segunda-feira, 25 de junho de 2012

Lm 3.21-24 O que pode me dar esperança

“Quero trazer à memória, o que me pode dar esperança. As misericórdias do Senhor não tem fim, renovam-se a cada manhã. Grande é a sua fidelidade”. Lm 3.21-24 Introdução: Nesta semana (14.06.2012), perdi de forma trágica uma linda sobrinha, cheia de vida e planos, de apenas 22 anos, na cidade de Palmas-TO. Um motorista jovem, dirigindo um carro em alta velocidade nas ruas da cidade a atingiu frontalmente provocando morte instantânea. Minha dor é mínima diante da dor de meu irmão e cunhada, ela também não é maior nem menor do que a de muitas outras pessoas que também já perderam seus filhos e familiares de forma assim tão trágica, nem acho que sou especial a ponto de não passar por dor semelhante, mas estou bem certo de que tais pessoas conseguem se solidarizar melhor com minha dor nesta situação. No Brasil, anualmente, 38 mil pessoas morrem em acidente de carro, e minha sobrinha, assim como outras pessoas, não é apenas um numero. São pessoas com relacionamentos. Possuem irmãos, pais, mães e amigos que sofrem juntos nestas situações trágicas. Contexto: Jeremias, o profeta, ao escrever este texto fala de uma situação similar. O livro quase todo se ocupa em narrar as conseqüências da guerra. O lamento se manifesta em quase todo texto. A cidade de Jerusalém fora completamente destruída com a invasão dos assírios. Só restaram escombros (4.5; 5.18). Os cânticos de alegria foram transformados em prantos (1.:2), todos os seus bens foram confiscados (1.:7, 10; 5.2). O templo foi saqueado vergonhosamente e o local que para eles era sagrado foi invadido (1.10). Chacais e feras do campo passaram a viver ali, junto ao cheiro de morte que a cidade exalava. Palácios e fortalezas foram destruídos (2.5) e o templo foi demolido (2.6), para o profeta isto era algo muito forte, pois significava que Deus rejeitara o seu próprio altar (2.7). Todos foram levados cativos: Crianças (1.5); jovens (1.18) e os príncipes na frente do povo (1.6), e um regime de escassez de alimentos leva o povo a ter que sobreviver com o mínimo de pão (1.11), Os jovens morreram na guerra (1.15). A fome é tão grande que os meninos e mesmo crianças de peito desfalecem nas ruas (2.11) assim como moços e velhos jazem por terra (2.21). Não há glória e nem mesmo esperança (3.18). Nada mais a fazer além de chorar (3.49). De tal forma é a angústia que humanamente falando, não há alternativa: se ficar em casa morre de fome, se sair a rua, vem a espada(1.20). Nesta hora o profeta faz a declaração: “Quero trazer à memória, o que me pode dar esperança. As misericórdias do Senhor não tem fim, renovam-se a cada manhã. Grande é a sua fidelidade” ( Lm 3.21-24). Nesta declaração aprendemos algumas verdades: 1. Em tempos de angústia e perplexidade, é fundamental colocar nosso foco num ponto que vá além da situação percebida – Vemos esta mesma atitude em Habacuque, outro profeta da Bíblia, que ao saber da invasão inevitável da Assíria, colocou seus olhos não nos eventos que tinha diante de si, mas em Deus. Para sobreviver, ele viu 5 características em Deus que lhe seria indispensável: A. A Eternidade de Deus – “Não és tu desde a eternidade?” (Hab 1.12). Isto nos ajuda a perceber que Deus vê o fim a partir do começo. A história, tal qual a vemos, é a história de Deus. Nós vemos os fragmentos da história, Deus vê todo o quadro B. A Santidade de Deus – “Ó meu Deus, ó meu Santo” (Hab 1.12) Todos os motivos de Deus são dirigidos pelos seus santos, ainda que inexplicáveis motivos. Não existe nele propósito suspeito. Ele é santo! Deus está acima de qualquer suspeita. Suas intenções são claramente de amor, ainda que nos pareça tão difícil entender. “Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito”. C. A pessoalidade de Deus – “Ó Senhor”- ele usa o termo Yahweh, que em hebraico trata-se do Deus pessoal, Deus dos pactos e das alianças. Ele sabe de nosso nome, identidade, RG e CPF. Não é um Deus distante. Ele caminha “no meio da tempestade e da tormenta” (Naum 1.3) com aquele que sofre. D. A pureza de Deus – “Tu és tão puro de olhos que não podes ver o mal” (Hab 