sábado, 28 de julho de 2012

Mc 12.28-34 Um Mandamento, Duas direções:



Introdução:

O Mandamento do Amor, considerado por Jesus como o principal de todos os mandamentos, possui duas vertentes: Uma vertical, para Deus; outra horizontal, para os homens. Ele só é preenchido quando segue as duas direções: Para Deus e para os homens.
Mais uma vez há uma mudanca nos interlocutores. Em Mc 12.12 são os herodianos, políticos entreguistas alinhados com a visão de Roma, que apoiam Herodes por causa das benesses,  e os fariseus, comerciantes que tinham todo interesse na questão dos impostos; em Mc 12.18 são os saduceus, grupo liberal, que não endossava a linha ortodoxa da interpretação do judaísmo sobre a vida eterna e a ressurreição dos mortos; e agora, os escribas, amanuenses dos textos sagrados, viviam no templo reproduzindo cópias das escrituras sagradas, eram doutores da lei, os teólogos de seus dias. A pergunta possui uma discussão provavelmente muito comum entre os estudantes da Torah e dos profetas.
Jesus afirma que “amor” é o cerne da Lei. Muitos talvez considerariam a Justiça, talvez a misericórdia; outros, a exclusividade de Iahweh, mas Jesus afirma que se trata do amor. Quem ama, guarda toda lei. “Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas”(Mt 22.40).
O amor, na visão de Jesus, é um único mandamento, mas ele segue duas direções: A Deus e aos Homens.

1ª Direção: Amor a Deus
A pergunta imediata é “Por que amar a Deus?”. Não bastaria apenas que atendéssemos suas exigências morais, cerimoniais e religiosas? Guardarmos apenas suas leis? Não é a assim que tratamos ao governo? Ele exige que paguemos impostos, mas muitas vezes odiamos suas taxas e cobranças, e o fazemos sob protesto e com raiva. Por que não poderiamos apenas fazer as coisas para Deus? Por que ele ainda exige que devotemos nosso amor?

  1. Amar é diferente da prática de rituais – Você pode fazer as coisas para Deus, mas seu coração não estar ligado a Deus. É assim que fazemos com a Receita Federal. Você acha que a Receita fica preocupada com sua sensbibilidade quando Você lhe paga o imposto? Se for feito por meio do cheque, pode cuspir nele, amassar, pisar em cima, mas se ele for compensado, pouco importa. Já pensou em fazer as coisas de Deus desta forma?
Você pode fazer muita coisa para Deus e ainda assim não amá-lo. Deus, no entanto, não aceita este tipo de sacrificio e oferta. Foi por causa do seu coração que Caim foi reprovado, e não por causa do tipo de oferta que trazia a Deus.
Imagine um homem ouvindo sua mulher dizendo assim: “Não o amo mais,   não tenho mais nenhum afeto, mas vou continuar morando contigo, cuidando da sua casa, fazendo a comida, administrando as lides domésticas”, qual seria sua reação? Você diria: “Tudo bem, está tudo certo?”, ou “Ainda que eu ame você, não estou interessado em alguém que seja minha empregada, quero minha mulher”. Sem afeto não dá.

  1. Apenas o amor a Deus é capaz de se opor aos idolos do coração. Como discernir que nosso coração tem a atenção dividida?
Uma pergunta simples e direta por nos ajudar neste sentido. O que Você ama, confia, teme e serve mais que a Deus?
Aquilo que você ama mais que a Deus é o substituto de Deus em seu coração. Por isto, o principal dos mandamentos é o amor a Deus. Sem amar a Deus, não há culto, nem adoração, mas apenas gestos mecânicos baseados no medo. Então, o que é um ídolo? Um ídolo é qualquer coisa que cremos ser necessário, além de Jesus, para nos fazer feliz, satisfeitos ou plenos. Um ídolo surge quando desejamos alguma coisa além de Jesus. Quando tememos coisas mais que a Deus, quando adoramos a nós mesmos ao invés de Cristo, quando colocamos a nossa confiança em alguma coisa além de Jesus; quando servimos alguma outra coisa além de Jesus.
Fico sempre assustado com aquilo que cantamos em nossas liturgias. Existem declarações de amor nas letras dos cânticos espirituais e hinos, que talvez não tivéssemos condições de cantar. Seria melhor, talvez, que ao vermos tais declarações, não continuassémos cantando, mas nos voltássemos para Deus em contrição dizendo: “Senhor, me dê condicoes de viver assim para o Senhor, me dê amor a ti, um coração puro e grato”.

