O mistério do Mal – Por que o mal existe no mundo? São relatos tão cruéis, porque tais homens não são simplesmente destruídos?

Em todas estas coisas precisamos de humildade para descansar. Jó experimentou tudo isto, mantendo sua perspectiva de fé: “Eu sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado”. Ele faz esta afirmação rodeado por eventos complexos que exigem dos seres humanos respostas radicais. Jó estava perplexo com sua própria dor.

Dt 29:29 muitas vezes se torna a única resposta ambígua que conseguimos dar: “As coisas encobertas pertencem ao Senhor, nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos, para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei”. 

Maria nos ensina dependência e submissão, os eventos de Deus nunca serão plenamente compreendidos. Maria nos ensinar a admirar o mistério e sujeitar-se a Deus, entendendo que ele usa o método que quer, para realizar seu plano. Maria se disponibiliza para receber de Deus o maior evento que aconteceria na humanidade. Que evento pode ser maior do que Deus se tornando humano e habitando entre nós? Maria disponibiliza o seu corpo para deus e se rende ao seu mistério. Não sabe explicar o “como”, mas deixa-se ser absorvida pelo milagre e sobrenaturalidade do Eterno.
Maria certamente ouviu muitas pessoas questionando e suspeitando sobre sua gravidez. Imagine as indagações dos seus pais no outro dia de manhã quando os surpreendeu afirmando que estava grávida do Espirito Santo? Como você reagiria se sua filha adolescente lhe dissesse isto? Maria teve que se explicar, e parece que não conseguiu fazer isto muito bem, ao seu desposado marido José, que não se convenceu muito bem e resolveu deixá-la secretamente para não difamá-la. Os perplexos vizinhos faziam chacota da sua estranha aparição grávida do Espírito Santo. A situação foi tão perturbadora que ela saiu de casa para visitar sua prima Isabel, que estava morando nas regiões montanhosas da Judeia, e por ali ficou três meses, uma visita bem demorada, não acham? (Lc 1.56). Apenas Isabel, com sua recente experiência miraculosa, poderia entende-la e protegê-la dos comentários difamatórios de sua cidade.

Maria se dispôs a Deus, submissa e obedientemente se entregou numa surpreendente pureza de coração e fé. 

Os homens antigos e modernos continuarão buscando explicações, fazendo perguntas, tentando achar respostas aos métodos inusitados de Deus. Maria simplesmente se submete ao mistério e se deleita em ser a mãe do Messias, o libertador de Israel. “Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra” (Lc 1.38). Não entende o processo, mas desfruta o milagre. Maria se rende e cessam as necessidades de explicação. 

“Como ele te abriu os olhos?”

O capitulo 9 de João é um diálogo intenso e profundo de um jovem, cego de nascença, que foi curado por Jesus. Os líderes religiosos indagam várias vezes sobre o processo e método de sua cura. Em Jo 9.10 perguntam: “Como te foram abertos os olhos?” Ele respondeu: “O homem chamado Jesus untou-me os olhos e disse-me: vai ao tanque de Siloé e leva-te. Então, fui, lavei-me e estou vendo” (Jo 9.16). Os fariseus indagaram: “Como pode um homem pecador fazer tamanhos sinais? E houve dissensão entre eles”. Os pais dão a resposta que melhor se coaduna com a fé: “Sabemos que este é nosso filho e que nasceu cego, mas não sabemos como vê agora” (Jo 9.21,22). 
Para eles, o ponto essencial não era entender o mecanismo do Sagrado e a forma como Deus faz, mas reconhecer nisto o milagre e a obra de Deus. 
Em Jo 9.26, perguntaram novamente ao jovem: “Como te abriu os olhos?” Curiosamente o texto revela que quem estava muito preocupado com o processo e o método, não creu em Jesus apesar das evidências de que um milagre maravilhosa se dera entre eles. Se perderam na especulação, não glorificaram a Deus. O jovem restaurado, ao ouvir que este homem era pecador, afirmou: “Se ele era pecador eu não sei, mas eu era cego e agora vejo!

Como escaparemos?

Existe, porém, um “como” que precisa ser considerado. Ele foi feito pelo escritor da carta aos Hebreus.
Depois de analisar a grandeza de Jesus, e afirmar que Deus havia falado de muitas formas e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nos últimos dias estava falando por meio de seu Filho, a expressão exata de seu ser, Jesus. Ele era maior que o Moisés, o admirável líder e legislador judeu; ele era maior que os anjos, no entanto, se desvestiu de sua glória e se tornou o nosso sumo sacerdote, intercedendo por nós junto ao Pai. Diante desta compreensão ele pergunta:

“Como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação” (Hb 2.3)

Este mesmo Jesus, morre numa cruz para pagar o preço de nossos pecados. Esta é uma oferta de amor de Deus. Então, como escaparemos se negligenciarmos tão grande salvação? Como comparecemos diante do Pai, se nos recusarmos a receber a salvação que nos é gratuitamente dada pelo Pai, através do Filho?
Este “como” não é explicativo, mas inquietante.
Ele tem a ver com a vida eterna – e “tudo que não é eterno é eternamente inútil”, como afirmou C.S. Lewis.

Conclusão: Explicação ou encantamento?

É muito fácil perder-se nas questões filosóficas, nos “porquês”, e nas questões metodológicas, o “como”, e tornar-se incapaz de desfrutar a grandeza de Deus. Racionalistas e mecanicistas, procuramos explicações para a lógica da vida, as ambiguidades do mal, a angústia da morte e o peso do sofrimento, e nos perdemos...

Este mal atinge particularmente os religiosos. Talvez por isto Jesus não tenha adotado um modelo de cura. Já imaginaram se tivesse feito de uma forma só? Certamente sacralizaríamos os métodos. Por isto, muitas vezes curou apenas dando ordens à enfermidade, outras vezes, estando a distância, em algumas situações, bizarramente, pegou saliva dos seus lábios e aplicou nos lábios de um surdo mudo que desatou a falar; em outra ocasião, cuspiu no chão, fez lodo e aplicou nos olhos de um cego que passou a ver. Quão grande e diversificado são seus métodos. Se adotasse apenas um destes, logo teríamos uma horda de pregadores empolgados fazendo a unção do cuspe...
Precisamos adentrar o mistério. Como teólogos, estudantes, juristas, médicos, professores, podemos ficar na periferia, sem adentrar o mistério de Deus. Talvez até expliquemos questões relacionadas à fé e à razão, mas sem sermos penetrados pelos eventos da divindade. 

Maria, entretanto, se disponibiliza para receber de Deus o evento maior da humanidade. Deus estava assumindo a forma humana, se tornando gente como a gente. Maria não entende como tudo isto se dará, mas é absorvida pela grandeza e milagre de Deus submissamente.