Introdução:
Você
já se surpreendeu com pensamentos angustiantes sobre sua vida, do tipo: “O que
vai acontecer com minha vida se minha saúde faltar? Como será se um parente
adoecer e eu tiver que parar minha vida para cuidar dele? Será que vou
conseguir cuidar do meu filho até que ele cresça? E se sofrer um acidente e
ficar inválido. Será que não vou sucumbir no meio do caminho?”
Estas
e outras questões fazem parte de um dos maiores problemas do homem moderno que
é a ansiedade. Rollo May afirma que a ansiedade é um dos mais urgentes
problemas de nossos dias, sendo chamada de “a emoção oficial de nossa época e a
base de todas neuroses”. [1]
Ansiedade pode ser definida como um sentimento íntimo de apreensão, mal estar,
preocupação, angústia e/ou medo. Pode surgir como reação a perigo identificável
ou em resposta a um perigo imaginário.
Naturalmente
podemos ter diferentes graus de ansiedade que eventualmente pode ser até
produtivo. Certa vez Jesus falou aos seus discípulos sobre ansiedade, talvez
porque percebesse o sofrimento deles em relação ao futuro, preocupações com
coisas básicas como a roupa e a comida. O que nos chama a atenção é a sabedoria
do Mestre e sua forma coerente e lógica com que trata desta questão. Ele fala
de algumas razões lógicas para não andarmos ansiosos:
1.
Quem dá o essencial, dá o secundário - "Portanto eu lhes
digo: não se preocupem com suas próprias vidas, quanto ao que comer ou beber;
nem com seus próprios corpos, quanto ao que vestir. Não é a vida mais
importante do que a comida, e o corpo mais importante do que a roupa?” (Mt
6.25). Nesta pergunta retórica, ele usa a lógica falando do maior para o menor: Se Deus deu a vida,
certamente vai dar alimento para a sua manutenção. Vida é (essência), alimento
é secundário. Se Deus deu o corpo, certamente vai dar as vestes. Corpo (essência),
vestes, secundário. Deus deu-nos a vida e nos dará condições para suportá-la.
Se Deus cuida do maior, não podemos confiar nele para cuidar do menor?
2.
Quem cuida dos animais, também vai cuidar de nós
– “Observem
as aves do céu: não semeiam nem colhem nem armazenam em celeiros; contudo, o
Pai celestial as alimenta. Não têm vocês muito mais valor do que elas?” (Mt 6.26).
Aqui ele fala do menor
para o maior. Não é um desestímulo à preguiça, mas uma superação da ansiedade.
Nós somos à imagem dele e podemos estar seguros de que ele vai cuidar de nós. Ao
usar o termo "considerai", no
grego “emblepsate eis”, ele
literalmente pede que aos discípulos que fixem seus os olhos para enxergar bem.
O fato é que "Ele faz das aves nossos professores e mestres, um frágil pardal se torna pregador
e teólogo” (Lutero). Spurgeon ainda afirma: "Maravilhosos lírios, como
vocês reprovam o nosso tolo nervosismo".
A
pergunta de Jesus ainda pode ter sido provocativa para aqueles que estão incomodados
com sua imagem. “Quem de vós pode aumentar um côvado?” Talvez se tratasse do
fato de quem alguns discípulos gostariam de ter uma estatura maior, mas que não
poderiam ser diferente do que são. Muitos estão preocupados com o corpo, o
rosto, o nariz, o cabelo, e são consumidos por estas questões relacionadas a
auto-imagem. Infelizmente somos o que somos, e não podemos alterar nossa
natureza intrínseca. Há um limite para o efeito de reparação e plásticas cirúrgicas.
Muitos de nós precisamos de plástica na mente e não no corpo. Há determinadas
deformidades em nossa vida que nenhum cirurgião plástico poderá reparar.
A
ansiedade não ajuda em
nada. Alguém pode ser mais eficiente numa prova ou concurso,
debaixo do efeito da ansiedade? Será que é mais fácil resolver um conflito ou
um problema quando estamos sob um forte estado de ansiedade. Será que é mais fácil
decidir sob pressão e preocupação do
que estando sereno? Não! A ansiedade nos faz sofrer duas vezes: Rouba-nos a
saúde, afeta o julgamento crítico, esvazia o poder de decisão e nos leva,
progressivamente, a ter mais dificuldade em lidar com as questões praticas da
vida.
