segunda-feira, 25 de junho de 2012
Gn 2.1-3 O sábado no projeto da criação
Introdução:
No design da criação do universo, o shabath possui um aspecto único na narrativa do livro de Gênesis, a tal ponto que um teólogo cristão, chegou a afirmar que o ápice da criação não é o ser humano, mas o sábado, porque Deus não concluiu sua criação formando o homem, mas instituindo o sábado.
Na história do povo judaico e ainda hoje, o sábado tem se tornado ponto de controvérsia e contradição. A forma como o religioso tem usado não só é um flagrante desrespeito ao sábado, como se tornou uma conspiração contra o propósito de Deus para o sábado porque os homens inverteram o sentido original do sábado.
Quarto Mandamento: “Lembra-te do dia de sábado, para o santificar”. Qual o significado do Sábado?
1. O sábado tinha um propósito Social - O povo de Israel foi escravizado por 430 anos, sem direito a lazer, realizava trabalho forçado e sofreu violenta humilhação. Não é sem razão que este mandamento possua uma forte recomendação social: “Não farás obra alguma nesse dia, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o peregrino que viver das tuas portas para dentro, porque o senhor fez em seis dias o céu, a terra e o mar, e tudo o que neles há, e descansou ao sétimo dia; por isso o senhor abençoou o sétimo dia e o santificou” (Ex 20.10-11). Deus estava preocupado com o ser humano e com a própria natureza que se tornara vítima da ganância e da exploração do excesso de trabalho, e o povo sofreu tais consequências na ganância opressiva de Faraó.
Jesus teve profundos conflitos com religiosos de seu tempo por causa da questão do sábado. Qual era o problema? Os homens transformaram o sábado num instrumento de opressão religiosa, ao invés de reconhecerem sua dimensão libertadora e humanitária. Jesus sintetiza isto numa discussão com os fariseus, que eram os xiitas de seu tempo afirmando: “O sábado foi estabelecido por causa do homem, e não o homem por causa do sábado” (Mc 2.27). Esta inversão na interpretação tem sido fatal na história do cristianismo.
2. O sábado possuía uma Dimensão Pessoal - Qual é o objetivo então do sábado? Este termo vem do hebraico “shabath” que significa “descanso”. Deus deseja que os homens entendam a importância de parar suas atividades, e para fazer isto, ele mesmo deu o exemplo.
Será que Deus estava preocupado consigo mesmo? Estava com excesso de horas extras? Naturalmente não. Seu objetivo era dar exemplo para que entendêssemos que precisamos aprender a descansar, a tirar tempo para repor nossas forças físicas, para repensar nossas atividades. Quando não descansamos é porque intimamente sofremos um complexo de onipotência e achamos que somos mais imprescindíveis que Deus. No entanto, é bom lembrar que o cemitério está cheio de gente insubstituível. Guardar o dia de sábado é reconhecer que temos direito ao descanso e perceber-se como um ser livre para viver. O que trabalha sem descanso é escravo! Além do mais, deve manifestar esta preocupação com seus funcionários, empregados, parentes e até mesmo animais. Todos devem e tem o direito ao descanso.
Quando ainda plantava igreja no sul de New Jersey, tinha uma rotina de muita atividade. Um dia, três casais de liderança da igreja me procuraram e perguntaram qual era o dia de meu descanso. Respondi evasivamente e eles foram enfáticos comigo: “O Senhor precisa tirar um dia de folga, não pretenda ser mais importante que Deus”.
É isto que a palavra quer nos mostrar. Deus não parou suas atividades por causa dele, mas por causa de nós. Ele nos convida ao descanso e nos desafia a confiarmos na sua provisão, e sabermos o que ele vai fazer quando nada estivermos fazendo. Tirar um dia de descanso semanal é uma forma de demonstrar confiança em Deus e no seu cuidado por nós. Nós somos apenas instrumentos, Ele é que faz.
3. O sábado possuía uma Dimensão cúltica - Além de refazer nossas forças e encontrar descanso, este tempo também é um convite para olharmos para o céu, e este é um objetivo muito claro para o shabath: Tirar um dia de adoração, agradecer a Deus a libertação e lembrar que Deus também tem ouvido nosso clamor.
Este é o dia que separamos para prestar culto a Deus, ler mais profundamente sua palavra, orar, refletir sobre seus valores, colocar nossa vida a seu serviço para libertar outros que ainda vivem na opressão e na escravidão. No Novo Testamento não existe mais a idéia de um “um dia de adoração”, mas todos os dias são feitos para adoração a Deus, mas neste dia nos lembrarmos de seu cuidado e o adoramos. Ao nos dar um dia como tal, Deus destaca a nossa humanidade, nos lembra que devemos ser tratados como pessoas e que não fomos feitos para o trabalho, mas para Ele.