1.14). Seus motivos não são impuros. Sua pureza impede mácula e pecado. E. A Justiça de Deus – “Para executar juízo, puseste aquele povo”- (Hab 1.12). Deus não é injusto, nem age por motivos espúrios. Sua justiça está presente sobre todos nós. Habacuque e Jeremias, diante do evento trágico, põem os olhos em Deus. “Quero trazer à memória, o que me pode dar esperança”. Eles sabem que o foco precisa ser ajustado em Deus, como uma lente de alta precisão, para fazer leituras corretas sobre os eventos que estão diante deles. Assim como eles, não entendemos e nem conseguimos interpretar todo o significado da dor, da enfermidade, da tragédia, mas sabemos que acima dos eventos temporais existe um Deus, por isto, tiro meus olhos do evento e os coloco em Deus. 2. Em tempos de angústia e perplexidade, é necessário exercitar a memória – “Quero trazer à memória, o que me pode dar esperança”. O exercício mnemônico me ajuda a enfrentar os dias maus e a caminhar com fé. Veja o caso de Davi ao resolver enfrentar Golias. O desafio que tinha diante de si era muito maior que ele, então, o que faz? Recorda-se das manifestações da graça de Deus na sua vida. Deus já lhe havia dado vitoria em duas condições difíceis: Num embate com um leão e com um urso. Saul achava impossível sua luta com Golias, mas ao se lembrar de como Deus havia agido na sua vida em situações anteriores, Davi se sentia confiante. “O Senhor me livrou das garras do leão e das do urso; ele me livrará ds mãos deste filisteu”(1 Sm 17.34,36-37). No meio das dificuldades, preciso exercitar a memória. Olhar no passado e ver como Deus agiu. Nossas lembranças tornam-se poderosas aliadas, na luta contra o desespero e a dor. Cada nova experiência nos capacita a enxergar a obra de Deus com clareza. “Nunca duvide na escuridão , o que Deus lhe disse na luz” (Raymond Eedman). 3. Em tempos de angústia e perplexidade, precisamos focar em verdades eternas - “As misericórdias do Senhor, são a causa de não sermos consumidos”. O profeta coloca toda sua história, nas misericórdias divinas. Misericórdia é um termo interessante, pois vem do latim “cordia”, cuja raiz é “cardio”. Isto é, tem a ver com o coração. Gente misericordiosa se sente chamada por Deus para ajudar pessoas quebradas e sem esperança. É disto que o texto está nos falando. De como Deus trata gente totalmente fragmentada. Deus não nos trata consoante nossa justiça, mas pela justiça de Cristo. Suas misericórdias impedem que eu seja devorado e consumido. Seu eu fosse tratado com justiça eu já teria sido consumido pela santidade de Deus (Sl 103.10,14). Outro aspecto é que ela não se esgota, elas “não tem fim”, senão a minha cota já teria acabado. Ainda aprendemos que são renováveis, pois “a cada manhã se renovam”. Deus atualiza sua graça em minha vida diariamente. Ele é fiel. “grande é a sua fidelidade”. O texto não diz “grande é a minha fidelidade”. Não é minha a prerrogativa da fidelidade, mas de Deus. Conclusão: Diante do trágico e do inexplicável, o profeta olha para Deus. “A minha porção é o Senhor, diz a minha alma; portanto, esperarei nele” (Lm 3.24). Ele admite que todas as coisas parecem conspirar (Lm 3.1-8), esta é sua percepção histórica que lhe mostra o dado da realidade. Mas agora, diante do mistério da dor e do sofrimento, ele decide correr para Deus e encontrar nele o sentido que precisa ter. No vs. 26 ele fala em “aguardar a salvação do Senhor em silêncio”. É o momento em que nos deparamos com algo muito maior do que nossos corações podem explicar e nossa razão possa conceber. Ele fala ainda em colocar a “boca no pó” (vs. 29), situação de humildade e adoração. Ajoelhar quebrantado, porque “o senhor não rejeita para sempre”(vs. 31), e nem “aflige entristece de bom grado”(vs. 33). O sofrimento e a dor nos devem levar a um momento de silêncio, para se encontrar com algo muito alem de nós mesmos, da auto suficiência e independência. Assim devemos agir diante do mistério da dor e do sofrimento, quando temos que enfrentar a dor e a tragédia. É isto que preciso trazer à minha memória... é isto que quero trazer à minha memória.

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