terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Lucas 2.21-24 A família do Pacto


Jesus e a Famìia


 Introdução:

Vivemos em época de muita dificuldade para criar filhos. O desafio é grande e nos sentimos eventualmente muito frágeis para uma tarefa de tamanha envergadura. Certa pessoa afirmou: “Antes eu não tinha filho, mas tinha seis teorias sobre como cria-los; hoje tenho seis filhos e não tenho mais teoria alguma”.

A Cultura do tempo presente tem seus valores em constante mutação: pluralismo, relativismo, desconstrucionismo, tolerância, subjetivismo, por isto:

q  Educar filhos no caminho do Senhor não é tarefa fácil, muitas vezes temos que fazer a oração de Josafá: “não sabemos o que fazer, porém nossos olhos estão postos em ti” (2 Cr 20.12).

q  Educação baseada num sistema behaviorista, comportamental, baseado em formulas: Dez regras para criar filhos...7 armadilhas da educação...8 passos para... treinamento pavloviano, Skinner (reforço negativo e positivo).

q  O problema: Perdemos a dimensão do que é família à luz da Palavra. Este texto lido nos fala do lar de Jesus, da criação que José e Maria lhe deram. O que há nos princípios, não regras comportamentais como culturas e valores sócias, mas valores eternos nesta família. A coisa mais importante é resgatar o conceito bíblico do pacto, isto é, Deus nos chama para conduzir nossos filhos à herança que ele quer nos dar. Deus pensou nos filhos de seu povo, ao chamá-los (Gn 17.7).

Este texto fala deste principio subjacente à família da Bíblia, que gostaria de considerar: A dimensão da família do Pacto!

1.  A família do pacto vive sob a realidade deste Pacto -
O texto nos mostra que os Pais de Jesus, José e Maria, seguiram rigorosamente um princípio estabelecido a muitos anos atrás, dados por Deus a Abraão: Que todos os filhos deveriam ser trazidos ao Senhor! José, como líder de sua casa, e ao lado de Maria, traz Jesus ao templo. Este texto nos revela duas atitudes dos pais: O circuncidaram ao oitavo dia, como prescrevia a Lei de Moisés e o mandamento do Senhor dado a Abraão.

Pressupostos da circuncisão:
ü  Deus nos escolheu para abençoar nossas famílias, nossa vida e nossas gerações:
§  O chamado de Abraão – “farei uma aliança entre ti e a tua descendência”.
§  a confirmação do pacto a Jacó – Gn 18.13-14
§  O chamado no Novo Testamento: “crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e a tua casa” (At 16.31). Este chamado não é resultante de nossa auto-confiança, mas da graça de Deus, confiança plena na obra de Cristo.
ü  Deus nos deu um sinal deste pacto: a circuncisão!
  • No At, Deus deu um sinal deste pacto. A circuncisão! Este texto de Lucas nos revela que Jesus foi, rigorosamente, circuncidado ao 8o. Dia, de acordo com a Lei Mosaica. A circuncisão havia sido dada a Moisés (Gn 17.9-14). A ausência do cumprimento deste pacto era para Deus a quebra da aliança (Gn 17.14).
  • A família do pacto era responsável por ensinar à nova geração as obras de Deus (Sl 78.4-7)
  • O pacto lembrava as pessoas que, mais importante do que o que faziam era o que Deus havia feito por eles, e que Deus tinha um compromisso de cuidar do seu povo, e faria a história  no povo de Deus, através do povo e a despeito do povo. Família era uma questão teológica, porque as pessoas viviam de acordo com aquilo que pensavam.
  • Por esta causa, os filhos jamais deveriam ser oferecidos a outros deuses. Lev 20.2-5

