terça-feira, 28 de maio de 2013

Mt 6.25-33 A inutilidade da ansiedade




Introdução:

Você já se surpreendeu com pensamentos angustiantes sobre sua vida, do tipo: “O que vai acontecer com minha vida se minha saúde faltar? Como será se um parente adoecer e eu tiver que parar minha vida para cuidar dele? Será que vou conseguir cuidar do meu filho até que ele cresça? E se sofrer um acidente e ficar inválido. Será que não vou sucumbir no meio do caminho?”
Estas e outras questões fazem parte de um dos maiores problemas do homem moderno que é a ansiedade. Rollo May afirma que a ansiedade é um dos mais urgentes problemas de nossos dias, sendo chamada de “a emoção oficial de nossa época e a base de todas neuroses”. [1] Ansiedade pode ser definida como um sentimento íntimo de apreensão, mal estar, preocupação, angústia e/ou medo. Pode surgir como reação a perigo identificável ou em resposta a um perigo imaginário.
Naturalmente podemos ter diferentes graus de ansiedade que eventualmente pode ser até produtivo. Certa vez Jesus falou aos seus discípulos sobre ansiedade, talvez porque percebesse o sofrimento deles em relação ao futuro, preocupações com coisas básicas como a roupa e a comida. O que nos chama a atenção é a sabedoria do Mestre e sua forma coerente e lógica com que trata desta questão. Ele fala de algumas razões lógicas para não andarmos ansiosos:

1. Quem dá o essencial, dá o secundário - "Portanto eu lhes digo: não se preocupem com suas próprias vidas, quanto ao que comer ou beber; nem com seus próprios corpos, quanto ao que vestir. Não é a vida mais importante do que a comida, e o corpo mais importante do que a roupa?” (Mt 6.25). Nesta pergunta retórica, ele usa a lógica falando do maior para o menor: Se Deus deu a vida, certamente vai dar alimento para a sua manutenção. Vida é (essência), alimento é secundário. Se Deus deu o corpo, certamente vai dar as vestes. Corpo (essência), vestes, secundário. Deus deu-nos a vida e nos dará condições para suportá-la. Se Deus cuida do maior, não podemos confiar nele para cuidar do menor?

2. Quem cuida dos animais, também vai cuidar de nós – “Observem as aves do céu: não semeiam nem colhem nem armazenam em celeiros; contudo, o Pai celestial as alimenta. Não têm vocês muito mais valor do que elas? (Mt 6.26). Aqui ele fala do menor para o maior. Não é um desestímulo à preguiça, mas uma superação da ansiedade. Nós somos à imagem dele e podemos estar seguros de que ele vai cuidar de nós. Ao usar o termo "considerai", no grego “emblepsate eis”, ele literalmente pede que aos discípulos que fixem seus os olhos para enxergar bem. O fato é que "Ele faz das aves nossos professores  e mestres, um frágil pardal se torna pregador e teólogo” (Lutero). Spurgeon ainda afirma: "Maravilhosos lírios, como vocês reprovam o nosso tolo nervosismo".

3. A ansiedade não coopera em nada – “Quem de vocês, por mais que se preocupe, pode acrescentar uma hora que seja à sua vida?” (Mt 6.27). Este é o terceiro argumento. Ao indagar “Quem de vocês” ele aponta para nossa impotência diante de realidades que não podemos mudar, demonstrando que a ansiedade é incompatível com o bom senso. Sua pergunta aponta para direções. Uma tradução diz: “Qual de vós, por ansioso que esteja, pode mudar um côvado ao curso de suas vidas?”. Esta pergunta para indicar o fato de que muitos vivemos ansiosos sobre a longevidade, mas a realidade é que não somos capazes de fazer nada, por mais dinheiro que tenhamos, para aumentar a nossa vida aqui na terra.
A pergunta de Jesus ainda pode ter sido provocativa para aqueles que estão incomodados com sua imagem. “Quem de vós pode aumentar um côvado?” Talvez se tratasse do fato de quem alguns discípulos gostariam de ter uma estatura maior, mas que não poderiam ser diferente do que são. Muitos estão preocupados com o corpo, o rosto, o nariz, o cabelo, e são consumidos por estas questões relacionadas a auto-imagem. Infelizmente somos o que somos, e não podemos alterar nossa natureza intrínseca. Há um limite para o efeito de reparação e plásticas cirúrgicas. Muitos de nós precisamos de plástica na mente e não no corpo. Há determinadas deformidades em nossa vida que nenhum cirurgião plástico poderá reparar.
A ansiedade não ajuda em nada. Alguém pode ser mais eficiente numa prova ou concurso, debaixo do efeito da ansiedade? Será que é mais fácil resolver um conflito ou um problema quando estamos sob um forte estado de ansiedade. Será que é mais fácil       decidir sob pressão e preocupação do que estando sereno? Não! A ansiedade nos faz sofrer duas vezes: Rouba-nos a saúde, afeta o julgamento crítico, esvazia o poder de decisão e nos leva, progressivamente, a ter mais dificuldade em lidar com as questões praticas da vida.