4.
Ansiedade é própria de quem não tem um Deus como o nosso
– “Pois os
pagãos é que correm atrás dessas coisas; mas o Pai celestial sabe que vocês
precisam delas” (Mt 6.32). Aqui temos
o quarto argumento lógico usado por Jesus para demonstrar a inutilidade da
ansiedade. "Os pagãos é que procuram”. Estas coisas
são próprias para pessoas que vivem sem fé. Preocupação é incompatível com a fé
cristã. Dr. Julian Huxley dizia: "A vida é acidental e contingencial",
e como pagão ele está absolutamente certo. Os cristãos, porém, não concordam
com isto. Nossa vida não é resultado do acaso, mas da providência de um Deus amoroso.
Ansiedade é essencialmente falta de confiança em Deus, e pode até ser compreensível
para quem tem um Deus caprichoso e imprevisível, não para quem tem um Deus coerente
que dirige a história, cujas promessas não são esquecidas. A ansiedade é
resultado de uma fé vigorosa em Deus.
O
Deus que amamos é chamado na língua hebraica de “Jeová-Jirê”, ou O Deus da
provisão. Não é o Deus Amom-re dos Egitos, nem Baal, dos cananitas, mas é o
Deus de Israel. Em Jr 29.11, no meio de perplexidades históricas o profeta traz
a seguinte mensagem de Deus: “Eu é que
sei que pensamentos tenho a vosso respeito, pensamentos de bem, e não de mal,
para vos dar o fim que desejais”.
Preocupação
nunca é causada por cirscunstâncias externas. A mesma circunstância que para um
pode trazer morte, para outro, pode ser encarada com serenidade. Preocupação e
serenidade não vem das circunstâncias, e sim do coração.
Tauler,
conhecido místico alemão, conta esta impressionante
história.
Certo
homem encontrou com um viajante e lhe perguntou:
-
“Deus lhe deu um bom dia, meu amigo?”
O
homem respondeu: “Agradeço a Deus, porque
ele nunca me deu um dia mal”.
O
viajante tornou a perguntar: “Deus lhe
deu uma vida feliz, meu amigo?”
Ele
falou: “Eu nunca fui infeliz”
Surpreso
diz: “Como pode ser isto?”
Ele
disse: “Quando as coisas vão bem, eu
agradeço a Deus, quando chove, eu agradeço a Deus,
quando eu tenho
abundância eu agradeço a Deus,quando tenho fome eu agradeço a Deus. Desde que a
vontade de Deus é a minha vontade, tudo o que lhe agrada, a mim me agrada
também, por que não deveria estar feliz?”
Atônito,
o homem inquiriu: “Quem é você?”
Ele
respondeu: “Eu sou um Rei”.
“Onde está o seu reino?”
“No meu coração”.
5.
Toda preocupação é sobre o amanhã – “Portanto, não se preocupem com o amanhã, pois o amanhã se
preocupará consigo mesmo. Basta a cada dia o seu próprio mal" (Mt 6.24).
Literalmente é uma “pré-ocupação”, ou uma preocupação antecipada: Empregos, exames, casamentos, saúde, empreendimentos. Cada dia deve ser resolvido a seu próprio tempo.
Literalmente é uma “pré-ocupação”, ou uma preocupação antecipada: Empregos, exames, casamentos, saúde, empreendimentos. Cada dia deve ser resolvido a seu próprio tempo.
Certo
professor indagado por um grupo de alunos sobre como deveriam reagir diante de situações
calamitosas, respondeu serenamente: "Não atravesse a ponte antes de chegar
ao rio". Queremos atravessar pontes imaginarias e por isto sofremos por antecipação.
Estatisticamente, 80% dos problemas que hoje o afligem, nunca se tornarão em
reais problemas.
6.