Aplicações:
  • O que vai na mente de José e Maria? Traziam seu filho porque ele era participante da graça de Deus. Para aqueles que afirmam que criança não sabe nada eu pergunto: será que as crianças de AT sabiam alguma coisa ao 8o. dia?
A base do batismo de crianças tem sido perdida: devemos batizar nossos filhos, porque fazem parte de uma família pactual: nossos filhos são herdeiros no pacto da graça!
O ponto de partida para entendermos esta doutrina é a circuncisão. Devemos entender o que ia na mente de um casal piedoso como José e Maria, quando traziam seu filho para sacrificarem no templo e o circuncidaram.
  • Por que batizamos nossos filhos: cultural, social? Se perguntarmos aos pais que batizam seus filhos, sejam eles metodistas, presbiterianos, anglicanos, católicos, reformados, quantos seriam capazes de abrir a Bíblia, ou de darem razão teológica porque devem trazer seus filhos a Deus?
Por esta razão, aqueles que não batizam se justificam: Isto é apenas um ritual, ou, isto é pratica católica.
  • A compreensão do Velho e Novo Testamento - Talvez você pergunte: o que esta história antiga tem a ver comigo? Na verdade, muitas pessoas não entendem a Bíblia porque não entendem o AT. Todo ensinamento do NT tem sus raízes no At.
ü  Para se entender a doutrina do pecado, devemos começar em Gênesis.
ü  Se quiser entender a doutrina da cruz, temos que nos reportar ao conceito levítico do derramamento de sangue.
ü  De acordo com este testamento, como Abraão foi salvo? Compare os textos de Gn 15.6 com Rm 4.9. Pela graça, mediante a fé, assim como salvos hoje: pela graça, mediante a fé!
ü  Caso você queira entender a importância de trazer seu filho para o batismo, comece no AT.
Em Gen 17.7, Deus fala de uma “aliança perpétua”. Um pacto de geração a geração, dando-lhes um sinal muito claro: no órgão reprodutor masculino (Gn 17.11). Por que alguma coisa tão específica assim? Deus queria deixar o símbolo claro. Assim como o anel representa o casamento, mas não é o casamento em si, a circuncisão não transforma automaticamente uma pessoa em um judeu, mas significa que ele estava debaixo de um compromisso pactual com Deus (Rm 4.11), assim como o batismo não salva.
A quem deveria ser aplicado a circuncisão? A todos os que criam estar debaixo do pacto de um povo eleito, escolhido por Deus. Não era um rito para os pagãos, mas para os filhos cujos pais estavam debaixo do pacto. Deus é claro nesta ordem” Todo macho entre vós será circuncidado ao 8o dia”. Isto é agressivo à nossa mentalidade evangélica atual. Os argumentos são tão simplistas como esse: Para que circuncidar ou batizar a crianças tão novas se elas não creem?
Ficamos com uma pergunta na mente. Por que Deus mandou Abraão circuncidar seu filho, ao oitavo dia. Será que eles tinham mais consciência naqueles tempos que tem em nossos dias? Apesar de serem crianças, e não poderem responder por si mesmas, todas as crianças deveriam ser circuncidadas. Todos os filhos de pais que criam que estavam, ele e sua família, debaixo do pacto e da benção como povo pertencente a Deus. Este rito não era para pagãos, mas para os filhos e herdeiros de uma grande promessa de que Deus abençoaria toda a sua geração.

  1. A família do pacto revela interesse em cumprir os preceitos deste pacto, entre tais, o de ser apegado a Palavra de Deus –
Este texto de Lucas 2.21-23 nos mostra os pais de Jesus, Maria e José, trazendo seu filho ao templo. Qual era o objetivo de o trazerem ao templo? O texto revela pelo menos alguns princípios:
  1. Ao oitavo dia circuncidaram Jesus (Lc 2.21). Por reconhecerem que ele estava debaixo de um pacto geracional, segundo a Lei de Moisés. Pertencia ao povo de Deus.
  2. Após a purificação, levaram-no a Jerusalém, porque era ordem de Deus – “Segundo a lei de Moisés” (Lc 2.22).
  3. Trazem ofertas ao Senhor, “segundo o que está escrito” (2.24). Trazer ofertas é uma forma de expressar gratidão, prática esta comum do povo de Deus. Trouxeram uma oferta de gratidão ao Senhor pelo nascimento de seu filho, e por serem pobres, trouxeram “um par de rolas ou dois pombinhos”, se fossem ricos deveriam trazer coisas mais valiosas como cordeiros ou novilhos. Eu não consigo entender uma fé na qual as pessoas não se sentem desafiadas a trazer ofertas a Deus.

A família do pacto tem os olhos fitos na Palavra de Deus, entende que precisa ensinar à nova geração (Sl 78.4-7), e que mais importante do que o que podemos fazer por Deus, é o que Deus já tem feito por nós, através de nós, e a despeito de nós. Família é uma questão teológica, antes de ser cultural, antropológica, psicológica ou sociológica.
A família do pacto sabe que é Deus quem a sustenta. Uma família abençoada não depende apenas de um esforço comportamental e religioso. Deus está sobre ele, sua marca se estabelece sobre ela, Deus fez um pacto com ela. Baseados nisto é que batizamos nossos filhos.

O pacto possuía algumas características: [1]
v  Era relacional – O nosso Deus é pessoal, se ligando a nós e adotando-nos como seus filhos, aceitando-nos em sua família, não por causa de nosso desempenho moral ou espiritual, mas por sua graça. Os olhos de Deus estão mantidos em Cristo, para que este pacto seja sustentado. A palavra chave na Bíblia é relacionamento.
v  O pacto é iniciado soberanamente – quanto mais entendemos esta iniciativa divina, mais entendemos que não merecemos nada. Deus inicia e conduz o processo. “Ele efetua em nós tanto o querer quanto o realizar, segundo a sua boa vontade” (Fp 2.13)
v  O pacto é sustentado por Deus – O espírito Santo é o seu penhor (Ef 1.14). Ficamos muitas vezes preocupados com desacertos e equívocos que cometemos. A verdade é que erraremos mesmo, por isto devemos sempre estar olhando para a cruz. Isto, obviamente, não deve servir para nos justificarmos de erros e levar-nos a uma vida desatenta.
v  O pacto é corporativo – A salvação é pessoal, mas Deus não nos trata apenas como indivíduos. Ele nos adota em sua família. Somos uma família da fé, uma comunidade pactual, e por isto, ligado a gerações. Uma geração é responsável por outra. É familiar. Desde o principio Deus operou através da família. “Não trabalharão debalde, nem terão filhos para a calamidade, porque são a posteridade bendita do Senhor, e os seus filhos estarão com eles” (Is 65.23).