4. Ansiedade é própria de quem não tem um Deus como o nosso – “Pois os pagãos é que correm atrás dessas coisas; mas o Pai celestial sabe que vocês precisam delas” (Mt 6.32). Aqui temos o quarto argumento lógico usado por Jesus para demonstrar a inutilidade da ansiedade.  "Os pagãos é que procuram”. Estas coisas são próprias para pessoas que vivem sem fé. Preocupação é incompatível com a fé cristã. Dr. Julian Huxley dizia: "A vida é acidental e contingencial", e como pagão ele está absolutamente certo. Os cristãos, porém, não concordam com isto. Nossa vida não é resultado do acaso, mas da providência de um Deus amoroso. Ansiedade é essencialmente falta de confiança em Deus, e pode até ser compreensível para quem tem um Deus caprichoso e imprevisível, não para quem tem um Deus coerente que dirige a história, cujas promessas não são esquecidas. A ansiedade é resultado de uma fé vigorosa em Deus.
O Deus que amamos é chamado na língua hebraica de “Jeová-Jirê”, ou O Deus da provisão. Não é o Deus Amom-re dos Egitos, nem Baal, dos cananitas, mas é o Deus de Israel. Em Jr 29.11, no meio de perplexidades históricas o profeta traz a seguinte mensagem de Deus: “Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, pensamentos de bem, e não de mal, para vos dar o fim que desejais”.
Preocupação nunca é causada por cirscunstâncias externas. A mesma circunstância que para um pode trazer morte, para outro, pode ser encarada com serenidade. Preocupação e serenidade não vem das circunstâncias, e sim do coração.

Tauler, conhecido místico alemão, conta esta  impressionante história.

Certo homem encontrou com um viajante e lhe perguntou:
- “Deus lhe deu um bom dia, meu amigo?”
O homem respondeu: “Agradeço a Deus, porque ele nunca me deu um dia mal”.
O viajante tornou a perguntar: “Deus lhe deu uma vida feliz, meu amigo?”
Ele falou: “Eu nunca fui infeliz”
Surpreso diz: “Como pode ser isto?”
Ele disse: “Quando as coisas vão bem, eu agradeço a Deus, quando chove, eu agradeço a Deus,
quando eu tenho abundância eu agradeço a Deus,quando tenho fome eu agradeço a Deus. Desde que a vontade de Deus é a minha vontade, tudo o que lhe agrada, a mim me agrada também, por que não deveria estar feliz?”
Atônito, o homem inquiriu: “Quem é você?”
Ele respondeu: “Eu sou um Rei”.
“Onde está o seu reino?”
“No meu coração”.

5. Toda preocupação é sobre o amanhã – “Portanto, não se preocupem com o amanhã, pois o amanhã se preocupará consigo mesmo. Basta a cada dia o seu próprio mal" (Mt 6.24).  
Literalmente é uma “pré-ocupação”, ou uma preocupação antecipada: Empregos, exames, casamentos, saúde, empreendimentos. Cada dia deve ser resolvido a seu próprio tempo.
Certo professor indagado por um grupo de alunos sobre como deveriam reagir diante de situações calamitosas, respondeu serenamente: "Não atravesse a ponte antes de chegar ao rio". Queremos atravessar pontes imaginarias e por isto sofremos por antecipação. Estatisticamente, 80% dos problemas que hoje o afligem, nunca se tornarão em reais problemas.  