Quem vive ansioso, não tem como voltar sua atenção para as coisas de Deus
– “Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus
e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão acrescentadas” (Mt 6.33). Este
é o sexto e último argumento de Jesus para demonstrar a inutilidade da
ansiedade. Como pensar nas coisas de Deus se a
mente é totalmente carregada de pré-ocupações e ansiedade.
A
psicanálise afirma que a grande causa da depressão tem a ver com o movimento egóico. Uma atitude narcisista que leva
a pessoa a só olhar para a sua existência.Não é sem razão que Jesus ordena seus
discípulos a “buscarem o reino de Deus e sua justiça” A ansiedade é fruto de
quem não coloca seus olhos no reino de Deus e sua justiça mas faz uma inversão narcisista
e sofre um processo de auto-enamoramento.
O
diabo quer que coloquemos nossos olhos em duas direções: Passado ou futuro.
Quer que a gente coloque nossos olhos nos ressentimentos, na história de vida
que poderíamos ter e não tivemos, nos erros acumulados na história, naquilo que
as pessoas fizeram conosco, e assim nos tornamos pessoas incapazes de perdoar e
amarga, pendurado no passado. Ou no futuro – leva-nos a colocar os olhos em problemas
e situações imaginarias que nos atormentam e não deixa que vivamos o presente. Pessoas
ansiosas se tornam inativas, tensas e imobilizadas.
Conclusão:
Gostaria
de encerrar este tema, dando três caminhos para superar a ansiedade:
A.
Pare de olhar para dentro de você, e
olhe para fora – Veja as possibilidades da vida. Veja o Deus criador. Olhe
a natureza, o luar, a criação harmônica do cosmos criado por Deus. Se
continuarmos olhando para nosso mundo, ficamos pequenos e limitados. Somos convidados
por Deus para avançarmos e apreciarmos o seu cuidado. Pare de fazer movimentos
de viagem para dentro de si mesmo, e olhe para a realidade do Deus criador.
A
ansiedade é uma recusa a aprender a lição da natureza. Jesus recomenda aos
homens que olhem os pássaros. Um pardal e um pintassilgo estavam conversando e
um perguntou para o outro:
“Pardal,
por que os homens andam tão inquietos e
ansiosos?”
O
pardal respondeu: “certamente porque não
tem um Deus como o nosso”.
Jesus
nos exorta a buscar o “reino de Deus”. O que é reino? Tudo aquilo que está
relacionado ao plano de Deus para a humanidade: Sinais, libertação,
restauração, humanização e, acima de tudo, libertação espiritual, conversão.
Onde existir manifestações de bondade e de amor, ali haverá sinais dos céus. A
maioria das nossas preocupações está relacionada ao nosso egocentrismo. Estamos
muito preocupados conosco mesmo, e não temos tempo para olhar a vida além de
nós mesmos. Olhe para fora de si, vê quanta coisa boa está acontecendo. Busque
o Reino de Deus. Buscar o reino é acima de tudo, superar a tendência de ficar
enamorado consigo mesmo. Rompa com seu personalismo, olhe para o Reino!
B.
Confie no caráter de Deus – Muito de
nossa ansiedade decorre do fato de que não confiamos em Deus, e naquilo que ele
é. Coloque sua confiança em Deus.
Ao nos convidar para olhar os lírios do campo”, Jesus está
nos encorajando a apreciar as flores, olhar atentamente para os pássaros. Dê um
tempo para apreciar o cuidado de Deus, a natureza. Aprenda a lição da natureza.
O Deus, onipotente, poderoso, grande em poder e majestade está por detrás de tudo
isto. Não seria esta uma razão para a gente descansar.
C.
Transforme sua ansiedade em oração – Muitos
de nós somos tendentes ao desespero e à preocupação. Coloque isto diante de Deus.
“Não andeis ansiosos por cousa alguma,
antes sejam conhecidas diante de Deus as vossas petições, pelas orações,
suplicas e ações de graças, e a paz de Deus que excede todo o vosso
entendimento guardará vossas mentes e corações” (Fp 4.6-8). Este é um exercício
e um dinamismo poderoso. Toda vez que a pré-ocupação bater à porta, encaminhe-a
a Deus.
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