Os juDeus não conseguiram apreender o significado mais profundo da lei. Apegaram-se ao aspecto exterior da lei, sem nunca refletirem sobre sua validade mais profunda. O sábado se tornou uma forma de controle e manipulação religiosa – sua espiritualidade passou a ser avaliada pela guarda do sábado. Um aspecto exterior, que não descia para o coração daquelas pessoas. Jesus é acusado por não guardar o sábado. O que ele queria, na verdade, é demonstrar que o foco estava errado. Este conceito também permeia a mente dos cristãos convertidos ao cristianismo e que foram chamados de judaizantes no Novo Testamento. “Guardais dias e meses, e tempos, e anos. Receio de vós tenha eu trabalhado em vão para convosco” (Gl 4.10-11). Idéia semelhante ainda acontece em nossos dias, com a ênfase legalística que os judaizantes modernos, chamados sabatistas, tem dado a este ponto.
Aplicações:
A. O sábado confronta o nosso agitado tempo. Sábado nos convida a colocarmos nossa vida em ordem, e encontrarmos tempo de descanso para refazer nossa energia. Não somos máquinas.
Ilustração Gordon MacDonald: Nas profundezas da África, um vendedor estava fazendo uma viagem e contratou uma tribo para carregar seus materiais. No primeiro dia eles marcharam rapidamente e chegaram a uma distancia significativa. O viajante tinha o desejo de fazer esta viagem o mais rápido possível, mas no segundo dia pela manha aqueles carregadores recusavam-se a se mover. Por alguma estranha razão eles ficaram assentados, descansando. Ao perguntar qual a razão deste estranho comportamento, o vendedor foi informado de que eles haviam andado muito no primeiro dia, e agora estavam esperando suas almas para acompanhar seus corpos. A nossa agitada vida leva-nos a esquecer de nossas almas. A diferença entre nós e aquele povo é que eles sabiam que precisavam reabastecer sua vida, e nós, freqüentemente, não vemos isto.
B. O Sábado confronta nossa ambição em possuir e ter cada vez mais não nos deixa parar. Nos Estados Unidos, atualmente, não existe mais dia de descanso, afinal "time is money" e a vida não pode parar.
C. O sábado confronta a síndrome de super-homens.
Lee Yacocca, conhecido Executivo e conhecido pela sua capacidade de tirar a Chrysler de uma falência, no seu livro auto biográfico fala do seu estilo de vida. Ele encerrava o expediente toda sexta feira à noite e só retornava ás atividades no domingo a noite para programar a semana. Para ele, “o homem que não consegue tirar tempo para lazer, é um homem tolo”. Sábado foi dado para nós, para que a gente refaça o organismo, reconheça nossos limites. Nenhum de nós é super homem. Tempo para reorganizar as idéias, valorizar aquilo que é prioritário e essencial. Você tem tido oportunidade, ultimamente, de tirar um tempo maior para sua família, para Deus no seu shabath?
D. O sábado e a improdutividade: o ócio produtivo. O shabath nos foi dado para ser uma experiência de quebrar o frenesi por ganhar mais e ter mais. Sábado é tempo para priorizar coisas que normalmente a nossa vida agitada não nos permite fazer: Adorar a Deus, aprender mais das Escrituras Sagradas, valorizar mais a família, quebrar a rotina, jogar futebol, curtir os amigos. O judeu usava o sábado para ir à sinagoga, estudar a Torah.
E. O sábado nos dá a correta perspectiva do valor do ser humano. Dia de dar folga aos escravos. Apesar de viverem num sistema de escravidão, Deus determina que nem o jumento, nem o boi, nem o escravo, ninguém poderiam trabalhar neste dia. Era uma forma de proteger o direito à vida daquelas pessoas. Era um dia em que era proibido exigir dos escravos qualquer coisa que precisasse. Dia de adoração e culto. Dia de lazer e refazer as forças. Como este conceito do shabath precisa ser resgatado atualmente. Sábado é o momento de fazer o bem, dia de comida festiva, estudo da Torah e adoração a Deus. Os religiosos o engessaram, e não queriam sequer que fosse usado para fazer o bem.
O dia do sábado é encontra sua plenitude quando nele se celebra a vida com gratidão, boas obras, adoração e serviço. O dia de sábado era o dia da adoração e gratidão a Deus, nele se deve celebrar a vida. Jesus ia ao templo para adorar e abençoar, os fariseus possuíam outra motivação, terrena e demoníaca. A lei tende a substituir a misericórdia de Deus por rituais. Jesus estabelece um novo principio e confronta, de forma intencional e deliberada, esta atitude religiosa mesquinha e contrária a Deus. “O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado”.
Sábado é um projeto do plano de Deus para nós. Deus não precisa de descanso, e descansou. Nós precisamos de descanso e queremos fazer de conta que somos Deuses. Deus queria nos mostrar a importância de deixar que a vida faca o seu ciclo, que não devemos apressar o rio, que as coisas fluem pela criação que ele mesmo estabeleceu.
Portanto, não descansar se constitui a quebra dos mandamentos essenciais de Deus para nossa vida. O Quarto Mandamento nos diz: “Lembra-te do dia de sábado, para o santificar”. Precisamos ser lembrados desta ordem dada por Deus.
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