6. Quem vive ansioso, não tem como voltar sua atenção para as coisas de Deus “Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão acrescentadas” (Mt 6.33). Este é o sexto e último argumento de Jesus para demonstrar a inutilidade da ansiedade. Como pensar nas coisas de Deus se a mente é totalmente carregada de pré-ocupações e ansiedade.
A psicanálise afirma que a grande causa da depressão tem a ver com o movimento egóico. Uma atitude narcisista que leva a pessoa a só olhar para a sua existência.Não é sem razão que Jesus ordena seus discípulos a “buscarem o reino de Deus e sua justiça” A ansiedade é fruto de quem não coloca seus olhos no reino de Deus e sua justiça mas faz uma inversão narcisista e sofre um processo de auto-enamoramento.
O diabo quer que coloquemos nossos olhos em duas direções: Passado ou futuro. Quer que a gente coloque nossos olhos nos ressentimentos, na história de vida que poderíamos ter e não tivemos, nos erros acumulados na história, naquilo que as pessoas fizeram conosco, e assim nos tornamos pessoas incapazes de perdoar e amarga, pendurado no passado. Ou no futuro – leva-nos a colocar os olhos em problemas e situações imaginarias que nos atormentam e não deixa que vivamos o presente. Pessoas ansiosas se tornam inativas, tensas e imobilizadas.

Conclusão:
Gostaria de encerrar este tema, dando três caminhos para superar a ansiedade:

A. Pare de olhar para dentro de você, e olhe para fora – Veja as possibilidades da vida. Veja o Deus criador. Olhe a natureza, o luar, a criação harmônica do cosmos criado por Deus. Se continuarmos olhando para nosso mundo, ficamos pequenos e limitados. Somos convidados por Deus para avançarmos e apreciarmos o seu cuidado. Pare de fazer movimentos de viagem para dentro de si mesmo, e olhe para a realidade do Deus criador.
A ansiedade é uma recusa a aprender a lição da natureza. Jesus recomenda aos homens que olhem os pássaros. Um pardal e um pintassilgo estavam conversando e um perguntou para o outro:
“Pardal, por que os homens andam tão inquietos e ansiosos?”
O pardal respondeu: “certamente porque não tem um Deus como o nosso”.
Jesus nos exorta a buscar o “reino de Deus”. O que é reino? Tudo aquilo que está relacionado ao plano de Deus para a humanidade: Sinais, libertação, restauração, humanização e, acima de tudo, libertação espiritual, conversão. Onde existir manifestações de bondade e de amor, ali haverá sinais dos céus. A maioria das nossas preocupações está relacionada ao nosso egocentrismo. Estamos muito preocupados conosco mesmo, e não temos tempo para olhar a vida além de nós mesmos. Olhe para fora de si, vê quanta coisa boa está acontecendo. Busque o Reino de Deus. Buscar o reino é acima de tudo, superar a tendência de ficar enamorado consigo mesmo. Rompa com seu personalismo, olhe para o Reino!

B. Confie no caráter de Deus – Muito de nossa ansiedade decorre do fato de que não confiamos em Deus, e naquilo que ele é. Coloque sua confiança em Deus. Ao nos convidar para olhar os lírios do campo”, Jesus está nos encorajando a apreciar as flores, olhar atentamente para os pássaros. Dê um tempo para apreciar o cuidado de Deus, a natureza. Aprenda a lição da natureza. O Deus, onipotente, poderoso, grande em poder e majestade está por detrás de tudo isto. Não seria esta uma razão para a gente descansar.

C. Transforme sua ansiedade em oração – Muitos de nós somos tendentes ao desespero e à preocupação. Coloque isto diante de Deus. “Não andeis ansiosos por cousa alguma, antes sejam conhecidas diante de Deus as vossas petições, pelas orações, suplicas e ações de graças, e a paz de Deus que excede todo o vosso entendimento guardará vossas mentes e corações” (Fp 4.6-8). Este é um exercício e um dinamismo poderoso. Toda vez que a pré-ocupação bater à porta, encaminhe-a a Deus.


[1] . MAY, Rollo - The meaning of anxiety, New York, Norton, 1977, pg. ix

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