  1. Adoração a Deus envolve o coração – Daí a insistência do próprio Deus: “Filho meu, dá-me o teu coração” (Pv 23.26). Foi exatamente isto que Jesus indagou a Pedro, logo após sua tríplice negação: “Pedro, tu me amas?”. Esta é a pergunta central do evangelho: Você me ama? O seu coração é meu?
A razão do interesse de Deus no coração é porque sem coração, não há culto. Em geral colocamos nosso coração onde estão as coisas mais preciosas da vida. “Onde estiver teu tesouro, aí estará o teu coração”.
Amar a Deus envolve todo ser: “Amarás, pois, o Senhor teu Deus, todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força” (Mc 12.30). É interessante notar que coração fala dos afetos; alma, de toda nossa dimensão espiritual; entendimento de nossa razão, e força, da intensidade com que devemos amar a Deus. Podemos assim fazer algumas perguntas:
                è Meu coração é realmente de Deus, ou está dividido?
                è Minha alma é totalmente dele?
è Minha mente está a servico dele, tenho adorado a Deus com minha forma de pensar?
è Minha força, intensidade, tem sido empregada por causa do amor a Deus? Que sacrificio tenho feito para glorificá-lo?

2ª Direção: Amor ao Próximo
A pergunta diante deste mandamento deve ser: “É possível amar o meu próximo, como a mim mesmo? Logo após esta resposta, de acordo com o Evangelista Mateus, um interprete da lei quis se desculpar: “Quem é o meu próximo?”.
Jesus está ensinando que a base do nosso amor aos outros deve ser o amor que temos a nós mesmos. Pessoas que não conseguem amar a si mesmas, tem muita dificuldade de amar os outros, mas o texto não está falando de amor próprio, e sim como, por natureza, estamos tao focados em nós mesmos, assim devemos amar o proximo.

  1. Nosso amor leva-nos à auto preservação, assim tambem somos chamados a cuidar dos outros – somos chamados a cuidar, proteger. Recentemente, o ex-presidente dos EUA, George W. Bush fez uma declaração que chocou o mundo, em relação às drogas: “Nós perdemos a batalha”. O problema é que queremos tratar das drogas como se o paciente fosse um caso isolado, esquecemos que se trata de um sistema, social, familiar e midiático. A crise começa nos lares. Sem tratarmos as causas, não teremos vitória sobre os sintomas.

  1. Nosso amor próprio leva-nos a focar em nós mesmos, mas para amarmos os outros como manda Jesus, precisamos mudar o foco. Olhar para fora de nós mesmos. Nosso auto enamoramento e narcisismo é forte demais, impedindo-nos de olhar para outros. Se quisermos cumprir a Lei, precisamos sair deste círculo de adoração conosco mesmo.



Conclusão:
Para finalizar, precisamos considerar dois aspectos importantes a mais que foram expressos por Jesus:

  1. Nosso amor deve brotar da compreensão de que Yahweh é o único Senhor – Ao ser perguntado sobre o principal dos mandamentos, Jesus inicia sua palavra com o Shemah hebraico: “Ouve, ó Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor” (Mc 12.29). Por compreender que Deus é o único Senhor, somos capazes de desprezar os idolos e nosso coração se apegar ao seu de forma completa, em adoração. Meu amor está relacionado à compreensao daquilo que Deus é.

  1. Amor é mais importante que rituais religiosos – Diante da afirmação de Jesus, o escriba lhe disse que amar a Deus e amar ao próximo, “excede a todos holocaustos e sacrificios”(Mc 12.32), e Jesus então confirmou que ele estava entendendo seus ensinamentos. Amor excede a todos os demais mandamentos.

Se tua única forma de adoração é através de ritos, de atos religiosos, mas desacompanhado do coração, tais coisas poderão impressionar muito as pessoas, mas não a Deus. Podemos e devemos trazer nossas oferendas, cânticos, músicas, mas se nosso coração não estiver presente, se não houver amor, todos sacrifícios e holocaustos, serão vazios.

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