José e Maria entendem isto.
Será que a forma de Deus enxergar os pactos no AT é diferente de hoje? (1 Co 7.14). Será que existe algum rito de iniciação no NT que deva ser aplicado a igreja nos dias de hoje?

Charles Hodge, famoso teólogo, professor em Princeton no Séc XIX, afirmou:
“À vista de Deus pais e filhos são um só. Os primeiros São os representantes autorizados destes últimos, agem por eles, contraem obrigações em nome deles. Em todos os casos, portanto, onde os pais entram num pacto com Deus, eles levam consigo seus filhos... Se um homem se unisse à comunidade de Israel, ele assegurava para seus filhos os benefícios da teocracia, a não ser que estes filhos voluntariamente os renunciassem. E assim, quando um crente adota o pacto da graça, ele traz seus filhos para dentro dessa aliança, no sentido que Deus lhes promete dar, no tempo determinado por ele, todos os benefícios da redenção, se eles não renunciarem, voluntariamente ao seu comprometimento batismal”[2]
José e Maria levam Jesus ao templo por causa do legado da graça que está sobre eles.somos salvos pela graça, vivemos pela graça, e estamos na família de Deus por causa da graça.

  1. A família do pacto cria ambiente para que a fé dos filhos se desenvolva de forma natural e plena – Lc 2.39,40,52.

Em Lucas 2.52 lemos que Jesus crescia de forma equilibrada.
3.1 Crescimento em sabedoria – (sofia) Área da emoção e da mente - Qual o tipo de ensino intelectual que nossos filhos recebem? Temos o grande desafio de respondermos seus dilemas emocionais, dando-lhes respostas amadurecidas e claras.

2. Crescimento em estatura - (elikia) Área física. Como menino, Jesus cresceu num lar que protegia sua integridade física, dando-lhe aquilo que era necessário a sua saúde e alimentação.

3. Crescimento em graça diante de Deus - (karis) Área espiritual. Jesus viu em casa um modelo onde o temor do Senhor era percebido, na vida dos seus pais, na experiência do lar. Ali ele desenvolveu sua fé e aprendeu a gostar das coisas de Deus. Muitos de nossos filhos não descrêem do Evangelho, nem de Jesus, mas do tipo de Evangelho e de cristianismo que se tem vivido.

4. Crescimento em graça diante dos homens – (kariti/antropois) Área Social.  Jesus cresceu como uma criança integrada à sua sociedade, tinha graça diante dos homens. O equilíbrio interno gera equilíbrio nas relações. Devemos lutar pela criança socializada, não animalizada. Crianças que nascem em lares desequilibrados crescem frágeis, Lares marcados pela mentira, ódio, violência ou ressentimento crescem desconfiadas e inseguras. Crianças de lares repletos de críticas, encontram dificuldade na auto-aceitação e auto-imagem. Crianças de lares onde a graça é demonstrada, aprendem o respeito.

Jesus cresce num ambiente onde pode crescer por inteiro. Não era resultado de uma geração “cogumelo”, onde a cabeça crescia e o peito (afetos), diminuíam. Encontrou acolhimento num lar onde não se amava as coisas e se usava as pessoas, onde sucesso não era mais importante que honestidade, nem bens materiais mais importante que Deus.

Conclusão:
Falamos da família do pacto, mas antes de concluir, deixe-me ser o mais direto possível: Não há possibilidade de ser uma família que vive debaixo do pacto de Deus, sem que os pais venham para esta abençoada condição, de estarem fazendo alianças com Deus.
O texto de At 16 31 diz: “crê no senhor Jesus, e serás salvo, tu e tua casa”. A salvação em sua casa começa com você, tem que começar em nós, como pais. Nossa aliança com Deus, vai refletir-se na vida de nossos filhos. Pais comprometidos e que se entendem debaixo desta graça, verão a o amor de Deus se revelando em seus lares. Muitos pais querem assumir compromissos pelos filhos, sem que eles mesmos queiram vir a Deus.
Mas a palavra de Deus nos diz que tudo começa em nós, numa entrega pessoal de nossa vida a Jesus. Numa rendição plena de nosso caráter a Deus. Para que a benção se revela em nossa casa, nós, como pais, precisamos nos entender como representantes de Deus para as futuras gerações. Não abra mão deste valor bíblico tão claro!
Por isto eu insisto que você se arrependa hoje de seus pecados, e abra seu coração a Jesus. Não deixe de faze-lo hoje. Diga a Deus que você deseja fazer um pacto, entregando sua vida a ele, e que você quer fazer este pacto para que sua família toda seja acolhida debaixo desta unção e benção que Deus tem para sua vida.

Que Deus nos ajude.




[1] Hunt, Susan – A graça que vem do lar, São Paulo, Cultura Cristã, 2002, pg 28
[2] Idem, pg 30

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